quinta-feira, 10 de junho de 2010

O mercado com medo de ser feliz

08/06/2010 - vermelho.org.br

Alarmismo contra crescimento visa justificar nova alta dos juros

O PIB brasileiro cresceu 2,7% nos primeiros três meses deste ano em relação ao último trimestre de 2009 e 9% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com informações divulgadas nesta terça (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O desempenho foi exaltado pelo presidente Lula, que o considerou “exuberante”, mas despertou críticas dos setores conservadores da sociedade, que alertam para os supostos riscos de uma inflação descontrolada. “Acho que o Brasil merecia e precisava disto”, comentou o presidente.

Tema polêmico

Já o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, que estima uma taxa de crescimento de 7% neste ano, acredita que a taxa de expansão do PIB “continua colocando a inflação sob risco”. O professor de economia e finanças da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Ebape/FGV) tem opinião semelhante. “A gente não tem como manter esse ritmo de crescimento sem impactar preços. Não dá.”

O medo do crescimento não é uma unanimidade entre os economistas. “Não gosto da ideia de arrefecer esse ritmo”, declarou Carlos Daniel Coradi, da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores. “Deixa o país crescer, deixa gerar emprego. Você pode ver que os Estados Unidos e a Europa não estão andando nesse ritmo".

A controvérsia é grande e o tema comporta interesses que vão além dos aspectos técnicos e das dúvidas acadêmicas. Lembremos que durante o governo neoliberal de FHC vozes conservadores alegavam que o país não podia crescer mais que 3% ao ano sem comprometer a estabilidade monetária.

Neoliberalismo

O PIB avançou em ritmo de tartaruga (em torno de 2% ao ano em média), o desemprego subiu a mais de 20% e o Brasil foi ficando para trás no ranking mundial do desenvolvimento, enquanto a China crescia cerca de 10% ao ano e a Índia, 8%. Em 2002, o neoliberalismo foi derrotado nas urnas e no governo Lula, que elegeu o crescimento como prioridade, as coisas começaram a melhorar, especialmente no segundo mandato.

A média de crescimento da produção nos anos 1990 (1990-99) foi de apenas 1,7%, tendo se elevado a 3,6% no governo Lula, sendo que a partir de 2007 o ritmo passou a ser maior. Em 2008, o PIB cresceu mais de 5% e a trajetória de prosperidade foi interrompida pela crise mundial do capitalismo irradiada dos EUA.

Em 2009, o desempenho foi negativo (-0,2%). Mas, o Brasil, conforme lembrou Lula, saiu rapidamente da crise. A economia voltou a crescer e o desemprego recua de forma sensível. Neste ano deverão ser criados mais de 2 milhões de empregos com carteira assinada.

Ainda que expressivo em relação à mediocridade que caracterizou a administração tucana, a expansão da produção ao longo dos últimos revela-se bem modesta quando comparada à performance da economia antes da crise da dívida externa, que eclodiu nos anos 1980. Após a Segunda Guerra até o final dos anos 1970 o país avanço ao que atualmente se considera um ritmo asiático: mais de 7% em média ao ano.

Copom

Excetuando as ressalvas das forças conservadoras, nada nos impede de voltar a ter um desempenho parecido ao que conseguimos no passado. Os limites à possibilidade de crescimento da economia provêm dos investimentos públicos e privados, que por sinal estão evoluindo de forma positiva. “Temos que destacar a qualidade do crescimento”, ressaltou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, “principalmente pelo crescimento da indústria (4,2%) e da Formação Bruta de Capital Fixo (7,4%) na comparação com o quarto trimestre de 2009. O investimento está crescendo 18% em relação ao primeiro trimestre de 2009.”

De acordo com informações do ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, os investimentos da indústria cresceram 133% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. É necessário ressalvar que a base de comparação anualizada (tanto para o PIB quanto principalmente para o investimento industrial) é baixa, pois naquele momento o Brasil amargou os piores efeitos da crise, principalmente no setor manufatureiro.

O ritmo anual de expansão do consumo ficou em 6%. Quando o investimento cresce mais do que o consumo (como é o caso) não se pode falar em risco de inflação, pois é um sinal de que a expansão da produção (e, portanto, da oferta de mercadorias) vai satisfazer com certa folga a demanda interna. Os últimos indicadores de inflação também sinalizam uma desaceleração dos preços.

O anúncio dos números do IBGE ocorreu no dia em que teve início a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), em Brasília, que deve definir a nova taxa básica de juros (Selic). O mercado aposta numa nova alta (de 0,75%) da Selic e está pressionando para que sua profecia se realize. A oligarquia financeira, parasita da dívida pública, tem interesse nisto, pois lucra (e muito) com os juros mais altos do mundo. O medo do crescimento e o fantasma da inflação servem aos seus interesses, embora conflitem com os da nação.

Da redação, Umberto Martins

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