terça-feira, 17 de julho de 2012

A Globo tem medo do Collor. Ela sabe o estrago que ele pode fazer.

SEGUNDA-FEIRA, 16 DE JULHO DE 2012

'Rede plim plim' engana o país. De novo...


Muita gente ficou ligada na “poderosa” para ver a declaração bomba de Rosane Collor (ou Malta, tanto faz) sobre os bastidores do governo Collor. A ‘Grobo” anunciou isso com ares de filme de Hitchcock. Esta foi a última “atração” do Fantástico (?).

E num foi que a “rede plim plim” enganou o país. De novo!

Primeiro ao anunciar notícia. E notícia bomba. Não tinha nas falas da ex-primeira dama nenhuma novidade. Segundo, que a Ceribeli, que entrevistava Rosane, anunciou que essa era a primeira vez que ela falava sobre o assunto.

Acho que a Ceribeli não lê a Veja [ironia mode on]. Uma entrevista com o mesmo conteúdo foi dada em 2007 à boaterista Veja. Clique aqui

Mas ficaram mais claras algumas coisas sobre a grande imprensa. Como por exemplo, seu desespero. A CPI do Cachoeira a cada dia revela mais o envolvimento de Veja e Globo (revista Época) no esquema do bicheiro. Mais aqui ou aqui

Sua raiva à criatura por ela (Globo) criada (clique aqui). Ora, após abandonar Collor no processo de impeachment me 1992, o que ela e o resto do PIG esperavam? Que Collor mandasse flores?

É óbvio que ele quer ir à forra.

Mas em nada os problemas domésticos entre Collor e a grande imprensa que o criou deslegitima o que o senador vem pautando na CPI do Cachoeira sobre a grande imprensa. As gravações telefônicas da Operação Monte Carlo da Polícia Federal comprovam o que o senador coloca na CPI.

Clique aquie assista o porquê da “entrevista bomba” sem novidades de Rosane Collor (ou Malta, tanto faz) exibida no Fantástico.

Outra coisa que ficou bem mais nítida foi a falta de um pauteiro nas Organizações Globo. Cachoeira tá preso e não arrumaram ninguém pro lugar. Leia mais aqui

A entrevista exibida ontem é a mesma feita por Veja (link acima).

Desespero causa medidas desesperadas. Por isso, a presepada de ontem.

A CPI vai chegar no Serra, ou seja no PSDB. Por conseguinte, com muita força na grande imprensa. A Globo e o PSDB são quase irmãos em golpes. Leia mais aqui

Como já afirmei antes por aqui a CPI não vai passar em branco. Já não está em branco. Demóstenes, o mosqueteiro da ética, já foi cassado. A grande imprensa se desmoraliza a cada dia.

E pra completar o PSDB deve sofrer derrotas fragorosas nas eleições deste ano.

Em tempo: Antes de você, que leu essa postagem, achar que eu estou defendendo o Collor, saiba que ele é um pulha. Ponto. Sengundo que ele é dono de uma poderosa rede de comunicação, com TV, rádios, sites e jornal. Todos os maiores em Alagoas. Além de ser senador.

Você realmente acha que ele precisa que alguém o defenda?

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A cronologia do "mensalão" e a mídia

Publicado em 16/07/2012 por Veja Bandida

Analise através das capas da Revista Veja o comportamento da mídia em relação ao suposto mensalão e descubra a verdade sobre os fatos. De 2002 até a cassação de Demóstenes Torres, uma complexa trama de interesses particulares transformou um réu sem provas em condenado pela mídia.

domingo, 15 de julho de 2012

Dom Eugênio Salles por Hilde Angel. Uma descrição honesta.


Dom Eugenio Salles: ótima relação com os jornais antes da morte e depois dela

Muito impressionantes os obituários publicados hoje sobre dom Eugenio Salles. Li, reli e fui conferir de novo o nome do retratado, pois achei que devia haver algum equívoco. Pensei que se tratasse de algum obituário tardio do saudoso dom Helder Câmara, este sim um santinho, que deixou suas pegadas missionárias, como exemplo de caridade cristã. Ele pregava uma igreja voltada para os pobres, era um exemplo de desprendimento, humildade, absoluta ausência de qualquer tipo de vaidade ou arrogância, um sacerdote de "pés descalços", totalmente solidário aos jovens perseguidos pela ditadura e, por isso mesmo, ele próprio um perseguido e removido, devido às políticas do clero, do Rio de Janeiro, então centro dos acontecimentos nacionais, para Olinda...

Dom Helder foi chamado de "Arcebispo Vermelho", teve seu acesso à mídia vetado pelo AI-5, foi pessoalmente perseguido pelo ditador Médici e, como contraponto a tantas maldades, dom Helder só havia plantado coisas boas: construiu a Cruzada São Sebastião no Jardim de Alah, fundou a Comissão de Justiça e Paz, fundou o Banco da Providência, que multiplicou e até hoje multiplica bondades aos pobres neste estado. Faz pensar que, não fosse por dom Helder, a posição da Igreja Católica no Rio de Janeiro, onde não tem mais a liderança que tinha, estaria bem pior...

Curiosamente, foi justamente durante o "período dom Eugenio" que a Igreja Católica no Rio de Janeiro e, por consequência, no Brasil - já que o Rio, sabemos, era, pois era mesmo, no tempo passado, o tambor de ressonância nacional, formava opinião, dava o exemplo - viu acontecer o início e a precipitação de seu declínio. Pois não vamos atribuir apenas à competência das igrejas evangélicas, das seitas pentecostais ou, como querem alguns, à "ingenuidade dos fiéis", a queda da Igreja Católica nesse ranking...

"Você é 100% responsável pelo que lhe acontece", disse-me outro dia uma adepta da Mandala olhando-me dentro dos olhos. Estava certa. Somos mesmo. Assim foi com a Igreja Católica no Brasil. Com dom Eugenio à frente, fechando os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos", que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe, Zuzu Angel (e isso está documentado), e hoje, supreendentemente, os jornais querem nos fazer acreditar que ocorreu justo o contrário!...

Era público e notório e mais do que sabido naquela época que dom Eugenio endossava que fossem chamados de "padres vermelhos" (alcunha que, então, mesclava rejeição e pânico) aqueles religiosos que abrigavam, sob suas batinas poídas, em suas paróquias suburbanas, os jovens que tentavam escapar das torturas e das sentenças de morte sumária...

Mas não é isso que os obituários de hoje contam...

Como não contam da mágoa de padres jovens, brilhantes pregadores, que conseguiam lotar as missas de suas paróquias com legiões de fiéis, multidões de católicos, jovens padres que ganhavam visibilidade, convites, apareciam na imprensa, somavam admirações e logo eram removidos por dom Eugenio para paróquias bem distantes, como se fossem ironicamente punidos, em vez de serem premiados, pelo belo trabalho que realizavam para a Igreja Católica. Os bons pregadores eram afastados...

Alguns desses padres, que poderiam ter feito belíssimas carreiras no clero, foram podados na origem. Uns caíram no mais completo esquecimento. Outros entraram em depressão. Soube de alguns que abandonaram a batina. Não era de boa política sobressair-se na "era dom Eugenio Salles"...

Duplo castigo: para os padres e para os paroquianos, que assim iam acumulando decepções com sua religião. Outro fator que contribuiu para o declínio católico no Rio nesse período foi a série de proibições tolas, que, em vez de inspirar bondade, em vez de agregar seguidores, só motivaram afastamentos...

Nas cerimônias de casamento, foram proibidas músicas classificadas como "não sacras", e sabe-se lá por quais critérios. Então, por exemplo, uma jovem chamada Luciana não podia mais entrar na igreja ao som da singela cantiga "Luciana", de Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, como esteve tão em moda. Caprichos, arbitrariedades, tolices, que só afastavam os católicos de sua igreja...

Batizados só podiam ser coletivos. Padres só eram autorizados a celebrar batizados e casamentos na igreja, não mais em residências, sítios, casas de festas. O que antes era corriqueiro passou a ser proibido. Então, tornou-se usual acontecerem casamentos de católicos oficiados por pastores protestantes. Logo, o oficiante mais procurado, era o pastor Jonas Rezende, pai da atriz Lidia Brondi, lembram? Que aliás prega lindamente. A sociedade católica do Rio de Janeiro acostumou-se a escutar as belíssimas preleções do pastor Jonas, seus inspiradíssimos sermões matrimoniais...

Tudo passou a ser difícil na Igreja Católica no Rio de Janeiro. Conseguir marcar uma missa de sétimo dia, só com pistolão. Uma extrema unção em casa, só gente muito bem relacionada. Vários pátios paroquiais laterais às igrejas, onde os fiéis antes confraternizavam, onde aconteciam as quermesses, os bazares, as reuniões pós-missas, antigos centros de convívio, foram entregues à especulação imobiliária. Viraram edifícios, shopping centers. Antigas igrejas foram passadas nos cobres. Instalaram-se em andares de prédio. Outras se tornaram construções espremidas entre um edifício e outro, como aconteceu com a Nossa Senhora da Paz. Igrejas sem horário pra abrir nem pra fechar, "por questões de segurança"...

A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%...

Não há, neste texto, qualquer intenção de ressentimento. Apenas o desejo jornalístico da correção histórica. Dom Eugenio padeceu na terra de um mal de saúde. Os pecados, já pagou por eles. Em seus últimos tempos de vida, a lucidez e a ausência dela alternaram-se. Atenciosos, o arcebispo dom Orani Tempesta, assim como o cardeal-arcebispo anterior, dom Eusébio, mantinham o antigo cardeal do Rio, dom Eugenio, vivendo na residência do Sumaré, com todos os cuidados, a família, a estrutura proporcionada pela Arquidiocese, a que não mais teria direito, por já estar afastado do cargo...

Dom Eugenio teve, em vida, uma grande habilidade: manter ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com artigos. Ótimas relações com os jornais, os jornalistas e os donos dos jornais antes da morte. E, como vimos pelo que foi publicado no dia de hoje, também após ela. E são os jornais que legam os registros que escrevem a História...

Veja também:

Dom Eugênio Salles, o Cardeal da Ditadura, que a mídia tentou transformar em santo

Do assazatroz.blogspot.com.br
sábado, 14 de julho de 2012

UM CARDEAL SEM PASSADO

 (clique na imagem para vê-la ampliada)



O tratamento que a mídia deu à morte do cardeal dom Eugenio Sales, ocorrida na última segunda-feira, com direito à pomba branca no velório, me fez lembrar o filme alemão "Uma cidade sem passado", de 1990, dirigido por Michael Verhoven. Os dois casos são exemplos típicos de como o poder manipula as versões sobre a história, promove o esquecimento de fatos vergonhosos, inventa despudoradamente novas lembranças e usa a memória, assim construída, como um instrumento de controle e coerção. 

O filme 

Comecemos pelo filme, que se baseia em fatos históricos. Na década de 1980, o Ministério da Educação da Alemanha realiza um concurso de redação escolar, de âmbito nacional, cujo tema é "Minha cidade natal na época do III Reich". Milhares de estudantes se inscrevem, entre eles a jovem Sônia Rosenberger, que busca reconstituir a história de sua cidade, Pfilzing - como é denominada no filme - considerada até então baluarte da resistência antinazista. 

Mas a estudante encontra oposição. As instituições locais de memória - o arquivo municipal, a biblioteca, a igreja e até mesmo o jornal Pfilzinger Morgen - fecham-lhe suas portas, apresentando desculpas esfarrapadas. Ninguém quer que uma "judia e comunista" futuque o passado. Sônia, porém, não desiste. Corre atrás. Busca os documentos orais. Entrevista pessoas próximas, familiares, vizinhos, que sobreviveram ao nazismo. As lembranças, contudo, são fragmentadas, descosturadas, não passam de fiapos sem sentido. 

A jovem pesquisadora procura, então, as autoridades locais, que se recusam a falar e ainda consideram sua insistência como uma ameaça à manutenção da memória oficial, que é a garantia da ordem vigente. Por não ter acesso aos documentos, Sônia perde os prazos do concurso. Desconfiada, porém, de que debaixo daquele angu tinha caroço - perdão, de que sob aquele chucrute havia salsicha - resolve continuar pesquisando por conta própria, mesmo depois de formada, casada e com filhos, numa batalha desigual que durou alguns anos. 

Hostilizada pelo poder civil e religioso, Sônia recorre ao Judiciário e entra com uma ação na qual reivindica o direito à informação. Ganha o processo e, finalmente, consegue ingressar nos arquivos. Foi aí, no meio da papelada, que ela descobriu, horrorizada, as razões da cortina de silêncio: sua cidade, longe de ter sido um bastião da resistência ao nazismo, havia sediado um campo de concentração. Lá, os nazistas prenderam, torturaram e mataram muita gente, com a cumplicidade ou a omissão de moradores, que tentaram, depois, apagar essa mancha vergonhosa da memória, forjando um passado que nunca existiu. 

Os documentos registraram inclusive a prisão de um judeu, denunciado na época por dois padres, que no momento da pesquisa continuavam ainda vivos, vivíssimos, tentando impedir o acesso de Sônia aos registros. No entanto, o mais doloroso, era que aqueles que, ontem, haviam sido carrascos, cúmplices da opressão, posavam, hoje, como heróis da resistência e parceiros da liberdade. Quanto escárnio! Os safados haviam invertido os papéis. Por isso, ocultavam os documentos. 

Deus tá vendo 

E é aqui que entra a forma como a mídia cobriu a morte do cardeal dom Eugênio Sales, que comandou a Arquidiocese do Rio, com mão forte, ao longo de 30 anos (1971-2001), incluindo os anos de chumbo da ditadura militar. O que aconteceu nesse período? O Brasil já elegeu três presidentes que foram reprimidos pela ditadura, mas até hoje, não temos acesso aos principais documentos da repressão. 

Se a Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio último pela presidente Dilma Rousseff, pudesse criar, no campo da memória, algo similar à operação "Deus tá vendo", organizada pela Policia Civil do Rio Grande do Sul, talvez encontrássemos a resposta. Na tal operação, a Polícia prendeu na última quinta-feira quatro pastores evangélicos envolvidos em golpes na venda de automóveis. Seria o caso de perguntar: o que foi que Deus viu na época da ditadura militar? 

Tem coisas que até Ele duvida. Tive a oportunidade de acompanhar a trajetória do cardeal Eugênio Sales, na qualidade de repórter da ASAPRESS, uma agência nacional de notícias arrendada pela CNBB em 1967. Também, cobri reuniões e assembleias da Conferência dos Bispos para os jornais do Rio - O Sol, O Paiz e Correio da Manhã, quando dom Eugênio era Arcebispo Primaz de Salvador. É a partir desse lugar que posso dar um modesto testemunho. 
 
Os bispos que lutavam contra as arbitrariedades eram Helder Câmara, Waldir Calheiros, Cândido Padin, Paulo Evaristo Arns e alguns outros mais que foram vigiados e perseguidos. Mas não dom Eugênio, que jogava no time contrário. Um dos auxiliares de dom Helder, o padre Henrique, foi torturado até a morte em 1969, num crime que continua atravessado na garganta de todos nós e que esperamos seja esclarecido pela Comissão da Verdade. Padres e leigos foram presos e torturados, sem que escutássemos um pio de protesto de dom Eugênio, contrário à teologia da libertação e ao envolvimento da Igreja com os pobres. 

O cardeal Eugenio Sales era um homem do poder, que amava a pompa e o rapapé, muito atuante no campo político. Foi ele um dos inspiradores das "candocas" - como Stanislaw Ponte Preta chamava as senhoras da CAMDE, a Campanha da Mulher pela Democracia. As "candocas" desenvolveram trabalhos sociais nas favelas exclusivamente com o objetivo de mobilizar setores pobres para seus objetivos golpistas. Foram elas, as "candocas", que organizaram manifestações de rua contra o governo democraticamente eleito de João Goulart, incluindo a famigerada "Marcha da família com Deus pela liberdade", que apoiou o golpe militar, com financiamento de multinacionais, o que foi muito bem documentado pelo cientista político René Dreifuss, em seu livro "1964: A Conquista do Estado" (Vozes, 1981). Ele teve acesso ao Caixa 2 do IPES/IBAD. 

Nós, toda a torcida do Flamengo e Deus que estava vendo tudo, sabíamos que dom Eugênio era, com todo o respeito, o cardeal da ditadura. Se não sofro de amnésia - e não sofro de amnésia ou de qualquer doença neurodegenerativa - posso garantir que na época ele nem disfarçava, ao contrário manifestava publicamente orgulho do livre trânsito que tinha entre os militares e os poderosos. 

- "Quem tem dúvidas...basta pesquisar os textos assinados por ele no JB e n'O Globo" - escreve a jornalista Hildegard Angel, que foi colunista dos dois jornais e avaliou assim a opção preferencial do cardeal:
- A Igreja Católica, no Rio, sob a égide de dom Eugenio Salles, foi cada vez mais se distanciando dos pobres e se aproximando, cultivando, cortejando as estruturas do poder. Isso não poderia acabar bem. Acabou no menor percentual de católicos no país: 45,8%...

Veja o texto da Hilde aqui

Portões do Sumaré

Por isso, a jornalista estranhou - e nós também - a forma como o cardeal Eugenio Sales foi retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou que o cardeal "defendeu a liberdade e os direitos individuais". O governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão "do respeito às pessoas e aos direitos humanos". 

Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio "uma quantidade enorme de asilados políticos", calculada, por baixo, numa estimativa do Globo, em "mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes militares da América do Sul". Outro jornalista, José Casado, elevou o número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente, apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa Bento XVI como "o intrépido pastor".
Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de uma só - umazinha - dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio episcopal. 

Segundo Hilde, dom Eugênio "fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos" que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está documentado)". Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer acreditar "que ocorreu justo o contrário!", como no filme "Uma cidade sem passado".
Mas não é tão surpreendente assim. O texto de Hildegard menciona a grande habilidade, em vida, de dom Eugenio, em "manter ótimas relações com os grandes jornais, para os quais contribuiu regularmente com artigos". As azeitadas relações com os donos dos jornais e com alguns jornalistas em postos-chave continuaram depois da morte, como é possível constatar com a cobertura do velório. A defesa de dom Eugênio, na realidade, funciona aqui como uma autodefesa da mídia e do poder. 

Os jornais elogiaram, como uma virtude e uma delicadeza, o gesto do cardeal Eugenio Sales que cada vez que ia a Roma levava mamão-papaia para o papa João Paulo II, com o mesmo zelo e unção com que o senador Alfredo Nascimento levava tucumã já descascado para o café da manhã do então governador Amazonino Mendes. São os rituais do poder com seus rapapés. 

- Dentro de uma sociedade, assim como os discursos, as memórias são controladas e negociadas entre diferentes grupos e diferentes sistemas de poder. Ainda que não possam ser confundidas com a "verdade", as memórias têm valor social de "verdade" e podem ser difundidas e reproduzidas como se fossem "a verdade" - escreve Teun A. van Dijk, doutor pela Universidade de Amsterdã. 

A "verdade" construída pela mídia foi capaz de fotografar até "a presença do Espírito Santo" no funeral. Um voluntário da Cruz Vermelha, Gilberto de Almeida, 59 anos, corretor de imóveis, no caminho ao velório de dom Eugênio, passou pelo abatedouro, no Engenho de Dentro, comprou uma pomba por R$ 25 e a soltou dentro da catedral. A ave voou e posou sobre o caixão: "Foi um sinal de Deus, é a presença do Espírito Santo" - berraram os jornais. Parece que vale tudo para controlar a memória, até mesmo estabelecer preço tão baixo para uma das pessoas da Santíssima Trindade. É muita falta de respeito com a fé das pessoas. 
 
- "A mídia deve ser pensada não como um lugar neutro de observação, mas como um agente produtor de imagens, representações e memória" nos diz o citado pesquisador holandês, que estudou o tratamento racista dispensado às minorias étnicas pela imprensa europeia. Para ele, os modos de produção e os meios de produção de uma imagem social sobre o passado são usados no campo da disputa política. 

Nessa disputa, a mídia nos forçou a fazer os comentários que você acaba de ler, o que pode parecer indelicadeza num momento como esse de morte, de perda e de dor para os amigos do cardeal. Mas se a gente não falar agora, quando então? Stuart Angel e os que combateram a ditadura merecem que a gente corra o risco de parecer indelicado. É preciso dizer, em respeito à memória deles, que Dom Eugênio tinha suas virtudes, mas uma delas não foi, certamente, a solidariedade aos perseguidos políticos para quem os portões do Sumaré, até prova em contrário, permaneceram fechados. Que ele descanse em paz! 
 
P.S. - O jornalista amazonense Fábio Alencar foi quem me repassou o texto de Hildegard Angel, que circulou nas redes sociais. O doutor Geraldo Sá Peixoto Pinheiro, historiador e professor da Universidade Federal do Amazonas, foi quem me indicou, há anos, o filme "Uma cidade sem passado". Quem me permitiu discutir o conceito de memória foram minhas colegas doutoras Jô Gondar e Vera Dodebei, organizadoras do livro "O que é Memória Social" (Rio de Janeiro: Contra Capa/ Programa de Pós- Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005). Nenhum deles tem qualquer responsabilidade sobre os juízos por mim aqui emitidos.
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José Ribamar Bessa Freire é professor universitário (UERJ), reside no Rio há mais de 20 anos, assina coluna no Diário do Amazonas, de Manaus, sua terra natal, e mantém o blog Taqui Pra Ti. Colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz
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Ilustração: AIPC - Atrocious International Piracy of Cartoons

O jeito Globo de manipular: Tentou ligar Cachoeira a Lula, não conseguiu e omitiu.

Globo tentou ligar Lula e Agnelo a Cachoeira

Foto: Reprodução/TV Globo

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE ANDRESSA AO FANTÁSTICO FOI FILMADA POR UM CELULAR; NAS PERGUNTAS, REPÓRTER DA GLOBO INSISTIU PARA QUE A ESPOSA DE CARLOS CACHOEIRA CONECTASSE O EX-PRESIDENTE E O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL AO ESCÂNDALO; ELA NEGOU E OS TRECHOS NÃO FORAM AO AR; LEIA E ASSISTA OS VÍDEOS

15 de Julho de 2012 às 13:01

Goiás247 – No encontro com Andressa Mendonça, mulher de Carlinhos Cachoeira, o Programa Fantástico, da Rede Globo, insistiu na tentativa de associar petistas com o esquema do contraventor. Uma pequena parte da conversa com a jornalista Sônia Bridi foi ao ar na revista dominical da Globo, dia 1º de julho. O Brasil247 teve acesso com exclusividade à íntegra da entrevista, gravada de um iPhone.

Eis alguns links:
http://www.youtube.com/watch?v=mMdQOmTKT3Y

http://www.youtube.com/watch?v=Ah0AZS1wWcA

http://www.youtube.com/watch?v=OGFNd0Ds1-I

http://youtu.be/7y962vJ3cx4

http://youtu.be/YtA86iRH9CU

http://youtu.be/2gwzSe6TExw

http://youtu.be/bSZxrvxmfU0

http://youtu.be/viiLGKAu4UQ


Num dos trechos, a mulher de Cachoeira é questionada sobre o suposto pagamento de uma aeronave para o que médium João de Deus, que realiza cirurgias espirituais em Abadiânia (município goiano bem no meio do caminho entre Goiânia e Brasília), visitasse Lula em São Paulo. À época o ex-presidente realizava seu tratamento contra o câncer na Laringe no hospital Sírio Libanês.

Veja o trecho:

Fantástico – Quando o médium João de Deus... Você conhece João de Deus?

Andressa – Já o vi aqui, na casa do meu sogro. Ele vinha orar para a minha sogra, que faleceu.

Fantástico – Quando ele foi visitar o presidente Lula, em São Paulo, foi o Carlos quem arranjou a visita, cedeu o avião?

Andressa – Não sei te responder.

Fantástico – Mas vocês têm contato com o João de Deus? A família é espírita?

Andressa – Acho que não. Não sei. Acredito que não. Mas ele é uma pessoa que mora em Anápolis, é uma figura fácil aqui. Ele ora pelas pessoas que estão doentes. Ele veio orar pela minha sogra algumas vezes.

Em outro trecho, Andressa é questionada sobre uma suposta viagem dela, de Cachoeira e do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiróz, aos Estados Unidos. Ela nega, mas a repórter insiste:

Fantástico – E este encontro que vocês tiveram com o governador Agnelo Queiroz nos Estados Unidos? Vocês discutiram política ou foi um encontro social?

Andressa – Desculpa, com quem?

Fantástico – Com o governador Agnelo Queiroz.

Andressa – Nos Estados Unidos?

Fantástico – É.

Andressa – Eu não conheço o governador do Distrito Federal.

Fantástico – Vocês não se encontraram nos Estados Unidos?

Andressa – Não, não nos encontramos.

Fantástico – Vocês nunca se encontraram? Você, junto com o Carlos, nunca se encontraram com ele?

Andressa – Não, nunca vi.

Fantástico – Nunca teve um contato...

Andressa – Nunca.

Acompanhe abaixo a entrevista (sem cortes):

Fantástico – Andressa, como você se preparou para essa entrevista?

Andressa Mendonça – Eu me preparei com muita oração, com muita fé em Deus, como eu faço todos os dias, e com a cabeça tranquila.

Fantástico – Você conversou com os seus advogados?

Andressa – Conversei com os meus advogados.

Fantástico – Eles te orientaram sobre o que me dizer e o que não me dizer?

Andressa – Não muito sobre o que dizer e o que não dizer. Acho que a gente tem que falar com o coração, né? O que é para passar um pouco do que está acontecendo na minha vida neste momento.

Fantástico – A gente está conversando com você já tem oito semanas para fazer essa entrevista. Por que agora você aceitou?

Andressa – Eu aceitei porque tivemos uma derrota difícil no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e me senti, assim, injustiçada. Acho que o caso do Carlos já está se tornando um absurdo mesmo e ele não tem direito a nada, tudo para ele é negado, é muito difícil. Sinto muito que ele tá sendo perseguido, acho discriminatório. Sabe, acho que ele é um bode expiatório. Então...

Fantástico – Bode expiatório de quem?

Andressa – Não sei. Eu considero o meu marido um preso político, né? Eu, Andressa, considero o Carlos um preso político depois da ditadura e...

Fantástico – Mas as acusações contra ele são contravenção, lavagem de dinheiro. São várias acusações relacionadas a crime, a formação de quadrilha. Ele está sendo investigado por contrabando, relacionado às máquinas caça-níqueis...

Andressa – São acusações...

Fantástico – Mas como é que isso o transforma em preso político?

Andressa – Acusações. Meu marido é inocente, ele pode responder em liberdade, não cometeu crime hediondo, ele não matou ninguém, não fez tráfico de armas, de drogas, não existe prostituição no processo. Considero ele um preso político porque na CPI do Cachoeira, onde leva o nome dele, ficou muito clara a briga do PT com o PSDB, um parlamentar querendo aparecer mais que o outro e, infelizmente, a gente tem que passar por isso, né?

Fantástico – Ele se considera inocente das acusações que são feitas contra ele?

Andressa – Ele se considera inocente e com o direito de responder em liberdade, das acusações. Ele tem o direito de provar que é inocente e responder em liberdade.

Fantástico – Com que frequência você visita ele na prisão?

Andressa – Eu visito uma vez por semana e agora de 15 em 15 dias, agora que ele tá no presídio estadual.

Fantástico – Por que ele foi para um presídio estadual?

Andressa – Porque ele tem um segundo decreto de prisão contra ele, um decreto estadual. Uma vez que ele ganhou liberdade na Operação Monte Carlo pelo desembargador Tourino Neto e o ministro rapidamente se apressou em cassar, várias pessoas da Operação Monte Carlo ganharam liberdade. Mas só a do Carlos foi cassada. Então por que me pergunto e pergunto para o País, por que só a dele? É, no mínimo, discriminatório para mim.

Fantástico – Como é que você encontra com ele na prisão? Como é que são os encontros de vocês?

Andressa – É tenso, né? Ter um marido preso é uma coisa muito complicada. É a pior experiência da minha vida. Você ver a pessoa que você ama sendo privada de liberdade. Eu, como assistente social, procurei até a Secretaria de Direitos Humanos porque a porção de comida não tava dando pra ele, ele sentia fome durante o dia. Então a gente nunca imagina que vai passar por uma experiência dessa.

Fantástico – Você tem permissão para levar comida na cadeira para ele?

Andressa – Um quilo de cream cracker por semana e 10 frutas. Então, a porção de comida é muito pequena, ele passa também muita necessidade de comida. Sem falar das outras coisas, né? Então..

Fantástico – Ele desabafa com você?

Andressa – Desabafa...

Fantástico – Como é o ânimo dele?

Andressa – Ele anda deprimido, tá tomando vários medicamentos agora, tá sendo consultado uma vez por semana por um psiquiatra. Não tá bem psicologicamente...

Fantástico – Ele está revoltado com as pessoas que ele considera, se sentiu abandonado pelas amizades dele, pelas pessoas do relacionamento dele?

Andressa – Não nesse sentido. Ele tá revoltado no sentido de se considerar um preso político após a ditadura. A gente vê a presidente, brilhantemente, criando lá a Comissão da Verdade pra combater, vem combatendo com tanta veemência, enfrentando os crimes cometidos na ditadura, e queria mesmo fazer esse clamor pra ela, pra ela olhar para o nosso caso.

Fantástico – Eu queria que você me explicasse de novo como é que você chega a essa conclusão de um preso político. Ele é acusado de corrupção ativa e passiva, de corromper políticos e funcionários do governo, falsidade ideológica, contrabando, lavagem de dinheiro e exploração de jogos de azar. Como é que uma pessoa acusada desses crimes se torna um preso político?

Andressa – Bom, se ele não fosse um preso político, não teria se criado uma CPMI com o nome dele. Então, aí a gente já pode notar que o caso dele é puramente político.

Fantástico – Mas a CPI é para investigar a relação dele com os políticos ou políticos que ele influenciasse.

Andressa – Eu acredito que a mídia criou um monstro. O monstro Carlinhos Cachoeira. Meu marido não é um monstro. Meu marido é um homem de bem. Ele precisa ter liberdade para ter os direitos garantidos para poder provar isso, junto à sua defesa, que ele é um homem de bem. Ele tem o direito de provar isso. Ele tem acusações sobre ele, mas ele é um homem de bem. Isso eu posso garantir.

Fantástico – Durante o tempo que você se relaciona com ele, você teve conhecimento das atividades dele? Jogos, caça-níqueis, e tudo o mais?

Andressa – Não tive conhecimento. A imprensa chama o Carlos de bicheiro, meu marido não é bicheiro. Bicheiro em Goiás tem outros nomes. Tem mais de 20 mil máquinas de apostas eletrônicas no jogo do bicho. E eles têm outros nomes. A polícia não está nem um pouco preocupada em investigar. E o Carlos que eu conheço é empresário, faz consultorias para empresas, trabalhou durante anos, aproximadamente 10 anos com a Loteria do Estado de Goiás. Trabalhou no ramo de medicamentos.

Fantástico – No ano passado, o Fantástico fez uma reportagem que mostrava o envolvimento dele com a importação de máquinas caça-níqueis. Você tem conhecimento disso?

Andressa – Não tive conhecimento.

Fantástico – Porque ele foi até a CPI e escolheu ficar calado? Ele vai depor, provavelmente, na semana que vem. Ele disse como vai ser o comportamento dele no depoimento?

Andressa – Não. Ele disse pra mim que tem muito o que falar, que ele quer contribuir e pediu para eu falar para o Brasil que ele tem o que dizer, inclusive para a sua própria defesa.

Fantástico – Esse 'tem o que dizer' envolve os políticos que são acusados de terem um relacionamento com ele, de terem recebido dinheiro dele ou de terem recebido dinheiro em troca de favores?

Andressa – Talvez, talvez sim.

Fantástico – Você acha que não há que falar?

Andressa – Não sei se existe alguma coisa para ser falada ou se não existe. Isso é uma coisa que eu realmente não sei. Mas ele acredita que ele pode contribuir, quer falar. Enfim, ele quer dar uma entrevista, quer falar com a imprensa.

Fantástico – Você recebeu um convite para posar numa revista masculina. Você aceitou?

Andressa – Não. Eu recebi o convite.

Fantástico – Como é que você vê essa notoriedade toda em torno de você numa situação, para a maioria das mulheres, é muito constrangedora ter o marido preso?

Andressa – Para mim também é muito constrangedor. Mas eu sou uma mulher de muita fé, uma mulher segura daquilo que eu quero e daquilo que eu acredito. Então, pra mim não tem limites. A minha luta com o Carlos não tem limites. Eu não consigo mensurar para você o tamanho da minha luta. Ele, junto com os meus filhos, é a prioridade na minha vida, e vai ser sempre.

Fantástico – Como é o seu padrão de consumo? Como é que você, o que você gosta de comprar, o que você gosta de gastar o seu dinheiro?

Andressa – Eu gosto de comprar coisas que mulherzinha gosta, nada de especial. Sou uma pessoa simples, tenho o dia a dia agitado com os meus filhos, levo no colégio, natação. Então, uma vida normal.

Fantástico – Você é muito gastadeira?

Andressa – Não muito.

Fantástico – A polícia diz que tem uma gravação do Carlinhos discutindo com um administrador dele, uma conta de cartão de crédito sua de mais de R$ 60 mil. Ou US$ 60 mil. Eles não dizem que moeda é, sobre os gastos feitos em Miami. Isso ocorreu?

Andressa – Pode ter acontecido sim. Eu estava comprando roupas de cama, algumas coisas para casa. Pode ter acontecido sim.

Fantástico – Você, neste mesmo mês, ele teria tido um gasto no cartão de crédito de R$ 500 mil. Os negócios dele produzem esse dinheiro suficiente para esse nível de gasto?

Andressa – Eu não sei tanto sobre os negócios dele nem... Eu tava morando com ele há pouquíssimo tempo. Então, é uma coisa que eu não sei te responder.

Fantástico – Essa casa na qual ele foi preso. É uma casa que está envolvida em muita polêmica. Como é que vocês foram morar nesta casa?

Andressa – Na verdade, um amigo emprestou para mim. Eu estava me separando e precisava de uma casa meio a toque de caixa, com urgência, assim. E eu fiquei nessa casa..

Fantástico – E esse amigo disse de quem era a casa?

Andressa – E eu fui ficando, fui ficando... Disse que era de um empresário. De um empresário amigo dele. Fiquei...

Fantástico – E você pode dizer o nome desses amigos?

Andressa – Eu prefiro não. Já foi dito. Eles já foram depor na CPI. Então acho que já está bem esclarecido esse assunto.

Fantástico – Havia um projeto do Carlos de vocês morarem em Goiânia no Edifício Excalibur?

Andressa – Ele comentou, uma vez, de relance comigo, mas eu até morava em um bairro próximo, gosto do setor. Mas não concordei com a ideia.

Fantástico – Por que?

Andressa – Acho que não ficaria à vontade. Gosto de ficar onde me sinto à vontade.

Fantástico – Foi aí que surgiu essa casa?

Andressa – Não. Essa casa surgiu exatamente como eu estou te falando. De uma necessidade minha, mesmo.

Fantástico – Era uma casa para vocês ficarem morando durante quanto tempo?

Andressa – Uma casa provisória, para a gente ficar três meses, no máximo, para eu ficar dois meses, no máximo. E ele foi ficar lá comigo, depois.

Fantástico – Foi pra essa casa que você fez as compras nos Estados Unidos?

Andressa – Foi.

Fantástico – O decorador que falou à CPI também disse que vocês gastaram R$ 550 mil em móveis para esta casa. São R$ 550 mil para morar em uma casa provisoriamente?

Andressa – Eu não sei o valor exato que nós gastamos. Mas gastamos um dinheiro. Mobiliei a casa e obviamente levei a mobília comigo na mudança.

Fantástico – Você já saiu da casa?

Andressa – Já saí da casa.

Fantástico – Por que você escolheu dar a entrevista aqui na casa do pai do Carlos em vez de dar entrevista na sua própria casa?

Andressa – Porque eu fico muito aqui. Aqui é como se fosse a minha casa. A minha segunda casa é aqui. Então, como a família dele é também a minha família, eu passo a maior parte do tempo aqui. Então aqui é o lugar que eu me sinto a vontade.

Fantástico – Durante este tempo em que vocês ficaram juntos, vocês tinham um vida social bastante movimentada. Vocês viajavam. Nestas viagens você se encontravam, saíam para jantar, faziam programas com o governador Marconi Perillo?

Andressa – Não, com o Marconi não.

Fantástico – Você nunca encontrou com ele?

Andressa – Nunca. Encontrei o Marconi várias vezes, fez campanha para governador com o meu ex-marido, que é primeiro suplente do Demóstenes, e encontrei com o Marconi 'n' vezes durante a campanha eleitoral dele. Mas junto com o Carlos não.

Fantástico – E este encontro que vocês tiveram com o governador Agnelo Queiroz nos Estados Unidos? Vocês discutiram política ou foi um encontro social?

Andressa – Desculpa, com?

Fantástico – Com o governador Agnelo Queiroz.

Andressa – Nos Estados Unidos?

Fantástico – É.

Andressa – Eu não conheço o governador do Distrito Federal.

Fantástico – Vocês não se encontraram nos Estados Unidos?

Andressa – Não, não nos encontramos.

Fantástico – Vocês nunca se encontraram? Você, junto com o Carlos, nunca se encontraram com ele?

Andressa – Não, nunca vi.

Fantástico – Nunca teve um contato...

Andressa – Nunca.

Fantástico – E com o Fernando Cavendish?

Andressa – O Fernando teve algumas vezes aqui em Goiânia, mas eu nunca o encontrei. O Carlos provavelmente deve ter encontrado, mas eu nunca encontrei.

Fantástico – Qual é o relacionamento deles, dele com a Delta?

Andressa – Eu acredito que o Carlos era uma espécie de consultor da empresa. Não só da Delta, mas de algumas outras empresas em Goiás.

Fantástico – Mas ele é consultor muito próximo, ele tinha um relacionamento muito próximo com o Cláudio Abreu, por exemplo?

Andressa – Um relacionamento, acho, de amizade com o diretor da empresa.

Fantástico – Isso envolvia troca de favores? Avião emprestado?

Andressa – Talvez sim.

Fantástico – E ele dizia qual era a natureza dessa consultoria que ele prestava?

Andressa – Não. Para mim não dizia.

Fantástico – Quando o seu ex-marido foi vice do senador Demóstenes, quando ele foi indicado a suplente, o Carlos tinha contato com senadores, ele teve algum papel na indicação do seu ex-marido como suplente?

Andressa – Eles eram muito amigos. Eram próximos. Eram amigos. Falavam muito sobre política. Provavelmente, sim. Devem ter falado bastante sobre esse assunto sim.

Fantástico – Algumas gravações que apareceram na imprensa foram feitas pelo próprio Carlos. Depois divulgadas. Ele costumava gravar muito as conversas que ele tinha, filmar?

Andressa – Eu não sei te responder isso. Eu nunca vi e não participei disso. Não sei te responder.

Fantástico – A vida cotidiana de vocês, alguma vez ele filmou?

Andressa – Absolutamente. Não.

Fantástico – A polícia diz que o espião que trabalhava para ele fazia escutas telefônicas, grampeava, você alguma vez foi grampeada?

Andressa – Devo ter sido grampeada pela polícia. Provavelmente.

Fantástico – Qual seria o objetivo da Polícia em grampear o seu telefone?

Andressa – Não sei. Talvez interceptar alguma conversa minha com o Carlos, já que ele foi grampeado durante muito tempo.

Fantástico – O fato dele ter essas gravações, algumas já são conhecidas, públicas, foram feitas por ele, o que você acha que motivava ele a fazer isso?

Andressa – Talvez mostrar a verdade para as pessoas, para o País?

Fantástico – A verdade do que?

Andressa – Não sei. Quem cobra propina, quem achaca empresários, talvez.

Fantástico – A polícia diz que essas gravações estavam sendo usadas para chantagear políticos e funcionários do governo para que fizessem o que ele queria...

Andressa – Meu marido não é chantagista. Ele é um homem bom.

Fantástico – Você já teve oportunidade de fazer uma visita íntima na prisão?

Andressa – Não.

Fantástico – Isso foi agendado, foi solicitado?

Andressa – Não, ainda não.

Fantástico – Vocês ainda se veem através do vidro?

Andressa – Agora neste novo presídio vamos ter visita social. Na federal acontecia visita social, entre aspas, pelo vidro. Ao meu ver, não é uma visita social.

Fantástico – Essa visita agora, então, vai permitir um contato físico?

Andressa – Contato físico.

Fantástico – Mas não visita íntima?

Andressa – Também.

Fantástico – Quando a Comissão de Ética do Senado recomendou a cassação do senador Demóstenes, qual foi a reação do Carlos?

Andressa – O Carlos estava muito debilitado em Mossoró, estava doente, perdeu quase 20 quilos, e acho que não estava nem em condições de avaliar a situação do Demóstenes.

Fantástico – Eles eram próximos? Ele e o Demóstenes?

Andressa – Eles eram amigos. Amigos sim.

Fantástico – O seu relacionamento com ele é de muito antes de vocês irem morar juntos?

Andressa – Não.

Fantástico – Vocês estavam planejando se casar quando ele foi preso. Alguma coisa mudou nos planos?

Andressa – Não, vamos nos casar.

Fantástico – E se ele não for solto?

Andressa – Vamos nos casar.

Fantástico – Você vai se casar mesmo com ele preso?

Andressa – Mesmo com ele preso.

Fantástico – Você vai (não entendi)?

Andressa – Não. Mas ele vai ser solto. Quero poder acreditar na justiça desse país. Quero acreditar que não tem mandatário, político mandando na nossa justiça.

Fantástico – Você sabe qual é o paradeiro de Giovani Pereira da Silva?

Andressa – Não.

Fantástico – O que aconteceu com ele?

Andressa – Está foragido.

Fantástico – Por que ele continua foragido, já que ele é um funcionário do Carlos?

Andressa – Não consigo te responder isso. A defesa dele vai poder falar.

Fantástico – O governador do Estado do Rio de Janeiro também tem sido citado nessas investigações. Em algum momento vocês encontraram Sérgio Cabral?

Andressa – Não. Nunca o vi.

Fantástico – No momento em que houve um acidente na Bahia, em que inclusive morreu a mulher do Cavendish, o Carlos foi acionado para mandar avião, prestar socorro e tudo o mais. Ele era muito próximo do Cavendish então?

Andressa – Talvez um pedido do Cláudio, que é muito amigo do Carlos, muito próximo. Talvez isso. O Carlos é um homem muito solícito, um homem onde as pessoas sempre recorrem. Ele é um homem bom, não fala não para ninguém. Talvez por isso.

Fantástico – Ele é operador de caça-níquel?

Andressa – Não.

Fantástico – Ele nunca teve máquina caça-níquel?

Andressa – Eu não sei te responder. Acredito que não.

Fantástico – Vocês nunca discutiram esse assunto?

Andressa – Não que eu me lembre.

Fantástico – Em maio do ano passado, o Fantástico fez uma reportagem em que ele era apontado pela polícia como o operador de várias casas de caça-níqueis. Você não ficou sabendo dessa reportagem?

Andressa – Não. Não fiquei. Eu tenho certeza que ele nunca teve casas de caça-níquel, de bingo. Absolutamente.

Fantástico – Quando o médium João de Deus... Você conhece João de Deus?

Andressa – Já o vi aqui, na casa do meu sogro. Ele vinha orar para a minha sogra, que faleceu.

Fantástico – Quando ele foi visitar o presidente Lula, em São Paulo, foi o Carlos quem arranjou a visita, cedeu o avião?

Andressa – Não sei te responder.

Fantástico – Mas vocês têm contato com o João de Deus? A família é espírita?

Andressa – Acho que não. Não sei. Acredito que não. Mas ele é uma pessoa que mora em Anápolis, é uma figura fácil aqui. Ele ora pelas pessoas que estão doentes. Ele veio orar pela minha sogra algumas vezes.

Fantástico – Como é que as suas crianças estão reagindo a isso tudo?

Andressa – Saudade. Não entendem, não tem muita idade para entender.

Fantástico – Que idade elas têm?

Andressa – Seis e quatro. Mas o Carlos é uma pessoa que faz muita falta na vida de todos nós, principalmente para as crianças. É muito amoroso.

Fantástico – Você acha que o Carlos, ao longo da história dele, como é que ele construiu essa reputação de contraventor e de manipulador de políticos, quando você afirma com tanta convicção de que ele opera na legalidade, como empresário?

Andressa – Ele vem de uma família onde o pai dele era bicheiro, talvez sobrenome, Cachoeira, na família ser uma tradição. Enfim. Não acredito que ele venha a ser.

Fantástico – Como é que ele construiu essa reputação de contraventor, de manipulador de políticos, de corruptor, de corrupção ativa e passiva, se você afirma com tanta convicção de que ele é um empresário que opera na legalidade?

Andressa – Acho que foi muitas vezes achacado, chantageado e acredito nele. Acredito na versão dele. E acredito que ele é um homem bom.

Fantástico – Achacado por quem?

Andressa – Talvez políticos.

Fantástico – Quais políticos?

Andressa – Não saberia falar. Mas...

Fantástico – Você acha que ele está disposto a dizer o nome desses políticos no depoimento?

Andressa – Talvez. Talvez sim.

Fantástico – Qual é a esperança que você tem agora de que ele será solto? Qual é a possibilidade real?

Andressa – A prisão dele, na minha opinião, já está ilegal. Então ele tem possibilidades reais de ser solto a qualquer momento. Não é? Uma vez que todas as pessoas que tinham mandado de prisão na Operação Monte Carlo estão soltas, por que só ele ficar preso? Por que a juíza que soltou todos da Operação São MIchel, que revogou todos os pedidos de prisão na Operação São Michel, não soltou ele? Pra mim é estranho, pra mim é discriminatório. O juiz vai na televisão, dois dias antes de um julgamento importante para ele, onde ele ia ser julgado, ia ser importante para a soltura dele, vai na imprensa e diz: 'fui ameacado'. A procuradora diz: 'fui ameaçada'. E insinua que foram ameaçados por nós. Ora, nós queremos que a polícia federal investigue. Nós somos pessoas de bem. Ele é um homem de bem. Ele não pode sofrer essa injustiça. Isso não pode ser jogado na conta dele. Queremos que a polícia investigue e somos solidários à família. Tanto do juiz quanto dos procuradores, que se dizem ameaçados.

Fantástico – De onde pode ter partido essa denúncia de ameaça? Na sua teoria.

Andressa – A polícia prescisa descobrir. De gente que está se prestando a fazer o mal. Gente que, com certeza, de bem não é.

Fantástico – Quem é que você acha que tem interesse nele preso hoje?

Andressa – Políticos, talvez? A quem interessa a prisão dele, eu pergunto? Por que estão mantendo ele preso? Por que desembargadores e ministros dão a negativa para ele ir a julgamento e, no outro dia, recebem promoções? Quero acreditar, quero poder acreditar que justiça desse país vai ser imparcial.

Fantástico – Você vê o ânimo dele se deteriorando ao longo deste tempo na prisão?

Andressa – Ele está doente, está doente psicologicamente, fraco, perturbado, mas está bem. Está preso há quatro meses, não são quatro dias.

Fantástico – Ele tá numa cela comum?

Andressa – Está numa cela comum.

Fantástico – Por que ele brigou na cadeia?

Andressa – Ele brigou porque estava passando um programa onde incita a violência, onde tava uma pessoa baleada e ele é avesso a esse tipo de programa. E ele pediu para desligar esse programa, que é logo após o almoço. E os outros presos, aí começou uma discussão, porque eles não queriam que desligasse. E ele ficou irritado, porque ele esse não é um programa que eleva a alma de ninguém, muito menos de quem está preso.

Fantástico – E isso piorou um pouco a situação dele?

Andressa – Piorou, mas ele também foi mantido algemado dentro da cela por horas. Isso não é cárcere privado? A polícia pode fazer isso?

Fantástico – Ele foi algemado porque foi agressivo?

Andressa – Não, ele não é agressivo. Pelo contrário. É um homem doce. Ele foi algemado porque ele é único. E que tem pedido socorro. Tá gritando por socorro pra justiça brasileira olhar para o caso dele. Ele tem direito a responder em liberdade. É isso o que a gente espera. A pessoa no Brasil hoje mata a esposa, conheço vários casos, inclusive, na minha cidade. O homem matou a esposa com um tiro na face e não ficou nem um dia preso. Quel mal o meu marido fez? Volto a repetir. Que mal ele fez? Ele não fez mal a ninguém. Ele é uma pessoa que só faz bem às pessoas. Só o bem. Esse é o Carlos que eu conheço.

Fantástico – Mas se ele fez mesmo corrupção ativa e passiva, não faz mal a alguém? Contrabando, lavagem de dinheiro?

Andressa – Ele é inocente.

Fantástico – Contravenção?

Andressa – Ele é inocente. Precisa de liberdade para ele poder se defender. Ele precisa provar que é inocente.

Fantástico – Eu gostaria de voltar uma pergunta que eu fiz antes porque eu queria que você elaborasse um pouco mais. Na declaração de Imposto de Renda dele, ele declara uma renda de $ 20 mil por mês, sendo que em apenas um mês, o cartão de crédito dele foi de R$ 500 mil e o seu de $ 60 e poucos mil. E ele estava pagando por essa conta. Qual a fonte de tanto dinheiro? Mesmo a indústria farmacêutica pode produzir tanto lucro para sustentar esse tipo de gasto?

Andressa – Não só ele tava pagando por essa conta. Eu também ajudo ele a pagar as contas. Ele não paga todas as minhas contas. Eu tenho uma boa pensão, tenho o pró-labore, fruto do meu trabalho, da moinha empresa. E eu acredito que, se ele comprou, ele tinha de onde tirar.

Fantástico – Você acha que ele não tem nenhuma fonte ilícita de rendimento?

Andressa – Não acredito.