sexta-feira, 18 de junho de 2010

14/06/2010


Para Dilma, quanto mais Lula melhor

Após as Convenções Nacionais do PSDB e PT no fim de semana, a Folha de S.Paulo (À sombra de Lula, Dilma promete 'alma de mulher') e o Estado de S. Paulo (Ao lado de Lula, Dilma diz que rivais usam 'veneno') martelam nas manchetes desta segunda (14) que o presidente tem um papel excessivo nesta eleição. O Globo também: pôs na capa uma foto de Dilma coberta pela sombra de Lula. Para o bloco oposicionista-midiático, este seria um grave problema. Para a maioria dos brasileiros (a conferir em outubro), é a solução.

Por Bernardo Joffily
O candidato da oposição aderiu envergonhadamente a esse bordão midiático no seu discurso de sábado na Convenção em Salvador. Aparentemente, aposentou de vez o "Serrinha Paz e Amor", que causava faniquitos nos seus apoiadores.

Confusão de Versalhes com Garanhuns


Serra falou 40 minutos sem fazer um só elogio a Lula, o que seria impensável em abril ou maio. Pontilhou o discurso com estocadas, ora nos comunistas, ora nos sindicatos, mas principalmente no governo dos que chamou "neo-corruptos".

Nenhuma estocada foi pela frente, todas sorrateiras, sem citar nomes (veja aqui a íntegra). O novo estilo, belicoso porém dissimulado, pode ser avaliado por este parágrafo, onde aparece o único Luís citado no discurso:


"Acredito que o Estado deve subordinar-se à sociedade, e não ao governante da hora, ou a um partido. O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou pra trás há mais de 300 anos. Luis XIV achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim."


Perdoe-se a Serra o tropeção de tratar Luís XIV como "chefe de governo", quando o monarca francês (1638-1714) sempre foi chefe de Estado – seu mais célebre governante foi o 'principal ministro' (primeiro ministro) Cardeal Mazarino (1602-1661). Perdoe-se até a comparação sem pé nem cabeça entre o Rei Sol, símbolo do Antigo Regime dos Bourbons e do fausto do Oalácio de Verdsalhes, e o torneiro-mecânico de Garanhuns.

A retidão republicana de Lula


Mas não há perdão para tentativa de enfiar Lula numa fantasia de absolutista. Exatamente ao contrário, Lula deu uma prova real de retidão republicana e democrática: recusou o terceiro mandato.

O então presidente Fernando Henrique Cardoso não teve a mesma atitude. Ao ver que a onda do Plano Real lhe permitiria reeleger-se, apadrinhou uma emenda para mudar a Constituição em causa própria.

Lula teve, principalmente no segundo mandato, índices de popularidade incomparavelmente superiores aos de seu antecessor tucano. Em todas as pesquisas de opinião que indagaram sobre o tema, a maioria apoiava a ideia de outra mudança que permitisse a 're-reeleição'. Em seu próprio partido surgiram vozes neste sentido. Apenas a integridade do presidente impediu que essa alternativa prosperasse. Seria um aparente atalho, talvez mais fácil e convidativo, mas no fundo debilitante.

Em vez disso, Lula seguiu o caminho mais longo, porém mais coerente: primeiro, com as instituições democráticas da República; e, segundo, com o o futuro histórico do novo ciclo que a eleição de 2002 abriu. Dilma Rousseff na Presidência é o terceiro mandato, não de Lula, enquanto governante, mas do conteúdo que ele representa e simboliza. É, como diz a agora candidata, "a continuidade da mudança".

Ataque a Dilma no seu ponto forte


A julgar pela Convenção tucana de Sábado, Serra e seus correligionários ainda estão longe de entender Luiz Inácio Lula da Silva. Nem quando o atacaram, nem quando o elogiaram, nem na atual fase das estocadas sorrateiras.

Não entenderam o personagem Lula. Nem muito menos o movimento profundo, a grande aliança de forças históricas, sociais, políticas – e apenas como consequência partidárias e eleitorais – que o cientista político André Singer chamou de 'Lulismo'. E estão a anos-luz de atinar com o reflexo destes fatores na consciência coletiva do povo brasileiro, não por acaso a começar por este 'Brasil profundo' que o Nordeste representa.

Por isso atacam Dilma naquilo que é o ponto mais forte, mais defensável e eleitoralmente vantajoso da ex-ministra: a proximidade de Lula.

"Não tenho esquemas, não tenho máquinas oficiais, não tenho patotas corporativas, não tenho padrinhos, não tenho esquadrões de militantes pagos com dinheiro público. Não comecei ontem e não caí de paraquedas. Apresentei-me ao povo brasileiro, fui votado, exerci cargos", disse Serra em outra passagem pensando em um alvo bem preciso – Dilma – mas sem ousar nomeá-lo. Seu presidente de honra (padrinho não?), FHC, teve menos papas na língua quando disse que "Dilma é um boneco de Lula".

É discutível se uma grande tarimba em eleições e cargos produz políticos melhores no Brasil concreto que temos. O melhor exemplo é o próprio Lula, que antes de chegar à Presidência foi apenas deputado, por um único mandato pelo PT de São Paulo, na Constituinte de 1988.

À 'sombra' de Lula, Dilma já empata com Serra ou o suplanta nas pesquisas, uma tendência que deve se acentuar (veja Pente-fino mostra que Dilma e Serra não estão tão empatados). A 'novata', o 'boneco', que 'caiu de de paraquedas' extrai daí a sua força: é a candidata de Lula e da continuidade das mudanças.

O discurso de Serra ainda pode mudar de bordão no decorrer da campanha. Aquele usado em Salvador, além de sorrateiro e sonso, não parece capaz de produzir alguma inflexão miraculosa nas pesquisas. Do ponto de vista da candidatura Dilma, quanto mais Lula na campanha, melhor. E se o próprio adversário ajudar o eleitor a fazer a identificação, aí é que as coisas se complicarão para o bloco oposicionista.

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