domingo, 31 de julho de 2011

Graças a Lula, Dilma tem uma maioria estável no senado.

Brasil

29 de Julho de 2011 - 11h41

Plano de Lula ajudou Dilma a ganhar todas as votações no Senado

O esforço do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para eleger uma maioria estável no Senado — sua maior fonte de problemas no governo passado — deu resultado. A média de apoio aos projetos de interesse do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff, fechou o semestre em 55,18% dos votantes. A média do segundo mandato de Lula foi de 48,66%. Das 18 votações no plenário do Senado, o governo ainda não perdeu uma sequer.

Situação diferente se verificou na Câmara, de acordo com um minucioso levantamento das votações do Congresso, no primeiro semestre do novo governo, preparado pela empresa de consultoria Arko Advice. Diferente, mas nem tanto quanto poderia sugerir o clima de crise dos últimos seis meses, quando dois ministros importantes (Antônio Palocci e Alfredo Nascimento) caíram e outros dois trocaram de lugar — Ideli Salvatti saiu da Pesca para o Ministério das Relações Institucionais, do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ).

Nesse período, Dilma contou com o apoio de 54,1% dos deputados, índice inferior aos primeiros seis meses do primeiro mandato de Lula (55,75%), mas acima do semestre que iniciou o segundo mandato de Lula (51,4%). Os números compilados pela Arko Advice revelam uma base nominalmente consistente — mas também vulnerável a interesses.

Veja-se o caso do PR, um partido dividido ao meio por causa dos interesses de seus diferentes grupos no Ministério dos Transportes. A sigla começou o mês o fevereiro com apoio de 80,95% no Senado e caiu nos meses seguintes, atingindo seu nível mais baixo em maio (40%). Voltou a subir quando percebeu que suas posições no ministério corriam risco e, em julho, voltou à casa dos 80%. A área dos Transportes está sendo inteiramente reestruturada.

São conhecidas as dificuldades que o ex-presidente Lula teve para aprovar seus projetos no Senado. A base aliada era formada por 50 senadores, mas, no momento em que mais precisou dos aliados, teve apenas 45 votos para prorrogar o imposto do cheque. Seriam necessários 49 votos para aprovar a proposta.

Dilma conta com um cenário bem mais favorável, resultado do empenho pessoal de Lula para derrotar oposicionistas mais radicais e eleger nomes da base aliada — exemplo disso é a eleição de Ciro Nogueira (PP) no Piauí e a derrota da candidatura considerada favorita de Heráclito Fortes (DEM). A base de Dilma soma hoje 61 senadores. A oposição soma 20 votos, número insuficiente até para requerimentos de criação de CPIs, se não houver ajuda dos insatisfeitos na base do governo.

A Arko Advice analisou 57 votações nominais e abertas que aconteceram no Congresso Nacional, neste período, sendo 39 na Câmara dos Deputados e 18 no Senado. No Senado, o governo não perdeu votações, até agora, mas já foi surpreendido duas vezes na Câmara. As duas em votações com forte conotação regional: o novo Código Florestal, ainda em tramitação no Senado, e uma medida provisória do PT que tirava benefícios fiscais de indústrias automobilísticas instaladas ou a serem instaladas em áreas da região Nordeste.

O componente regional é sugerido também nos percentuais de apoio das bancadas estaduais, independentemente de cor partidária, aos projetos de interesse do governo. As bancadas dos estados cuja economia está assentada na agroindústria estiveram entre as mais refratárias na hora das votações: o apoio das bancadas do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás ficou entre 48% e 49%. Em contrapartida, as votações da bancada de Mato Grosso, fortemente influenciada pelo senador Blairo Maggi (PR), ficou na casa dos 61%.

Dois estados governados pela oposição foram os que menos se alinharam aos projetos de interesse do governo: São Paulo (47,32%) e Rio Grande do Norte (41,98%). Detalhe curioso: o Distrito Federal foi a unidade da federação que mais esteve alinhada aos interesses do governo federal, com um apoio de 64,95% registrado. Mas também é a que deu mais votos contra — 20,51% (e 13,67% em média, de ausência). Fenômeno que requer estudo mais aprofundado, pois a política brasiliense definitivamente virou de ponta cabeça depois dos escândalos que abateram, sucessivamente, Joaquim Roriz e José Roberto Arruda.

O estudo da Arko Advice revela uma oposição menor no tamanho, mas bem menos colaborativa com o governo de Dilma, quando o semestre da presidente é comparado com o governo Lula. A oposição foi especialmente mais compreensiva com o Lula do primeiro mandato.

O PSDB, por exemplo, contribuiu com 24,82% de seus votos com projetos de interesse do Palácio do Planalto. O percentual do DEM não foi muito diferente: 24,22%. O PPS chegou a contribuir com 67,22% de seus votos — e o PSOL, partido criado em 2004 de uma dissidência do PT, colaborou com 38,23% de seus votos no primeiro mandato de Lula.

É provável que a ajuda da oposição no primeiro mandato de Lula tenha sido decorrente do projeto de reformas que o novo governo apresentou ao Congresso. Além da reforma da Previdência, que rachou definitivamente o PT, foram enviadas medidas tributárias e fiscais que em pouco ou quase nada se diferenciavam das propostas dos governos do PSDB. O divórcio é litigioso e ocorre no escândalo do mensalão, o suposto esquema de compra de votos que o PT teria construído no Congresso.

Já no segundo mandato de Lula a ajuda da oposição ao governo torna-se quase residual: o PSDB entra com 6,97%, o DEM com 10,37% e o PPS com 13,29% do apoio a projetos do governo. Nos seis primeiros meses do governo de Dilma a tendência se manteve: os projetos de interesse do governo federal contaram com a colaboração média de 7,23% do PSDB, 11,61% do DEM, 19,13% do PPS e 22,22% do PSOL.

No que se refere aos partidos que integram a base, o PT foi a sigla mais fiel ao governo durante o primeiro semestre, "tanto na Câmara (73,95%) quanto no Senado (88,10%)", diz o estudo da consultora. Na Câmara, entre os principais aliados, o apoio aos projeto de interesse do Planalto foi sempre superior aos 60% — o PR foi a sigla que apresentou o menor índice de adesão: 61,02%.

Enquanto na Câmara o PR foi o partido mais infiel ao Planalto, no Senado o título ficou com o PDT. Não porque o partido tenha votado contra o governo, e sim porque apresentou grande índice de ausência: 45,83%. Ressalta-se ainda que o PMDB, partido do líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), é o segundo partido com o pior índice de adesão ao Planalto: 60,64%. Mesmo assim, o desempenho é melhor que na gestão Lula (57,54%).

Da Redação, com informações do Valor Econômico

Obama: um presidente americano pendurado no abismo da história.

23 de julho de 2011 às 11:57

Afinal, qual o jogo político que o presidente Obama está tentando jogar?

por Heloisa Villela, para o Viomundo.com.br, de Nova York

É o fundo do fundo do poço.

Impossível entender qual é o jogo político que o Presidente Barack Obama está tentando jogar. Ele, que nas horas vagas, faz questão de jogar basquete, será que tem uma estratégia na discussão com os republicanos? Se tem, ainda nao deu para entender qual é.

Pois na última sexta-feira terminou o prazo que o presidente deu à oposição para um acordo em torno do nível de endividamento do país. O teto de endividamento tem que subir, caso contrário algo não será pago. Os juros dos títulos do tesouro, as aposentadorias, os salaries dos militares mobilizados para a chamada Guerra contra o terrorismo. Enfim, calote em algum lugar.

Aos 45 do segundo tempo os republicanos desistiram da proposta de acordo apresentada por Obama. O Presidente da Câmara, John Boehner, em uma demonstração clara de desprezo e desrepeito ao Presidente da República, não respondeu ao telefonema de Obama na quinta-feira e somente falou com o Presidente na sexta, depois de dar uma entrevista à imprensa pra dizer que a proposta do governo não era séria.

E Obama? Foi, também, dar explicações à opinião pública. Difícil é explicar como ele ofereceu tudo que ofereceu e ainda teve a proposta recusada. Uma verdadeira bofetada. Então vejamos: cortes dramáticos na rede de serviços sociais (tudo que os democratas odeiam e os republicanos amam). US$ 3,5 trilhoes em cortes de gastos nos próximos dez anos. Um aumento de impostos muito mais modesto do que no plano conjunto de senadores republicanos e democratas. E nada do fim das benesses em isenções fiscais para as empresas de petróleo e gás, que Obama tanto insistiu em incluir nas negociações.

Ou seja: tudo que os republicanos queriam. Nada do que os democratas almejavam. Risco político sério de comprometer o apoio de boa parte do eleitorado. Obama conseguiu fazer o plano mais à direita que os republicanos poderiam sonhar em ver um democrata propor. Mas se Obama decidiu ocupar o espaço da direita e não o centro-direita como fez Bill Clinton, qual é o movimento óbvio dos republicanos?

Ficar ainda mais à direita, para se diferenciar do Presidente. E por isso mesmo, foi graças à intransigência dos radicais do Tea Party (a turma da Sara Palin), que os programas de assistência social se livraram dos cortes que Obama ofereceu, gentilmente, à oposição.

É o velho ditado, quando mais voce se abaixa… E Obama só tem feito reverência. Não chama para o confronto. Não impõe limites. A impressão que ele passa é de que quer estar acima do bem e do mal, ser o fiel da balança. O sujeito cool, que nunca levanta a voz. Mas cada vez menos a classe média, os pobres e as minorias têm dificuldade de ver, nele, um líder.

Setor elétrico, privatizado, deita e rola. São muitos apagões e má qualidade dos serviços. Cadê o choque de gestão?

30 de julho de 2011 às 11:57

Via viamundo.com.br

Privatização não é sempre solução

por Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco

Passados quase 20 anos desde o inicio das privatizações das distribuidoras de energia elétrica, já se pode fazer um balanço do que foi prometido; e realmente do que esta ocorrendo no país, com um primeiro semestre batendo recorde em falhas no fornecimento de energia elétrica em diversas regiões metropolitanas.

Desde então a distribuição elétrica é operada pela iniciativa privada. As distribuidoras gerenciam as áreas de concessão com deveres de manutenção, expansão e provimento de infraestrutura adequada, tendo sua receita advinda da cobrança de tarifas dos seus clientes.

A tão propalada privatização do setor elétrico nos anos 90, foi justificada como necessária para a modernização e eficientização deste setor estratégico. As promessas de que o setor privado traria a melhoria da qualidade dos serviços e a modicidade tarifaria, foram promessas enganosas. Os exemplos estão ai para mostrar que não necessariamente a gestão do setor privado é sempre superior ao do setor público.

Desde 2006 é verificado na maioria das empresas do setor uma tendencia declinante dos indicadores de qualidade dos serviços com sua deterioração, refletindo negativamente para o consumidor. A parcimônia da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ante a decadência da prestação dos serviços é evidente. Criada no âmbito da reestruturação do setor elétrico para intermediar conflitos, acabou virando parte deles. A Aneel é cada vez mais questionada na justiça tanto por causa dos blecautes que ocorrem, já que não fiscalizam direito as prestadoras de serviço que acabam fazendo o que querem, como é questionada pelos reajustes tarifários.

Esta falta de fiscalização ilustra a constrangedora promiscuidade entre interesses públicos e privados dando o tom da vida republicana no Brasil. Os gestores da Aneel falam mais do que fazem.

O exemplo mais recente e emblemático no setor elétrico é a da empresa AES Eletropaulo, com 6,1 milhões de clientes, que acaba de receber uma multa recorde de R$ 31,8 milhões (não significa que pagará devido a expectativa de que recorra da punição, como acontece em quase todas as multas), por irregularidades detectadas como o de não ressarcimento a empresas e cidadãos por apagões, obstrução da fiscalização e falhas generalizadas de manutenção. A companhia de energia foi punida por problemas em 2009 e 2010, e devido aos desligamentos ocorridos no inicio do mês de junho, quando deixou as famílias da capital paulista e região metropolitana ficarem três dias no escuro.

O que aconteceu na capital paulista, não é exclusivo. Outras distribuidoras colecionam queixas de consumidores em todo o Brasil. Vejam o caso da Light, com 4 milhões de clientes, presidida por um ex-diretor geral da Aneel, com os famosos “bueiros voadores”, cuja falta de manutenção cronica tem colocado em risco a vida dos moradores da cidade do Rio de Janeiro.

A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), com 3,1 milhões de clientes, controlada pela Neoenergia, uma das maiores empresas do setor elétrico do país, também é outra das distribuidoras que tem feito o consumidor sofrer pela baixa qualidade da energia elétrica entregue, e pelas altas tarifas cobradas.

Infelizmente a cada apagão e a cada aumento nas contas de energia elétrica, as explicações são descabidas, e os consumidores continuam a serem enganados pelas falsas promessas de melhoria na qualidade dos serviços, de redução de tarifas e de punição as distribuidores. O que se verifica de fato, somente são palavras ao léu, sem correção dos rumos do que esta realmente malfeito. A lei não pode mais ser para inglês ver, tem de ser real, e assim proteger os consumidores.

Mostrar firmeza e compromisso público com a honestidade e com a eficiência é o minimo que se espera dos gestores do setor elétrico brasileiro.

PS do Viomundo: Inacreditáveis mesmo são os contínuos apagões na “locomotiva do Brasil”.

Redações brasileiras ignoram o fascismo, o fundamentalismo cristão e "otras cositas", assim... de direita.


TERRORISMO NA NORUEGA
A marca registrada do fascismo

Por Mauro Malin em 29/07/2011 na edição 652

Duas das mais importantes revistas semanais brasileiras, Época e IstoÉ, poderiam ter disputado, no fim de semana de 23-24/7, para saber quem foi capaz de errar mais na avaliação dos violentíssimos atos terroristas cometidos na sexta-feira (22/7), na Noruega, por um fascista local.
IstoÉ errou de cabo a rabo: simplesmente atribuiu o atentado à Al Qaeda. Ilustra a reportagem com uma foto de prédios abalados em Oslo e outra de Ayman Al-Zawahiri, sucessor de Osama bin Laden.
A revista, como as demais, apresentou a Noruega como um cenário político idílico. Esse engano se repetiu em todas as mídias. Ou quase. Na noite de terça-feira (26/7), Alberto Dines abriu o programa do Observatório de Imprensa na TV com um comentário que colocou em contexto histórico o ato aparentemente desvairado de Anders Behring Breivik:

“O monstro de Oslo certamente agiu sozinho, mas ele não estava nem está sozinho. Breivik faz parte de uma legião mundial de extrema-direita que não nasceu agora, começou nos anos 20 do século passado e levou a humanidade à mais sangrenta guerra de todos os tempos. A ideologia de Breivik só difere do nazifascismo no acréscimo do ingrediente religioso. De resto, nada a diferencia do rancor hitlerista e fascista. Sua xenofobia é gêmea do Tea Party americano. O antissocialismo que levou Breivik a atacar a sede do governo e massacrar 68 jovens conterrâneos num acampamento de verão é o mesmo que leva a direita americana a travar o orçamento do país com o pretexto de que Barack Obama é socialista. A pacífica Noruega foi invadida em 1940 pelas tropas de Hitler, que lá instalaram um ditador local, chamado Quisling, cujo nome tornou-se sinônimo de colaborador do nazismo. A Segunda Guerra Mundial ainda não acabou.”

Os suspeitos habituais
A Época evitou a imagem de uma Noruega isenta de riscos, mas os atribuiu exclusivamente à hostilidade de fundamentalistas islâmicos devido à participação do país no contingente da Otan que combate o Talibã no Afeganistão e à reprodução, em jornais noruegueses, de charges dinamarquesas que, em 2005, provocaram a ira de religiosos muçulmanos.
No fim da reportagem, mencionou a hipótese de o ataque ter sido promovido pela extrema direita norueguesa, dada a nacionalidade do atirador preso, mas isso não abalou o tom geral do texto, encimado por um subtítulo onde se lia: “Um duplo atentado à [sic] bomba e a tiros, endereçado ao governo norueguês, lembra o Ocidente de que o sinistro legado de Osama bin Laden continua à espreita”.

Presente desenraizado?
Veja esperou para dar as informações corretas, embora não tenha deixado de mencionar a hipótese de uma ação de fundamentalistas islâmicos. O que não saiu a contento foi o cenário norueguês. O clichê usado na capa da revista, “Terror no país da paz”, patenteia granítica ignorância histórica.
Por sinal, a reportagem afirma, logo no início, para criar um mote com o qual “amarra” o texto no final, que Alfred Nobel, antes de morrer, em 1896, estabeleceu que a entrega do prêmio que leva seu nome seria feita na Noruega, porque ela era “um país sem apego ao militarismo e dirigido por uma elite tolerante”.
Ocorre que em 1896 a Noruega não era um país, mas parte da Suécia (desde 1814, após uma dominação pela Dinamarca que remontava a meados do século 16). Tornar-se-ia independente em 1905 e, num plebiscito, escolheria como rei um príncipe dinamarquês. O regime é desde então essencialmente democrático, em molde parlamentarista.

O colaborador norueguês

A Noruega independente é um país pacífico, que ficou fora da Primeira Guerra Mundial e teria repetido essa escolha na Segunda se não tivesse sido invadida por Hitler. A Alemanha importava da Suécia o ferro que era escoado pelo porto norueguês de Narvik e daí pelo Mar do Norte. Hitler adiantou-se aos britânicos, que teriam invadido o país para cortar esse fluxo. O exército da Noruega resistiu dois meses aos alemães até capitular, tempo suficiente para a família real e o governo buscarem refúgio.
Forças antinazistas norueguesas impuseram ao invasor uma resistência nada desprezível, que, juntamente com a possibilidade de ataque dos Aliados, obrigou Hitler a manter no país 300 mil soldados que teriam sido preciosos em outras frentes de batalha.
O Quisling mencionado por Dines no programa de TV, Vidkun Quisling (sobrenome aportuguesado como quisling, sinônimo de quinta-coluna), foi primeiro-ministro entre 1942 e 1945, sob a égide de um “comissário civil” alemão, o nazista Josef Terboven. Das fotos que ilustram este texto (publicadas na Coleção 70º Aniversário da II Guerra Mundial, 1939-1945, vol. 4), uma mostra Quisling durante uma visita a Berlim e outra é de seu julgamento.


Por vontade própria
O que importa aqui não é a narrativa histórica, mas sinalizar para o leitor a força que teve e tem na Noruega, como na Europa inteira, nos Estados Unidos e alhures, a extrema-direita racista, antissemita, xenófoba.
Quisling era um homem da elite norueguesa, filho de conhecido pastor luterano. Foi ministro da Guerra entre 1931 e 1933. Depois, fundou o Nasjonal Samling, agremiação nacionalista que acabaria transformada em partido nazista, com escassos votos (2% nas eleições de 1935), embora tenha chegado a 45 mil filiados sob a ocupação hitlerista. Logo após o desembarque alemão, em abril de 1940, tentou sem êxito formar um governo pró-nazista. Não foi aceito. Só em 1942 conseguiu tornar-se primeiro-ministro.
Essas informações servem para sublinhar que Quisling não foi um colaborador “forçado”, ou alguém que se deixou cooptar em nome do “mal menor”. Era nazista convicto. Uma parte da intelectualidade norueguesa simpatizava com o nazismo – como, de resto, acontecia em todos os países.
O caso mais notório foi o do escritor Knut Hamsun, autor do celebrado romance A Fome e Prêmio Nobel de Literatura em 1920. O cartaz de propaganda nazista reproduzido abaixo mostra a expectativa de entendimento entre nazistas e noruegueses “contra o bolchevismo”.

Punição radical
Quisling, acusado de corrupção, assassinatos e traição, foi julgado, condenado e executado em outubro de 1945. Segundo Tony Judt (Pós-Guerra – Uma História da Europa desde 1945), na Noruega todos os integrantes do Nasjonal Samling (ele dá o número de 55 mil) foram julgados, “além de outros 40 mil indivíduos; 17 mil homens e mulheres receberam penas de detenção e trinta sentenças de morte foram expedidas, das quais 25 levadas a cabo. Em nenhum outro local as proporções [de punição a colaboracionistas pró-nazistas] foram tão elevadas”.
Segundo algumas interpretações, punições adotadas podiam ser classificadas como retaliações. Esse rigor era tanto antinazista como anti-alemão. Não funcionou para “sepultar” o radicalismo de direita, como se deu a entender depois da guerra (minha geração cresceu com essa ideia na cabeça, até que, no Brasil, a ditadura militar, com suas indisfarçáveis inclinações fascistas, enterrou ilusões).

Teimosa erva daninha
Giogio Almiranti fundou o Movimento Social Italiano, sucessor do Partido Nacional Fascista, em 1946. Franco, o ditador espanhol, governou de 1939 até morrer, em 1975. O ditador Antônio de Oliveira Salazar morreu em 1970, mas só em 1974 Portugal se viu livre do regime por ele instaurado em 1933.
Em 1999, a revista The Economist publicou um artigo cujo título é expressivo: “Fascismo ressurgente?”. O motivo imediato era a ascensão, na Áustria – país que teve proporcionalmente o maior número de nazistas, mas não os puniu em escala comparável à da Noruega e mesmo às de outros países ocupados por Hitler −, de Jörg Haider e seu Partido da Liberdade. Haider, que morreu num acidente automobilístico em 2008, propagandeava sua admiração por algumas políticas de Hitler.
Em relação à Noruega, a The Economist assinalava o crescimento do Partido do Progresso, de Carl Hagen (cerca de 15% dos votos nas eleições daquele ano; hoje, é o segundo partido no Parlamento, com 41 cadeiras), mas não o considerava uma ameaça à democracia escandinava, “menos ainda um herdeiro da depravação de Vidkun Quisling”. Entre as características do Partido do Progresso, a revista apontava o empenho em “espremer o estado de bem-estar social” e “um sopro de agressividade anti-imigrantes”.

Armas da direita
Com o terrorista Breivik o sopro virou vendaval, voltado contra noruegueses que seriam complacentes. O Christian Science Monitor disse na quinta-feira (28/7) que a oposição ao multiculturalismo e os sentimentos anti-imigrantes são “supreendentemente comuns” na Noruega.
Breivik não é louco. Ele aparentemente agiu sozinho, mas, como constatou Dines, não estava nem está sozinho. Com raríssimas exceções, atentados de direita de grandes proporções ou intensa repercussão política produziram recuos da democracia nas últimas décadas.
Isso aconteceu, por exemplo, na Itália (1976, assassinato de Aldo Moro; os autores se imaginavam de esquerda radical; 1980, atentado de Bolonha) e nos Estados Unidos (1995, bomba de Oklahoma, detonada por um simpatizante da milícia, governo Clinton; 2001, Torres Gêmeas e Pentágono, governo G.W. Bush).
Teria acontecido no Brasil em 1981, truncando a reconquista democrática, se a bomba destinada ao Riocentro não tivesse explodido no colo do sargento que a portava.
A Segunda Guerra Mundial derrotou Mussolini e Hitler, mas não o fascismo, que brota e rebrota indiferente ao grau de severidade com que seus praticantes tenham sido punidos após a vitória aliada.
As revistas que noticiaram o terror em Oslo informaram, na edição do mesmo fim de semana, que a prefeitura de Wunsiedel, sul da Alemanha, decidiu destruir o túmulo do segundo homem na hierarquia nazista, Rudolf Hess, exumar seus ossos, cremá-los e jogar suas cinzas no mar, para acabar com a peregrinação de neonazistas ao cemitério onde ele estava enterrado havia quase 25 anos.
A consciência dessa desafiadora realidade está um pouco distante das redações brasileiras.

sábado, 30 de julho de 2011

Internautas confiam mais nas redes sociais e nas pessoas que fazem parte delas.


VIDA EM SOCIEDADE
Estudo avalia impacto das redes sociais
Por em 20/06/2011 na edição 647

O instituto de pesquisas americano Pew Research Center divulgou um estudo sobre o impacto das redes sociais online na vida em sociedade. É a primeira pesquisa de âmbito nacional a avaliar como os americanos adultos usam os sites de relacionamentos. Foram entrevistadas 2.255 pessoas – 1.787 delas internautas e 975 membros de redes sociais como Facebook, LinkedIn, MySpace e Twitter – entre outubro e novembro de 2010.

O estudo teve como base uma pesquisa do Pew de 2009 sobre tecnologia e isolamento, que concluiu que, ainda que haja uma pequena relação entre o declínio no número e diversidade das relações sociais desde o advento das tecnologias digitais, este declínio não é causado diretamente pela internet.

A nova pesquisa corrobora os resultados da anterior. O uso de redes sociais entre os americanos dobrou desde 2008. Ainda assim, não há evidências concretas de que pessoas que usam estas redes tenham menos relações sociais fora da internet. No estudo de 2009, para medir o quanto as pessoas confiam nas pessoas com quem convivem, o Pew perguntou: “De maneira geral, você diria que a maior parte das pessoas é confiável ou que você deve ser cauteloso ao lidar com as pesssoas?”. Na ocasião, apenas 32% dos entrevistados responderam que as pessoas são confiáveis. Na pesquisa deste ano, este número subiu para 41%. Entre os usuários de internet, ele chegou a 46%, enquanto apenas 27% dos não usuários responderam a mesma coisa.

Confiança na rede
Junto com estes resultados, devem ser levados em conta fatores demográficos. Educação e raça tendem a afetar os níveis de confiança nas pessoas – independente de ferramentas comunicativas. Ainda assim, o Pew ressalta que os internautas têm duas vezes mais chances de achar que a maior parte das pessoas é confiável do que quem não acessa a internet. Haveria, também, uma relação entre o tempo gasto nas redes sociais e a confiança nas pessoas. Membros do Facebook que entram no site diversas vezes por dia têm 43% mais chances do que os outros internautas de confiar nas pessoas.

A pesquisa também aponta para uma relação entre o uso das redes e o engajamento político. Levando em conta, claro, que idade, gênero e educação são os fatores mais determinantes para se avaliar o engajamento político, o Pew concluiu que internautas – e especialmente membros do Facebook – têm mais probabilidade de se envolver na política do que pessoas com os mesmos fatores demográficos mas não usuárias da internet. Internautas têm quase duas vezes e meia mais chances de participar de manifestações políticas, 78% mais chances de terem tentado influenciar o voto de alguém, e 53% mais chances de ter votado ou tido a intenção de votar – nos EUA o voto não é obrigatório – do que as pessoas que não acessam a internet. De novo, este número cresce ainda mais quando se trata de usuários do Facebook. Com informações do Nieman Journalism Lab.

O estudo do Pew pode ser lido aqui (em inglês).

MST em outra. O modelo de luta, agora, é agroecológico.

via CartaCapital.com.br

O MST muda o foco

Soraya Aggege 29 de julho de 2011 às 10:44h

João Pedro Stedile, um dos principais líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), afirma que a concentração de terras tem crescido e que a reforma agrária clássica realmente “saiu da agenda” nacional. Resta ao MST o caminho da “reforma agrária popular”, que defende um novo modelo de desenvolvimento agrícola, o agroecológico.
CartaCapital: Qual é a dimensão hoje da necessidade real de distribuição de terras no Brasil?
João Pedro Stedile: O Brasil é um dos países de maior concentração de propriedade da terra. Nos últimos anos, mesmo com o governo Lula seguiu concentrando. Os últimos dados do cadastro do Incra, de dezembro 2010, revelam que temos 66 mil fazendas classificadas como grandes propriedades improdutivas, que controlam 175 milhões de hectares. Pela Constituição e pela Lei Agrária Complementar, todas essas propriedades deveriam ser desapropriadas e distribuídas. Temos ao redor de 4 milhões de famílias de trabalhadores agrícolas sem terra que seriam os potenciais beneficiários.



'Nos últimos anos, conseguimos muitos assentamentos, mas isso não é reforma agrária', afirma João Pedro Stedile a Soraya Agegge. Foto: Mauricio Lima/AFP

CC: A distribuição de terras ainda é o fator mais importante da reforma agrária? Por quê?

JPS: A reforma agrária surgiu como política de governos da burguesia industrial no Hemisfério Norte, que aplicando o princípio republicano de direitos iguais, democratizou a propriedade da terra. Com isso impulsionava o mercado interno para a indústria. Portanto, falar em reforma agrária é necessariamente democratizar o acesso, a posse e a propriedade da terra. Sem isso, nunca haverá uma sociedade democrática, se os bens da natureza que não são frutos do trabalho, são concentrados em mãos de poucas pessoas. No Brasil, as grandes propriedades improdutivas são apenas 1,3%, mas controlam 40% de todas as terras. Veja que desapropriando apenas esses 1,3% teríamos uma fantástica mudança no campo.

CC: Ainda há um processo de reforma agrária no Brasil, no sentido de distribuição de terras?

JPS: Um programa de reforma agrária verdadeiro é quando as políticas de desapropriação de terras e democratização da propriedade conseguem impedir a concentração. Como disse, no Brasil a concentração só aumenta. O Censo de 2006 revelou que a concentração é muito maior agora do que em 1920, quando recém havíamos saído da escravidão. O que existiu no Brasil, nas últimas décadas, foi a conjugação de duas políticas públicas: a colonização de terras na Amazônia, e isso não altera a estrutura da propriedade, e a política de assentamentos rurais para resolver conflitos sociais e políticos, isso quando há muita pressão por parte dos trabalhadores. Nos últimos anos conseguimos muitos assentamentos, com muita pressão social e um alto custo de sacrifício dos trabalhadores que às vezes pagaram com a vida. Mas isso não representa reforma agrária, no conceito clássico. Além disso, no Brasil está havendo uma desnacionalização da propriedade da terra, acelerada ainda mais pela crise do capitalismo financeiro que fez com que os capitais especulativos corressem para investir em patrimônio da natureza no Brasil e se protegessem da crise. Estima-se que os capitais estrangeiros já controlam mais de 30 milhões de hectares, para produzir cana de açúcar, gado e soja. Só no setor sucroalcooleiro controlam 33% de toda a terra e usinas.

CC: O que mudou de fato no processo de acesso à terra, desde que o PT assumiu o governo? Houve um aumento nos índices de concentração de terra ou uma redução?

JPS: Há uma lógica do funcionamento do capital na agricultura, que leva naturalmente à acumulação e à concentração da produção e da propriedade da terra. Para combater esse processo o governo deveria ter uma política pública massiva. Por isso que, tanto no governo de FHC como no de Lula, a concentração da propriedade da terra continuou. E quanto maior as taxas de lucro na agricultura, mais altos serão os preços da terra e maior será a concentração da propriedade.

CC: O que o MST acredita que realmente será feito no Brasil com relação à reforma agrária? Quais são as perspectivas do MST?

JPS: O programa de reforma agrária clássica, que a maioria dos países industrializados fizeram no Hemisfério Norte, democratizando a propriedade e criando mercado interno, depende de um projeto político de desenvolvimento nacional baseado na industrialização. Isso saiu da agenda no Brasil. Não porque não seja um caminho, mas, sim, porque as burguesias industriais brasileiras nunca tiveram um projeto de desenvolvimento nacional. Então, esse tipo de reforma agrária está inviabilizado por elas, lamentavelmente. Cabe aos movimentos sociais do campo se organizarem e lutarem agora, por um novo tipo de reforma agrária. Chamamos de reforma agrária popular. Além da desapropriação de grandes latifúndios improdutivos é preciso reorganizar a produção agrícola, com um novo modelo. Nós defendemos políticas que priorizem a produção de alimentos. Alimentos sadios, sem agrotóxicos. Uma combinação de distribuição de terras com agroindústrias nos assentamentos na forma cooperativa, voltada para o mercado interno. Implantando uma nova matriz tecnológica baseada nas técnicas agrícolas da agroecologia. E ainda a ampla democratização da educação, com a instalação de escolas em todos os níveis, em todo o meio rural.
Essa é nossa plataforma e a nossa perspectiva. Pode demorar algum tempo, mas esse será o futuro da agricultura em todo o mundo. O modelo do capital, do agronegócio é inviável, econômica, ambientalmente e do ponto de vista da saúde pública também, pois só produz lucro, usando muito veneno e degradando o meio ambiente.

CC: Não tem ocorrido mais pressão popular pela reforma agrária. O que mudou realmente no MST, nesta última década? O MST não consegue mais promover grandes mobilizações, limitando-se aos protestos pontuais, como o “abril vermelho” e os locais? Não falamos do pico de acampamentos após a posse de Lula, mas de maneira global.

JPS: O MST manteve a mesma média de 250 ocupações de fazendas por ano. Nós continuamos lutando. E aumentamos a nossa base. Mas agora mudou a correlação de forças políticas. Temos um inimigo mais poderoso. Agora, além do latifundiário temos de enfrentar o modelo do agronegócio que representa uma aliança entre os grandes proprietários de terra, o capital estrangeiro e o capital financeiro. E some-se a eles o apoio ideológico irrestrito da grande mídia, que ataca permanentemente quando qualquer trabalhador se mobiliza. Foram contra até a mobilização dos bombeiros, imagine dos sem-terra. Então, é na opinião desta mídia empresarial e hipócrita, que o MST teria diminuído sua força, mas essa não é a realidade. Por outro lado, se a reforma agrária depende agora de mudança de modelo de desenvolvimento, isso carece por sua vez de um amplo processo de mobilização popular no País, que ainda não está na agendo pelo refluxo do movimento de massas. Mas algum dia ele voltará, e voltará com força. Pois os problemas estruturais da sociedade brasileira estão aí, intocáveis e latentes.

CC: Quantos acampamentos e quantas famílias acampadas o MST mantém hoje? Esse número pode crescer, por exemplo, com a multiplicação dos grandes canteiros de obras, principalmente das hidrelétricas, por causa da especulação imobiliária? Ou deve diminuir à medida que a situação econômica do País melhora?

JPS: Nós temos ao redor de 60 mil famílias acampadas. E há outros 4 milhões que vivem no campo, que são pobres, e que poderiam ser beneficiados pela reforma agrária. E que de fato agora, estão adormecidos pelo Bolsa Família, que favorece 4 milhões de famílias acampadas, e pela expansão do emprego na construção civil. Mas isso não é uma solução definitiva. É um programa necessário, mas apenas de emergência. A solução envolve programas estruturantes de emprego e renda.

CC: Qual relação o senhor vê entre o Programa Brasil sem Miséria e a reforma agrária?

JPS: O Programa Brasil sem Miséria ainda é uma colcha de retalhos de diversos programas de compensação social. Nenhum deles afeta a estrutura e a causa da pobreza. Por isso temos defendido com o governo diversas propostas. Há 14 milhões de miseráveis que podem ser atendidos por medidas emergenciais. E há outros 40 milhões que formam a turma do Bolsa Família. Então o governo deveria fazer um amplo programa, ainda que localizado nas regiões mais carentes, de acesso à terra. Um programa de instalação de agroindústrias cooperativas, que criam emprego e renda. Potencializar a Conab, para que se transforme numa grande empresa compradora de todos os alimentos da agricultura familiar. Criar um mutirão nacional de alfabetização dos 14 milhões de adultos. Instalar escolas em todas as comunidades rurais, de ensino fundamental e escolas regionais, no meio rural de ensino médio, via IFETS ou outras escolas técnicas agrícolas. E ainda um amplo programa de reflorestamento, ampliando o Bolsa Verde para todos os 4 milhões de camponeses pobres.

CC: O MST pode vir a apoiar a criação de um partido político, por meio do Consulta Popular? A partidarização, enfim, pode ser um caminho para o MST ou parte dele?

JPS: Os partidos políticos no Brasil estão desgastados e possuem pouca coerência com programas de nação ou ideologias de classe. Em geral, são usados por pessoas e grupos, apenas como trampolim para cargos e recursos públicos. Mas a organização política na sociedade é fundamental para construir as mudanças. O MST é um movimento social, autônomo, com base social no meio rural e nas cidades. Nós devemos estimular como militantes sociais e cidadãos, a revitalização da prática política no País, mas o caminho do MST deve ser apenas a luta pela reforma agrária popular.

CC: Qual é o futuro para o modelo atual?

JPS: Acredito que embora a expressão reforma agrária esteja desgastada e a imprensa burguesa nos faça uma campanha permanente contra a luta dos trabalhadores, pois é aí, onde ela tem hegemonia absoluta, no futuro teremos grandes mudanças no modelo agrícola e na sociedade brasileira. Pois o modelo do capital de apenas organizar a produção agrícola para o lucro, agredindo o meio ambiente e usando venenos, é insustentável no longo prazo. E a sociedade, em geral, e a natureza estarão do nosso lado para realizar as mudanças estruturais necessárias.

Brasil alimenta pobres do mundo.

operamundi.uol.com.br
29/07/2011 - 08:42 | Débora Zampier/Agência Brasil | Brasília

Brasil fará próximas doações de alimentos para Haiti, Moçambique, Zimbábue e Sudão
O Brasil encaminhará mais de 31 mil toneladas de arroz e feijão nos próximos meses para o Haiti, Moçambique, o Zimbábue e o Sudão. De acordo com o Itamaraty, a expectativa é que os alimentos cheguem aos portos de Rio Grande (RS) e São Francisco do Sul (SC) entre essa sexta-feira (29/07) e meados de agosto. A partida dos navios ocorre, em geral, até 15 dias depois.

Nesta sexta-feira, devem chegar ao Porto de São Francisco do Sul 2,9 toneladas de feijão ensacado com destino a Moçambique. O porto também deve receber a segunda leva de feijão destinada ao Haiti, 7,1 mil toneladas. Até agora, o Brasil já embarcou 2,4 mil toneladas do produto para o país da América Central.

Leia mais:
Unicef: 780 mil crianças podem morrer de fome na Somália
ONU declara crise de fome em duas regiões do sul da Somália
ONU adverte que crise de fome no Chifre da África será longa
Brasil doa 53 mil toneladas de alimentos para o Chifre da África
Desnutrição severa dos refugiados da Somália supera 50%, diz ACNUR

Em agosto, o Brasil irá preparar a logística para enviar 15 mil toneladas de arroz a granel para o Haiti, 4 mil toneladas de arroz ensacado para Moçambique, 1,5 mil tonelada de feijão ensacado para o Zimbábue e 3,5 mil toneladas de feijão ensacado para o Sudão.

Ontem (28/07), o governo anunciou que encaminhará 53 mil toneladas de feijão e milho para a Somália e a Etiópia, países do Nordeste da África que passam por uma forte seca. De acordo com a Organização das Nações Unidas, a doação equivale a R$ 34,5 milhões em alimentos, a décima maior em uma lista de 30 países.

As doações de alimentos em estoque público para assistência humanitária internacional são previstas por uma lei que entrou em vigor em junho. Ela autoriza o governo a doar, até junho do ano que vem, 500 mil toneladas de arroz, 100 mil toneladas de feijão, 100 mil toneladas de milho, 10 mil toneladas de leite em pó e uma tonelada de sementes de hortaliças.

Além dos países já citados, a lei permite doações para a Bolívia, El Salvador, a Guatemala, Nicarágua, Cuba, a República Centro-Africana, o Congo, o Níger e a Coreia. Também foi autorizado o embarque para os países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e para a Autoridade Nacional Palestina. A coordenação das doações cabe ao Ministério das Relações Exteriores em parceria com o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas.

Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook

Crise americana assusta sul-americanos. Principalmente, os que dependem dos EUA. A Colômbia, por exemplo.


Internacional| 29/07/2011



Unasul preocupada com a crise econômica mundial
Após a posse de Ollanta Humala na presidência do Peru, os presidentes da Unasul conversaram a portas fechadas sobre os possíveis efeitos da crise econômica mundial e sobre a possibilidade de seu agravamento. O Brasil, assim como a Argentina, é relativamente vulnerável a uma turbulência financeira, mas já não depende das compras de produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos. Já a Colômbia está no extremo oposto. Exporta para o mercado norteamericano cerca de 40% dos bens que vende ao exterior. O artigo é de Martín Granovsky.
Martín Granovsky – Página/12

A presidenta Cristina Fernández de Kirchner deixou a reunião de cúpula da União Sulamericana de Nações a toda velocidade e sem declarações, nem sobre a Unasul, nem sobre os mortos em Jujuy. Ela deixou Lima rumo a Brasília, onde inaugura hoje (29) a nova sede da embaixada argentina no Brasil. No entanto, o Página/12 soube que os presidentes da Unasul decidiram realizar um encontro a portas fechadas para falar abertamente sobre a crise financeira internacional. A cúpula da Unasul prosseguiu após um almoço em que Tania Libertad e duas ministras do gabinete [argentino] cantaram “Del puente a la Alameda”. Libertad também cantou “Yo vengo a oferecer mi corazón”, de Fito Páez.

A declaração dos presidentes sulamericanos chama-se “Declaração da Unasul contra a desigualdade”. Um trecho diz que “em todo esse tempo, nossos países avançaram em valorizar nossos recursos e riquezas naturais e mostraram-se capazes de enfrentar com êxito os efeitos adversos da crise financeira internacional, registrando, por sua vez, significativas taxas de crescimento econômico e de redução da pobreza”.

O documento acrescenta que os presidentes reconhecem “a importância do processo de integração como instrumento de redução da pobreza e como elemento de inclusão social”, mas, ao mesmo tempo, constatam “que nos países da região persistem índices de desigualdade muito elevados que afetam a dinâmica da redução da pobreza e mantem excluídos dos benefícios da expansão econômica segmentos da sociedade de menor renda, particularmente os mais vulneráveis”.

Segundo apurou o Página/12, a presidenta brasileira, Dilma Rousseff, e seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, foram aqueles que mais se estenderam na análise da crise financeira internacional, que poderia se aprofundar em função de uma eventual moratória parcial de pagamentos por parte dos Estados Unidos. O Brasil vem lutando para que a situação – denominada por seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, como “guerra cambial” – deixe de pressionar, como está ocorrendo, na direção de sobrevalorizar o real e prejudicar, assim, as exportações brasileiras.

A posição que os funcionários brasileiros manifestaram ontem é que, felizmente, o maior país da região, conta com amplas reservas financeiras e com um mercado interno desenvolvido pela incorporação de 36 milhões de pessoas que estavam fora do mapa.

Os brasileiros projetam aumentar a bateria de medidas contra o dumping de produtos estrangeiros, por exemplo, dos Estados Unidos.

A agenda da presidenta argentina hoje em Brasília não se limitará, por isso, à inauguração da embaixada no terreno que o Brasil cedeu quando transferiu a capital do Rio de Janeiro para uma planície deserta.

Se, por um lado, a valorização do real ceder e o Brasil conseguir manter a leve desvalorização da última semana, a Argentina melhorará seu nível competitivo. Mas o risco seria uma diminuição do ritmo de crescimento do Brasil, um sócio comercial chave para os produtos argentinos. Os funcionários argentinos dos ministérios de Economia e de Desenvolvimento Industrial encontrarão do outro lado a colegas cada vez mais sensíveis à permeabilidade frente às importações e mais atentos a sua balança comercial. Neste cenário, é um cenário provável que Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff tratem de estudar alguma política que diminua ruídos no comércio bilateral.

O Brasil, assim como a Argentina, é relativamente vulnerável a uma turbulência financeira, mas já não depende das compras de produtos brasileiros por parte dos Estados Unidos. A Colômbia está no extremo oposto. Exporta para o mercado norteamericano cerca de 40% dos bens que vende ao exterior. A guinada política sulamericana promovida por Santos, que assumiu em 7 de agosto de 2010, atenuou a estratégia de alinhamento automático com Washington, de Alvaro Uribe. A crise norteamericana seria um estímulo a mais para melhorar as relações com os vizinhos da região, Venezuela incluída.

O presidente Hugo Chávez foi o grande ausente da posse de Humala e da cúpula da Unasul. A declaração dedicou um parágrafo a ele: “Reafirmamos nossa solidariedade com o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez Frías, e confiamos em seu pronto restabelecimento e recuperação”. Chávez postou no twitter: “Que conversa adorável tive com a presidenta Cristina, essa irmã minha e nossa! Obrigado Cristina! Te prometo viver!”. O presidente venezuelano, que tem câncer e enfrenta eleições gerais em 2012, completou ontem 57 anos.

Seu estado de saúde agrega um motivo de preocupação aos vizinhos do bairro. Com uma Europa em queda e os Estados Unidos abalados pela crise financeira – situação que costumam prejudicar as nações menos desenvolvidas – qualquer mudança no tabuleiro sulamericano aparece agigantada por uma enorme lupa.

Os presidentes da Unasul felicitaram o novo presidente peruano Ollanta Humala e resolveram convocar uma cúpula de funcionários e especialistas em temas sociais este ano, em Cuzco. A necessidade de inclusão social e coesão do Peru multicultural foram alguns dos temas abordados por Humala em seu discurso de posse no Congresso. “Renovamos nossa plena confiança na capacidade criadora da Unasul para enfrentar com êxito aos desafios do presidente na certeza de que, juntos, conseguiremos forjar um futuro de justiça social, igualdade e bem-estar para nossos povos”, diz o documento final da cúpula.

Tradução: Katarina Peixoto

Fotos: Roberto Stuckert Filho/ABr

Brasil e Argentina cada vez mais "hermanos"


Internacional| 29/07/2011


Conselho, nova embaixada e Malvinas estreitam laços com Argentina
Durante encontro oficial entre as presidentas Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, Brasil e Argentina instalam conselho empresarial para buscar acordos que ajudem setor privado a ampliar os negócios e contornar problemas comerciais. Cristina também inaugura nova embaixada argentina, agora em prédio próprio, enquanto Brasil volta a defender reivindicação histórica do vizinho de controle sobre as Ilhas Malvinas. Para presidentas, iniciativas contribuem para aprofundar relações estreitadas pelos antecessores Luiz Inácio Lula da SIlva e Néstor Kirchner.
André Barrocal

BRASÍLIA – Brasil e Argentina instalaram nesta sexta-feira (29/07) um conselho empresarial que vai discutir como o setor privado dos dois lados da fronteira pode colaborar no desenvolvimento mútuo e evitar que surjam problemas comerciais entre os países. A Argentina também inaugurou uma nova sede de sua embaixada em Brasília, localizada agora em prédio do governo argentino, não mais em área alugada. Já o Brasil solidarizou-se mais uma vez com o desejo histórico do vizinho de controlar as Ilhas Malvinas e comprometeu-se a impedir que navios com bandeira da ilha usem portos brasileiros.

Todoso estes fatos aconteceram durante visita oficial da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, à presidenta Dilma Rousseff, e, para elas, ajudam a aprofundar mais um pouco a relação entre os dois países, estreitada pelos antecessores de ambas – o marido da primeira, Néstor Kirchner, morto em 2010, e o padrinho político da segunda, Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-presidente brasileiro esteve na abertura da nova embaixada, situada em área nobre de Brasília e cuja construção fora decidida e iniciada por Néstor. Segundo Dilma, a nova embaixada simboliza um “legado de cooperação, entendimento e ação conjunta” deixado pelos dois ex-presidentes que “nós [as duas presidentas] iremos aprofundar”.

Neste sentido, o conselho empresarial – que Dilma e Cristina haviam resolvido criar em janeiro, na visita da brasileira a Buenos Aires, antes mesmo dos conflitos comerciais de maio - terá o papel de “ampliar a integração das cadeias produtivas” dos dois países.

Para Dilma, os problemas comerciais recentes (cancelamento de importações de alguns produtos brasileiros pela Argentina) foram “de pouca monta” e não afetam as “oportunidades” de negócios identificadas pelos dois países “em várias áreas”.

Já Cristina disse que a criação do conselho é uma “estratégia inteligente de integração”. Sobre a embaixada nova, afirmou ser um “símbolo” de como a Argentina considera o Brasil um “sócio estratégico” e “histórico”.

Em outro gesto de aprofundamento das relações, as duas presidentas tocaram nas conversas em um assunto caro ao povo argentino: o controle das Ilhas Malvinas.

Em comunicado escrito por diplomatas dos dois países durante a visita, Dilma reitera o “respaldo” brasileiro “aos legítimos direitos” da Argentina “na disputa de soberania relativa às Ilhas Malvinas”.

O documento diz que os dois países consideram que a exploração de petróleo nas Malvinas pelo Reino Unido é um “ato ilegal”, “incompatível” com determinações da Organização das Nações Unidas (ONU) e que “não contribui em nada” para resolver o conflito.

No texto, o Brasil diz que tomará todas as medidas para impedir “o ingresso a seus portos dos navios que portem a bandeira ilegal das Ilhas Malvinas”, como determina uma declaração da União Sul-Americana de Nações (Unasul) de novembro do ano passado. De própria voz, em declaração à imprensa feita ao lado de Cristina, Dilma ofereceu “solidariedade” ao pleito argentino.

Em junho, em uma sessão do Comitê Especial de Descolonização da ONU, o Brasil já havia, mais uma vez, manifestado apoio à Argentina.

Fotos: Valter Campanato/ABr

EUA e o mundo à beira do abismo econômico. Quem vai pular primeiro?


Internacional| 28/07/2011
Visualização da dívida norte-americana em notas de 100 dólares

Risco de calote dos EUA faz mercados falarem em "cataclismo" 

Os Estados Unidos estão a uma semana de serem obrigados a suspender os pagamentos à sua administração pública, aos veteranos de guerra e a credores estrangeiros se o governo Obama e o Partido Republicano não resolverem a queda de braço em torno do limite da dívida pública. Fundo Monetário Internacional e Wall Street falam em "cataclismo" de âmbito mundial se esse cenário se concretizar. A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB do país.
Esquerda.net

Existe a convicção de que as duas partes não irão até à ruptura mas reina o nervosismo nos mercados financeiros e respectivos símbolos, desde a diretora geral do FMI a Wall Street, que não hesitam em recorrer à palavra “cataclisma” de âmbito mundial se o cenário se concretizar.

São muitas as divergências entre Obama e os democratas de um lado e os republicanos, que dominam a Câmara dos Representantes, do outro. No entanto, que impede verdadeiramente o acordo é o calendário para integração do limite do déficit no orçamento. A Casa Branca insiste que a alteração deve fazer-se de uma só vez, válida até 2013, portanto já depois das eleições presidenciais do próximo ano. Os republicanos, através do presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, pretendem que a operação seja a dois tempos: um aumento até fevereiro ou março de 2012 e o outro até 2013.

Obama contesta porque, em seu entender, uma crise do mesmo tipo seria reaberta dentro de nove meses, praticamente já em plena campanha eleitoral; Boehner argumenta que o presidente “quer um cheque em branco”. Analistas políticos norte-americanos consideram que o duelo é uma verdadeira queda de braço com um conteúdo eleitoral em que ambas as partes testam reacções perante as suas próximas linhas econômicas e orçamentárias.

Na sequência de uma mensagem televisiva presidencial pedindo aos cidadãos para que pressionem seus representantes sobre a necessidade de se entenderem, Washington tem estado nas últimas horas sob uma tempestade de chamadas telefônicas e mails, sufocando comunicações, websites de representantes e agitando o Twitter através da campanha “Fuck You Washington”.

A dívida pública norte-americana é de 14,3 trilhões de dólares, equivalente a cerca de 100 por cento do PIB, e, mais do que a definição do limite da dívida, o que divide os dois partidos do sistema de poder norte-americano são os conteúdos das reduções de gastos que devem acompanhar esse aumento. Os republicanos pretendem cortes entre 2,7 e 3 trilhões e os democratas vão até 1 trilhão contando com mais 1,2 trilhões que viriam da retirada de tropas do Afeganistão e do Iraque.

Os números nem sempre dão uma ideia da envergadura dos montantes envolvidos, o que levou um website a defini-la graficamente a partir da acumulação de notas de cem dólares de modo a perfazerem o total da dívida do Estado federal norte-americano. Os resultados podem ser encontrados aqui.

As agências de classificação de risco, que mantêm a dívida norte-americana sob pressão, consideram que sem cortes de despesas de 4 trilhões de dólares não haverá condições para travar a “indisciplina orçamentária”.

A imprensa norte-americana recorda que desde que o aumento da dívida norte-americana se tornou vertiginoso, a partir das administrações Reagan nos anos oitenta, os limites já foram alterados cerca de 40 vezes, o que torna inusitado o prolongamento da resistência republicana em relação ao teto. Alguns órgãos da imprensa europeia lembram também que os alargamentos dos limites das dúvidas públicas são frequentes em Estados da União Europeia, inclusivamente na Alemanha, que em 1949 estabeleceu na sua Constituição um limite para o déficit e logo deixou de cumprir essa norma.
Foto Christopher Rasch/Flickr

quarta-feira, 27 de julho de 2011

EUA e Europa empurram a crise com a barriga. Solução, tão cedo, nem pensar.



Paul Krugman: "Podemos estar perto de reviver a crise de 1930"
Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, o que está ocorrendo agora é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que alimentou a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o "impulso" que a economia precisava. O artigo é de Paul Krugman.
Paul Krugman - SinPermiso

Esta é uma época interessante, e digo isso no pior sentido da palavra. Agora mesmo estamos vivendo, não uma, mas duas crises iminentes, cada uma delas capaz de provocar um desastre mundial. Nos EUA, os fanáticos de direita do Congresso podem bloquear um necessário aumento do teto da dívida, o que possivelmente provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais. Enquanto isso, se o plano que os chefes de Estado europeus acabam de pactuar não conseguir acalmar os mercados, poderemos ter um efeito dominó por todo o sul da Europa, o que também provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais.

Somente podemos esperar que os políticos em Washington e Bruxelas consigam driblar essas ameaças. Mas há um problema: ainda que consigamos evitar uma catástrofe imediata, os acordos que vêm sendo firmados dos dois lados do Atlântico vão piorar a crise econômica com quase toda certeza.

De fato, os responsáveis políticos parecem decididos a perpetuar o que está sendo chamado de Depressão Menor, o prolongado período de desemprego elevado que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e que continua até o dia de hoje, mais de dois anos depois de que a recessão, supostamente, chegou ao fim.

Falemos um momento sobre por que nossas economias estão (ainda) tão deprimidas. A grande bolha imobiliária da década passada, que foi um fenômeno tanto estadunidense quanto europeu, esteve acompanhada por um enorme aumento da dívida familiar. Quando a bolha estourou, a construção de residências desabou, assim como o gasto dos consumidores na medida em que as famílias sobrecarregadas de dívidas faziam cortes.

Ainda assim, tudo poderia ter ido bem se outros importantes atores econômicos tivessem aumentado seu gasto e preenchido o buraco deixado pela crise imobiliária e pelo retrocesso no consumo. Mas ninguém fez isso. As empresas que dispõem de capital não viram motivos para investi-lo em um momento no qual a demanda dos consumidores estava em queda.

Os governos tampouco fizeram muito para ajudar. Alguns deles – os dos países mais débeis da Europa e os governos estaduais e locais dos EUA – viram-se obrigados a cortar drasticamente os gastos diante da queda da receita. E os comedidos esforços dos governos mais fortes – incluindo aí o plano de estímulo de Obama – apenas conseguiram, no melhor dos casos, compensar essa austeridade forçada.

De modo que temos hoje economias deprimidas. O que propõem fazer a respeito os responsáveis políticos? Menos que nada. A desaparição do desemprego da retórica política da elite e sua substituição pelo pânico do déficit tem verdadeiramente chamado a atenção. Não é uma resposta à opinião pública. Em uma sondagem recente da CBS News/The New York Times, 53% dos cidadãos mencionava a economia e o emprego como os problemas mais importantes que enfrentamos, enquanto que somente 7% mencionava o déficit. Tampouco é uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juro da dívida dos EUA seguem perto de seus mínimos históricos.

Mas as conversações em Washington e Bruxelas só tratam de corte de gastos públicos (e talvez de alta de impostos, ou seja, revisões). Isso é claramente certo no caso das diversas propostas que estão sendo cogitadas para resolver a crise do teto da dívida nos EUA. Mas é basicamente igual ao que ocorre na Europa.

Na quinta-feira, os “chefes de Estado e de Governo da zona euro e as instituições da UE” – esta expressão, por si só, dá uma ideia da confusão que se tornou o sistema de governo europeu – publicaram sua grande declaração. Não era tranquilizadora. Para começar, é difícil acreditar que a complexa engenharia financeira que a declaração propõe possa realmente resolver a crise grega, para não falar da crise europeia em geral.

Mas mesmo que pudesse, o que ocorreria depois? A declaração pede drásticas reduções do déficit “em todos os países salvo naqueles com um programa” que deve entrar em vigor “antes de 2013 o mais tardar”. Dado que esses países “com um programa” se veem obrigados a observar uma estrita austeridade fiscal, isso equivale a um plano para que toda a Europa reduza drasticamente o gasto ao mesmo tempo. E não há nada nos dados europeus que indique que o setor privado esteja disposto a carregar o piano em menos de dois anos.

Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, isso é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que tornou grande a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o impulso que a economia precisava.

Mencionei que o Banco Central Europeu – ainda que, felizmente, não a Federal Reserve – parece decidido a piorar ainda mais as coisas aumentando as taxas de juros?

Há uma antiga expressão, atribuída a diferentes pessoas, que sempre me vem à mente quando observo a política pública: “Você não sabe, meu filho, com que pouca sabedoria se governa o mundo”. Agora, essa falta de sabedoria se apresenta plenamente, quando as elites políticas de ambos os lados do Atlântico arruínam a resposta ao trauma econômico fechando os olhos para as lições da história. E a Depressão Menor continua.

(*) Paul Krugman é professor de Economía em Princeton e Prêmio Nobel 2008.

Tradução: Katarina Peixoto

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tiririca e o abestado do Valdemar Costa Neto

O efeito Tiririca



A eleição do senhor Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, para a Câmara dos Deputados com mais de um milhão e trezentos mil votos, recorde, é profundamente legítima e não cabe a menor contestação.

Como também é legítima qualquer análise sobre o candidato e hoje deputado.

O fenômeno eleitoral que consagrou Tiririca nas urnas se deu devido à profunda crise moral e ética de nossa politica. A desmoralização de nossos representantes impulsionou Tiririca.

O voto no palhaço sem dúvida foi um voto de protesto, um voto de deboche, um voto de quem não acredita mais no Poder Legislativo como instrumento de mudança em nosso país; mais do que isso, de quem não compactua mais com o comportamento nefasto, corrupto e malogrado de parte de nossos deputados.

A campanha do Tiririca em muitos aspectos foi verdadeira.

Uma vez que ele diz exatamente o que pensa como nas frases ditas por ele: "Você está cansado de quem trambica? Vote no Tiririca" - "Oi, eu sou o Tiririca da televisão. Sou candidato a deputado federal. O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei, mas depois, eu te conto”.

Entretanto Tiririca com sua suntuosa votação levou mais uma vez para Brasília o “ilustre” deputado Valdemar Costa Neto do PR assim como mais outros três deputados. É verdade que Valdemar da Costa Neto teve a enorme votação de 174.826 votos.

Contudo, o currículo de escândalos deste deputado que é presidente de “honra” do cômico para não dizer trágico Partido da República não é mais um caso de folhetim, mas de polícia.

Envolvido no escândalo do mensalão foi alvo de diversas acusações e renunciou em agosto de 2005 para não ser cassado. Foi, contudo, reeleito no pleito de 2006.

Foi marido de Maria Christina Mendes Caldeira de quem se separou num divórcio tumultuado. Valdemar deixou a ex-esposa numa mansão que ela se recusava a desocupar. [Para expulsá-la, Valdemar chegou a ordenar o corte de água e luz, num episódio que foi amplamente noticiado pela imprensa.].

Um ano depois, sua ex-mulher testemunhou contra ele no escandalo do mensalão, acusando-o de recebimento de propinas, relações espúrias com Delubio Soares e, também da compra de um partido "nanico", o PMN.

Maria Christina também revelou que Valdemar chegou a gastar 500 mil reais, em apenas uma noite, num cassino em Punta del Este. Disse também que Valdemar escondia um gigantesco cofre com dólares em casa. Valdemar negou todas as acusações da ex-mulher.

Em 2009, teve seu nome citado nas investigações da Operação Castelo de Areia que apura crimes envolvendo executivos do Grupo Camargo Correa que teriam dado dinheiro para facilitar a liberação de um terreno na capital paulista que interessava à construtora.

E agora mais uma vez envolvido em corrupção no Ministério dos Transportes juntamente com Ministro Alfredo Nascimento.

E agora Tiririca? Pior do que tá fica sim.

Querendo ou não você ajudou a eleger o Valdemar.




Henrique Matthiesen

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Para não mais confundir o interesse público com o privado.

Princípios Republicanos
Já faz muito tempo que boa parte de nossa estrutura constitucional de poder está carcomida pela abdicação de princípios fundamentais de nossa sociedade e sobre tudo do Estado Democrático de Direito. 

Um destes princípios abdicados é o Principio Republicano, ao qual está esculpido em seu primeiro artigo constitucional.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania;

III - a dignidade da pessoa humana;

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V - o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

O princípio Republicano, segundo Ruy Barbosa ao comentar a Carta Constitucional de 1889, já acentuava um outro ponto essencial à construção do referido princípio. Dizia o insígne mestre que não bastava para a caracterização do regime a simples tripartição do poder. “É necessário que para eles existirem, os três poderes constitucionais, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, os dois primeiros derivem, realmente, de eleição popular." É a consagração do voto como meio indispensável para a legitimação dos agentes públicos que exercerão o controle e administração da coisa pública.

Outro fundamento que norteia o princípio republicano é de freios e contra freios das Instituições, ou seja, o controle que se deve ter sobre elas: o Legislativo que fiscaliza o Executivo que é fiscalizado pelo povo que tem a justiça como instituição de fiscalizar as normas sociais “jurídicas” e punir aos que as violarem. Isso tudo fundamentado pelo poder do voto que elege os poderes Executivo e Legislativo.

Entretanto, no Brasil o conceito e o comportamento republicano que deveríamos esperar de nossos representantes estão sendo distorcidos e abdicados diuturnamente.

A descompostura política, o mistifório dos interesses públicos e privados e a renúncia de funções têm sido um atentado contra o princípio republicano e a democracia.

Não cabe dentro do conceito Republicano o acharque ao estado brasileiro nem a descompostura de nosso poder legislativo assim como a morosidade de nossa justiça.

Este cenário caótico fere de forma cabal os princípios que deveriam nortear nossa sociedade para seu desenvolvimento enquanto nação soberana.

A chaga deste comportamento não republicano está caracterizado pela corrupção e pelo fisiologismo hoje presente de forma desavergonhada nas relações entre Executivo e Legislativo.

Este comportamento não se restringe ao poder central, mas, em todas as esferas Nacional, Estadual e Municipal.

Hoje, nossas Instituições estão reféns do clientelismo e das relações promíscuas dentre os poderes e dentre os interesses públicos e privados. O sistema construído sob essa nova forma de se governar tem custado muito caro aos cidadãos brasileiros, uma vez que o Estado deixa de cumprir suas obrigações, pois os recursos são desviados para alimentar esse sistema perverso de clientelismo e de comportamentos não republicanos.

Além disso, vemos o imobilismo e a inércia de nossas Instituições nos grandes temas e reformas necessárias ao nosso país.

A agenda da modernidade de vitais para nosso desenvolvimento é prolatada há décadas, simplesmente porque não há interesse em solucionar essas questões fundamentais, uma vez que nosso atraso é combustível para a perpetuação destas lideranças não republicanas e indignas de nossas Instituições.

É necessário que nossa sociedade resgate seus valores mais caros e um deles é, sem duvida, o princípio e o comportamento Republicano, onde os interesses da nação sejam respeitados e que nossas instituições funcionem de forma republicana e que não se confundam mais os interesses privados com o interesse público.




Henrique Matthiesen

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Japão corre na contra-mão do mundo após a tragédia de Fukushima.

04/07/2011 01h30 - Atualizado em 04/07/2011 03h31

Município japonês de Genkai aprova reativação de reatores nucleares


Início de operação foi atrasado por causa de terremoto e tsunami de março.
35 dos 54 reatores do país estão paralisados desde a tragédia.


Da EFE

O prefeito de Genkai, no Japão, deu nesta segunda-feira (4) sinal verde para reativar no município dois reatores atômicos cujo início de operação foi atrasado por causa do terremoto do dia 11 de março, que causou o pior acidente nuclear em 25 anos.

saiba mais
Japão inicia racionamento de energia para evitar apagão pós-tsunami

Os dois reatores de Genkai, um povoado de apenas 7.000 habitantes, estavam paralisados desde o semestre passado para uma inspeção rotineira, como estabelece a legislação japonesa, que obriga a controles das centrais a cada 13 meses.

No entanto, sua retomada de operação se adiou de forma indefinida após o terremoto de março.


Visão aérea da usina nuclear de Genkai. (Foto: Kyodo / Reuters)

Apesar do apoio das autoridades municipais, antes de colocá-la em andamento a operadora da unidade, a Kyushu Electric Power, também precisa da autorização do governador da província de Saga, Yasushi Furukawa, que assinalou que tomará uma decisão em meados deste mês.

Após conhecer o sinal verde do município, o presidente da Kyushu Electric Power, Toshio Manabe, disse que prevê ativar os dois reatores imediatamente após obter a autorização do governador de Saga e dar início às operações comerciais duas semanas depois.

Após o terremoto e o tsunami, a segurança dos reatores de Genkai "foi reforçada com medidas urgentes", assegurou Manabe, citado pela agência local "Kyodo".

O respaldo do prefeito à reabertura acontece no meio do debate sobre a segurança das centrais de energia atômica do Japão, onde 35 dos 54 reatores do país estão paralisados desde a catástrofe de março.

Um ponto final na polêmica Pelé x Maradona (clipping infame)

Até que enfim, alguém resolveu por um fim na polêmica Pelé x Maradona.

Na manhã de hoje recebi, por e-mail, uma tabela que derruba, definitivamente, o devaneio argentino de querer colocar o "Dieguito" no mesmo nível (ou acima) do Edson "Pelé" do Nascimento.

Como verá, você também, no esmerado levantamento realizado por um anônimo capixaba, não há a menor possibilidade, se quer, de "encaixar" o pequeno Maradona em uma posição próxima à do Rei do Futebol.

A pesquisa foi realizada seguindo critérios científicos, com argumentos irrefutáveis, principalmente o último ítem da tabela.

O resultado do estudo foi publicado num boteco, também anônimo, do Espirito Santo.

Veja e comprove:

     |
     |
     |
     |
     |
     |
     |
    \ /
Clique na imagem para ampliar

domingo, 3 de julho de 2011

O crime de Strauss-Kahn

A oligarquia financeira contra Strauss-Kahn ou conspiração não é teoria, é prato de todo dia

Adriano Benayon *

A arbitrária prisão de Strauss-Kahn, sem que tenha havido reação de monta da opinião pública mundial, é exemplo emblemático da tirania imperial anglo-americana. Há dois fatores principais a explicar a aceitação ou a indiferença diante de fato de tal gravidade: a desinformação e a covardia.

Os conduzidos pela mídia metem-se a dar opiniões. Aventam várias pretensas explicações, como: o homem teria enlouquecido; era viciado em sexo; os homens não sabem conter a libido etc.

Não pensam nas razões lógicas:

1) Strauss-Kahn foi envolvido em complô, porque incomodava os banqueiros ávidos em sugar, ainda mais, os povos da Europa, esmagados por dívidas suscitadas por esses banqueiros;

2) liderava as pesquisas para a eleição presidencial da França, muito à frente de Sarkozy, instrumento da oligarquia anglo-americana.

A muito poucos ocorre que Strauss-Kahn pode estar sendo submetido injustamente a terríveis humilhações, sofrendo danos morais e materiais, tendo sua reputação destruída, sem ter cometido falta alguma. Linchado publicamente, porque desagradou os concentradores mundiais.

O que também contribui para que tantos descartem o óbvio e o lógico, em favor de julgamentos apriorísticos? Antipatia em relação aos que alcançaram altas posições, quando apanhados em supostos delitos. Chega a haver a exploração demagógica desse sentimento, por parte do sistema de poder que vive só de injustiças e hipocritamente faz o povo acreditar que nos EUA figurões são  punidos, e que o caso indicaria mais uma virtude do sistema de governo desse país.

Entretanto, os membros e servidores mais altos da oligarquia, regiamente pagos fizeram mil fraudes nos bancos, nas agências reguladoras, no FED e no Tesouro dos EUA e não foram punidos, mesmo tendo causado a brutal depressão que dura desde 2008. Essa se traduz na duplicação do número de desempregados, na supressão de benefícios sociais e em mais de dez milhões de pessoas perdendo
suas casas para os bancos.

A falsa crença na democracia estadunidense formada através da lavagem cerebral gigantesca por parte dos formadores de opinião ignora, por completo, a realidade ali implantada, a saber, o estado policial a serviço da oligarquia.

Vamos aos fatos. Nenhum de nós é Deus para saber hoje, ou mesmo daqui a meses se aconteceu o suposto atentado sexual atribuído ao diretor-geral do FMI. Quem quer que afirme ter isso realmente ocorrido não tem base alguma.

Não houve flagrante, o que já basta para demonstrar o absurdo da prisão preventiva. Além disso, como apontaram observadores, não é comum uma camareira de um hotel de luxo entrar num apartamento pensando que estava vazio. Ademais, passaram-se três horas entre o alegado atentado e a comunicação à polícia. Depois de o advogado de Strauss-Kahn ter informado que este deixara o hotel antes do horário alegado, é que a polícia o retificou para uma hora a mais.

O jornal London Evening Standard mencionou, em 18.05.2011, que Strauss-Kahn falara, duas semanas antes, com jornalistas do Libération, de Paris, sobre a possibilidade ser montada contra ele uma armação, em que ofereceriam, para acusá-lo, 500 mil a 1 milhão de euros a uma mulher estuprada num estacionamento, por exemplo.

Ora, como a pretensa vítima não fez queixa imediata? Por que, se Strauss-Kahn estava no hotel, não foi confrontado com a tal camareira e com eventuais testemunhas?

De fato, os EUA tornaram-se um estado policial e, já antes disso, os serviços secretos do País organizaram o assassinato do presidente John Kennedy, em 1963, o de Robert Kennedy, sagrado candidato na Convenção de seu partido (1968), e o do Papa João Paulo I (1978). Procederam, ainda, à implosão das torres gêmeas
(2001), quando os aviões com islâmicos foram apenas ingrediente para fomentar o terror no seio da população e justificar as agressões ao Afeganistão e ao Iraque.

Ao lado do uso campeante de drogas, da prostituição disseminada, por exemplo,em toda Nova York, combinam-se, há muito tempo, nos EUA, resquícios do puritanismo com um feminismo agressivo e fascista, de tal modo que se tornou corriqueiro mulheres simularem atentados sexuais para obter consideráveis
vantagens pecuniárias.

Um conhecido insuspeito até por não ser crítico consistente do imperialismo anglo-americano narrou-me fato, vividoem Nova York, quando trabalhou na ONU. Estava com seu diretor, num prédio, aguardando o elevador, quando este parou no andar, nele estando somente uma mulher e de boa aparência. Meu conhecido moveu-se para o elevador, quando seu chefe segurou-o pelo braço. Só depois que o elevador passou novamente, um tanto cheio, os dois o adentraram. Explicou-lhe o diretor: se a mulher resolvesse, ao saírem, atirar-se ao solo e gritar, poderia depois exigir quantia absurdamente alta para retirar queixa de tentativa de estupro.

Atribui-se a Strauss-Kahn ser chegado a conquistas, mas se ele, com 62 anos, até hoje nunca fora acusado de tentar estuprar alguém, é inverossímil que agora o tenha feito com uma camareira de hotel, ao que se diz, pouco atraente. Altamente situado e rico, Strauss-Kahn, não deveria encontrar muita dificuldade
em ter amantes. Por fim, não é plausível que se expusesse a um incidente do tipo, mormente sabendo que poderosos interesses preparavam algo contra si.

Já se podem explicitar os motivos para destituir o chefe do FMI que estava transformando a instituição. Antes, relembre-se que só têm sido envolvidas em tais escândalos personalidades que agiram em favor, seja de seu país, seja de outros povos sugados pela oligarquia.

Julien Assange também foi acusado de crime sexual, por duas mulheres, na Europa. Não está preso, mas chegou a ser, na Inglaterra, cérebro do império. Assange não ocupa função pública, nem nacional nem internacional. É o fundador do Wikileaks. O que ele tem em comum com Strauss-Kahn? Ter contrariado a oligarquia financeira.

O mesmo que o ex-Procurador-Geral e ex-Governador do Estado de Nova York, Eliot Spitzer. Este se notabilizou por combater efetivamente as falcatruas dos financistas de sua cidade, grande centro da finança mundial, e se afastou após ter sido acusado de estar com prostitutas.

Vejam este trecho de artigo de Daniel Tencer, publicadoem GLOBAL RESEARCH, 28.07.2008 (tradução minha):

O FED (Reserva Federal) o órgão quase autônomo que controla a oferta de moeda dos EUA é um esquema tipo Ponzi, que criou bolhas após bolhas na economia dos EUA e precisa tornar-se responsável por suas ações, diz Eliot Spitzer

Segundo Ratigan, o FED trocou maus créditos bancários por US$ 13,9 trilhões em dinheiro, que deu aos bancos em apuros. Spítzer construiu reputação como o xerife de Wall Street, por ter, quando procurador-geral, perseguido seriamente os crimes empresariais, e depois renunciou ao cargo de governador do Estado por causa de revelações de que pagou prostitutas. Spitzer pareceu concordar com Ratigan em que o resgate daqueles bancos representa o maior roubo e a maior ocultação de crime de todos os tempos.

A desmoralização Spitzer, Assange e agora a de Dominique Strauss-Kahn (DSK) são de grande interesse do sistema de poder tirânico da oligarquia. Desde 1945/46, quando o FMI começou a operar, nenhum de seus diretores foi vítima de escândalo desse tipo. Por que agora DSK o foi? Antes dele todos se tinham
mantido dentro da rígida ortodoxia, de o FMI agir inflexivelmente com os países com dívidas infladas por regras e procedimentos fraudulentos.

Ao ser preso, de forma humilhante, dentro do avião em que seguiria para Paris, DSK ia a reunião sobre a gravíssima crise dos países europeus mais afetados pelos desmandos financeiros dos grandes bancos, que levaram esses países a elevadíssimas dívidas públicas.

Fontes bem informadas junto a serviços de inteligência dos EUA indicaram que os maiores banqueiros da Europa estariam por trás da trama contra DSK, pois este se mostrou contrário a impor privatizações e políticas que arrasariam ainda mais as economias dos países endividados, prejudicando-os com danos ainda
maiores ao emprego e à produção.

Recomendo aos fluentes em inglês acessar o site Global Research e ler o artigo de Paul C. Roberts, de 18.05.2011, The Strauss-Kahn Frame-up: The American Police State Strides Forward. Roberts é excelente economista e ocupou alta posição na administração de Ronald Reagan.

Roberts cita, nesse artigo, recentes declarações de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel, ex-diretor do Banco Mundial e notável critico dos desmandos que levaram ao colapso financeiro em 2007-2008, bem como declarações do próprio DSK, as quais implicavam sentença de morte para este último, porquanto desnudam a perversidade do sistema financeiro dominante, verdadeira bomba de nêutrons sobre as estruturas produtivas dos países.

Concluindo, a brutal e injustificável prisão de Strauss-Kahn constitui marco decisivo na questão de se a oligarquia anglo-americana continuará desfrutando de seu poder tirânico sem objeção efetiva de quem quer que seja. O processo na Justiça norte-americana é do gênero prenunciado, há mais de cem anos, por Franz Kafka, na obra Das Prozess, e uma reedição dos processos da tirania nazista.

Os franceses, inclusive de outros partidos que não o de DSK, deveriam insurgir-se contra a absurda detenção do diretor-presidente de uma instituição financeira internacional, o FMI, que tem todo direito a imunidades semelhantes às diplomáticas, e só está nos EUA, por ter essa instituição sede ali.

Aliás, todos os países deveriam retirar seus diplomatas e funcionários da ONUem Nova York, por falta de garantias para estes exercerem livremente suas atividades. Os latino-americanos, além disso, teriam de retirar seus diplomatas também da OEA, sediada em Washington, DC.

Deveria haver intensa campanha na França, por parte dos verdadeiros socialistas e dos reais amantes da liberdade, para exigir a liberação de Strauss-Kahn e para insistir em que ele seja candidato, capaz que é de derrotar Sarkozy. A exposição do golpe e de quem lucra se esse golpe policialesco tiver êxito
contribuiria para a vitória eleitoral de DSK.

Vejamos se há gente dotada de coragem e de decência ou se vai prevalecer a covardia, somada aos interesses dos rivais e de grupos que não desejam DSK à frente da França.

Em tempo: Strauss-Kahn foi liberado, sob pagamento da fiança no valor de US$ 1,6 milhão, pouco depois de ter renunciado ao cargo de diretor-geral do FMI. Antes, havia sido rejeitado o pedido nesse sentido. Não terá sido a renúncia ao cargo, a condição para poder responder ao processo em liberdade?

* Adriano Benayon é Doutor em Economia. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”, editora Escrituras. abenayon@brturbo.com.br

PATRIA LATINA - BRASIL Texto: / Postado em 23/05/2011 ás 09:37

Hoje, 03 de julho, já se sabe que a camareira agiu de má fé e DSK está em liberdade. (Eduardo Pinotti)

sábado, 2 de julho de 2011

A "grande" mídia (paulista), machista e preconceituosa.



MÍDIA & PRECONCEITO
O poder, as mulheres e a mídia

Por Renata Noiar em 27/06/2011 na edição 648

No dia 13 de junho passado, ao começar a entrevista com a ex-candidata à presidência da República Marina Silva (PV) no programa Roda Viva(TV Cultura), a apresentadora Marília Gabriela questionou a existência de um comportamento preconceituoso por parte da mídia quanto à inédita participação de mulheres no atual governo federal, tendo como expoente maior a própria presidenta da República, Dilma Rousseff. Do alto de uma sobriedade impressionante para uma candidatada derrotada no pleito presidencial, Marina alegou estar no ineditismo à falta de habilidade da imprensa em lidar e noticiar a nova realidade da política brasileira.

Mas o que não foi respondido pela ex-senadora – a existência ou não de preconceito no comportamento da mídia – vai se evidenciando no teor do conteúdo da agenda da mídia por parte de uma parcela significativa dos meios de comunicação. Este preconceito se concretizou com as recentes mudanças feitas na equipe de governo. A saída do ministro Pallocci e troca de cadeiras entre os ministros das Relações Institucionaise da Pesca foram o ponto de partida para conteúdos onde gênero é usado a partir do viés do preconceito.

A escolha da senadora Gleise Hoffmannpara Casa Civil e da também ex-senadora Ideli Salvati para o Ministério das Relações Institucionaisabriu espaço para o tom jocoso por parte da imprensa quanto à participação das mulheres no governo federal, que segue em descompasso tanto com a trajetória política das escolhidas da presidenta, quanto com a trajetória de avanços e conquistas obtidos pelas mulheres ao longo de um século. Em sua maior parte noticiado, e muitas vezes festejado, pela própria imprensa. A “República do salto alto, da saia justa”, entre outros, são alguns dos estereótipos escolhidos pela mídia para “qualificar” o governo federal.

O sopro machista

Mas mais do que tentar desqualificar, previamente, as mulheres que exercem os três cargos mais altos da República, a imprensa brasileira dá sinais de sua falta de preparo em lidar, por conveniência, com as mudanças vividas pelo mundo em um século de avanços feministas. Ou, o que é pior, de não saber se ajustar a uma nova realidade, ao se valer de machismo em uma tentativa rasa de fazer graça. Não que o humor não se apropriará deste momento e o fará da melhor forma possível, tirando boas gargalhadas de todos, inclusive de mim. Contudo, trata-se aqui do papel de quem deve informar, e não fazer humor. Ao tentar inverter papeis com o humor, a grande mídia deixa claro que se valerá, sempre que lhe for conveniente, de artifícios machistas para desacreditar o governo. Não se importando em retroceder um século, ao tempo em que as mulheres que lutavam por seus direitos eram tidas como loucas, duronas, briguentas, destemperadas... E tantos outros predicados tão em voga nas últimas semanas!

O novo sempre impõe, primeiramente, estranhamento e, em seguida, a adaptação. Entretanto, o cenário atual da agenda da mídia que se utiliza negativamente do gênero em sua pauta seja para criticar, analisar ou noticiar ações do governo federal, não tem nada de inédito, considerando as experiências durante o governo de Luiza Erundina à frente da prefeitura de São Paulo (1988-1992) e de Marta Suplicy, também à frente da prefeitura da maior cidade brasileira (2001-2002) e sede dos maiores veículos de comunicação do país, deixando sinais claros de onde vem o sopro machista que ecoa na mídia brasileira.