terça-feira, 24 de abril de 2012

"Uma imprensa que não pratica a transparência tem menos autoridade para cobrá-la do Estado"


MÍDIA, DEMÓSTENES & CACHOEIRA
Imprensa livre é imprensa transparente
Por Eugênio Bucci em 24/04/2012 na edição 691

Reproduzido do Estado de S.Paulo, 19/4/2012; intertítulos do OI

Os defensores de uma CPI mista sobre o escândalo Demóstenes-Cachoeira anunciaram há dois dias que já têm em mãos assinaturas sobrando para instalá-la. Coletaram 67 nomes no Senado Federal e outros 340 na Câmara dos Deputados, bem mais do que o mínimo necessário, de 27 no Senado e 171 na Câmara. Sem trocadilho, parece mesmo que as águas vão rolar. “Doa a quem doer”, teria dito um alto dirigente petista, com o propósito de dirimir quaisquer dúvidas quanto a uma vontade velada de seu partido de refugar e abafar a investigação. No dizer de estrategistas palacianos, a CPI poderá “respingar” no governo Dilma Rousseff (dando curso às metáforas líquidas que o episódio enseja), mas, mesmo assim, parece que ela vem aí. “Doa a quem doer”, repetiu uma liderança do combalido Democratas. Chegamos assim àquele ponto de não retorno, ou, se quisermos dizer a mesma coisa no linguajar do cancioneiro popular, daqui para a frente “não dá mais para segurar”. O coração do submundo da política poderá, sim, explodir, e aí vai doer em muita gente. Caixas-pretas correm o sério risco de ser viradas pelo avesso. Água mole em pedra dura, sabe como é.

Alguém já disse que esta, sim, será “a CPI do fim do mundo”, o que é bastante improvável. Como de costume, nessas horas o alarmismo sobe de tom, ganha constrangedora estridência, à beira da histeria. Os parlamentares e seus partidos que fiquem com o medo para eles – do ponto de vista da cidadania, quanto mais roupa suja for lavada em público (sigamos com as imagens aquosas), melhor. Quanto mais transparência, mais daremos razão a Hillary Clinton, segundo quem a presidente Dilma teria firmado um novo “padrão global” no combate à corrupção. Que assim seja.

A investigação não pode faltar nos regimes democráticos
No meio desse mar tão revolto, açoitado por tempestades verbais, não necessariamente cerebrais, há um tema paralelo que vem crescendo. Trata-se de um aspecto específico que raramente ocupa lugar nas páginas dos jornais: as relações entre esses esquemas de corrupção – como o de Carlinhos Cachoeira – e a imprensa. Isso não é objeto de CPI, naturalmente, mas deveria merecer mais destaque na pauta jornalística. O tema não deveria ser jogado fora junto com a água suja – ele é de interesse público. A questão é: em que termos ele é de interesse público?

Uns e outros já se apressaram a sentenciar que qualquer jornalista que entreviste ladrão presta serviços à bandidagem, num arroubo que, além de moralista, é falso, bastante estulto e, talvez, pérfido, mal-intencionado. E por quê? Muito simples. Levemos em conta que, por aqui, nenhum partido olha os antecedentes criminais de seus assim chamados “quadros” – ao contrário, uma boa folha corrida pode até mesmo ser critério de promoção nas instâncias partidárias. Nesse ecossistema, a atividade de cobrir a política requer de seus praticantes a rotina insalubre de conversar com vigaristas. Obrigatoriamente. Fora isso, o jornalismo sempre teve o dever de ouvir os fora-da-lei. É parte do ofício, parte dos afazeres de uma imprensa que se quer livre. Exatamente por isso, quanto mais forem visíveis e claros os procedimentos de repórteres que escutam assaltantes do erário, melhor para a instituição da imprensa e também para o cidadão.

É nessa medida que o assunto é de interesse público: embora não seja propriamente objeto de CPI, que se instala para investigar um fato concreto, deve ser esclarecido pela própria imprensa, uma vez que interessa à sociedade. Mais que isso: o esclarecimento desse tema ajudaria a sociedade a entender melhor a investigação jornalística e por que essa investigação não pode faltar, nunca, nos regimes democráticos. É um equívoco supor que, exposto nos jornais, esse assunto abriria caminho para os que atacam a liberdade de imprensa. Ao contrário, quanto mais tematizado, mais ele fornecerá subsídios para a defesa e a valorização da reportagem investigativa.

É o público leitor que tem direito à imprensa livre
É nesse ponto que chama a atenção a resistência ao debate. Para alguns jornalistas, esse tópico não passa de uma armadilha, uma casca de banana, um instrumento oportunista daqueles que pretendem regular – pela força do governo – o conteúdo do noticiário. Sim, pode até ser verdade. Admitamos que no meio da barulheira existam aqueles que se aproveitam do momento para criar um caldo de cultura favorável a que o poder enquadre o jornalismo – não subestimemos as megalomanias totalitárias que vão pela cabeça de uns e outros. Mas, no fundamental, o tema é mais relevante do que a intenção dos autoritários. Ele é de interesse público na exata medida em que a liberdade de expressão é de interesse público.

Muitos defensores da imprensa livre afirmam – com razão – que ela não pode ser pautada pelo Estado. Pela mesma razão, deveriam também afirmar que ninguém, em nome da liberdade de imprensa, deve pretender pautar o que os militantes políticos dizem ou deixam de dizer. Se dirigentes partidários lançam mão de palpites infelizes sobre a função dos jornais, o papel dos defensores da liberdade é desmontar esses palpites, mostrando que eles são infelizes. Insistir na mera desqualificação pessoal do autor do palpite é dar curso a um procedimento discursivo igualmente autoritário, que não contribui para que o público entenda melhor o jornalismo.

Uma imprensa que não se antecipa a compartilhar com a sociedade os seus critérios editoriais, os seus métodos e as suas condutas operacionais tem menos chances de ser defendida ativamente pelo seu próprio leitor. É ele, o público leitor, que tem direito à imprensa livre – é, portanto, a ele que a imprensa livre deve prestar contas. O cidadão tem mais apreço pelo jornalismo quando é convidado a compreendê-lo, a fiscalizá-lo e a sustentá-lo.

No mais, uma imprensa que não pratica a transparência tem menos autoridade para cobrá-la do Estado.

***

[Eugênio Bucci, jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM]

Aécio atende pedido de Demóstenes e emprega prima de Cachoeira no Governo de Minas. Veja degravação:

Leia transcrição dos grampos da PF sobre nomeação de prima de Cachoeira

Demóstenes recorreu ao colega e ex-governador Aécio Neves para emplacar Mônica Vieira
23 de abril de 2012 | 23h 24

O Estado de S. Paulo

1) 13 de maio de 2011, Carlinhos Cachoeira liga para o senador Demóstenes Torres às 18h18:42.

Veja também:
Com ajuda de Demóstenes, Cachoeira 'nomeou' prima no governo de Minas
Aécio diz que 'não recaía questionamento' sobre Demóstenes

Cachoeira: Ô doutor.
Demóstenes: Fala professor.
Cachoeira: Aquele currículo que eu te falei lá de Uberaba, da minha prima pô. O Manuel não te entregou, não?
Demóstenes: Não, deixa eu ligar prá ele aqui... tá dentro do carro. Esse rapaz ele é difícil, ele é muito burro, sabe? Eu vou olhar aqui.
Cachoeira: Não esquece de levar isso. É importantíssimo prá mim. Que tá tendo vaga lá, senão... você consegue por ela lá com Aécio... em Uberaba, pô, a mãe dela morreu. É irmã da minha mãe.
Demóstenes: Não, tranquilo. Deixa eu só ligar pro rapaz lá. Deixa eu ligar prá ele e te ligo aí.

2) 16 de maio de 201, Demóstenes fala com Cachoeira às 20h51:31

Demóstenes: Tá tudo certo, tá lá, amanhã cedo eu pego. Amanhã antes de eu falar com ele eu te ligo e você me explica direito, falou?
Cachoeira: Tá excelente, brigado doutor.

3) 17 de maio de 2011, às 7h19:45.

Demóstenes: Fala professor, só tô vendo currículo aqui. Tá assim, cargo, qualificação profissional, diretoria CEDECI, o que é CEDECI?
Cachoeira: Ele sabe lá. É Estadual lá, um cargo.
Demóstenes: Precisa decifrar, eu vou encontrar com o Aécio lá pelas 10 horas, só o que é CEDECI, prá perguntar direito, pra pedir direito.
Cachoeira: Tá, eu vou decifrar aqui e te falo aí.
Três minutos depois, às 7h21, Cachoeira liga para Demóstenes e o informa que a repartição chama-se Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social.

4) 18 de maio de 2011, às 11h52:05, Demóstenes liga para o bicheiro.

Demóstenes: Fala professor. A mulher trabalha no Estado?, ela é funcionária do Estado? O Aécio quer saber.
Cachoeira: Não, ela trabalha na Prefeitura Municipal de Uberaba.

5) 20 de maio de 2011, às 20h48:28, numa ligação de 39 segundos, Demóstenes diz ao contraventor que Aécio conseguiu o emprego para a prima.

Demóstenes: Seguinte, o Aécio arrumou o trem lá, e vão dar pro deputado um outro cargo. Agora, ele perdeu o currículo da mulher, então na hora que eu chegar aí você me dá o nome inteiro dela e o telefone prá eles ligarem, falou?
Cachoeira: Então tá. Qual cargo que é, você sabe?
Demóstenes: O que você pediu, ué.

6) 21 de maio de 2011, às 12h05, Cachoeira liga para Mônica Beatriz, sua prima.

Cachoeira: Eles vão te ligar aí, tá? O governador deu o OK aí no seu emprego aí de chefia.
Mônica: Hum.
Cachoeira: O Aécio acabou de ligar pro senador aqui, viu.
Mônica: Então tá.
Cachoeira: Já pegou seu telefone, mas fica com o telefone ligado que eles vão te ligar. Alguém do governo vai te ligar.
Mônica: Tá ok, pode deixar, tá bom.
Cachoeira: Então tá, tchau, me ajuda por lá.

7) 26 de maio de 2011, às 22 horas, Cachoeira e Mônica conversam durante 3 minutos e 47 segundos.

Cachoeira: A pessoa te ligou?
Mônica: Ligou, ligou no sábado de manhã.
Cachoeira: Quem foi?
Mônica: O Danilo de Castro.
Cachoeira: Ele é forte ali.
Mônica: Secretário de Governo, isso, daí me fez umas perguntas. Daí na segunda eu já me reuni com o Marcos Montes, né? Ele falou: ‘Mônica, a sua nomeação deve sair na próxima semana’. Ele ficou de...ele iria prá Brasília e retornava amanhã e assim que ele chegasse ele me ligaria prá gente sentar e conversar.
Cachoeira: Sim, mas qual cargo?
Mônica: Diretor regional do Sedese.
Cachoeira: Uai, bom demais. Melhor ainda do que você queria.
Mônica: Nossa, eu fiquei feliz demais, inclusive tenho que agradecer muito, Carlinhos.
Cachoeira: A pessoa que vai sair do cargo é que não vai gostar, né?
Mônica: Eu falei isso com o Danilo, Falei: ‘Danilo, eu não queria que prejudicasse a pessoa, ainda mais se for pai de família’. Ele falou: ‘Você não se preocupe com isso porque nós já arrumamos um cargo, me parece que ele vai ficar até lá mesmo’.
Cachoeira: É o Aécio, viu: Direto com Demóstenes, viu?
Mônica: Isso, ele falou que era uma solicitação do Aécio, ele enfatizou isso bem. ‘É uma solicitação do senador Aécio, através do senador Demóstenes, e com o aval do governo Anastasi, bem claro, né? Mas eu te agradeço muito, muito mesmo.
Cachoeira: O salário lá é bom, né?
Mônica: Eu não sei o que que é, eu tentei pesquisar, mas não sai. Esses cargos comissionados não sai o salário.
Cachoeira: Aqui (em Goiás) no mïnimo um cargo desses aí é uns 10 mil reais.
Mônica: Aqui eu não sei, eu tentei pesquisar.
Cachoeira: É um c argo de superintendente aqui, dessa forma, diretor, aí deve ser uns 10 mil.
Mônica: Então, é uma superintendência que eu tô assumindo, é a Superintendência de Desenvolvimento Social.
Cachoeira: A que você estava era qual?
Mônica: Eu estava na diretoria de qualificação profissional.
Cachoeira: Municipal?
Mônica: É municipal, até briguei, falei ‘se for menos eu tô perdida’.
Cachoeira: Quanto você ganhava lá?
Mônica: 5.
Cachoeira: deve ser uns 10, você vai ver, você me liga o dia que você assumir, tá?

CPI do Cachoeira: Um marco para regulação e renovação da mídia.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A CPI e o fim do jornalismo de araque

http://www.editoracontexto.com.br/produtos.asp?cod=268

Por Leandro Fortes, na CartaCapital:

Há oito anos, escrevi um livrete chamado “Jornalismo Investigativo”, como parte do esforço da Editora Contexto em popularizar o conhecimento básico sobre a atividade jornalística no Brasil. Digo “livrete” sem nenhum desmerecimento, muito menos falsa modéstia, mas para reforçar sua aparência miúda e funcional, um livro curto e conceitual onde plantei uma semente de discussão necessária ao tema, apesar das naturais deficiências de linguagem acadêmica de quem jamais foi além do bacharelado. Quis, ainda assim, formular uma conjuntura de ordem prática para, de início, neutralizar a lengalenga de que todo jornalismo é investigativo, um clichê baseado numa meia verdade que serve para esconder uma mentira inteira. Primeiro, é preciso que se diga, nem todo jornalismo é investigativo, embora seja fato que tanto a estrutura da entrevista jornalística como a mais singela das apurações não deixam de ser, no fim das contas, um tipo de investigação. Como é fato que, pelo prisma dessa lógica reducionista, qualquer atividade ligada à produção de conhecimento também é investigativa.

A consideração a que quero chegar é fruto de minha observação profissional, sobretudo ao longo da última década, período em que a imprensa tornou-se, no Brasil, um bloco quase que monolítico de oposição não somente ao governo federal, a partir da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, mas a tudo e a todos vinculados a agendas da esquerda progressista, aí incluídos, principalmente, os movimentos sociais, os grupos de apoio a minorias e os defensores de cotas raciais. Em todos esses casos, a velha mídia nacional age com atuação estrutural de um partido, empenhada em fazer um discurso conservador quase sempre descolado da realidade, escoltado por um discurso moralista disperso em núcleos de noticiários solidificados, aqui e ali, em matérias, reportagens e editoriais de indignação seletiva.

A solidez – e a eficácia – desse modelo se retroalimenta da defesa permanente do grande capital em detrimento das questões sociais, o que tanto tem garantido um alto grau de financiamento desta estrutura midiática, como tem servido para formar gerações de jornalistas francamente alinhados ao que se convencionou chamar de “economia de mercado”, sem que para tal lhes tenha sido apresentado nenhum mecanismo de crítica ou reflexão. Essa circunstância tem ditado, por exemplo, o comportamento da imprensa em relação a marchas, atos públicos e manifestações de rua, tratados, no todo, como questões relacionadas a trânsito e segurança pública. Interditados, portanto, em seu fundamento social básico e fundamental, sobre o qual o jornalismo comercial dos oligopólios de comunicação do Brasil só se debruça para descer o pau.

O resultado mais perverso dessa estrutura midiática rica e reacionária é a perpetuação de uma política potencialmente criminosa de assassinato de reputações e intimidação de agentes públicos e privados contrários às linhas editoriais desses veículos. Ou, talvez pior ainda, a capacidade destes em atrair esses mesmos agentes para seu ventre, sob a velha promessa de conciliação, para depois, novamente, estrangulá-los sob a vista do público.

“Jornalismo Investigativo”, porém, foi escrito anteriormente ao chamado “escândalo do mensalão”, antes, portanto, de a mídia brasileira formar o bloco partidário ora em progresso, tristemente conservador, que se anuncia diuturnamente como guardião das liberdades de expressão e imprensa – conceitos que mistura de forma deliberada para, justamente, esconder sua real indiferença, tanto por um quanto pelo outro. Distante, por um breve instante de tempo, da guerra ideológica deflagrada a partir do mensalão, me foi possível escrever um livro essencialmente simples sobre o verdadeiro conceito de jornalismo investigativo, ao qual reputo a condição de elemento de influência transversal, e não um gênero capaz de ser enclausurado em editorias, como o são os jornalismos político, econômico, esportivo, cultural, etc.

Jornalismo investigativo é a sistematização de técnicas e conceitos de apuração para a produção de reportagens de fôlego, não necessariamente medidas pelo tamanho, mas pela profundidade de seus temas e, principalmente, pela relevância da notícia que ela, obrigatoriamente, terá que encerrar. Este conceito, portanto, baseado na investigação jornalística, existe para se utilizado em todos os gêneros de reportagem, em maior ou menor grau, por qualquer repórter. Daí minha implicância com o termo “jornalista investigativo”, ostentado por muitos repórteres brasileiros como uma espécie de distintivo de xerife, quando na verdade a investigação jornalística é determinada pela pauta, não pela vaidade de quem a toca. O mesmo vale para o título de “repórter especial”, normalmente uma maneira de o jornalista contar ao mundo que ganha mais que seus colegas de redação, ou que ficou velho demais para estar no mesmo posto de focas recém-formados.

Para compor o livro editado pela Contexto, chamei alguns jornalistas para colaborar com artigos de fundo, como se dizia antigamente, os quais foram publicados nas últimas páginas do livro. Fui o mais plural possível, em muitos sentidos, inclusive ideológico, embora essa ainda não fosse uma discussão relevante, ou pelo menos estimulante, dentro da imprensa brasileira, à época. O mais experiente deles, o jornalista Ricardo Noblat, hoje visceralmente identificado ao bloco de oposição conservadora montado na mídia, havia também escrito um livro para a Contexto sobre sua experiência como editor-chefe do Correio Braziliense, principal diário de Brasília que, por um breve período de oito anos (1994-2002), ele transformou de um pasquim provinciano e corrupto em um jornal respeitado em todo o país. Curiosamente, coube a Noblat assinar um artigo intitulado “Todo jornalismo é investigativo” e, assim, reforçar a lengalenga que o livro esforça-se, da primeira à última página, em desmistificar.

Tivesse hoje que escrever o mesmo livro, eu teria aberto o leque desses artigos e buscaria opiniões menos fechadas na grande imprensa. Em 2004, quando o livro foi escrito (embora lançado no primeiro semestre de 2005), o fenômeno da blogosfera progressista era ainda incipiente, nem tampouco estava em voga a sanha reacionária dos blogs corporativos da velha mídia. No mais, minha intenção era a de fazer um livro didático o bastante para servir de guia inicial para estudantes de jornalismo. Nesse sentido, o livro teve relativo sucesso. Ao longo desses anos, são raras as palestras e debates dos quais participo, Brasil afora, em que não me apareça ao menos um estudante para comentar a obra ou para me pedir que autografe um exemplar.

Faz-se necessário, agora, voltar ao tema para trazer o mínimo equilíbrio ao recrudescimento dessa discussão na mídia, agora às voltas com uma CPI, dita do Cachoeira, mas que poderá lhe revolver as vísceras, finalmente. Contra a comissão se levantaram os suspeitos de sempre, agora, mais do que nunca, prontos a sacar da algibeira o argumento surrado e cafajeste dos atentados às liberdades de imprensa e expressão. A alcova de onde brota essa confusão deliberada entre dois conceitos distintos está prestes a tomar a função antes tão cara a certo patriotismo: o de ser o último refúgio dos canalhas.

Veio da revista Veja, semanal da Editora Abril, a reação mais exaltada da velha mídia, a se autodenominar “imprensa livre” sob ataque de fantasmas do autoritarismo, em previsível – e risível – ataque de pânico, às vésperas de um processo no qual terá que explicar as ligações de um quadro orgânico da empresa, o jornalista Policarpo Jr., com a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Primeiro, com novos estudos do Santo Sudário, depois, com revelações sobre a superioridade dos seres altos sobre as baixas criaturas, a revista entrou numa espiral escapista pela qual pretende convencer seus leitores de que a CPI que se avizinha é parte de uma vingança do governo cuja consequência maligna será a de embaçar o julgamento do “mensalão”. Pobres leitores da Veja.

Não há, obviamente, nenhum risco à liberdade de imprensa ou de expressão, nem à democracia e ao bem estar social por causa da CPI do Cachoeira. Há, isso sim, um claro constrangimento de setores da mídia com a possibilidade de serem investigados por autoridades às quais dedicou, na última década, tratamento persecutório, preconceituoso e de desqualificação sumária. Sem falar, é claro, nas 200 ligações do diretor da Veja em Brasília para Cachoeira, mentor confesso de todos os furos jornalísticos da revista neste período. Em recente panfletagem editorial, Veja tentou montar uma defesa prévia a partir de uma tese obtusa pela qual jornalistas e promotores de Justiça obedecem à mesma prática ao visitar o submundo do crime. Daí, a CPI da Cachoeira, ao investigar a associação delituosa entre a Veja e o bicheiro goiano, estaria colocando sob suspeita não os repórteres da semanal da Abril, mas o trabalho de todos os chamados “jornalistas investigativos” do país.

A tese é primária, mas há muita gente no topo da pirâmide social brasileira disposta a acreditar em absurdos, de modo a poder continuar a acreditar nas próprias convicções políticas conservadoras. Caso emblemático é o do atentado da bolinha de papel sofrido pelo tucano José Serra, na campanha eleitoral de 2010. Na época, coube ao Jornal Nacional da TV Globo montar um inesquecível teatro com um perito particular, Ricardo Molina, a fim de dar ao eleitor de Serra um motivo para entrar na fila da urna eleitoral sem a certeza de estar cometendo um ato de desonestidade política. Para tal, fartou-se com a fantasia do rolo-fantasma de fita crepe, gravíssimo pedregulho de plástico e cola a entorpecer as idéias do candidato do PSDB.

Todos nós, jornalistas, já nos deparamos, em menor ou maior escala, com fontes do submundo. Esta é a verdade que a Veja usa para tentar se safar da CPI. Há, contudo, uma diferença importante entre buscar informação e fazer uso de um crime (no caso, o esquema de espionagem da quadrilha de Cachoeira) como elemento de pauta – até porque, do ponto de vista da ética jornalística, o crime em si, este sim, é que deve ser a pauta. A confissão do bicheiro, captada por um grampo da PF, de que “todos os furos” recentes da Veja se originaram dos afazeres de uma confraria de criminosos, nos deixa diante da complexidade desse terrível zeitgeist, o espírito de um tempo determinado pelos espetáculos de vale tudo nas redações brasileiras.

Foi Cachoeira que deu à Veja, a Policarpo Jr., a fita na qual um ex-diretor dos Correios recebe propina. O material foi produzido pela quadrilha de Cachoeira e serviu para criar o escândalo do mensalão. Sob o comando de Policarpo, um jovem repórter de apenas 24 anos, Gustavo Ribeiro, foi instado a invadir o apartamento do ex-ministro José Dirceu, em um hotel de Brasília. Flagrado por uma camareira, o jornalista acabou investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal, mas escapou ileso. Não se sabe, até hoje, o que ele pretendia fazer: plantar ou roubar coisas. A matéria de Ribeiro, capa da Veja, era em cima de imagens roubadas do sistema interno de segurança do hotel, onde apareciam políticos e autoridades que freqüentavam o apartamento de Dirceu. A PF desconfia que o roubo (atenção: entre jornalistas de verdade, o roubo seria a pauta) foi levado a cabo pela turma de Cachoeira. A Veja, seria, portanto, receptadora do produto de um crime. Isso se não tiver, ela mesmo, o encomendado.

Por isso, além da podridão política que naturalmente irá vir à tona com a CPI do Cachoeira, o Brasil terá a ótima e rara oportunidade de discutir a ética e os limites do jornalismo a partir de casos concretos. Veremos como irão se comportar, desta feita, os arautos da moralidade da velha mídia, os mesmos que tinham no senador Demóstenes Torres o espelho de suas vontades.

Nova era da "Escandalogia" brasileira.

MÍDIA E ANTIMÍDIA JUNTAS
Uma faxina que pode fazer história
Por Alberto Dines em 17/04/2012 na edição 690

Pelo material fornecido por Cileide Alves, editora-chefe do diário O Popular, de Goiânia, parece evidente que o tradicional jornal goiano não olhou para o lado: depois do escândalo Waldomiro Diniz, divulgado pela revista Época em fevereiro de 2004, manteve sob vigilância as andanças de Carlinhos Cachoeira no mundo da contravenção.

A conclusão óbvia é que quem olha para o lado quando os jornais regionais põem a boca no trombone é a mídia nacional. Isso é ainda mais grave porque a esmagadora maioria desses veículos de porte médio pertencem a grupos jornalísticos cujo carro-chefe costuma ser uma emissora afiliada de uma rede nacional de TV.

Os regionais fazem o que lhes compete, os nacionais é que não cumprem a sua parte no contrato de fiscalização do poder público no país. Os grandes veículos adoram o PF, o prato feito, escândalos maiúsculos, de preferência flagrados por arapongas em fitas, vídeos e câmaras ocultas.

O trabalho dos repórteres-formiguinhas no Brasil profundo não tem charme. A impunidade e o descaso com a corrupção começam no descompasso cívico entre as metrópoles e os grotões. O combate solitário do Jornal Pessoal de Lúcio Flávio Pinto em Belém do Pará desvenda esta desastrosa desarticulação e desafinação entre as diferentes esferas midiáticas.

Oposição e situação
O problema maior, porém, é a incapacidade da mídia nacional de exercitar o metajornalismo, jornalismo sobre o jornalismo. Além do teor de uma denúncia é imperioso saber como ela chegou a ser transformada em notícia. Sobretudo quando inexiste um trabalho prévio e comprovado de reportagem e investigação.

A sucessão de flagrantes de corrupção desde o episódio Waldomiro Diniz revela a presença de espiões profissionais, arapongas, atravessadores do processo de buscar informações para o conhecimento público. Quando Época revelou o escândalo, poucos foram os jornalistas que se interessaram em saber como aquelas cenas chegaram à redação. Este observador vem tentando mostrar há alguns anos que este “jornalismo fiteiro” (de fitas e vídeos), cevado nos desvãos do poder na capital federal, é uma forma bastarda de investigação (ver “A mídia e o jornalismo fiteiro”).

No domingo (15/4), em apenas meia página compactada com informações a Folha de S.Paulo escancarou o sistema e seu principal operador, o ex-sargento da FAB Idalberto de Araújo, vulgo Dadá, que trabalha há anos para Carlinhos Cachoeira, depois serviu na operação Satiagraha e finalmente envolveu-se com a preparação de um dossiê para desmoralizar um dos candidatos na campanha de 2010.

O pretexto de preservar fontes de informação tem servido ao time de “fiteiros” como pretexto para esconder informações de capital importância. A denúncia de ilícitos não pode ser ela própria um ilícito.

As revelações da Operação Monte Carlo que enredaram o senador Demóstenes Torres na rede do crime organizado está produzindo uma sucessão de choques na sociedade justamente porque foram apuradas pela Polícia Federal com autorização judicial – e encaminhadas ao foro competente, o STF. E porque foram produzidas para defender o interesse público e não interesses escusos, seus desdobramentos são tão surpreendentes.

Pela primeira vez na “escandalogia” brasileira temos oposição e situação rigorosamente irmanadas na busca de culpados. E, como consequência, mídia e antimídia convertidos inapelavelmente em parceiros.

Esta faxina pode ser histórica.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Civitta, a face perversa da mídia.

De Luiz Cezar - Brasil que vai

QUINTA-FEIRA, 19 DE ABRIL DE 2012

Veja e seu dono sem escrúpulos

A regra número um de qualquer ofensor é passar-se por inofensivo. E a melhor forma de fazê-lo é vestir a máscara do probo. Daí talvez a hipocrisia ter-se instalado como traço mais marcante do caráter nacional, a ponto de Nelson Rodrigues ter visto no discurso de zelo da ordem familiar o biombo para toda espécie de transgressão daquilo que é ético e justo.

Esse parece ter sido o caso patriarca Victor Civitta, empresário do ramo editorial, cujo nome de família constitui ele mesmo dissimulação um dia necessária às perseguições que sofreram famílias vindas de uma Europa conflagrada pelos crimes de ódio aos que vergassem nomes judeus.

Estranhamente, trazendo no nome a marca de resistência à discriminação – como o trazem também os Mesquita e os Frias dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, respectivamente – Civitta fez da perseguição o principal meio de promoção da sua principal publicação, a revista Veja.

Não o fez, porém, por apego à convicções do que pudesse ser melhor para o País onde sua ascendência e ele próprio receberam democrática acolhida para poder prosperar. Expôs à execração pública cidadãos como ele apenas pelo estratagema que lhe permitisse manter a tona suas principais publicações em circunstâncias desfavoráveis de negócio.

Não agradou ao magnata Civitta que governos populares tenham alterado a dinâmica de domínio do grande capital sobre as decisões econômicas do Estado, como nos tempos do governo liberal de Fernando Henrique Cardoso, que lhe carreava às empresas vultosas somas com anúncios e matérias patrocinadas por poderosos lobbies do capital transnacional.

Agradou-lhe menos ainda a perda de influência sobre as instituições públicas e os governos estaduais das forças políticas identificadas com o enfraquecimento do papel do Estado na economia, que trouxeram consigo também perda de comando sobre verbas publicitárias de grandes fornecedores do setor público.

A migração de leitores da mídia impressa para meios alternativos de comunicação eletrônica só fez por agravar a debilidade financeira das revistas de Civitta. A fraqueza política das oposições contribuiu com outro tanto das dificuldades para que o capitão das comunicações decidisse oferecer serviços de panfletagem política ao principal partido político das oposições ainda no controle de dois importantes estados da federação, Minas e São Paulo.

Foi assim que o grupo Abril obteve milionários contratos com os governos dos estados de São Paulo e Minas Gerais, na forma de compra sem licitação de publicações – dentre essas a revista Veja – para distribuição entre usuários e prestadores de serviços públicos. Mais recentemente a empresa obteve, pelo mesmo meio da troca de favores, espaço gratuito para a veiculação de programas na emissora de TV estatal paulista.

O passo mais ousado estaria ainda por vir, nas saídas buscadas pelo empresário para tirar seus negócios do atoleiro em que os colocara as novas situações de política e de mercado do País. Civitta ordenou a empregados lotados em Brasília, à altura da metade do primeiro mandato de Lula da Silva, que buscassem no crime organizado, atuante em diferentes esferas do governo federal, informações que permitissem às revistas controladas pelo grupo constranger funcionários públicos a direcionarem empresas contratadas para anunciar nos periódicos do Grupo Abril.

Para que a fórmula baseada na intimidação funcionasse era necessário instalar verdadeiro clima de terror com relação à possibilidade de denúncias, de sorte a levar agentes públicos a preferirem antes negociar com o clã dos Civitta que explicarem-se perante órgãos de auditoria do governo federal.

O escândalo do chamado mensalão, que quase levou a um golpe branco contra o governo de Lula da Silva, nada mais foi que um efeito colateral da associação criminosa que mantinham Veja e o grupo do contraventor Carlos Cachoeira. Uma fagulha provocada pela chantagem dos parceiros atingiu o então deputado Roberto Jefferson ateando fogo ao paiol do Congresso majoritariamente de oposição.

A editora ganhava de dois lados. Por um via garantidos anúncios de fornecedores de órgãos e empresas públicas, temerosos de terem o nome de suas empresas envolvido com as denúncias de Veja. Por outro, ao atender a oposição com acusações graves contra importantes figuras da República, criava condições para a cobrança de faturas pelos serviços políticos prestados.

Uma larga avenida em declive só poderia redundar ao final em acidente fatal. Os negócios de Civitta, conduzidos em alta velocidade mediante uso farto da extorsão e chantagem, colidiram com uma nova institucionalidade que vem de firmar-se no País para a proteção dos interesses de Estado, fundada na auditoria técnica da Controladoria Geral da União e nas investigações criminais autônomas da Polícia Federal.

O rosto sulcado de Civitta, quando convocado pela CPI que o Congresso Nacional acaba de instalar, será mostrado em todas as televisões do mundo como a face mais perversa de certa mídia que faz da liberdade de imprensa arma para alavancar negócios, em detrimento das instituições maduras e confiáveis que países em rota de desenvolvimento como o Brasil esforçam-se por edificar.

Veja, a revista dos piores leitores.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Zé Augusto - Os Amigos do Presidente Lula

Veja une-se a banqueiros para convencer leitor burro a pagar juros de agiotagem
A revista Veja, sabuja de banqueiros, apronta mais uma:


Esse "em alguns casos" citado acima, é esclarecido em outro texto: trata-se do HSBC

Ora, ninguém vai "perceber efeitos da redução de juros" se não for na agência exigir refinanciar sua dívida, ou se não trocar de banco.

Vocês acham que bancos privados vão ser "bonzinhos" a ponto de baixar juros automaticamente para quem já tem dívidas contratadas e ficar acomodado sem reclamar? É claro que não.

Mas a Veja tem seus papagaios que ainda pensam que os banqueiros seriam "bonzinhos" e baixariam juros no piloto automático:



Esses leitores a revista se merecem.

Além disso, há na "reporcagem" acima, o merchandising descarado do banco privado Santander.

Em outro texto, na mesma data, no site da revista chega a surtar em matéria de lamber as botas dos banqueiros. Escreve coisas para fazer propaganda negativa de bancos públicos, explorando viés ideológico:

O Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal (CEF) agiam a soldo do Palácio do Planalto, que, preocupado em estimular a economia, não pensou duas vezes em intimar os “seus” a serem indutores da redução dos chamados spreads (diferença entre o custo de captação e de empréstimo no setor).
Mas como mentira tem perna curta, a Veja acaba entregando o jogo, sem querer, já no título da "reporcagem":


Ou seja, de fato existe uma tentativa dos bancos PRIVADOS de falarem que baixam juros, mas não estão cumprindo na prática para a maioria dos clientes.

A catimba é dos bancos PRIVADOS, como o corpo do texto acaba entregando:
...Em alguns casos, como no Santander, gerentes do segmento pessoa física nem estavam a par das reduções. “Tenho recebido seguidos e-mails de clientes perguntando sobre as novas taxas, mas nada mudou internamente. Continuamos fechando operações com os juros de sempre”, afirma uma gerente...
No HSBC, por exemplo, não basta ter conta salário no banco e ser adimplente. Para ter acesso a um crédito mais barato, os clientes devem investir em produtos do banco, tais como fundos ou seguros; não podem ter nenhum contrato de financiamento ativo na instituição; e ainda precisam de um avalista que seja correntista – alguém com renda suficiente para eventualmente arcar, em caso de atraso, com as parcelas do empréstimo que o tomador inicial almeja.
Se dependesse da Veja, o Brasil continuaria na roda presa dos juros escorchantes, e os brasileiros extorquidos pela agiotagem dos banqueiros privados.

E se depender dos bancos privados, continuará financiando revistas como a Veja e telejornais como os da TV Globo, para "convencer" brasileiros a se acomodarem à agiotagem.

Leia também:
- Que tal você mesmo reestatizar o BANESPA? Ou o BEMGE, BANERJ, BANEB, MERIDIONAL?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jô e as suas "meninas" em mais uma orgia de muita sacanagem... jornalística.!

“Meninas” do Jô revelam a tática da mídia para distorcer a CPI

Posted by eduguim on 19/04/12


Se alguém ainda tinha dúvida de que a mídia não queria investigação do Congresso sobre as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o PSDB e o DEM de Goiás e de que, sendo a investigação inevitável, trataria de distorcê-la, após assistir ao programa do Jô Soares que o blog graciosamente reproduz abaixo, terá tal dúvida sepultada.

Mais do que isso, por intragável que seja enfrentar aquela quase uma hora de mau-caratismo, há que prestar atenção no programa porque deixa ver, de cima a baixo, a forma como a mídia cobrirá as investigações da CPMI.

Apesar das aparências de socialites fúteis e desocupadas que têm as “meninas” demo-tucanas desse apresentador-humorista-escritor que se notabilizou pelo seu partidarismo político e pelo uso escandaloso de uma concessão pública de televisão com fins político-partidários, tratam-se de jornalistas tarimbadas que já passaram pelas mais importantes redações do país.

No programa de quarta-feira, 18 de abril de 2012, estiveram, além do próprio Jô Soares, Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo, Cristina Serra e Lillian Witte Fibe. Lucia Hippolito, que integrava a formação original do quadro político, segundo o apresentador ela não participou do programa por “Estar na França”.

Jô começa o “debate” ironizando declaração da Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em recente cerimônia no Itamaraty na qual elogiou a administração da presidente Dilma Rousseff por haver estabelecido um “novo padrão” de combate à corrupção.

Contradizendo a norte-americana, o apresentador passa a bola para Cristiana Lobo perguntando se o governo daquela que Hillary elogiou estaria “atrasando a CPI”, apesar de esta ter sido criada em tempo considerado recorde.

A resposta de Cristiana Lobo começa com ela dizendo que “A notícia do dia” 18 de abril teria sido a de que o governo quereria “controlar a CPI”, o que combina muito pouco com a declaração da secretária de Estado dos EUA que elogiou a transparência desse mesmo governo.

Em seguida, a jornalista faz uma afirmação que mostra como a mídia não hesitará em criar as teses mais absurdas para tentar induzir a sociedade a julgar que os autores da investigação é que serão os réus: diz que “O PMDB quer investigar mais o PT, o PT queria mais investigar o PSDB, o Marconi Perillo, o PSDB quer dizer eu não tenho nada com isso, eu apoio a CPI”.

Apesar de o PMDB ser aliado do PT, tendo a vice-presidência da República, segundo essa “analista” quer investigar mais o aliado do que os opositores do PSDB, do DEM, do PPS e do PSOL. Para um público que nada entende de política e que não sabe quem é aliado de quem, provavelmente ignorando até o nome do vice-presidente da República, os malvados que querem investigar os adversários por razões políticas são PMDB e PT, enquanto que o PSDB “não tem nada com isso”.

Não poderia faltar, na boca de alguém como Cristiana, a boa e velha teoria de que “Pro governo nunca é bom uma CPI porque o PMDB vai lá e cobra mais caro”, ou seja, governo e partido que o sustenta tornam-se duas pontas de uma relação espúria de compra e venda de benesses.

Nada que ver, de novo, com a transparência do governo constatada por Hillary. Não foi à toa que o apresentador não perdeu a deixa e pediu esclarecimento da teoria de que o aliado do governo iria lhe “cobrar mais caro”, ao que é informado de que a CPI terá poder para convocar ministros e, para não vê-los convocados, a presidente subornaria o aliado.

Ao fim, Cristiana reconheceu que o governo “não tem muito o que temer, até agora”, mas asseverou que “tem muito cargo, tem muita obra”, mas como a investigação teria começado como uma CPI do Cachoeira e mudado de foco, agora quem deveria se preocupar seriam o governo, o PT e seus aliados.

Agora a inquirida pelo apresentador é Cristina Serra (que não tem relação alguma de parentesco com o ex-governador paulista, por mais tentadora que seja a ilação). A ela, coube discorrer, no âmbito de uma discussão sobre a CPI do Cachoeira, sobre como, antigamente, “Bastava dizer ele é do PT” para o contemplado receber um “aval de integridade” e sobre como “hoje em dia não é mais assim”.

Eis que, evidentemente treinada, Serra (perdão, não resisti) atribuiu a desmoralização do PT ao… Mensalão. O partido é citado como tendo sido descoberto como “mais tolerante ou menos tolerante com a corrupção” de acordo com suas correntes internas, ou seja, mais ou menos “tolerante”, o partido toleraria a corrupção em várias intensidades.

O que havia de intolerante com a corrupção no PT, segundo Serra (Cristina fez por merecer), saiu e formou o PSOL. Os que ficaram, seriam todos tolerantes. Não é à toa que vemos tantos psolistas dizendo, nas redes sociais, que a mídia não é tão má assim, chegando a fazer dobradinhas com um poder reacionário como o da Globo, autora intelectual da ditadura militar.

De resto, Cristina Serra reduziu o objetivo da CPMI a mero “acerto de contas”, a mera “vingança” de um adversário contra o outro. O programa tentou induzir o público à crença de que não existiriam motivos outros para a investigação. A intenção, claríssima, é a de desestimular as pessoas a acompanhar o processo, ficando apenas com as manchetes que já se pode prever que passarão mensagens de fácil assimilação pelo público idiotizado.

À ex-comentarista de economia Lillian Witte Fibe coube a pergunta sobre como a investigação prejudicará a economia, já para que o telespectador considere que irá prejudicá-lo pessoalmente. Brota a onomatopeia de um sorriso irônico que poderia ter encerrado o assunto e induzido à crença de que a CPMI será economicamente ruim para o país.

Socorro!

Mas a explicação verbalizada é ainda pior. A CPI, segundo alguém que de boba não tem nada, seria responsável pela “roubalheira do dinheiro público”. Ou seja: a CPI não é para combater a roubalheira, mas para gerá-la. Acredite quem quiser.

Em seguida, uma platitude apresentada como grande proposta: abolir o uso da expressão “desvio de dinheiro público”, substituindo “desvio” por “roubo”. Sobrevêm os aplausos dos fantoches da platéia, do apresentador e de suas “meninas” diante de uma Lillian satisfeita com a própria frase de efeito.

Finalmente, Lula entra na dança – estava demorando. É acusado de ter incentivado a CPI do Cachoeira sem Dilma saber, aproveitando a ida dela aos Estados Unidos. O ex-presidente teria feito reuniões com ministros e secretários de Dilma sem ela saber e eles não a avisaram por achar que “não seria necessário”.

A presidente é apresentada como uma governante fraca que se deixa atropelar pelo antecessor, que dá ordens aos seus ministros. Dilma teria se “rendido” a uma mera estratégia de Lula e de José Dirceu para “desviar atenções do julgamento do mensalão”. Lillian diz que os dois teriam sido “ingênuos” ao acreditarem que poderiam fazê-lo.

Foi a deixa para Ana Maria Tahan começar a tagarelar sobre o mensalão, ou seja, a discussão sobre a CPI roda, roda e volta sempre para o tema “corrupção no PT”. Até aqui, nem sombra daquilo em que consiste o foco principal de uma investigação chamada de CPI do Cachoeira e que era o assunto em pauta.

Ana Maria começa repisando a notícia amplamente divulgada de que o STF não irá interromper o julgamento nem que coexista com o processo eleitoral deste ano. Jô a interrompe com a proibição legal para que jornalistas opinem sobre política durante o processo eleitoral, deixando o espectador sem entender o que tem o mensalão que ver com isso.

O assunto volta para Cachoeira, para a ligação entre a CPMI e o mensalão, remetendo ao episódio Waldomiro Diniz, desencadeado pelo bicheiro goiano. Os debatedores atropelam um ao outro, falando todos ao mesmo tempo, sedentos de continuarem mantendo o foco nos adversários políticos da família Marinho.

Ana Maria volta a falar. Sua tese é a de que, apesar de o governo ter maioria na CPI, não poderá impedir que seu foco seja contrário ao governo, do que se pode depreender que a estratégia será a de a oposição apresentar denúncias e a imprensa repercuti-las maciçamente e, assim, pautar a investigação.

Por 64 segundos, quando o programa já se aproximava da primeira meia hora, Cristiana Lobo interrompe os colegas de bancada e toca no nome de Demóstenes Torres, porém sem falar em oposição, DEM ou PSDB, sendo imediatamente cortada por Jô, que põe na roda o promissor tema “Dadá”, ou seja, o sargento Idalberto Matias de Araújo, preso na Operação Monte Carlo.

O foco volta a Demóstenes por mais 45 segundos, com o programa já se aproximando de 40 minutos. É apresentado trecho de entrevista do senador goiano em que pregava moralidade na política. Apresentador e convidadas fazem algumas gracinhas sem citar o DEM uma só vez e matam o assunto.

Assunto envolvendo a oposição, porém sem mencioná-la, até agora soma 119 segundos, quase dois minutos inteiros, contra cerca de 2.400 segundos de malhação do PT, do governo Dilma e de seus aliados.

Entra o intervalo. Quando o programa retorna, o assunto proposto pelo apresentador é uma “Comissão de Ética” que ao público não diz nada. Em vez de dizer para que servirá, no âmbito do assunto Cachoeira, constitui-se em mera desculpa para continuarem malhando o mesmo lado.

O apresentador e convidadas ironizam nomes dos integrantes da Comissão que julgará Demóstenes, tais como Renan Calheiros e Romero Jucá, insinuando que são corruptos e que, portanto, seria um contrassenso integrarem aquela Comissão.

Mais algumas gracinhas e Jô continua malhando o governo, agora dizendo que não entende que sejam nomeados ministros que não entendem do assunto da pasta que dirigem. O governo já está exangue de tanto apanhar e continua apanhando.

Cristiana Lobo ajuda a bater falando que a CPI enfraquecerá o governo. De novo.

Ana Maria Tahan se apressa em dar a sua contribuição para malhar o governo como se o assunto estivesse começando agora. Passa a discorrer sobre as alianças do governo dizendo que deveriam ser feitas em torno de um projeto, mas se dão através da distribuição de cargos. A CPI do Cachoeira, até agora, apesar de ser o tema do programa praticamente não foi abordada.

Mais gracinhas e o assunto, agora, muda do governo para o governo. Jô insere o caso das lanchas envolvendo a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e o ministério da Pesca. Mais uma vez as “meninas” se esbaldam com a pergunta do apresentador sobre “Em que águas navegam” as embarcações. E cabe a Cristiana Lobo resumir o caso: “falcatrua”.

E o governo continua apanhando.

Lillian Witte Fibe rompe a carapaça de silêncio na qual fora encerrada pela verborragia do apresentador, de Ana Maria Tahan e de Cristiana Lobo para decretar que “O que vai ferver, agora, é uma tal de construtora Delta”.

Enquanto as “meninas” falam uma em cima da outra, sobressai intervenção de Serra (a Cristina, não o José):

– Essa CPI que ia nascer pra investigar Demóstenes e Cachoeira, na verdade o foco, agora, é Delta (…)

Aí se produz talvez a cena mais nonsense que já vi:

Lillian Witte Fibe — Eu não quero prejulgar ninguém, mas eu tô assustada com o que eu tô vendo…

Jô Soares – Antes de mais nada muito bem, porque a gente tem o hábito de prejulgar antes até do julgamento…

Lillian – Eu resisto demais a isso… Mesmo os réus do mensalão. São 38 réus. Gente, se tiver um inocente, ali, foi destruída a vida desse cara. Não sei se tem, mas eu não falo, antes, que ele… O condenado é bandido antes de ser condenado. Agora, eu tô assustada com o que eu tô lendo sobre a Delta. Eu tô assustada…

Jô – Mas, ó, parabéns pela postura de não condenar antes do fato acontecer (…)

A platéia aplaude, entusiasmada com a alegada repulsa da jornalista a julgamentos precipitados… A expressão da jornalista, diante da afirmação do apresentador de que ela não “condena antes”, merece ser vista (abaixo).



Cristiana Lobo “muda” de assunto. Agora é Lula. Diz que por ele estar com José Sarney no hospital paulistano Sírio Libanês, é lá que fica, agora, o “principal escritório político do Brasil”. De novo, a tese do “bumerangue”. Elas diz que quando o ex-presidente “estimulou a CPI, não tinha a Delta, ainda”. E que, agora, eles estão lá “pedindo moderação, sobriedade”.

Detalhe: não se sabe de onde saiu isso, mas foi dito como fato inquestionável.

A partir daí, até o fim do bloco o tribunal de exceção passa a debochar da aparência física dos desafetos políticos do patrão. Nada que valha a pena reproduzir. Só vale registrar que essa besteira durou umas dez vezes mais do que os 119 segundos gastos, até então, para citar Demóstenes Torres sem citar suas vinculações políticas.

Depois dessa chega. O resto do programa perdeu o foco e foi gasto com masturbação ideológica sobre política internacional e suas relações com a que é feita no Brasil e as platitudes de sempre sobre combate a corrupção. Ainda ressuscitaram o mensalão mais algumas vezes, mais algumas ironias sobre o governo e ficou nisso.

O uso político do programa contra PT, governo Dilma e aliados e acobertando a oposição, é claro. De acordo com a legislação brasileira, foi um uso ilegal como tantos outros que são feitos diuturnamente sobretudo pela Globo em concessões públicas de rádio e tevê. Constitui-se em uma espécie de demonstração de força: “Usamos mesmo a concessão em nosso favor e vocês não poderão fazer nada”.

Os que se beneficiam disso, hoje, ficam sorrindo de orelha a orelha. Esquecem-se de que muitos dos que já foram favorecidos pela manipulação midiática e pela usurpação de espaços públicos de comunicação por grupos privados, atualmente são alvo dessa manipulação. Desconhecem que só quem ganha sempre com isso são os concessionários de meios eletrônicos.

De qualquer forma, a postagem consegue antecipar o que irá prevalecer na mídia durante a CPMI que terá início na semana que vem. A menos, é claro, que os “ingênuos” Lula, José Dirceu, Dilma, PT e aliados saibam de alguma coisa que as meninas do Jô, o próprio, os patrões deles e os políticos seus amigos não sabem…

—–

Abaixo, a íntegra do programa dividido em quatro vídeos

Parte 1 de 4



Parte 2 de 4



Parte 3 de 4



Parte 4 de 4



Lula já deu o recado: A CPI terá que ser feita “doa a quem doer”.

O que Fabio Barbosa foi fazer em Brasília?

Foto: Divulgação
CIRCULOU ONTEM PELA CAPITAL FEDERAL O PRESIDENTE DO GRUPO ABRIL; SUA MISSÃO É ESPINHOSA: EVITAR QUE A CPI SOBRE CARLOS CACHOEIRA CONVOQUE ROBERTO CIVITA; NA EDITORA RESPONSÁVEL POR VEJA TEME-SE QUE ELE SOFRA UMA HUMILHAÇÃO SEMELHANTE À DE RUPERT MURDOCH

19 de Abril de 2012 às 12:08

247 – Com a CPI sacramentada e instalada nesta manhã pelo Congresso Nacional, começam a circular os lobbies políticos, empresariais e midiáticos. Ontem, quem foi visto circulando em Brasília foi o executivo Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander e atualmente presidente do grupo Abril, que publica Veja. Bem relacionado em todos os partidos, por ter sido também presidente da poderosa Febraban, Fábio Barbosa foi a Brasília com uma missão delicada: convencer lideranças do Congresso Nacional a evitar a convocação, pela CPI, do empresário Roberto Civita, presidente do grupo Abril.

A tarefa é muito difícil. Primeiro, porque são fortes as ligações entre a revista Veja e o esquema do contraventor Carlos Cachoeira. Além das 200 ligações entre o bicheiro e o jornalista Policarpo Júnior, várias reportagens publicadas pela revista apontam um nexo entre os grampos ilegais do bicheiro e os furos de reportagem da publicação. Segundo, porque Civita acumulou inimigos poderosos nos últimos anos. Além do ex-presidente Lula, que fará de tudo para que o magnata da mídia seja convocado, o senador Renan Calheiros, que terá papel importante na comissão, foi personagem de várias capas seguidas da publicação em 2007 e 2008. Veja trabalhou por sua cassação.

Na Abril, teme-se que Roberto Civita sofra humilhação semelhante à do australiano Rupert Murdoch, que, no ano passado, teve de prestar informações diante do parlamento inglês, em razão dos grampos publicados pelo jornal News of the World, que acabou sendo fechado. Na semana passada, uma ala do comando da Abril defendia o afastamento do jornalista Policarpo Júnior, como forma de estancar os danos e evitar a convocação de Civita. No entanto, Veja decidiu partir para o ataque e, em sua última edição, denunciou uma suposta tentativa do governo de amordaçar e calar a imprensa livre no Brasil.

#vejabandida
Na mesma reportagem de capa, Veja defendeu ainda que jornalistas se relacionem com bandidos para que possam ter acesso a informações de interesse público. Esta posição foi contestada pelo jornalista Janio de Freitas dois dias atrás e hoje defendida pelo professor Eugenio Bucci, que é amigo de Roberto Civita e consultor eventual da Abril.

A situação é tão grave que ontem o assunto mais comentado no Twitter em todo o mundo dizia respeito à hashtag #vejabandida. O tema é popular. Por isso mesmo, dificilmente os parlamentares recuarão no pedido pela convocação de Roberto Civita. Até mesmo porque será inevitável apurar a ligação da revista Veja com grampos de Cachoeira, como os recentes filmes do Hotel Naoum.

Além disso, o ex-presidente Lula já deu o recado. A CPI terá que ser feita “doa a quem doer”.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Demóstenes pode escapar da justiça, mas já virou zumbi no meio político.

Do Balaio do Kotscho
Publicado em 10/04/12 às 10h14

Viúvas de Demóstenes na imprensa choram por ele
Abandonado pelos seus pares do DEM e do que restou da oposição parlamentar no Congresso Nacional, o ainda senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) só encontra apoio em alguns setores da imprensa e agora joga todas as suas fichas no Judiciário, pois sabe que não tem como escapar da cassação do mandato. É tudo só uma questão de tempo.

Chega a a ser comovente o empenho de alguns jornalistas em variadas mídias para separar o Demóstenes AC (Antes de Cachoeira), o implacável combatente contra a corrupção, do Demóstenes DC (Depois de Cachoeira), como se isso fosse possível.

Não tem essa história de antes e depois: Demóstenes e Cachoeira são umbilicalmente ligados faz muito tempo, atuavam juntos em atividades clandestinas e um cumpria ordens do outro, segundo as gravações feitas pela Polícia Federal.

Tratado agora como um traidor, Demóstenes sempre foi um impostor, e só se deixou enganar por ele quem o considerava um aliado útil contra o governo, independentemente dos seus objetivos. Agora não adianta chorar.

Tanto que nem o senador nem o seu advogado até hoje apareceram na imprensa para defender a sua inocência, mas apenas para negar a validade das provas obtidas nas escutas telefônicas.

A atividade criminosa pela qual Demóstenes está sendo denunciado é concomitante à sua ativade como parlamentar, na qual se destacou como grande ator, de acordo com seu ex-parceiro Sergio Guerra, presidente do PSDB, que gostava de vê-lo "de dedo em riste".

A tragédia greco-goiana das duas vidas no mesmo personagem protagonizada pelo senador só se tornou pública porque ele tinha certeza de que nunca o iriam pegar.

De um lado, confiou na alta tecnologia do telefone Nextel à prova de grampos, que ganhou do bicheiro; de outro, tinha certeza da impunidade, garantida por seus fortes laços de amizade na alta cúpula do Judiciário e pela teia de apoios montada pelo seu cúplice na área político-policial.

Pois agora é exatamente na Justiça que Demóstenes emprega todos os seus esforços para evitar a cadeia. Ainda nesta terça-feira, como informa a colega Marina Marquez, do R7, em Brasília, a defesa do senador vai entrar com uma ação no Supremo Tribunal Federal pedindo a anulação das provas apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

A defesa se resume nisso: ao incluir no inquérito contra o senador as gravações entre Demóstenes ( o Doutor) e Cachoeira (o Professor) obtidas durante a Operação Monte Carlo, a Polícia Federal estaria "usurpando" as funções do STF, já que o orgão não autorizou qualquer investigação contra o senador.

Também hoje, o Conselho de Ética do Senado se reunirá para eleger seu novo presidente, primeiro passo para a abertura de um processo contra Demóstenes.

O problema é que o STF negou aos senadores cópia do inquérito da Polícia Federal, o que inviabiliza o processo na Comissão de Ética e praticamente obriga o Senado a instalar uma CPI. Só assim os parlamentares poderão ter acesso às provas.

Se tudo der certo, ainda assim levará pelo menos uns três meses para que o processo de casssação de Demóstenes Torres seja julgado no Senado _ o tempo com que ele conta para que todo mundo esqueça o que aconteceu e o STF anule as provas.

"Se conseguirmos trancar as provas, este inquérito estará morto", já comemorava previamente o advogado Almeida Castro.

É bem possível, pelos antecedentes que conhecemos, que o procurador Demóstenes livre-se das garras da Justiça. Mas nem ele acredita numa absolvição política no Senado, onde virou um estorvo, um morto vivo sem chances de ressuscitar.

Com a palavra, os comentaristas do Balaio: o que vai acontecer com Demóstenes?

a) vai ser cassado

b) vai ser condenado e preso junto com Cachoeira

c) não vai acontecer nada

Quantos Agnellos vale um José Dirceu?

Tirésias: quantos Agnellos vale um José Dirceu?

Publicado em 13/04/2012
Do Conversa Afiada


Nestes momentos de incerteza, o ansioso blogueiro recorre ao Oráculo de Delfos – clique aqui para ver como ele junta o Cachoeira e o Dantas no mesmo saco, ou melhor, na mesma lama.

E ao Profeta Tirésias, invariavelmente protegido nos morros de Minas.

– Profeta, desculpe interromper sua meditação sobre o destino de Édipo, mas, por favor, desvende o enigma do Lula.

– Do Lula ou da esfinge ?, meu filho ?

– Do Lula.

– Que enigma ?

– O Lula quer as duas CPIs. A da Privataria, que o PT não quer, e a do Cachoeira, que o PT quer.

– Sim, e daí ? Ele é que está certo.

– Não, não é essa a minha pergunta. Minha pergunta é a seguinte: essa CPI do Cachoeira não pode ser um tiro no pé do PT ?

– Pode. Pode ser um tiro no pé do Agnello.

– Então, o Agnello é do PT.

– Meu filho, quantos Agnellos vale um Zé Dirceu ?

- Que intimidade, hein Tirésias, Zé …

– Tá bom. Quantos Agnellos vale um José Dirceu ?

– Sei lá …

– Mil, um milhão ?

– Não sei aonde você quer chegar, Profeta.

– A CPI do Cachoeira vai melar o mensalão, não é isso ?

– Bom, é o que diz um blogueiro ansioso.

– Sei quem é. Mas, veja bem. A CPI do Cachoeira acaba com a hipocrisa dos tucanos, e revela que o mensalão foi uma trampa montada pelo Demóstenes, Cachoeira e sabe-se lá mais quem. Isso tudo vai ficar claro. E isso não vale um Agnello ?

– É, pode ser.

– Vale mil Agnellos, meu filho. Deixa o Ali Kamel depenar o Agnello. Isso não demora muito. Daqui a pouco acaba o estoque de grampo dele.

– O ansioso blogueiro diz toda hora que quer ver o Supremo condenar o José Dirceu.

– Eu também.

Pano rápido

Paulo Henrique Amorim

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Começou a depredação da TV Cultura: Folha derruba audiência.

Folha derruba audiência da TV Cultura
Do Conversa Afiada - Publicado em 11/04/2012



Saiu no Viomundo:
Programa da Folha diminui audiência da TV Culturapor João Brant, do Intervozes
Números do Ibope mostram que o programa TV Folha, produzido pela Folha de S. Paulo e veiculado aos domingos à noite na TV Cultura, diminuiu sensivelmente a audiência da emissora no horário.
Comparando as médias dos cinco domingos em que o TV Folha foi exibido (entre 11/3 e 8/4) e os cinco domingos anteriores (entre 5/2 e 4/3), em que era exibido o Cultura Documentários, houve uma diminuição de 22% no índice de audiência (de 0,64 para 0,5) e de 26% na participação entre os televisores ligados (de 1,14% para 0,84%).
Os números são ainda mais alarmantes se constatado que, nos últimos dois domingos, os resultados da TV Folha foram pífios, com índice de audiência médio no horário oscilando entre 0,1 e 0,2.


Em tempo: não deixe de ler “Barão de Itararé também quer um horário na TV Cultura e garante: vai dar mais IBOPE que a Folha” (*)

Navalha:

Nada mais parecido com o Robert(o) Civita – herdeiro da Abril – do que o Otavinho, herdeiro da Folha (*).

Os dois se preparam para enterrar o patrimônio que receberam.

E tudo o que fizeram fora do ninho paterno deu com os burros n’água.

Robert(o) também tentou fazer televisão, tevê a cabo – e foi sempre um perdedor.

Por isso faz a revista que é (por pouco tempo).

Otavinho é ensaista, dramaturgo e agora candidato a Boni.

E os dois se unem, de novo, no Golpe contra governantes trabalhistas.

Em tempo2: quer dizer que nem aquela entrevista que o Dr Kalil obrigou o Nunca Dantes a dar aumentou o IBOPE da Cultura? O Otavinho vai ter que chamar a Lo Prete de volta …

Paulo Henrique Amorim

(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos

terça-feira, 10 de abril de 2012

A UDN, os seus filhos e a sua falsa moral.

Magalhães Pinto e Demóstenes. Filhos da mesma chocadeira.
A crise do falso Moralismo da velha UDN 

Mais uma vez os fatos incontestes desmontam e desmascaram o discurso “moralista” da velha UDN trasvestida hoje de DEM.

O caso do Senador paladino da ética e da moralidade, Demóstenes Torres, que na verdade era um prestador de serviços para o bicheiro e nada republicano Carlinhos Cachoeira, desvenda os sustentáculos da política com o crime.

Indubitavelmente, o Senador assim como o seu partido, o DEM, que não tem nada de reserva moral, se olvidaram do venho ditado que diz “Quem tem moral não arrosta. Quem tem ética não faz disso marketing. Quem tem, tem. É apenas uma obrigação de caráter.”

Demóstenes Torres neste episódio que mais uma vez macula a imagem do Parlamento Brasileiro, é mais um adepto daqueles que se utilizam da política para se locupletarem financeiramente das benesses que o poder pode proporcionar.

Aliás, a crise que desmascara a velha UDN se alastrou como praga para inúmeros partidos brasileiros, posturas éticas, comportamentos republicados, biografias ilibadas, entre outros princípios que deveriam nortear o comportamento político são hoje peças incomuns.

Vale lembrar que o DNA desta agremiação partidária tem sua origem na mais perversa historia politica de nosso país.

São eles, a velha UDN, que camaleonicamente se transfigurou no PDS do velho Paulo Maluf, “amigo íntimo” das práticas mais elementares da malversação do dinheiro público, hoje integrante da lista de procurados da Interpol que usa das prerrogativas da imunidade parlamentar para não ser preso.

Assim como na transformação do PDS - partido dos generais golpistas - para o PFL de tão vasta lista de usurpadores da república que tinha como seus baluartes figuras como o velho Antonio Carlos Magalhães, o coronel da Bahia, Jorge Bornhausen, saudosista dos porões da ditadura, Roseane Sarney imperadora do Maranhão e Manu tentadora da miséria daquele povo, entre outras figuras de tão sorumbática lembrança nos traz.

Hoje sob a falsa roupagem de democratas, a velha UDN que virou PDS, transformou-se em PFL e se apresenta hoje como DEM tem um discurso controverso de seus quadros e de suas biografias.

Afinal, o senador Demóstenes Torres é fruto de seu meio aliado de Marconi Perillo governador de Goiás pelo sempre prestativo PSDB, matriz e locador costumas do DEM e tem e sua ficha corrida as mais variáveis denuncias de corrupção.

Como também tem em seu partido figuras como Agripino Maia, ACM-Neto, Ronaldo Caiado , Cesar Maia entre outros.

Afinal, todas as raposas chefiando galinheiros.

Como não há condições moral de se acreditar no DEM que pediu a saída do Senador que atendeu de pronto para não ser mais envolvido no caso como já foi, cabe à justiça processar e condenar o paladino da hipocrisia.

Entretanto, acho muito difícil que este senhor pare na cadeia, lugar que deveria ser habitat normal daqueles que praticam crimes, mas, como se trata de um Senador da República, dificilmente nossa sociedade terá essa oportunidade de ver a impunidade contrariada.

Contudo, temos pelo menos o gosto de vermos, mais uma vez, a máscara da velha UDN ser despida.

Henrique Matthiesen

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Privataria da TV Cultura. O desmanche de um patrimônio público bem ao estilo do PSDB.

Dossiê: O desmonte da Fundação Padre Anchieta e da TV Cultura
BLOG DO ROVAI - Via Ronaldo livreiro



Na terça-feira passada (3/4) aproximadamente 150 pessoas estiveram Sindicato dos Engenheiros para participar de um ato contra a privataria na TV Cultura, que tem como símbolo maior a doação de um espaço público para um grupo de mídia privado, no caso o jornal Folha de S. Paulo.

Entre outros, estiveram no evento o economista Luis Gonzaga Belluzzo, do Conselho Curador da TV, o jornalista Luis Nassif, que trabalhou por um bom tempo na Cultura, e o ex-professor da USP, Lalo Leal Filho, também ex-funcionário da emissora.

Os deputados estaduais Simão Pedro (PT), Carlos Gianazzi (PSoL) e Leci Brandão (PCdoB) também compareceram. Na ocasião, Beluzzo solicitou que os deputados convocassem uma audiência pública para discutir o desmonte nas rádio e TV Cultura e este blogueiro somou a essa sugestão a de que os deputados já entrassem com um pedido de CPI, porque há muitas suspeitas de que a Fundação esteja sendo utilizada para fins privados. Ali no calor da hora, os três deputados presentes afirmaram que assinariam o pedido de CPI. Que assim seja. Porque há indícios de que há muito a ser investigado em relação que está sendo realizado na Fundação Padre Anchieta pelas últimas gestões tucanas.

João Brant, do Intervozes, me enviou um dossiê que construiu colaborativamente com ex-funcionários, ex-colaboradores e pessoas que estão atentas ao que está ocorrendo por lá. Alguns trechos são bastante reveladores do desmonte da Fundação.

Trechos do Dossiê:

Mais de mil demitidos
Desde o início da gestão João Sayad, a TV Cultura encolheu drasticamente. Foram mais de mil demitidos, entre celetistas e PJs. Um processo de seleção “pública” foi desenvolvido para a regularização de poucos funcionários. A maioria foi desligada com o fim de programas e dos contratos de prestação de serviços.

Sayad e a privatização
A gestão do presidente João Sayad, do vice-presidente de conteúdo Fernando Vieira de Melo e do vice-presidente administrativo Ronaldo Bianchi caminhou às escuras para dilapidar o patrimônio público. Sayad optou por transformar a TV Cultura em uma mera exibidora. Cancelou e/ou deixou de renovar contratos de prestação de serviço (TV Justiça, Assembléia de São Paulo, etc), acabou com diversos programas da grade e implantou um projeto de demissões em massa.

Em conversas com seu staff, João Sayad já comentou que a TV Cultura deveria caber apenas de um andar de um prédio comercial diante do planejamento que implantou. O que se vê é um processo de “privatização” das funções da FPA na comunicação pública. E não se pode descartar também a “estatização” e a “partidarização” destas mesmas funções públicas.

Erros de gestão na TV
Roda Viva – Na reformulação do programa de debates e entrevistas, Marília Gabriela assumiu o posto de condutora da atração. A transformação, no entanto, foi mais profunda, resultando na completa desfiguração do programa. Um ano após a mudança, a direção da emissora recuou e restabeleceu o formato original.

Jornal da Cultura – Com o excesso de demissões e o sucateamento da estrutura técnica, o jornalístico perdeu a força das reportagens, que praticamente deixaram de ser exibidas. No ar, a âncora Maria Cristina Poli, divide a bancada com um time de comentaristas que se reveza para colher os louros do traço no Ibope.

Metrópolis – Além de ter sido jogado para o final de noite, o programa também sofreu uma completa desestruturação. E esta é a segunda reformulação do programa dentro da gestão Sayad. Cadão Volpato foi contratado e demitido na mesma gestão. Hoje, o programa exibe pouquíssimas reportagens, há anos não possui capacidade técnica para links ao vivo e acabou se limitando a um talk-show de temas culturais.

Música Clássica – Perdeu espaço na grade de programação. A gravação de concertos de orquestras brasileira passou a ser feito com menor regularidade. Em vez de exibir material novo, atualmente aposta em muitas reprises e na veiculação de produções estrangeiras.

TV Justiça e TV Assembleia – Terminar com os contratos de prestação de serviços não só cortou receitas para a FPA como acelerou o processo de transformação da emissora em mera exibidora. Demissões foram feitas as centenas com o fim deste contrato. Os valores e o conteúdo dos acordos nunca foram apresentados publicamente.

Teatro Franco Zampari – A gestão Sayad pretende doar o Teatro Franco Zampari, onde são gravados vários programas da TV Cultura. O objetivo é desfazer do patrimônio sob o argumento de que a estrutura é onerosa. As negociações estão em estado avançado com a Associação Paulista de Amigos da Arte (APAA).

Carnaval 2012 – A transmissão de 9 horas do Carnaval 2012 de São Paulo é um case importante desta fase da FPA. A negociação dos direitos de transmissão com o SBT e Globo foram suspeitas. A TV Cultura disponibilizou equipamentos e equipes para a transmissão do Grupo de Acesso e do Desfile das Campeãs, mas só transmitiu o primeiro. O Desfile das Campeãs ficou de presente para o SBT, incluindo a operação e o uso de equipamentos da FPA. Os valores da negociação não foram divulgados.

Portal Cmais – Lançado com alarde pela atual gestão, o portal tem uma produção ínfima e extremamente dependente das equipes já sobrecarregadas dos programas. A carente infra-estrutura de TI o deixa fora do ar frequentemente. E a equipe reduzida de funcionários propicia erros crassos, como a transmissão por horas do streamming de vídeo do SBT no lugar da programação ao vivo da própria TV Cultura (dia 29 de fevereiro).

Acordo com a Folha de S. Paulo
O acordo com a Folha de S.Paulo expôs a “privatização” da TV e a simpatia política do governo com este veículo. Se, de acordo com Artigo 22º, Inciso 6º, do Estatuto da Fundação Padre Anchieta, o Conselho Curador “deve aprovar a celebração de convênios ou acordos com órgãos ou instituições públicas ou privadas, concernentes à programação”, a dúvida que fica é: esse acordo, redigido e formalizado, foi aprovado pelo Conselho? Por que não foi divulgado? Quais os valores envolvidos na negociação? Os conselheiros precisam publicizar essas informações.

Rádio Cultura Brasil
É a rádio de música brasileira da FPA, transmitida em AM. É de conhecimento de todos a importância cultural e educativa do trabalho realizado na emissora. Da seriedade da produção com a pesquisa à informação jornalística transmitida aos ouvintes. A equipe de produção foi achatada na atual gestão com fechamento de vagas e com demissões. Em abril de 2012, a equipe foi reduzida a cinco apresentadores, um diretor de programas, um assistente, três jornalistas e cinco estagiários. A equipe técnica também sofreu cortes e acumula as operações da rádio AM e da Rádio Cultura FM (música erudita).

Todos os funcionários trabalham mais horas do que as contratadas. Alguns programas gravados da Rádio Cultura Brasil (AM) são produzidos por funcionários da Cultura FM e vice-versa. Não existem mais programas gravados na Rádio Cultura Brasil, com exceção aos retransmitidos – o do produtor e pesquisador Solano Ribeiro (A Nova Música do Brasil) e o Reggae de Bamba (Jai Mahal). A programação musical é reprisada à exaustão e os programas ao vivo não têm mais entrevistas no estúdio com a presença do convidado. São usadas apenas entrevistas por telefone (com exceção ao programa Cultura Livre, que tem interesse da TV, mas cuja produção em vídeo também está paralisada).

A Rádio Cultura Brasil tem problemas técnicos de irradiação do sinal há pelo menos 20 anos. A única tentativa de solucionar esta questão foi na gestão de Marcos Mendonça. Contudo, a escolha de uma aparelhagem inadequada tirou o sinal das regiões nas quais a emissora era tradicionalmente ouvida e ampliou-se em duas regiões onde a rádio não chegava. Sem qualquer divulgação ou campanha, houve perda de audiência.

Nem a iniciativa do lançamento do Portal Cultura Brasil (muito pertinente em tempos de convergência digital) vingou. A proposta inicial de reunir todo o conteúdo musical da Rádio Cultura Brasil, da Cultura FM e dos programas musicais da TV Cultura não mais funciona regularmente. Hoje, o abastecimento de conteúdo do site é quase nulo.

sábado, 7 de abril de 2012

O jornalismo criminoso de Veja.

As matérias que Cachoeira plantou na Veja

Enviado por luisnassif, seg, 02/04/2012 - 22:46
Autor: Luis Nassif

Em 2008 dei início à primeira batalha de um Blog contra uma grande publicação no Brasil.

Foi "O Caso de Veja", uma série de reportagens denunciando o jornalismo da revista Veja. Nela, selecionei um conjunto de escândalos inverossímeis, publicados pela revista. Eram matérias que se destacavam pela absoluta falta de discernimento, pela divulgação de fatos sem pé nem cabeça.

A partir dos "grampos" em Carlinhos Cachoeira foi possível identificar as matérias que montava em parceria com a revista. A maior parte delas tinha sido abordada na série, porque estavam justamente entre as mais ostensivamente falsas.

Com o auxílio de leitores, aí vai o mapeamento das matérias:
DO GRAMPO DA PF DIVULGADO PELA REVISTA VEJA ESTE FIM DE SEMANA:

Cachoeira: Jairo, põe um trem na sua cabeça. Esse cara aí não vai fazer favor pra você nunca isoladamente, sabe? A gente tem que trabalhar com ele em grupo. Porque os grande furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz. Todos eles fomos nós que demos (...).

Cachoeira: Eu fiquei puto porque ontem ele xingou o Dadá tudo pro Cláudio, entendeu? E você dando fita pra ele, entendeu? (...)

Cachoeira: Agora, vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós, esse estouro aí que aconteceu foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O Jairo, conta quantos foram. Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do caralho pro Brasil, essa corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via Policarpo.

Graças ao grampo, é possível mapear alguns dos “furos” mencionados pelo bicheiro na conversa entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira com o PM-araponga Jairo Martins, um ex- agente da Abin que se vangloria de merecer um Prêmio Esso por sua colabiração com Veja em Brasília. Martins está preso, junto com seu superior na quadrilha de Cachoeira, o sargento aposentado da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, fonte contumaz de jornalistas - com os quais mantém relações de agente duplo, levando e trazendo informações do submundo da arapongagem.

O primeiro registro da associação entre Veja e Cachoeira está numa reportagem de 2004, que desmoralizou uma CPI em que o biicheiro era invetigado. Em janeiro daquele ano, Cachoeira foi a fonte da revista Época, concorrente de Veja, na matéria que mostrou Waldomiro Diniz, sub de José Dirceu, pedindo propina ao bicheiro quando era dirigente do governo do Rio (2002). Depois disso, Cachoeira virou assinante de Veja.

As digitais do bicheiro e seus associados, incluindo o senador Demostenes Torres, estão nos principais furos da Sucursal de Brasília ao longo do governo Lula: os dólares de Cuba, o dinheiro das FARC para o PT, a corrupção nos Correios, o espião de Renan Calheiros, o grampo sem áudio, o “grupo de inteligência” do PT.

O que essas matérias têm em comum:

1) A origem das denúncias é sempre nebulosa: “um agente da Abin”, “uma pessoa bem informada”, “um espião”, “um emissário próximo”.

2) As matérias sempre se apoiam em fitas, DVDs ou cópias de relatórios secretos – que nem sempre são apresentados aos leitores, se é que existem.

3) As matérias atingem adversários políticos ou concorrentes nos negócios de Cachoiera e Demostenes Torres (o PT, Lula, o grupo que dominava os Correios, o delegado Paulo Lacerda, Renan Calheiros, a campanha de Dilma Rousseff)

4) Nenhuma das denúncias divulgadas com estardalhaço se comprovou (única exceção para o pedido de propina de 3 mil reais no caso dos Correios).

5) Assim mesmo, todas tiveram ampla repercussão no resto da imprensa.

CONFIRA AQUI A CACHOEIRA DOS FUROS DA VEJA EM ASSOCIAÇÃO COM DEMÓSTENES, ARAPONGAS E CAPANGAS DO BICHEIRO PRESO:

1) O CASO DO BICHEIRO VITIMA DE EXTORSÃO

Revista Veja Edição 1.878 de 3 de novembro de 2004

http://veja.abril.com.br/031104/p_058.html




Trecho da matéria: Na semana passada, o deputado federal André Luiz, do PMDB do Rio de Janeiro, não tinha amigos nem aliados, pelo menos em público. Seu isolamento deveu-se à denúncia publicada por VEJA segundo a qual o deputado tentou extorquir 4 milhões de reais do empresário de jogos Carlos Cachoeira. As negociações da extorsão, todas gravadas por emissários de Cachoeira, sugerem que André Luiz agia em nome de um grupo de deputados.

NOTA: A fonte da matéria são “emissários de Cachoeira”, o “empresário de jogos” que Veja transformou de investigado em vítima na mesma CPI.

2) O CASO DO DINHEIRO DAS FARC

Capítulo 1 - Revista Veja Edição 1896 de 16 de março de 2005

http://veja.abril.com.br/160305/p_044.html






Trecho da Reportagem: Um agente da Abin, infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus chefes (...) Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da revista, VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre as Farc e petistas simpatizantes do movimento.

Capítulo 2 - Revista Veja Edição 1.899 de 6 de abril de 2005

http://veja.abril.com.br/060405/p_054.html



Trechos da matéria: Na semana passada, a comissão do Congresso encarregada de fiscalizar o setor de inteligência do governo resolveu entrar no caso Farc-PT.

Na quinta-feira passada, a comissão do Congresso decidiu convocar o coronel e o espião. Os membros da comissão também querem ouvir José Milton Campana, que hoje ocupa o cargo de diretor adjunto da Abin e, na época, se envolveu com a investigação dos supostos laços financeiros entre as Farc e o PT.

O senador Demostenes Torres, do PFL de Goiás, teme que a discussão sobre o regimento sirva só para adiar os depoimentos. "Para ouvir a versão do governo e tentar dar o caso por encerrado, ninguém precisou de regimento", diz ele.

3) O CASO MAURICIO MARINHO

Capítulo 1 - Revista Veja Edição 1.905 de 18 de maio de 2005

http://veja.abril.com.br/180505/p_054.html






Trecho da reportagem: Há um mês, dois empresários estiveram no prédio central dos Correios, em Brasília. Queriam saber o que deveriam fazer para entrar no seleto grupo de empresas que fornecem equipamentos de informática à estatal.

Foram à sala de Maurício Marinho, 52 anos, funcionário dos Correios há 28, que desde o fim do ano passado chefia o departamento de contratação e administração de material da empresa. Marinho foi objetivo na resposta à indagação dos empresários. Disse que, para entrar no rol de fornecedores da estatal, era preciso pagar propina. "Um acerto", na linguagem do servidor. Os empresários, sem que Marinho soubesse, filmaram a conversa. A fita, à qual VEJA teve acesso, tem 1 hora e 54 minutos de duração.

NOTA: As investigações da PF e de uma CPI mostraram que o vídeo foi entregue à revista pelo PM-araponga Jairo Martins, que “armou o cenário” da conversa com Marinho a mando de concorrentes nas licitações dos Correios.

4) O CASO DOS DÓLARES DE CUBA

Revista Veja Edição 1.929 de 2 de novembro de 2005

http://veja.abril.com.br/021105/p_046.html





Trecho da reportagem: (Vladimir) Poleto, (principal fonte da reportagem) até hoje, é um amigo muito próximo do irmão de (Ralf) Barquete, Ruy Barquete, que trabalha na Procomp, uma grande fornecedora de terminais de loteria para a Caixa Econômica Federal. Até a viúva de Barquete, Sueli Ribas Santos, já comentou o assunto. Foi em um período em que se encontrava magoada com o PT por entender que seu falecido marido estava sendo crucificado. A viúva desabafou: "Eles pegavam dinheiro até de Cuba!"

NOTA: A empresa de Barquete venceu a concorrência da Caixa Econômica Federal para explorar terminais de jogos em 2004, atravessando um acordo que estava sendo negociado entre a americana Gtech (antiga concessionária) e Carlinhos Cachoeira, com suposta intermediação de Waldomiro Diniz. O banqueiro teria deixado de faturar R$ 30 milhões m cinco anos.

A armação era para pegar Antonio Palloci, padrinho de Barquete. Pegou Dirceu.

(Detalhes da relação Cachoeira-Gtech na matéria do Correio Braziliense de 26 de setembro de 2005:
http://www.febrac.org.br/showClipping.php?clipping=30305&cod=7112)

5) O CASO FRANCISCO ESCÓRCIO

Revista Veja Edição 2.029 de 10 de outubro de 2007

http://veja.abril.com.br/101007/p_060.shtml



Chamada no alto, à esquerda: RENAN AGORA ESPIONA OS ADVERSÁRIOS



Na semana passada, Demostenes Torres e Marconi Perillo foram procurados por amigos em comum e avisados da trama dos arapongas de Renan. Os senadores se reuniram na segunda-feira no gabinete do presidente do Tribunal de Contas de Goiás, onde chegaram a discutir a possibilidade de procurar a polícia para tentar flagrar os arapongas em ação. "Essa história é muito grave e, se confirmada, vai ser alvo de uma nova representação do meu partido contra o senador Renan Calheiros", disse o tucano Marconi Perillo. "Se alguém quiser saber os meus itinerários, basta me perguntar. Tenho todos os comprovantes de vôos e os respectivos pagamentos." Demostenes Torres disse que vai solicitar uma reunião extraordinária das lideranças do DEM para decidir quais as providências que serão tomadas contra Calheiros. "É intolerável sob qualquer critério que o presidente utilize a estrutura funcional do Congresso para cometer crimes", afirma Demóstenes.

Pedro Abrão, por sua vez, confirma que os senadores usam seu hangar, que conhece os personagens citados, mas que não participou de nenhuma reunião. O empresário, que já pesou mais de 120 quilos, fez uma cirurgia de redução de estômago e está bem magrinho, como disse Escórcio. Renan Calheiros não quis falar.Com reportagem de Alexandre Oltramari (que viria a ser assessor de Marconi Perillo)

NOTA: Demostenes é a única fonte que confirma a versão em que teria sido vítima.

6) O CASO DO GRAMPO SEM ÁUDIO

Capítulo 1 - Revista Veja, Edição 2022, 22 de agosto de 2007

http://veja.abril.com.br/220807/p_052.shtml






Capítulo 2 - Revista Veja Edição 2073 de 13 de agosto de 2008

http://veja.abril.com.br/130808/p_056.shtml





Capítulo 3 - Revista Veja Edição 2.076 de 3 de setembro 2008

http://veja.abril.com.br/030908/p_064.shtml



Chamada acima do logotipo: “PODER PARALELO”





Trecho da matéria: O diálogo entre o senador e o ministro foi repassado à revista por um servidor da própria Abin sob a condição de se manter anônimo.

Trecho da matéria: O senador Demóstenes Torres também protestou: "Essa gravação mostra que há um monstro, um grupo de bandoleiros atuando dentro do governo. É um escândalo que coloca em risco a harmonia entre os poderes". O parlamentar informou que vai cobrar uma posição institucional do presidente do Congresso, Garibaldi Alves, sobre o episódio, além de solicitar a convocação imediata da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso para analisar o caso. "O governo precisa mostrar que não tem nada a ver e nem é conivente com esse crime contra a democracia."

NOTA: O grampo sem áudio jamais foi exibido ou encontrado, mas a repercussão da matéria levou à demissão do delegado Paulo Lacerda da chefia da Abiin.

7) O CASO DO “GRUPO DE INTELIGÊNCIA” DO PT

Capítulo 1 - Revista Veja Edição 2.167 de 2 de junho de 2010

http://veja.abril.com.br/020610/ordem-casa-lago-sul-p-076.shtml



Trecho da matéria: Não se sabe, mas as fontes de VEJA que presenciaram os eventos mais de perto contam que, a certa altura...

Nota: a “fonte” não citada é o ex-sargento Idalberto Matias, o Dadá, funcionário de Carlinhos Cachoeira, apresentado a Luiz Lanzetta como especialista em varreduras.

Capítulo 2 – Revista Veja Edição de julho de 2010

http://veja.abril.com.br/090610/era-levantar-tudo-inclusive-coisas-pessoais-p-

074.shtml



Trecho de entrevista com o ex-delegado Onézimo de Souza:, que sustentou (e depois voltou atrás) a história de que queriam contratá-lo para grampear Serra: O senhor foi apontado como chefe de um grupo contratado para espionar adversários e petistas rivais?

Fui convidado numa reunião da qual participaram o Lanzetta, o Amaury (Ribeiro), o Benedito (de Oliveira, responsável pela parte financeira) e outro colega meu, mas o negócio não se concretizou.

NOTA: O outro colega do delegado-araponga, que Veja não menciona em nenhuma das reportagens sobre o caso, é o ex-sargento Idalberto Matias, o Dadá, capanga de Cachoeira e contato do bicheiro com a revista Veja (o outro contato é Jairo Martins, o policial associado a Policarpo Junior)

(Confira na entrevista da Folha de S. Paulo com Luiz Lanzetta:

http://m.folha.uol.com.br/poder/746071-jornalista-sai-da-campanha-de-dilma-apos-polemica-sobre-dossie.html)