quinta-feira, 10 de junho de 2010

A mídia confunde um livro de denúncia contra Serra com dossiê supostamente elaborado pela equipe de Dilma.

O que a mídia chama de Dossiê é um livro do repórter Amaury Ribeiro

Luis Nassif
Nem vou discutir a veracidade ou não do chamado dossiê. Mas esse conteúdo que a Folha menciona faz parte do livro do repórter Amaury Ribeiro Jr. Ontem, depois de colocar a nota recebi email com o prefácio e mais um capítulo do livro. Está tudo lá. Decidi não publicar inclusive devido à complexidade do tema, que exige muito cuidado na análise dos dados e nas conclusões. Mas é evidente que o conteúdo mencionado pelo jornal faz parte do livro do Amaury, cujas investigações - incluindo viagens ao exterior - foram bancadas pelo jornal O Estado de Minas.
Assim como no episódio da "ditabranda" e das "fichas de Dilma" a Folha vai ficar enrolando, acumulando desgaste à toa, para ter que dar o braço a torcer mais à frente.

Hoje em dia qualquer grande empresa tem uma estratégia de administração de crise de imagem, devido à própria falta de discernimento dos jornais, de não ter critério para separar denúncias efetivas de factóides. As únicas empresas totalmente desaparelhadas para suas crises de imagem são os próprios jornais.

A versão correta do caso do suposto dossiê


Finalmente, a Folha traz a versão correta do episódio do suposto dossiê, corroborando o que escrevi aqui e acrescentando alguns detalhes provavelmente corretos, ouvindo todos os lados e colocando dúvidas onde as dúvidas merecem ser colocadas.

O único senão foi a publicação do bate-boca do presidente do PSDB Sérgio Guerra com o do PT José Eduardo Dutra, no qual mencionam que eu teria dito que o responsável pelo dossiê foi Aécio Neves. Atribuí a grupos ligados a Aécio, mas não tenho nenhum elemento para afirmar que a ordem partiu do próprio Aécio. O incrivel nesssa história é que bastaria ler meu post sobre o tema para conferir que Dutra fizera a leitura errada. Ou seja, tinha-se a versão e o fato na Internet, sobre o meu post, mas a matéria preferiu ficar com a versão incorreta.

Reposta a verdadeira versão do episódio, o mais curioso é que não se menciona uma linha sobre o conteúdo do livro de Amaury Ribeiro Jr - repórter que já venceu três Prêmios Essos e vários Vladimir Herzog. Um baita alarde em torno do acessório e nada sobre o essencial. A mídia conseguiu o inimaginável nesse briga com a notícia: transformou em falso escândalo a origem do suposto dossiê e, mesmo constatando que era um livro de um repórter consagrado, passa ao largo do seu conteúdo.
O Estadão e a Veja nem isso fazem - apesar de Amaury ter passado cinco horas na revista dando entrevista a seu colega Policarpo Jr.

Da Folha

Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê


PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê

Repórter Amaury Ribeiro Jr. e Onésimo de Souza se reuniram com dilmistas

Envolvidos na produção do material que ataca aliados e família de Serra negam que seu objetivo fosse eleitoral

DE BRASÍLIA

No final da tarde de 20 de abril passado, uma terça-feira, cinco pessoas se reuniram para uma conversa no tradicional restaurante alemão Fritz, na quadra 404 da Asa Sul, em Brasília.

Comandava a mesa Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, empresa responsável pela contratação da maioria dos integrantes da assessoria de imprensa da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

Também estava lá o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que investigou por anos o processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do governo FHC (1995-2002).

Completavam a mesa o delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo de Souza e dois servidores públicos aposentados da chamada "comunidade de informação", que trabalham com ele.

O encontro fora marcado por Lanzetta para tentar contratar Onésimo e sua equipe.

A ideia era investigar os funcionários de uma das sedes do comando da campanha dilmista. A demanda incluía averiguar se quem circulava no local mantinha algum tipo de relação com integrantes do PSDB e da campanha tucana a presidente encabeçada por José Serra.

A Folha apurou que Onésimo sugeriu um orçamento de R$ 180 mil para executar o serviço. O valor não foi aprovado pelo QG de Dilma. A conversa resultou inócua, mas o encontro vazou.

Na semana iniciada em 2 de maio, integrantes do PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando uma equipe de "inteligência" -com o objetivo, deduziram, de espionar Serra.

PONTOS OBSCUROS

Aí aparecem pontos de interrogação na rede de intrigas formada na história do suposto dossiê anti-Serra relatado na mídia há uma semana, a partir de uma reportagem da revista "Veja".

Há pelo menos dois conjuntos de papéis, um com dados sobre aliados de Serra investigados na CPI do Banestado, e outro, com relato de operações fiscais da filha do presidenciável, Verônica.

Há dois aspectos obscuros principais. Primeiro, a real intenção de Lanzetta ao fazer contato com detetives. Segundo, como a informação sobre o encontro entre Lanzetta e o "grupo de inteligência" foi repassada para a imprensa e chegou aos tucanos.

Um terceiro detalhe também não foi esclarecido: por que Ribeiro estava na conversa do dia 20 de abril?

Ele é amigo de Lanzetta. Havia relatado trechos de suas investigações. Os dados começaram a ser coletados pelo jornalista em sua passagem pelo "Estado de Minas", principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).

Lanzetta e Ribeiro dizem que o conteúdo da apuração seria usado na elaboração de um livro e nunca teriam cogitado fazer um dossiê para ser usado na campanha.

A apuração de Ribeiro começou em 2009, depois que Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas.

Repórter investigativo com passagens por Folha, "O Globo" e "Jornal do Brasil", ele foi escalado para apurar eventuais irregularidades relacionadas ao outro presidenciável tucano, Serra.

O resultado das apurações do jornalista nunca foi publicado pelo jornal. "Ele trabalhava em várias investigações. Essa investigação específica não estava concluída quando ele pediu demissão no final de 2009", diz o diretor de Redação do "Estado de Minas", Josemar Gimenez.

Depois de deixar o emprego, Ribeiro contou o objeto de suas apurações a Lanzetta. O contratado da campanha de Dilma se interessou pelo assunto. Havia ali um caso potencial para ser usado na disputa presidencial.

Lanzetta e Ribeiro passaram a considerar a produção de um livro. A Lanza chegou a redigir um texto para ser distribuído à imprensa com os principais tópicos do futuro livro -que passou a circular ontem na internet.

Nesse meio tempo, a pré-campanha de Dilma passou a suspeitar de vazamentos de dentro de seus QGs em Brasília. Surgiram reportagens negativas, relatando custos de montagem de estrutura.

O alvo dessas informações era sempre o chamado grupo mineiro, encabeçado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, amigo de Lanzetta e responsável pela montagem da estrutura de comunicação de Dilma.

RACHA PETISTA

Nessa época, no início de maio, houve uma bifurcação dentro do comando dilmista.

O grupo mineiro passou a ser abordado por órgãos da mídia querendo saber se havia produção de dossiês. Na outra ponta, um outro grupo composto por petistas paulistas foi acionado pela cúpula partidária para analisar o que estava sendo feito.

Entre os paulistas estão o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o deputado estadual Rui Falcão. Eles alimentaram na mídia a versão de que houve de fato a tentativa de montar uma equipe de inteligência. Mas venderam também o relato de que abortaram essa estratégia.

A facção mineira sustenta que o material produzido por Ribeiro nunca foi cogitado como um dossiê antitucanos. Também declara não ter estabelecido relação comercial com a campanha de Dilma.

Na reportagem de "Veja" e em conversas reservadas, o comando dilmista comemorou inicialmente ter abortado potencial escândalo semelhante ao do dossiê dos "aloprados" de 2006. Já no fim da semana, agora publicamente, petistas negam qualquer contato com os papéis.

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