sábado, 5 de junho de 2010

Israel ameaça barrar outro navio humanitário rumo à Gaza, que leva o prêmio nobel da paz


04/06/2010-09h30

Barco irlandês segue rumo a Gaza; entrada será barrada, diz premiê de Israel

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Atualizado às 09h52.
O navio irlandês Rachel Corrie prossegue com seu objetivo de tentar furar o bloqueio a Gaza para entregar ajuda humanitária aos palestinos, mas deve atingir a zona de proibição de navegação de 20 milhas (32 km) somente no sábado pela manhã, informou a ONG "Free Gaza" em comunicado. O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, já informou que o navio "não chegará" a atracar.
De acordo com a ONG, a tripulante Jenny Graham declarou por meio de um telefone por satélite que o navio segue navegando sem problemas. "Estamos a cerca de 150 milhas de Gaza, avançamos em bom ritmo e esperamos chegar a Gaza no sábado de manhã", disse.
Uma vencedora do prêmio Nobel da Paz e um ex-chefe de departamento da ONU (Organização das Nações Unidas) estão a bordo do navio. Ainda segundo o comunicado há 15 pessoas a bordo. Anteriormente agências de notícias tinham divulgado que eram 11 tripulantes.
Embate
Os comentários contrastantes entre a ONG e o governo de Israel mostram que um potencial novo embate pode ser iminente e chegam quatro dias após o ataque de Israel à "Frota da Liberdade", que tentava furar o bloqueio israelense à faixa de Gaza e deixou nove mortos e dezenas de feridos. A ação rendeu críticas da comunidade internacional e colocou o bloqueio que já dura três anos em xeque.
Greta Berlin, porta-voz da ONG "Free Gaza", disse em Nicósia, no Chipre, que a embarcação Rachel Corrie, de 1.200 toneladas, vai prosseguir navegando diretamente rumo a Gaza, sem parar em nenhum porto na rota.
Os ativistas a bordo do navio querem entregar toneladas de ajuda humanitária, incluindo cadeiras de rodas, material escolar, suprimentos médicos e concreto.
Uma irlandesa vencedora do prêmio Nobel da Paz, Mairead Maguire, e Dennis Halliday, ex-chefe do Programa Petróleo-por-Comida da ONU (Organização das Nações Unidas), no Iraque, estão entre tripulantes do barco, disse Berlin.
A embarcação leva o nome de uma universitária americana, Rachel Corrie, morta por um tanque de guerra israelense enquanto protestava contra demolições de casas de palestinos em Gaza.
Israel não vai permitir que o navio de ajuda humanitária chegue a atracar na faixa de Gaza, disse o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, ainda na noite de quinta-feira.
De acordo com um participante da reunião de gabinete onde o premiê fez o anúncio, o governo de Israel fez diversas ofertas para direcionar o navio irlandês a um porto israelense, onde os suprimentos seriam descarregados, inspecionados e então transferidos para Gaza por terra, mas todas as propostas foram recusadas pelos ativistas.
Perda de comunicação
Mais cedo, os organizadores da frota humanitária para Gaza anunciaram que perderam o contato com o cargueiro "Rachel Corrie", fretado por uma organização irlandesa e que tenta levar ajuda ao território palestino.
"Perdemos todo o contato com o barco. Acreditamos que se trata de uma sabotagem israelense", declarou à AFP Audrey Bomse, porta-voz do movimento Free Gaza.
"Levaremos o 'Rachel Corrie' para um porto, onde outras personalidades subirão a bordo, e insistiremos que jornalistas do mundo inteiro nos acompanhem para prevenir um ataque contra o barco ou seus passageiros", acrescentou.
"Esperamos que as comunicações sejam restabelecidas para poder informar os passageiros desta decisão", explicou.
Cena apocalíptica
Um cinegrafista sérvio detido em Israel em função do ataque dos comandos israelenses contra a frota humanitária destinada a Gaza voltou nesta sexta-feira a Belgrado, onde relatou uma "cena apocalíptica" durante a operação militar israelense.
"Tudo começou como uma viagem de barco sem problemas e depois virou uma cena apocalíptica", contou Srdjan Stojiljkovic, cinegrafista encarregado pelos organizadores da frota para filmar a expedição.
"Tudo aconteceu em menos de 25 segundos", contou à emissora de rádio B92. "Os israelenses chegaram sem fazer barulho e tentaram subir a bordo, jogando bombas ensurdecedoras, enquanto a tripulação dirigia contra eles projetores e mangueiras anti-incêndio", explicou ao jornal Blic.
"Então chegaram os membros de um comando, que desceram por uma corda de um helicóptero e aí começou o pânico, ouvimos disparos. As pessoas a bordo, que não estavam amarradas, pegaram um dos soldados, o desarmaram e o jogaram no convés".
"Uma das vítimas morreu com um disparo entre os olhos", contou ainda. Stojiljkovic disse que tentou filmar a cena, mas que os israelenses confiscaram todo o material.
O ataque dos comandos israelenses contra um dos seis barcos que formavam a frota humanitária deixou nove mortos e 20 feridos. Segundo as autoridades israelenses, os comandos militares se viram obrigados a abrir fogo para se defender dos ocupantes do barco, que, segundo afirmam, os atacaram violentamente.
Milhares de pessoas acompanharam nesta quinta-feira o funeral de oito dos nove ativistas turcos mortos em ataque de Israel, enquanto o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que Israel está prestes a "perder seu melhor amigo no Oriente Médio".
Investigações
Ainda na quinta-feira Israel ofereceu realizar investigação própria, chefiada pelo governo, mas com a possível participação de observadores externos para apurar os detalhes do ataque na segunda-feira. Também frente à crescente pressão internacional para suspender o bloqueio imposto à faixa de Gaza, algumas fontes disseram, em anonimato, que o governo de Israel estaria cogitando um possível alívio aos termos do embargo, com a participação internacional na inspeção de navios levando ajuda humanitária.
Amir Cohen/Reuters

Cadeirinha de bebê que estava a bordo do navio com ajuda humanitária para Gaza
Ativistas deportados começaram a relatar supostas agressões e maus-tratos cometidos pelo Exército de Israel, e a cineasta brasileira Iara Lee disse até que corpos foram jogados no mar.
Na madrugada de segunda-feira (31), cerca de 700 ativistas tentaram furar o bloqueio imposto por Israel a Gaza para levar cerca de 10 mil toneladas de ajuda humanitária quando foram atacados por militares israelenses em águas internacionais. Pelo menos nove ativistas foram mortos na operação.
Uma possível nova crise pode estar se aproximando, com a ordem do governo israelense para que os militares impeçam que outro barco com ativistas chegue à faixa de Gaza. Tripulantes do navio MV Rachel Corrie dizem que ele chegará a Gaza até sábado.
Funeral
Cerca de 20 mil pessoas rezavam do lado de fora da mesquita de Fatih, em Istambul, na Turquia, diante de oito caixões alinhados e enrolados em bandeiras turcas e palestinas. As vítimas eram turcos entre 19 e 60 anos. A nona vítima teria um funeral separado, nesta sexta-feira.
Murad Sezer/Reuters


Os caixões foram cobertos por bandeiras palestinas e turcas; funeral atraiu mais de 20.000 pessoas
Uma das vítimas sendo veladas era o estudante Furkan Dogan, 19, que tinha cidadania americana.
O pai do rapaz, Ahmet Dogan, disse à agência estatal de notícias Anatolia que a família não estava triste porque acreditavam que Furkan morreu com honra. "Sinto que meu filho foi abençoado pelos céus", disse. "Espero ser digno de meu filho."
Dogan nasceu em Troy, em Nova York, mas mudou-se para a Turquia quando tinha dois anos. Ele deve ser enterrado nesta sexta-feira na cidade de sua família, Kayseri, no centro da Turquia.
Antes do amanhecer desta quinta-feira, milhares de pessoas lotaram a principal praça de Istambul, a Taksim, para dar as boas vindas a centenas de ativistas pró-palestina deportados por Israel.
No total, 466 ativistas, incluindo mais de 50 estrangeiros, chegaram a Istambul no começo da quinta-feira, junto com o embaixador da Turquia em Israel, Oguz Celikkol. 

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