Por: Nicolau Soares, especial para a Rede Brasil Atual
Publicado em 26/11/2010, 12:55
Última atualização às 15:24
"No governo de Sérgio Cabral, desde o início, mata-se muita gente. E no Brasil não tem pena de morte, essa é a minha ressalva", afirma. "Não acho que vão pegar esses criminosos, prender, apresentar a sociedade, levar para presídio e recuperar esses homens; eles vão matar", prevê em entrevista à Rede Brasil Atual. O escritor revela ter ouvido relatos de moradores da comunidade de Cidade de Deus, na zona oeste da cidade, onde Lins cresceu, de execuções sumárias pela polícia de pessoas já rendidas. "Eu já vi isso a minha vida toda. Vai acontecer uma 'bela chacina' e gerar mais ódio", lamenta.
O escritor se diz favorável à ocupação das comunidades e à política de instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas condena a forma como foram implantadas. "A ocupação em si é louvável, tem de ocupar, prender os bandidos, tirá-los de circulação, até porque eles aliciam outros jovens, servem de exemplo. Tirá-los de circulação é boa ideia, mas tem que prender, não matar", diz.
"Nas primeiras favelas (em que foram implantadas UPPs) houve conflito entre polícia e tráfico. Depois, os policiais começaram a avisar publicamente que iam ocupar a favela, e os bandidos passaram a sair antes. Eles foram para outras, para a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Toda essa movimentação foi monitorada, o Estado sabia que esses bandidos estavam ali. E agora vai acontecer uma chacina", reitera.
Lins destaca que os ataques feitos pelos crime organizado não provocaram vítimas fatais. "Só a polícia matou, inclusive com bala perdida. O mais marcante para mim foi uma criança de 15 anos que morreu com uma bala perdida. Se acontecesse na zona sul (área nobre da cidade), a imprensa toda estava falando nisso. Como ela é pobre, mora na favela, é visto como normal, como vítima de guerra", acusa. Segundo a Polícia Militar, até quinta-feira (25), o saldo das operações é de 192 pessoas presas, 25 mortos e três policiais feridos.
Excessos
Ele considera errada a estratégia da polícia, que se apoia em violência que seria desnecessária. “Quando prenderam o (narcotraficante) Elias Maluco, eles não deram um tiro. Acontece que o Estado é burro e tinha que ser inteligente. Eles vão matar 50, 100 bandidos e vão achar mais mil, isso não resolve", critica.
"Matar bandido preto e pobre não é coisa nova no Brasil, o país vem fazendo isso há muitos anos e não resolveu nada. Vai gerar mais ódio, mais rancor, e vão aparecer mais bandidos se não tiver uma política de prevenção", defende. “Ou então, deveria ter política de extermínio de bandido rico também. Se a pena de morte valer para bandido pobre, tem que valer também para bandido rico, inclusive bandido político. Bandido rico nem preso vai”, dispara.
O apoio da população às ações do Estado é esperado por Lins nessa situação de medo. “Lógico que vai aprovar, a população civil esta acuada pelos bandidos, com medo desses incêndios. A imprensa faz parte da sociedade e apoia também. Mas realmente esse foi um motivo que deram para se fazer uma chacina e 'limpar' a cidade", diz.
Ação social
O escritor defende a presença do Estado nas comunidades por meio de ações sociais, especialmente de educação. "O Estado tem que dar suporte de educação, cultura e esporte para a população toda, como existe para a classe média", compara. "O pessoal na periferia é revoltado, há uma revolta social muito grande. Tem de melhorar o salário do trabalhador, é o filho dele que entra para a criminalidade. Não se fala agora em escola boa, e o parâmetro para isso já existe, é só pegar a escola de classe media, que é exemplo", questiona.
Para isso, o poder público precisaria "tomar o domínio das cadeias" por meio de um processo de humanização do sistema carcerário e investimento na recuperação dos presos. "Não adianta transferir presos. O Estado tem que retomar o domínio das cadeias e vai fazer isso com projetos de recuperação, com educação, médico, trabalho – sobretudo trabalho. Esse pessoal não pode ficar parado”, sustenta Lins. Lins se diz contrário ao recrudescimento de penas contra lideranças das facções criminosas. "Tem de fazer essas pessoas enxergarem o quanto é importante o trabalho, a produção. É isso que tem de fazer, não endurecer mais. Isso é conversa fiada", afirma.
O escritor se diz favorável à ocupação das comunidades e à política de instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas condena a forma como foram implantadas. "A ocupação em si é louvável, tem de ocupar, prender os bandidos, tirá-los de circulação, até porque eles aliciam outros jovens, servem de exemplo. Tirá-los de circulação é boa ideia, mas tem que prender, não matar", diz.
"Nas primeiras favelas (em que foram implantadas UPPs) houve conflito entre polícia e tráfico. Depois, os policiais começaram a avisar publicamente que iam ocupar a favela, e os bandidos passaram a sair antes. Eles foram para outras, para a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Toda essa movimentação foi monitorada, o Estado sabia que esses bandidos estavam ali. E agora vai acontecer uma chacina", reitera.
Lins destaca que os ataques feitos pelos crime organizado não provocaram vítimas fatais. "Só a polícia matou, inclusive com bala perdida. O mais marcante para mim foi uma criança de 15 anos que morreu com uma bala perdida. Se acontecesse na zona sul (área nobre da cidade), a imprensa toda estava falando nisso. Como ela é pobre, mora na favela, é visto como normal, como vítima de guerra", acusa. Segundo a Polícia Militar, até quinta-feira (25), o saldo das operações é de 192 pessoas presas, 25 mortos e três policiais feridos.
Excessos
Ele considera errada a estratégia da polícia, que se apoia em violência que seria desnecessária. “Quando prenderam o (narcotraficante) Elias Maluco, eles não deram um tiro. Acontece que o Estado é burro e tinha que ser inteligente. Eles vão matar 50, 100 bandidos e vão achar mais mil, isso não resolve", critica.
"Matar bandido preto e pobre não é coisa nova no Brasil, o país vem fazendo isso há muitos anos e não resolveu nada. Vai gerar mais ódio, mais rancor, e vão aparecer mais bandidos se não tiver uma política de prevenção", defende. “Ou então, deveria ter política de extermínio de bandido rico também. Se a pena de morte valer para bandido pobre, tem que valer também para bandido rico, inclusive bandido político. Bandido rico nem preso vai”, dispara.
O apoio da população às ações do Estado é esperado por Lins nessa situação de medo. “Lógico que vai aprovar, a população civil esta acuada pelos bandidos, com medo desses incêndios. A imprensa faz parte da sociedade e apoia também. Mas realmente esse foi um motivo que deram para se fazer uma chacina e 'limpar' a cidade", diz.
Ação social
O escritor defende a presença do Estado nas comunidades por meio de ações sociais, especialmente de educação. "O Estado tem que dar suporte de educação, cultura e esporte para a população toda, como existe para a classe média", compara. "O pessoal na periferia é revoltado, há uma revolta social muito grande. Tem de melhorar o salário do trabalhador, é o filho dele que entra para a criminalidade. Não se fala agora em escola boa, e o parâmetro para isso já existe, é só pegar a escola de classe media, que é exemplo", questiona.
Para isso, o poder público precisaria "tomar o domínio das cadeias" por meio de um processo de humanização do sistema carcerário e investimento na recuperação dos presos. "Não adianta transferir presos. O Estado tem que retomar o domínio das cadeias e vai fazer isso com projetos de recuperação, com educação, médico, trabalho – sobretudo trabalho. Esse pessoal não pode ficar parado”, sustenta Lins. Lins se diz contrário ao recrudescimento de penas contra lideranças das facções criminosas. "Tem de fazer essas pessoas enxergarem o quanto é importante o trabalho, a produção. É isso que tem de fazer, não endurecer mais. Isso é conversa fiada", afirma.
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