sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Blogueiros sujos bebemoram em Brasília

Do Blog do Miro http://altamiroborges.blogspot.com/

Reproduzo relato de Conceição Oliveira, publicado no blog Maria Frô, que também traz inúmeras fotos da bebemoração:
Nenhuma paciência para as pataquadas do PIG no dia de hoje, especialmente depois de ter encontrado cerca de 70 blogueiros ontem no Beirute da Asa Sul. Entre eles amigos de longa data e de jornada, outros com os quais falava quase diariamente pelo gtalk, skype, trocando posts, e-mails, sugestões, idéias, tweets sem nunca termos nos encontrado fisicamente.

Foi um dia pra lá de especial e espero que toda os blogueiros sujos que, por diferentes razões, não possam estar aqui em BSB nesta virada de ano e amanhã para nos despedirmos do Cara e darmos as boas vindas à primeira presidenta do Brasil se sintam representados.

Hoje, à meia noite, nós brindaremos à democratização da comunicação, comemoraremos a liberdade de imprensa que existe quando não perdemos o espírito crítico e nem por isso precisamos agir como cães raivosos.

Hoje, a blogosfera dos ‘sujos’, como nos cunhou o lamentável José Serra e sua campanha (esta sim, imunda), brindará à responsabilidade do jornalismo cidadão, festejaremos a promessa de o Brasil finalmente colocar em prática as resoluções da CONFECOM, da plenária do 1º Encontro dos Blogueiros Progressistas e de todo trabalho de formiguinha que nós, cidadãos anônimos, realizamos em rede para desconstruir os factóides do monopólio midiático.

Com bem apontou Rodrigo Vianna no Escrevinhador, o ano de 2010 foi de muito trabalho, mas também de muitas conquistas, e como não nos deixa esquecer Azenha, no Viomundo: 2011 será um ano de muitos desafios.

Estamos preparados para cobrar o novo governo nas políticas públicas que têm de continuar e avançar para efetivamente tornar o Brasil um país desenvolvido e sem exclusão. Que venha 2011. Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Recorde de aprovação a Lula é mundial, diz CNT/Sensus

De acordo com o instituto, apenas a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, tiveram índices de popularidade tão bons 
29 de dezembro de 2010 | 17h 01

Carol Pires / BRASÍLIA - Estadão.com.br

Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que o presidente Lula deixa o governo com recorde mundial de popularidade. De acordo com a lista, apenas a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, tiveram índices de popularidade tão bons em final de governo.

Bachelet deixou a presidência em 2010 com 84% de aprovação, enquanto o líder sul-africano saiu do governo, em 1999, com 82% de aprovação popular. Pesquisa Sensus divulgada hoje pela CNT, Lula deixa a presidência com 87% de aprovação. "Lula deixa o governo no próximo dia 31 com recorde mundial de popularidade", comentou o presidente da CNT, Clésio Andrade, ao citar a boa condição econômica do país e a política de geração de empregos como fatores que impulsionam a popularidade do presidente.

A lista aponta ainda Néstor Kirchner, da Argentina (55%), os ex-primeiros-ministros britânicos Tony Blair (44%) e Margaret Thatcher (52%) e o ex-presidente norte-americano Franklin Roosevelt (66%). A CNT não informou qual foi a fonte de informação para formatar a lista.

A CNT observa que os ex-presidentes brasileiros Juscelino Kubitscheck e Getúlio Vargas já foram citados como os melhores presidentes do Brasil, mas pondera que não há pesquisa de popularidade realizada enquanto estiveram no governo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência do Brasil com 26% de aprovação, aponta o levantamento.

Henrique e o Tempo não param.


Segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, século, milênios........ O tempo, o tempo meramente não para.

Que admirável seria para o homem se, por certo momento, o tempo pudesse parar para reflexões ou transformações de norte, ou melhor, que maravilha seria se ao avesso de parar o tempo ele pudesse retroceder. Não, ele não para, ele não retrocede.

Ele segue o fluxo natural involuntariamente dos eventos, da agonia, do desacerto, do acerto, do júbilo, da decepção, de qualquer sentido pleno ou circunscrito de sentimento e paixão.

O tempo é atroz, ele não para.

A experiência da humanidade nos evidencia que muitas vezes sua fortuna é decidida em fragmentos de segundos. Estes fragmentos de segundos determinam em determinados eventos toda uma trajetória, como também, caráter, afeição, desilusões, idéias, julgamentos, preconceitos, aborrecimentos, magoas, júbilo, amargura, emoções, euforias, desafios e finalmente retratam o que você é e o que você poderá ser.

Isto se dá, porque há homens ainda que são forjados com alma, com sangue devido à sua inclinação passional intensa, onde se vive à flor da pele na mais pura, porém, sincera emoção.

Seus triunfos são tão intensos quanto suas ruínas, ambos são experimentados com o mesmo sabor que se bebe até a última gota de cálice de um vinho tinto de sangue, uma vez que o triunfo e a ruína são obtidos por sangue para que se tenha a sua devida importância, mas mesmo assim, o tempo, o tempo não para.

O homem é a imagem mais fiel da sua alma, de suas emoções, de seu tempo, porém cada ser tem o seu tempo, o seu espírito, o seu retrato, e este homem não para assim como o seu tempo não para.

E não para porque o seu corpo, o seu cérebro, o seu pulsar são máquinas que só a fortuna é apta de controlar, pois ele o homem, é ineficaz para parar tal maquina nem que seja para uma sucinta reavaliação ou manutenção.

Ah, a máquina que move o homem não para, como o tempo, há este tempo, este tempo não para.

Bandido, herói, mocinho, algoz, deslumbrante, frustrante, vil, vazio, idealista, apaixonado, incorrigível, parvo, ingênuo, intenso, amargo, alegre, alucinado, engajado, não importa.. O tempo não muda personalidades, caráter, princípios; o tempo, o tempo não para.

Ah, se o tempo pudesse por alguns instantes parar, que maravilha seria o vindouro da humanidade, mas o tempo, ah, o tempo não para.

Ele segue muitas vezes machucando, curando, didaticamente doutrinando, aperfeiçoando, moldando, segue como um arquiteto, que delineia as curvas e retas que você vai seguindo em sua existência, respeitando o livre arbítrio intrínseco a cada ser, mas, independentemente de suas obras, o Tempo, esse não para jamais.


  


Henrique Matthiesen 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A mordida de Fauto Wolff em FHC. Resgate de @Stokler4

Do blog RT @stockler4 do amigo Paulo Roberto

Saudade de Fausto Wolff e alguma coisa sobre FHC
Fausto Wolff é desses caras que partem e deixam saudade. Vendo sua página na Wikipédia, não conseguimos detetar-lhe a grandeza, mas coloquei como link, apenas para umas pinceladas mais gerais sobre esse jornalista, e já serve em seu descritivo, para termos uma noção de alguns predicados e posição política.

Anteontem, parece que FH do seu C (que era como Fausto se referia ao ex-Presidente FHC na pele de seu impagável Nataniel Jebão), desatou a falar bobagens no ignóbil programa "Manhattan Conection", talvez um dos "lugares" mais desimportantes da televisão mundial, mas que serviu para repercutir, pela importância da personagem e ao longo do dia, em jornais e na rede.

Coincidentemente, comecei ontem, e com um atraso indesculpável, a ler "Imprensa Livre de Fausto Wolff", que foi lançado em 2004, 4 anos antes de sua morte e já indo pela página 92 do mesmo, que nos fala sobre a época em que foi escrito, nos dá a dimensão do que foi o Governo FHC e os de seus antecessores, bem como a participação da imprensa venal e vendida que temos em nosso País.

Fica "meio" comprido prá blog, eu sei, o texto que segue abaixo e que é um dos capítulos do livro, mas de leitura fácil, esclarecedora e que quando chega ao fim, nos dá aquele gostinho de "quero mais", ainda mais levando em conta que fica praticamente impossível acharmos na "velha mídia", textos simples como esse transcrito abaixo e que carregue tantas verdades como aquelas, por motivos que o próprio texto nos oferece.

Sigamos! Sem Fausto...



Sete pragas do Aegptyi: corrupção, miséria, imprensa, fome, desemprego, peste e FHC
Em 1968, pouco antes do AI5, o correspondente da revista Time, David Saint Clair bebia comigo no falecido Antonio's. Já estávamos ambos levemente de porre quando ele me disse em tom de brincadeira:
- Você sabe que teu país foi vendido com tudo que tem dentro, você inclusive? Enquanto não decidirmos que nome daremos ao país que já foi teu - e hoje é nosso - você não existirá oficialmente para o mundo.
Verdade é que uma quinta parte do país (estou falando em termos de terra) já fora vendido a estrangeiros. Pouca coisa. Hoje em dia, se alguém se der ao trabalho de verificar em nome de quem está - digamos a Amazônia -, verá que pertence a algum João da Silva. Nos cartórios europeus, asiáticos e norte-americanos, porém, os nomes dos proprietários mudam para Rockfeller e Grimaldi passando por algum Fujimoto da vida. Não me incomodei com o David, pois em 68 vivíamos em regime de exceção e regimes de exceção tendem a acabar um dia. Na ocasião, como Vinícius de Moraes, eu achava que " a coisa não demora e se você reagir você vai se dar mal, ora se vai". O resto todo mundo conhece.
Hoje, felizmente (eu disse felizmente?), não vivemos mais num regime de exceção. Aqueles bravos rapazes que viveram exilados no Chile e na França, passando fome e frio, foram eleitos pelo voto popular, com uma leve ajuda da TV Globo. Verdade é que tivemos de aguentar o Sarney e o Collor, mas, que diabo, a democracia exige sacrifícios. Tremo toda vez que penso que vivemos numa democracia e temos imprensa livre. Apesar disso aumentou brutalmente o número de analfabetos, aumentou a mortalidade infantil, aumentou a prostituição, aumentou a corrupção, aumentou o desemprego, aumentou a miséria, aumentou a fome, a criminalidade e a falta de caráter. Vivemos numa democracia, e aqueles bravos rapazes que estiveram no Chile e na França, sofrendo mais que Bakunin na Sibéria, envelheceram, mas foram recompensados: estão todos podres (literalmente) de ricos. A primeira coisa que os exilados de boas famílias fizeram foi unirem-se aos torturadores em nome da democracia. Pergunto-me: foi para isso que passei dez anos fora do meu país? Foi para isso que tantos foram torturados e assassinados? Foi para isso que dei minha juventude? Foi para ver essa nojeira que envelheci?
Não vivemos mais num regime de exceção. A exceção, finalmente, acabou. Transformou-se em regra. O Brasil não é mais um país. Virou uma firma que deve dar bons dividendos financeiros para seus donos. Seus donos não vivem aqui. Vivem aqui seus capachos: Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Arthur da Távola, para citar apenas alguns dos bravos rapazes exilados. Falar de Sarney, Jáder, Maluf, Antônio Carlos Magalhães é bater em cachorro agonizante. Agonzante mais riquíssimo.
O neoliberalismo saudado pelo cabo Anselmo Fernando Henrique Cardoso como a salvação para o Brasil transformou o mundo num grande mercado e países como o nosso em filiais. Não sei por onde anda o David Saint Clair nem sei se está vivo. Se estiver, porém, aí vai o novo nome do país: Brazil & Mother Joana Business Unlimited S.A., pertencente ao grupo FMI, BIRD, NAFTA, OMC. Logo, logo, estaremos anunciando na imprensa mundial: "Invista noBrazil-MJ-BU. Salários de fome, trabalho escravo, incentivos fiscais, total ausência de sindicatos, justiça e parlamento facilmente corruptíveis, população completamente alienada ecall girls pouco exigentes. Tudo isso mediante comissão módica aos arrendatários nacionais. Tratar diretamente com os capachos no Palácio do Planalto".
Vocês acham que estou pegando pesado demais? Estou não. Fiquei com pena do Robert Zoellick, secretário comercial da Casa Branca, quando esteve aqui há uma semana. Não podia descuidar um momento e já não sabia como impedir que nossas autoridades acariciassem seu saco. Ficou tão irritado que disse:
- Os "países" (coloquei as aspas mas elas não são minhas) que demorarem a fechar acordo de livre comércio conosco vão ficar para trás. Não faltam países para fazer acordo com os Estados Unidos. O número é enorme, e não posso atender a todos.
-Mas o que podemos fazer, mais do que já fizemos? - teria perguntado Malan.
-Privatizem mais, derrubem mais suas tarifas, mudem as leis trabalhistas, respeitem a propriedade intelectual americana.
Não, leitores, ninguém perguntou se na olhota não ia nada, de modo que o bom Zoellick (afinal de contas apenas um funcionário com um belo salário trabalhando para seu país e não contra, como FHC e companhia) continuou:
-Os Estados Unidos são a maior potência do mundo, com um PIB de 10 trilhões de dólares, e escolhem os parceiros que bem quiserem.
Zoellick tratou nossos governantes-algozes como se fossem office-boys (coisa que Greenspan já vem fazendo há anos) e não ouviu uma crítica do corajoso caçador de sem-terra, FHC. Voltou para Washington com os países baixos babados. Na mesma época esteve entre nós Jean Ziegler, representante da ONU, e disse que em matéria de desigualdade social o Brasil só encontra paralelo na África do Sul. O bravo Raul Jungman, ministro da Reforma Agrária Fantasma, só faltou pedir sua prisão.
Repito mais uma vez: quando a imprensa torna-se sócia dos três poderes, o máximo de democracia que consegue produzir é essa nojeira que está aí. Alguns dias atrás li um artigo bem escrito em O Globo de autoria de Carlos Alberto Di Franco, diretor do master em jornalismo e professor de ética jornalística. Concordei com algumas coisas, como o fato de o jornalismo ter virado entretenimento. Mas, master, não dá para concordar quendo você diz que o "Brasil desenhado por certos setores da mídia nem sempre bate com a realidade nacional.Embora (o grifo é meu) o país tenha grandes problemas(....) esses problemas sociais estão longe de representarem um retrato de corpo inteiro da nação".
Espera aí, ô master, você acha que uma grande imprensa venal, comprada, feita por colunistas amestrados (as exceções são por demais conhecidas) está batendo muito pesado? Isso ocorre quando eventualmente os interesses econômicos do poder e da empresajornalística se chocam. Logo, respeito seu título de master of ethics mas você é master of ethics de uma imprensa que não é absolutamente livre. É bem mais livre na matriz. Ainda assim, sugiro que você leia 20 Years of Censored News, de Carl Jensen (Seven Stories Press/New York). Ele revela entre outras coisas que em 1961 vazou para a Casa Branca a notícia de que o New York Times iria publicar uma reportagem sobre a invasão a Cuba. Kennedy mandou chamar o editor do jornal e a história jamais foi publicada. Houvesse sido, talvez os Estados Unidos não tivessem de suportar até hoje o fiasco que foi a baía dos Porcos.
A última demonstração de liberdade da grande imprensa brasileira foi o noticiário sobre a dengue. Parece que não existe uma epidemia e que as pessoas picadas pelo mosquito não correm risco de vida. Aqui em casa, eu e minha mulher passamos quase três semanas nos arrastando. Duas pessoas num apartamento, dois casos de dengue. A indústria informou que nas últimas semanas 10% dos empregados não compareceram ao trabalho. Isso não significaria, por acaso, que 10% dos trabalhadores foram vítimas do mosquito? E as crianças, e as donas-de-casa? Só no Hospital das Clínicas da Amil de Niterói foram registrados mais de 300 casos da doença em apenas uma semana de março e ninguém soube. Passei na esquina de Atlântica e Sá Ferreira e encontrei mais de 15 pessoas pobres (crianças e velhos) deitadas nos bancos, todas com dengue. Durante a minha vida ouvi falar do Ibope mas jamais alguém que eu conheça foi consultado por ele. No caso da dengue, os nossos repórteres, em vez de fazerem contas elementares que elevariam para um milhão o número de pessoas infectadas e para no mínimo alguns milhares de mortos, limitaram-se e limitam-se a repetir os dados oficiais de José Serra, candidato a presidengue.
Pouco depois de acordar e antes de começar a escrever este artigo, olhei pela janela e vi que havia chovido. Imediatamente, passei repelente por todo o corpo. Os entomologistas (que estudam o mosquito) estão ganhando dos virologistas que tratam da doença. Em oito anos de corrupção, Fernando Henrique Cardoso não cometeu uma só boa ação e se despede matando os pobres coitados que tanto esperavam do bravo rapaz exilado no Chile.

Lula e PHA gozam a Folha (*) sobre publicidade do Governo

Do Conversa Afiada

“Descobrindo a pólvora”




Saiu na Folha (*) de hoje, na primeira página , reportagem do tipo “descobrindo a pólvora” – no gerúndio, como é do gosto dos tucanos:
“Planalto pulveriza sua propaganda em 8.094 veículos (sic).”
“Nos oito anos da gestão petista, o numero de contemplados (sic) com verba subiu 1.552%; gasto foi de R$ 2,3 bi por ano”

– o que é igual à gasto po FHC, aliás, diz a própria Folha (*).

O objetivo implícito do “desc0brindo a pólvora” – os dados são públicos e do conhecimeno do mundo mineral e da indústria da publicidade – é dar a entender que Lula tentou “comprar” a mídia brasileira.

Lula gozou a Folha, hoje mesmo, em Pernambuco:

No Ig 
O presidente aproveitou também para alfinetar mais uma vez a imprensa, ao comentar a notícia veiculada pelo jornal Folha de S. Paulo de que o governo distribuiu sua verba de publicidade em mais de 8 mil veículos. “E ainda dizem que somos ameaça à liberdade de imprensa”, ironizou.

No G1 
Lula afirmou que seu governo “socializou” o dinheiro destinado à publicidade oficial entre mais de 8 mil veículos de comunicação do país. “Resolvemos socializar o dinheiro do governo e levar condições para que a rádio menor do interior pudesse receber R$ 0,10 do que ganhavam as rádios nacionais, que recebiam tudo antes de eu chegar no governo”, complementou o presidente.
O presidente fez referência à reportagem publicada nesta terça pelo jornal “Folha de S.Paulo” segundo a qual, em oito anos de governo Lula, o número de veículos de comunicação que recebiam verbas publicitárias da União subiu de 499 para 8.094, representando um crescimento de 1.522%.

NAVALHA

Lula poderia ter usado argumento fulminante.


Com Fernando Henrique, com 50% da audiência, a Globo ficava com 90% da verba publicitária oficial para televisão.

Com Lula, com menos de 50% da audiência, a participação da Globo caiu para 45% da verba publicitária.

É por isso que as Organizações (?) Globo não escondem a sua alegria com o Governo Lula.

(*) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Paulo Henrique Amorim

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Quanto vale a opinião de FHC?

FHC cavou um espacinho para manifestar a sua imensa ignorância. Participou do Manhattan Connection (um programa inútil, realizado por "jornalistas" igualmente inúteis) e ganhou repercussão no Estadão. Veja e aproveite para comentar, já que, no espaço original da notícia, isso não é permitido.  CM


Em tempo: para ajudar na avaliação, temos, como parâmetro, o que a nossa amiga Luciana Gonzaga (@Luc0605), de Santos, nos chama à lembrança pelo Twitter:"Aprovação de FHC em dez/02 - 26% 'ótimo/bom', 36% 'regular' e 36% 'ruim/péssimo' (Datafolha) ... imagina hoje"

FHC diz ter 'dificuldade' para entender o que Dilma fala 

27 de dezembro de 2010 | 16h 52

ANNE WARTH - Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ter sérias dificuldades para entender o que fala a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao programa Manhattan Connection, exibido ontem à noite pelo canal de TV por assinatura GNT, FHC ironizou a petista e disse não ter "imaginação suficiente" para adivinhar o que Dilma quer dizer quando começa algum raciocínio e não o conclui.

"Não, não entendo não, eu confesso a você que tenho uma série dificuldade (para entendê-la)", afirmou. "É uma dificuldade minha, você sabe que eu sou curto em inteligência. Às vezes eu não consigo, ela não termina o raciocínio e eu não tenho imaginação suficiente para saber o que ela iria dizer."

FHC disse que Dilma assumirá um País em condições muito melhores que as que encontrou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o sucedeu no cargo. Na avaliação dele, o principal problema a ser enfrentado pela presidente eleita é a questão fiscal. "A Dilma vai pegar uma economia em bom momento, mas vai pegar uma situação fiscal bastante difícil também. Os gastos públicos aumentaram muito e é difícil você aumentar mais o imposto. Vai ter que ter algum ajuste."

Porém, o ex-presidente afirmou que não prevê um cenário pessimista para Dilma e enalteceu as conquistas que o País obteve nos últimos anos, principalmente durante seu governo (1995-2002). Ao falar de si mesmo, FHC fez um autoelogio. "Eu mudei o Brasil, vamos dizer com clareza aqui, sem falsa modéstia. O Brasil era um antes da consolidação da economia e passou a ser outro", afirmou.

"Vamos ser francos, o Brasil está melhorando, está melhorando muito, há muito tempo vem melhorando e vai melhorar mais. Depois que você põe em movimento uma máquina, você começa a pedalar e ela vai. Não sou pessimista nesse sentido, mas acho que ela (Dilma) vai ter que fazer alguns ajustes", afirmou.

FHC também aproveitou para criticar o presidente Lula. "O ano em que ele (Lula) pegou (assumiu o governo) piorou por causa dele, por causa do medo que os mercados tinham do que ele dizia que iria fazer e que, para a sorte de todos nós, não fez."

Dossiê
O tucano condenou a montagem de um dossiê sobre seus gastos e os de sua mulher, Ruth Cardoso (morta em 2008), durante sua gestão na Presidência. O dossiê teria sido feito em 2008 pela então secretária-executiva da Casa Civil Erenice Guerra a pedido da então ministra Dilma, quando o Congresso manifestou interesse em investigar os gastos do presidente Lula e de sua família com cartões corporativos.

"Realmente foi grave aquilo, porque ela (Dilma) telefonou pra a Ruth e disse que não estava fazendo nada", afirmou. "Era simplesmente para justificar os gastos que nunca foram explicados, até hoje, da primeira parte do governo Lula. Inventaram que nós tínhamos gastos que não tínhamos, não havia nem cartão corporativo, não havia nenhum gasto de coisa nenhuma, mas fizeram aquela onda, aquele chantagem toda, foi bastante desagradável."

FHC disse esperar que o ato não se repita durante o governo Dilma. "Mas se quiserem fazer espionagem da minha vida podem fazer à vontade, não tenho nada para esconder, mas espero que não", afirmou. "Eu digo não é o procedimento correto ficar fazendo dossiê." A entrevista com FHC foi a última do programa Manhattan Connection na GNT, que disponibilizou alguns trechos em seu site na internet.

Leia também:

Wikileaks, a primeira novidade da segunda década?

26/12/2010 - 10:59 | Boaventura de Sousa Santos | Lisboa

Wikiliquidação do Império?


A divulgação de centenas de milhares de documentos confidenciais, diplomáticos e militares, pela Wikileaks acrescenta uma nova dimensão ao aprofundamento contraditório da globalização. A revelação, num curto período, não só de documentação que se sabia existir mas a que durante muito tempo foi negado o acesso público por parte de quem a detinha, como também de documentação que ninguém sonhava existir, dramatiza os efeitos da revolução das tecnologias de informação (RTI) e obriga a repensar a natureza dos poderes globais que nos (des)governam e as resistências que os podem desafiar. O questionamento deve ser tão profundo que incluirá a própria Wikileaks: é que nem tudo é transparente na orgia de transparência que a Wikileaks nos oferece.

A revelação é tão impressionante pela tecnologia como pelo conteúdo. A título de exemplo, ouvimos horrorizados este diálogo – Good shooting. Thank you – enquanto caem por terra jornalistas da Reuters e crianças a caminho do colégio, ou seja, enquanto se cometem crimes contra a humanidade. Ficamos a saber que o Irã é consensualmente uma ameaça nuclear para os seus vizinhos e que, portanto, está apenas por decidir quem vai atacar primeiro, se os EUA ou Israel. Que a grande multinacional famacêutica, Pfizer, com a conivência da embaixada dos EUA na Nigéria, procurou fazer chantagem com o Procurador-Geral deste país para evitar pagar indenizações pelo uso experimental indevido de drogas que mataram crianças. Que os EUA fizeram pressões ilegítimas sobre países pobres para os obrigar a assinar a declaração não oficial da Conferência da Mudança Climática de dezembro passado em Copenhage, de modo a poderem continuar a dominar o mundo com base na poluição causada pela economia do petróleo barato. Que Moçambique não é um Estado-narco totalmente corrupto mas pode correr o risco de o vir a ser. Que no “plano de pacificação das favelas” do Rio de Janeiro se está a aplicar a doutrina da contra-insurgência desenhada pelos EUA para o Iraque e Afeganistão, ou seja, que se estão a usar contra um “inimigo interno” as tácticas usadas contra um “inimigo externo”. Que o irmão do “salvador” do Afeganistão, Hamid Karzai, é um importante traficante de ópio. Etc., etc, num quarto de milhão de documentos.

Irá o mundo mudar depois destas revelações? A questão é saber qual das globalizações em confronto - a globalização hegemônica do capitalismo ou a globalização contra-hegemônica dos movimentos sociais em luta por um outro mundo possível - irá beneficiar mais com as fugas de informação. É previsivel que o poder imperial dos EUA aprenda mais rapidamente as lições da Wikileaks que os movimentos e partidos que se lhe opõem em diferentes partes do mundo. Está já em marcha uma nova onda de direito penal imperial, leis “anti-terroristas” para tentar dissuadir os diferentes “piratas” informáticos (hackers), bem como novas técnicas para tornar o poder wikiseguro. Mas, à primeira vista, a Wikileaks tem maior potencial para favorecer as forças democráticas e anti-capitalistas. Para que esse potencial se concretize são necessárias duas condições: processar o novo conhecimento adequadamente e transformá-lo em novas razões para mobilização.

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Quanto à primeira condição, já sabíamos que os poderes políticos e econômicos globais mentem quando fazem apelos aos direitos humanos e à democracia, pois que o seu objectivo exclusivo é consolidar o domínio que têm sobre as nossas vidas, não hesitando em usar, para isso, os métodos fascistas mais violentos. Tudo está a ser comprovado, e muito para além do que os mais avisados poderiam admitir. O maior conhecimento cria exigências novas de análise e de divulgação. Em primeiro lugar, é necessário dar a conhecer a distância que existe entre a autenticidade dos documentos e veracidade do que afirmam.

Por exemplo, que o Irã seja uma ameaça nuclear só é “verdade” para os maus diplomatas que, ao contrário dos bons, informam os seus governos sobre o que estes gostam de ouvir e não sobre a realidade dos fatos. Do mesmo modo, que a táctica norte-americana da contra-insurgência esteja a ser usada nas favelas é opinião do Consulado Geral dos EUA no Rio. Compete aos cidadãos interpelar o governo nacional, estadual e municipal sobre a veracidade desta opinião. Tal como compete aos tribunais moçambicanos averiguar a alegada corrupção no país. O importante é sabermos divulgar que muitas das decisões de que pode resultar a morte de milhares de pessoas e o sofrimento de milhões são tomadas com base em mentiras e criar a revolta organizada contra tal estado de coisas.

Ainda no domínio do processamento do conhecimento, será cada vez mais crucial fazermos o que chamo uma sociologia das ausências: o que não é divulgado quando aparentemente tudo é divulgado. Por exemplo, resulta muito estranho que Israel, um dos países que mais poderia temer as revelações devido às atrocidades que tem cometido contra o povo palestiniano, esteja tão ausente dos documentos confidenciais. Há a suspeita fundada de que foram eliminados por acordo entre Israel e Julian Assange. Isto significa que vamos precisar de uma Wikileaks alternativa ainda mais transparente. Talvez já esteja em curso a sua criação.

A segunda condição (novas razões e motivações para a mobilização) é ainda mais exigente. Será necessário establecer uma articulação orgânica entre o fenómeno Wikileaks e os movimentos e partidos de esquerda até agora pouco inclinados a explorar as novas possibilidades criadas pela RTI. Essa articulação vai criar a maior disponibilidade para que seja revelada informação que particularmente interessa às forças democráticas anti-capitalistas.

Por outro lado, será necessário que essa articulação seja feita com o Foro Social Mundial (FSM) e com os media alternativos que o integram. Curiosamente, o FSM foi a primeira novidade emancipatória da primeira década do século e a Wikileaks, se for aproveitada, pode ser a primeira novidade da segunda década. Para que a articulação se realize é necessária muita reflexão inter-movimentos que permita identificar os desígnios mais insidiosos e agressivos do imperialismo e do fascismo social globalizado, bem como as suas insuspeitadas debilidades a nível nacional, regional e global. É preciso criar uma nova energia mobilizadora a partir da verificação aparentemente contraditória de que o poder capitalista global é simultaneamente mais esmagador do que pensamos e mais frágil do que o que podemos deduzir linearmente da sua força. O FSM, que se reune em fevereiro próximo em Dakar, está precisar de renovar-se e fortalecer-se, e esta pode ser uma via para que tal ocorra.

*Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Artigo originalmente publicado na Carta Maior.

domingo, 26 de dezembro de 2010

EUA regulará a neutralidade na rede

Por Tatiana de Mello Dias, estadao.com.br, Atualizado: 21/12/2010 19:24 

A Comissão Federal de Comunicação dos EUA (FCC) aprovou nesta terça-feira, 21, regras de tráfego de dados na internet. Agora o órgão será o responsável por regular a neutralidade ? o princípio que garante que qualquer pessoas pode ter acesso à internet de maneira igualitária.

A aprovação dividiu o governo. Há aqueles que acreditam que a liberdade na internet precisa ser assegurada por regras que impeçam, por exemplo, que os provedores controlem o que os usuários podem acessar. E há os que defendem a ausência de regulação, como é hoje.

Com as regras aprovadas nos EUA, fica proibido, por exemplo, o bloqueio de conteúdo por provedores, ou o favorecimento de uma empresa para acessar determinado conteúdo. 'Agora, pela primeira vez, nós estamos adotando regras para preservarar os valores básicos da internet', disse o presidete da FCC, Julius Genachowski. 'Pela primeira vez, nós teremos regras aplicáveis para preservar a liberdade e a abertura da internet'.

A neutralidade vale para a internet fixa. No caso do 3G, por exemplo, as operadoras podem adotar outras regras.

A nova regulação foi aprovada pelos democratas, após dura oposição dos Republicanos. ?Os processos irão se sobrepôs à inovação. Em vez de investir em tecnologias para o futuro, um cpaital precioso será usado para pagar advogados?, disse Robert McDowell, comissário da FCC que votou contra as regras.

O presidente dos EUA, Barack Obama, é um dos que apóiam o controle da rede para garantir a liberdade no acesso.

O Chile aprovou recentemente uma legislação parecida. A Comissão Europeia discutiu o tema ao longo do ano e deve preparar uma regulação para 2011. No Brasil não há nenhuma lei relacionada o tema. A neutralidade, porém, é um dos tópicos que seria legislado pelo Marco Civil da Internet, o projeto de lei elaborado pelo Ministério da Justiça que estabelece regras e direitos para o uso da web. O texto final do projeto, porém, ainda está em discussão dentro do governo.

Um grande Natal.

Há muito tempo um poeta decidiu escrever sua obra. Poetas são seres mágicos, suas palavras têm o poder de criar mundos. Basta que digam e as coisas acontecem, surgem do nada, ex nihilo, desejos que se transformam em coisas.

Esse poeta criou mundos assim, pela sua Palavra. Bastava dizer e as coisas vinham à existência. Era característica dele o gosto pela criação, e sempre ao final de cada coisa criada Ele via que tudo aquilo era bom... e seguia adiante... criando coisas, seres animados e inanimados, todos belos, até que decidiu encerrar a sua criação. Era hora de escrever a sua obra prima, sua grande ária da magnífica ópera que começava a existir.

Havia um cuidado especial para a criação de seu mais grandioso poema, não bastariam as palavras ao vento, Ele as queria escrever com as próprias mãos, seria diferente, ao invés de simples palavras, barro... e então a obra foi feita, imagem e semelhança dEle. O grande poeta então, ao ver sua obra ali, como imaginava, soprou sobre ela... e a poesia ganhou vida, ganhou palavras novas, ganhou o sopro do criador... inspiração... expiração... vento...

Mais tarde, ao contemplar sua magnífica obra percebeu um ar de tristeza na sua poesia, faltava-lhe algo, faltava-lhe rima, algo que o completasse inteiramente... havia um vazio em meio a algumas linhas e o poeta fez com que sua poesia dormisse, e sonhasse... nos sonhos os mundos também se criam...

Ao acordar de seu sono o poema se viu completo, as palavras agora se encaixavam perfeitamente, e havia sentimentos novos... desejo... amor... coisas que só um poeta entende, e sua poesia também. E assim conviviam bem, poeta e poesia, autor e obra, e da criação passou-se à nomeação das coisas, palavras novas, imaginação, imagem em ação, nomes, palavras, seres... vidas...

Sua obra prima vivia num jardim. Poetas gostam de jardins... sabe que neles as poesias se encontram e festejam a vida que há nelas, entre flores e borboletas, ao som dos grilos e do martelar dos sapos numa noite enluarada.

Mas um dia... um cientista resolveu aparecer para complicar a história. Cientistas detestam poetas e odeiam poesias. Afinal, cientistas são conhecedores do bem e do mal... então o cientista resolveu oferecer ao poema a “grande chance” de deixar de ser poesia e tornar-se uma grande tese acadêmica, afinal a poesia é para os sonhadores, loucos, boêmios, amantes, mas as teses científicas é que dominam o “mercado” e nos dão garantia de sermos deuses, conhecedores de todo o bem e todo o mal.

A poesia cedeu sua beleza e encanto à praticidade do texto científico... houve um borrão no poema original, que perdeu sua essência... tornou-se um texto chato, cansativo, longo demais... textos desses que ninguém consegue entender. Dizem até que num determinado momento tal era a confusão que a tese se dividiu em línguas diferentes, nem ela mesmo se entendia... confusão... babel...

Algo deveria ser feito para se reconquistar a poesia original... mas... o que ?

O Poeta então, em seu amor que lhe faz louco e fraco, resolveu que Ele mesmo se faria poema... como o original, algo tão belo que, ao morrer poesia (e toda poesia traz em si um pouco de morte) apagasse as manchas do primeiro poema e restaurasse a beleza que havia escondida sob os borrões das teses cientificas, sob o conhecimento do bem e do mal.

Os filósofos, que antes eram inimigos dos poetas, chamavam o criador de poemas de Verbo, verbo é a alma do poema, poemas sem verbos são chatos. Imagine um poema sem amar, sentir, chorar, sonhar, ver, ouvir, tocar, cheirar, sofrer...

Pois o Verbo... se fez carne... o Poeta se fez poesia, e mais...se fez criança. Crianças e poesias tem muito em comum... não se levam a sério demais. Brincam com a vida, brindam a vida. Como diria o poeta Rubem Alves: “O natal é um poema. Nele Deus se revela como criança (...) Prefiro o Deus criança. No colo de um Deus criança, eu posso dormir tranqüilo.” Outro amigo das palavras, o poeta/pastor de rebanhos e sonhos, Leonardo Boff confirma essa idéia ao dizer que “Todo menino quer ser homem, todo homem quer ser rei, todo rei quer ser Deus, somente Deus quis ser menino.”

Isto é natal!! Poesia, amor, canção... tudo embalado e regido por uma criança... deixai vir a mim os pequeninos porque dos tais é o reino da poesia. Deus é o poeta... nós somos o poema... Jesus é o poeta-poema feito criança... Natal!!!

Já quis muito ser teólogo... hoje não quero mais.... quero ser poeta. Um teólogo vê uma criança e trata de elaborar uma tese, talvez sobre a soteriologia infantil, pedobatismo, idade da razão, etc. O poeta vê uma criança e brinca, faz poesia, e a criança brinca com ele, vira poema! Viva a poesia! Que o natal seja o renascimento de poetas e poemas, de canções de amor, de sonhos, de jardins repletos de felicidade...

Que o poeta seja reverenciado, que o poema-criança seja amado, e que o poeta que se fez poesia seja lembrado como o criador dos versos mais maravilhosos que ele já fez, mudando de vez a história... mudando a nossa história...

Feliz Natal!!!

  



Henrique Matthiesen

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Aos amigos

Para construir um novo tempo, vamos precisar de todos.



Com tolerância e solidariedade, vamos juntar os diferentes para transformar a vida de cada um.
Vamos lá, unir forças para edificar a paz e a prosperidade para todos.

Aos amigos de jornada, um abraço forte e o desejo sincero de felicidades a todos.

Eduardo Pinotti - @pituca_amiglo

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Entrevista com Lula

"Eu briguei a vida inteira para ser presidente... Agora acabou... Graças a Deus, acabou bem..."
Da Revista Brasileiros por Hélio Campos Mello e Ricardo Kotscho

Hélio Campos Mello
 DE ALMA LEVE  Ao lado do ministro Luiz Dulci, na cabine presidencial, Lula faz um balanço dos seus oito anos de governo e se mostra feliz
DE ALMA LEVE
Ao lado do ministro Luiz Dulci, na cabine presidencial, Lula faz um balanço dos seus oito anos de governo e se mostra feliz

Encontramos Luiz Inácio Lula da Silva, um senhor grisalho de "guayabera" branca, calça e sapatos pretos, já na pista do aeroporto de Congonhas para dar início a mais uma viagem de rotina. Conforme o combinado com ele na véspera, vamos entrevistar o presidente Lula nessa viagem a Ribeirão Preto e depois a Brasília, para fazer um balanço dos seus oito anos de governo. Faltavam 38 dias para Lula terminar seu segundo mandato, mas o clima já era de despedida.

Até os tripulantes da FAB, escalados para esse voo no Embraer 190 - o jato executivo reserva da Presidência (o AeroLula estava em manutenção) -, vieram pedir para tirar uma foto com o presidente antes de ele ir embora. "Preciso começar a desacelerar", repete para si mesmo, evitando pensar no que pretende fazer depois de passar a faixa presidencial, no dia 1o de janeiro de 2011, para sua amiga Dilma Rousseff, a sucessora que ajudou a eleger do alto dos mais de 80% de aprovação do seu governo.

Mais que uma entrevista de prestação de contas, essa foi uma conversa entre velhos amigos, três sexagenários que se conheceram no final dos anos 1970, na cobertura das históricas greves dos metalúrgicos do ABC comandadas por Lula - o líder sindical, o repórter e o fotógrafo da revista
IstoÉ - que naquela época jamais poderiam imaginar um filme com esse desfecho.

Nessa viagem pelo tempo, em que foi acompanhado pelo ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, Lula não deixou pergunta sem resposta e respondeu até sobre o que não perguntamos, quando falou da sua polêmica política externa e da questão do Irã. Melhores e piores momentos dos oito anos, expectativa sobre o governo Dilma, as tensas relações com a imprensa, as principais conquistas e o que faltou fazer, o adversário tucano, a decepção com Obama, as histórias e os personagens que o marcaram, o que pretende fazer da vida. Falamos um pouco de tudo e, ao final da conversa, Lula parecia satisfeito consigo mesmo, com cara de missão cumprida.

Valeu, amigo Lula.


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Quem quer adoçante?
Brasileiros -
Eu não estou tomando café, presidente, obrigado... Parei de fumar... A que horas você saiu daquela festa ontem? (Um jantar em sua homenagem oferecido pela comunidade luso-brasileira.).

Presidente Lula - Mais de meia-noite... Foi uma festa portuguesa com certeza. Cheguei em casa uma e pouco da manhã e agora, antes das nove, já estou aqui dentro do avião. Eu trabalho muito...

Brasileiros - Bom dia, presidente. Para começar, vou fazer uma pergunta difícil: tudo bem?
Presidente Lula -
Buon giorno... Sabe que esse "tudo bem" não é fácil da gente responder... Um dia desses, eu perguntei "tudo bem?" para uma mulher no elevador e ela me respondeu: "Você fala tudo bem porque ainda não foi à feira hoje!". Mas isso foi no tempo da inflação a 80%... Aliás, eu estava lendo aqui a matéria (publicada na edição de novembro da Brasileiros) sobre o livro do Maílson da Nóbrega, que era o ministro da Fazenda na época, muito interessante. Mostra o poder que o Roberto Marinho tinha. Ele descreve como o Sarney o chamou para ir lá na ilha dele, no Maranhão. Depois de três horas de conversa, o Sarney fez o convite para ele assumir o Ministério, mas explicou que ainda teria de fazer algumas consultas políticas. E pediu para ele conversar com o doutor Roberto Marinho. O Maílson foi lá, conversou durante várias horas com o doutor Roberto Marinho e, terminada a conversa, o doutor Roberto Marinho disse que gostou dele. Lá, ele encontrou com o Antonio Carlos Magalhães, que também tinha ido conversar com o doutor Roberto Marinho, que lhe comunicou: "Olha, Maílson, o homem te aprovou!". Aí, ele foi novamente procurar o Sarney, porque o presidente Sarney ia anunciar a nomeação. Mas, antes de ele chegar ao Sarney, a Globo já deu a notícia sobre o novo ministro da Fazenda. O Maílson diz assim: "Aí que eu descobri que o doutor Roberto Marinho tinha força no poder paralelo...". O Sarney ainda não tinha indicado oficialmente o nome dele e a Globo anunciou o novo ministro. Não deixa de ser hilário...


Brasileiros - Alguém ainda tem esse poder? Seria possível acontecer algo parecido hoje em dia ou o País mudou?
Presidente Lula -
Acho que não é possível você exercer a Presidência da República, se estiver subserviente a algum setor, a algum empresário ou a algum político. Ou seja, você só pode exercer a Presidência corretamente se estiver totalmente independente para tomar as decisões. Eu tenho um profundo respeito pela imprensa brasileira, tenho um profundo respeito pela democracia, mas as pessoas precisam aprender que a liberdade de imprensa é, sobretudo, a boa qualidade da informação, a neutralidade da informação, a isenção da informação. Se a sociedade puder, livremente, fazer suas opções e interpretações daquilo que ela vê, ouve e lê, a imprensa cumpre seu papel. Você participou daquele fatídico almoço na Folha de S.Paulo, em 2002, quando eu me levantei da mesa e saí porque fui desrespeitado. Foi o último. Então, eu acho que essa relação entre a imprensa e o governo mudou. Mudou porque mudou o Brasil, porque mudou a economia, porque mudou a consciência das pessoas. Melhorou a visão empresarial, melhorou a visão dos trabalhadores, os meios de comunicação são muito mais numerosos. Nós temos, hoje, muito mais opções. Não temos apenas uma revista ou um canal só de televisão, apenas um jornal. Temos muitos jornais, muitas televisões, temos a internet... Acho que isso é muito bom para o Brasil, isso é bom para o povo brasileiro.

Brasileiros - Presidente, faltam poucas semanas para o término dos seus dois mandatos como Presidente da República. Como o senhor gostaria de ser lembrado pelos historiadores do futuro, daqui a cem anos?
Presidente Lula -
É muito difícil responder a esta pergunta. Seria presunção da minha parte dizer como é que eu quero ser lembrado. Isso depende da ótica das pessoas que forem estudar o que aconteceu no período do meu governo. Certamente, se algum historiador, daqui a cem anos, for consultar apenas um ou outro jornal para saber como foi o meu governo, ele poderá ter uma impressão negativa. Mas se esse mesmo historiador tiver o cuidado de analisar além da imprensa brasileira, a imprensa internacional e acessar a internet da época, ver as mudanças ocorridas na economia brasileira, irá constatar a melhoria no padrão de vida do povo brasileiro. Assim, ele poderá ter uma outra impressão, eu diria favorável, do nosso governo, daqui a cem anos. Mas, de qualquer forma Ricardo, a nossa passagem pelo governo é como se fosse a construção de uma casa. Se eu fiz o alicerce, o alicerce está feito. Se eu fiz a parede, a parede está feita. Se eu fiz o telhado, o telhado está colocado. Ou seja, as pessoas só podem ver aquilo que está sendo feito. Eu, sinceramente, gostaria de ser lembrado da forma mais honesta possível, seja por um pensamento contrário ou a favor do meu governo. Só quero que a pessoa seja justa na avaliação que está fazendo. Depois, é o seguinte: não dá para escolher como você quer ser lembrado. Tem gente que vai se lembrar do Ronaldão pelos gols que ele fez no Inter de Milão, que vai se lembrar dele quando jogou no Barcelona, que vai se lembrar dele da Copa do Mundo de 2002... Tem gente que vai se lembrar do Ronaldo do Corinthians... Então, vai depender muito sob qual ótica a pessoa estiver analisando.


Brasileiros - Se o senhor tivesse de definir em poucas palavras qual a marca que ficou do seu governo, o que diria? Por exemplo: Fernando Henrique Cardoso foi o presidente do Plano Real e da estabilidade econômica. E no seu caso?
Presidente Lula -
Foi o governo da inclusão social. Veja bem, Ricardo, deixa eu te falar uma coisa: um governo poderia ser medido por uma única coisa, mas nós não podemos ser. Porque, veja, quando eu falo em inclusão social, é que nós nunca tivemos uma relação entre Estado e sociedade como nós temos agora. Nunca tivemos a participação da sociedade na condução do governo como nós temos agora. Você deve ter visto o jornal Valor desses dias: todas as empresas de economia aberta tiveram o maior ganho da história delas, tivemos o maior número de empresas criadas... Nós vamos chegar a dois milhões e meio de empregos criados com carteira profissional assinada, só de janeiro a outubro deste ano. No nosso período, registramos o mais importante processo de distribuição de renda. É um conjunto de medidas que nós tomamos, voltado para a inclusão social de milhões de brasileiros. Até me assustei outro dia em uma reunião sobre microcrédito com a quantidade de coisas que está acontecendo nessa área. Eu, que sou o presidente da República, não tinha dimensão do que está acontecendo com o microcrédito em nosso País.

Brasileiros - No começo do governo, o senhor admitia que teria dificuldades na área econômica, perante a difícil situação em que o País se encontrava, e repetia sempre: "Nós só não podemos errar na política". Ao fazermos um balanço desses oito anos, notamos que o governo acabou acertando mais na economia e encontrou mais dificuldades na área política. O que aconteceu? Por quê?
Presidente Lula -
Nós tivemos dificuldades nos dois, acertamos nos dois e também erramos nos dois, na política e na economia. Tivemos um extraordinário crescimento econômico já em 2004. Quando eu falei do espetáculo do crescimento, em agosto de 2003, não foram poucas as charges e os artigos irônicos com o presidente da República. No ano seguinte, nós crescemos 5,2%, um número excepcional que há muito tempo não acontecia no Brasil. Em 2005, nós cometemos um erro na política econômica, apertamos muito, não crescemos. Ao mesmo tempo, foi o ano da grande crise política, tivemos problemas sérios. No balanço geral, acho que nós conseguimos ir bem nos dois, nos saímos bem na economia e nos saímos bem na política.


Brasileiros - Se pegarmos agora os indicadores econômicos e sociais de 2003 e compararmos com os números de 2010, até os líderes da oposição reconhecem que o País melhorou em todos os campos. Com toda franqueza, ao assumir o governo o senhor sonhava com esses resultados e a consequente aprovação do governo acima de 80% no final do segundo mandato? O senhor esperava mesmo isso?
Presidente Lula -
Não, veja... A única coisa que eu tinha certeza era que eu não podia errar, eu tinha convicção de que, se eu errasse, nunca mais um trabalhador iria chegar à Presidência da República. Então, eu tinha de acertar, eu tinha de provar a cada dia, a cada hora, que nós éramos capazes de governar esse País. Ninguém precisava provar, mas eu precisava provar. Graças a Deus, saímos vencedores.

Brasileiros - Em que área se deu a principal mudança positiva e qual foi a maior deficiência do seu governo, que ficarão como herança para a sua sucessora... (Antes que eu terminasse de fazer a pergunta, o taifeiro da Aeronáutica vem com o carrinho e começa a servir o café da manhã completo: frutas, pães, frios, omelete, sucos, café expresso.)
Presidente Lula -
Espera aí... Agora, eu vou comer... Sabe, um dia desses estava vindo nesse avião e peguei um pacotinho de manteiga... Não conseguia abrir a embalagem. Você tem de abrir com a faca, é um absurdo. Fiquei invocado e liguei para o Inmetro... Fiz uma denúncia para o Inmetro, falei que isso era uma vergonha. Essa aqui você puxa e abre, tem outras que não têm como abrir... O Inmetro mandou uma certificação mostrando que nenhuma marca estava dentro das normas, e comunicou às empresas para consertar...

Brasileiros - Presidente, saiu isso no Fantástico domingo... Todas as empresas foram reprovadas e foram obrigadas a mudar a embalagem.
Presidente Lula -
Mas o que Fantástico não falou é que fui eu que fiz a denúncia, porque certamente o Inmetro não comunicou para eles...

Brasileiros - Voltando para a pergunta: em que área se deu a principal mudança positiva e qual foi a deficiência do seu governo, que fica de herança para a sua sucessora?
Presidente Lula -
Ricardo, se fosse fácil resumir assim, meu filho, eu poderia dizer muitas vezes que foi a inclusão social. Eu sempre vou dizer que a inclusão social foi a grande conquista do nosso governo, mas é preciso especificar o que é essa herança social, ou seja, você tem o Bolsa Família, você tem uma redução da pobreza, a geração de empregos, a distribuição de renda, então eu acho que a inclusão social foi o grande mote.

Brasileiros - E qual foi a principal deficiência, a herança maldita do seu governo?
Presidente Lula -
Isso não existe, mas certamente existem coisas que a gente não conseguiu fazer. Não existe herança maldita, sobretudo para a Dilma, porque tudo que nós construímos, nós construímos juntos. Pode ser que depois de alguns meses ela descubra uma herança maldita...

Brasileiros - Mas ela não vai poder falar, ela participou do governo... Presidente, o senhor percorreu o Brasil inteiro, várias vezes, para cima e para baixo. Nunca um Presidente viajou tanto pelo País. Qual foi o lugar que mais o marcou, a cena, a pessoa, a viagem, que ficará para sempre em sua memória?
Presidente Lula -
Ah, tem muita coisa! A minha cabeça não é uma máquina fotográfica... É uma máquina de filmar... Tem muita coisa na minha cabeça, Ricardo. Por exemplo, a primeira vez que eu fui visitar uma plataforma da Petrobras. Eu fiquei muito emocionado, porque é um monstro, é uma cidade de aço. Antes de eu chegar à Presidência, diziam que a gente não tinha tecnologia para fazer, e nós fizemos e mostramos para o Brasil. Também quando eu cheguei ao canal da transposição do São Francisco... Quando a gente fica sobrevoando a região de helicóptero e vê aquele canal de água no meio do sertão seco, é um negócio emocionante... Agora, o que mais me emociona mesmo é que em volta das obras estão as pessoas que fizeram aquilo ali ou se beneficiaram delas. A alegria delas é contagiante...

Brasileiros - Lembra do que te falou uma dessas pessoas...
Presidente Lula -
Posso me lembrar de uma mulher em Cabrobó, porque ela me contou a sua história. Quando começou o canal do São Francisco, ela pediu 50 reais emprestados para o sobrinho dela e começou a fazer pastel para o pessoal da obra. Vendeu muito pastel e guaraná e começou a oferecer mais coisas. Em seis meses, ela estava com um restaurante, servindo mais de 400 refeições, comprou motocicleta... A alegria dela era incrível. Ela falou para mim: "O meu maior orgulho é que neste ano eu paguei 5 mil reais de Imposto de Renda...". Pois é, enquanto o presidente da República estava recebendo devolução - no ano passado, eu recebi a devolução -, essa mulher estava pagando 5 mil reais de Imposto de Renda, e ela falava com orgulho daquilo. A outra história que eu me lembro é a de um baixinho do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, lá de Pernambuco. Ele veio para uma reunião comigo, em Brasília, e eu percebi que ele não tinha dente. E eu falei: "Companheiro, não dá para colocar dente na boca?". "Ah! Não tenho dinheiro", ele respondeu. Aí, eu perguntei para o governador Eduardo Campos: "Não tem um programa Brasil Sorridente lá em Pernambuco?". "Tem, presidente." "Então leva esse companheiro!" Aí, ele levou o baixinho ao dentista e depois eu encontrei esse companheiro com dentinho na boca, bonitinho, e ele me falou quando o encontrei de novo: "Fazia muito tempo que eu não conseguia mastigar, agora eu estou mastigando tudo. Eu não podia comer uma castanha, eu não podia comer uma carne! Presidente, só falta o senhor me dar uma coisa, agora que eu estou com a boca boa... Eu preciso de um carrinho...!". Mas deixa eu dizer uma coisa antes da próxima pergunta: vocês precisariam viajar comigo para ver as grandes obras que estamos tocando. Hoje, o Brasil está construindo as três maiores hidrelétricas do mundo, estamos fazendo as duas maiores ferrovias e as duas maiores refinarias do mundo. É pouco?


Brasileiros - Presidente, do que o senhor mais vai sentir falta ao deixar o governo?
Presidente Lula -
Eu acho que eu vou sentir falta das amizades que eu construí nesses oito anos. Vou voltar agora para o meu berço natural, o meu ninho em São Bernardo, deixar de lado amigos que conheci nos anos de governo. Foi muita gente que eu conheci, e agora cada um vai cuidar da sua vida. Vou dizer uma coisa para você: eu estou consciente de que, ao deixar a Presidência da República, eu tenho de desencarnar do mandato. É um processo de desencarnação mesmo. Eu quero ficar desintoxicado do poder, fazer uma limpeza no corpo, tirar da minha vida tudo que não precisa, sabe... Tenho de começar a desacelerar. Porque eu preciso ficar o mais próximo possível da vida de um ser humano normal, e não ficar querendo curtir um status de ex-presidente, que não tem importância. Porque ex-presidente, você sabe, é que nem ex-marido, vale muito pouco... E eu também não quero ficar vivendo de saudade, sabe como é? Eu vou guardar recordação das coisas boas e vou ter de tocar a vida para a frente...

Brasileiros - O que o senhor gostaria de fazer nessa nova fase que começa a partir do dia 1o de janeiro de 2011?
Presidente Lula -
Eu quero voltar ao Pacaembu para ver jogo do Corinthians, vestido de torcedor, encontrar os meus companheiros do sindicato e tomar uma cerveja, eu quero ser um homem comum...

Brasileiros - Como era antes de ser presidente...
Presidente Lula -
É isso... Um pouco mais livre até... Porque, antes de ser presidente, eu queria ser presidente, e eu agora já fui presidente...


Brasileiros - Por falar nisso, o que o senhor gostaria de ter feito, e não conseguiu, para melhorar a vida do povo brasileiro? Qual foi a sua maior frustração. E qual foi a sua maior alegria no governo?
Presidente Lula -
Alegrias foram muitas e frustrações, também muitas. Antes de terminar o mandato, a gente não deve ficar dizendo que foi tudo só alegria. Eu vou dizer para você que a minha maior tristeza no governo não foi o mensalão, nem foram as críticas da oposição. Para mim, a coisa mais dolorida foi a tentativa de culpar o governo por aquele acidente da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Nunca vi tanta perversidade de alguns setores dos meios de comunicação, ao tentar jogar nas costas do governo a responsabilidade pelo maior acidente aéreo do País. Depois que ficou provado que tinha sido erro humano, ainda assim nenhum crítico teve coragem de pedir desculpas. Este foi o momento mais duro nos oito anos de mandato.

Brasileiros - E a maior alegria?
Presidente Lula -
Meu mandato é um rosário de coisas boas, mas, obviamente, quem conviveu comigo sabe que eu colocava eleger a minha sucessora como uma das grandes conquistas do meu governo. E conseguir, depois de oito anos de mandato, eleger a primeira mulher presidenta da República do Brasil, eleger uma mulher que a maioria dos políticos não acreditava que pudesse chegar lá, é bom demais, é o maior reconhecimento pelo nosso trabalho. Tenho certeza de que a Dilma vai ser uma excepcional presidenta da República.

Brasileiros (brincando) - Então, tua maior alegria vai ser na hora em que passar a faixa para ela... E eu pensei que a tua maior tristeza tivesse sido quando eu saí do governo...
Presidente Lula -
Sempre tem um momento de tristeza no governo quando alguém sai. Na verdade, são dois momentos diferentes. Uma coisa é quando é o ministro que pede para sair, é o cara que procura o presidente e comunica: "Presidente, eu vou sair, porque eu quero ser candidato a isso, vou fazer tal coisa na vida". O cara só comunica e não se preocupa em saber se o governo vai ficar bem ou mal. O cara vai embora e pronto. Agora, quando é o presidente que decide tirar o cara... haja sofrimento!

Brasileiros - Para você, sempre foi muito difícil isso, mandar alguém embora, demitir um amigo, eu me lembro, desde os tempos do sindicato...
Presidente Lula -
É difícil porque tem gente que chora, tem gente que fica às vezes sem falar nada... Teve gente que começou a chorar antes mesmo de eu comunicar a demissão. O bom do ser humano é isso, o lado emocional estar presente em todas as coisas. Mas, realmente, é muito difícil você chegar para o cara e falar: "Olha, companheiro, eu não quero mais você trabalhando comigo". Agora, se é o contrário, o sujeito chega para você com a maior desfaçatez e diz simplesmente: "Presidente, eu vou embora!".

Brasileiros - Em algum momento, o senhor se arrependeu de ter sido eleito Presidente?
Presidente Lula -
Eu briguei a vida inteira para ser presidente... Você me conhece, no sindicato, quando as coisas estavam feias eu dizia: "Quem quiser me derrotar vai ter de ir para a rua". No PT e no governo, a mesma coisa: eu dizia que quem quisesse me derrotar, teria de ir para a rua. De modo que, Ricardo, o importante é que eu vou terminar o meu mandato de oito anos sem mágoas, sem nenhuma razão para ter nenhuma tristeza. Não há razão para guardar qualquer mágoa dos meus opositores nem de nenhum companheiro. Fui oposição muito tempo, e sei qual é o papel da oposição - sobretudo, fazer oposição quando o governo está bem.


Brasileiros - Pelo jeito, você está chegando ao final do seu governo de alma leve...
Presidente Lula -
De alma leve... Me sinto muito mais sabido do que quando entrei, muito mais preparado. Com muita humildade, vou utilizar todas as coisas que foram bem-sucedidas no meu governo para trocar experiências com países mais pobres do que o Brasil. Se você quiser encontrar um homem de alma limpa hoje, olhe para mim... Te digo que Deus foi generoso comigo em excesso, por ter me permitido fazer tudo o que eu fiz. Não é uma obra de capacidade e de inteligência, é alguma coisa superior guiando a gente. Eu acredito nisso.

Brasileiros - Ao se despedir de Fernando Henrique Cardoso, no dia da sua posse, em 2003, o senhor disse a ele na porta do elevador: "Saiba, Fernando, que você deixa aqui um amigo". O que vai dizer para a Dilma nessa hora, ao se despedir dela?
Presidente Lula -
Não sou eu, é ela quem vai ter de dizer alguma coisa para mim... Eu vou te contar uma coisa, embora eu tenha consciência de que "rei morto, rei posto", embora eu tenha consciência de que a Dilma tenha de montar um governo com a cara e à semelhança dela, eu não sou inocente para não saber que tenho responsabilidade. Não sou inocente para desconhecer a relação que eu tenho com a sociedade brasileira. Quero exercitar essa relação de amizade, a respeitabilidade que eu conquistei e o companheirismo que eu produzi no governo para ajudar a Dilma a fazer mais e melhor do que eu fiz.

Brasileiros - Pegando um pouco, o que o senhor falou sobre a oposição em seu discurso da vitória, a presidente eleita estendeu a mão à oposição. Como será a sua postura em relação ao Fernando Henrique, ao PSDB, o senhor vai trabalhar para uma união...
Presidente Lula (cortando a pergunta no meio) -
Não existe essa possibilidade, não existe. Nós temos de ter claro o seguinte: Partido Democrata é Partido Democrata, Partido Republicano é Partido Republicano, PSDB é uma coisa e PT é outra coisa. Está certo que nós temos amigos comuns, que de vez em quando, no afã de nos ajudar, falam pensando que a gente é a mesma coisa... E não é, não tem similaridade entre um tucano e uma estrela, não tem. Já estivemos próximos, é verdade, no começo da criação do PSDB, por ocasião da Constituinte, ou seja, já estivemos bem mais próximos do que hoje, mas isso acabou com o tempo.


Brasileiros - Só para lembrar um fato: no final de 1993, em um almoço na Cantina do Mario, discutindo o cenário para a campanha presidencial de 1994, o senhor chegou a falar com o Tasso Jereissati sobre a possibilidade da formação de uma chapa PT-PSDB...
Presidente Lula (cortando a pergunta) -
Não, não falei só com o Tasso Jereissati, falei com mais gente. Era o Tasso, era o Fernando Henrique, era o Sérgio Machado, era o José Serra, falei com todos eles. Nós chegamos a discutir a composição da chapa, mas não foi possível. E eu acho que nem eles devem ter remorso e nem nós. Ou seja, nós trilhamos caminhos diferenciados, o que é importante para a democracia brasileira. O que é grave é que, na campanha passada, os tucanos se apresentaram com uma predisposição de baixar o nível do debate, como eu não via há muito tempo. Sinceramente, do ponto de vista de quem vê de fora, o Serra saiu um pouco menor desta vez que em 2002. Do ponto de vista da questão ética, da questão moral, eu acho que ele saiu inferiorizado, o tempo é que vai mostrar. O tipo de campanha que ele fez não combina com a trajetória política dele. Eu vou ter um comportamento na minha vida agora como teve o Pelé, como teve o Rivelino, que pararam de jogar, mas não desaprenderam. Vou ser apenas torcedor, e torcedor tem mais autonomia. Pode gritar mais, não têm as barreiras que um dirigente partidário tem.

Brasileiros - Não vai ser técnico, mas vai dar seus palpites, é isso?
Presidente Lula -
Vou, sim... Sou um homem hoje realizado, um homem feliz.

Brasileiros - Dá para perceber...

O comandante informa que o pouso está autorizado e, dentro de instantes, pousaremos no aeroporto de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Fechamos a mesa, desligamos os gravadores, mas o presidente continua falando.

Presidente Lula - Agora em off... (ao final, ele só pediu para não publicar um determinado trecho da conversa). Me lembro quando fui a primeira vez a uma reunião do G8, a convite do Chirac. Eu só tinha uns cinco meses na Presidência. Cheguei lá e já estavam o Putin, o Bush, o Tony Blair, o Prodi, o Schroeder, o primeiro ministro do Canadá. Como convidados, estavam também o presidente do Senegal, o rei da Arábia Saudita, estava o Fox, do México, o presidente da Indonésia, e eu fiquei pensando o que estava fazendo lá no meio deles... De repente, eu fiquei olhando para a cara daquele pessoal e pensei: "Espera aí, o que esses caras são mais do que eu? Quem eles representam e quem eu represento? Quem pode falar em nome dos trabalhadores mais do que eu?". E hoje eu me dou conta, Ricardo, que eu me reuni mais vezes com os trabalhadores dos países deles do que eles próprios, e depois de ser presidente! Quando vou ao G20, a referência para os dirigentes sindicais sou eu. Então, eu fiquei pensando: o que Tony Blair representa, o que o Bush representa, qual é o público deles? Por que eu tenho de me sentir inferior a eles?

Brasileiros - Em que momento você se deu conta do que representa ser presidente do Brasil?
Presidente Lula -
Eu percebi, eu me lembro como se fosse hoje, na hora em que o Bush entrou no salão. Estava sentado ao lado do Kofi Annan, estava todo mundo sentado na hora em que o Bush entrou. Todo mundo se levantando, eu segurei na mão do Celso Amorim e falei: "Fica aí, daqui a gente não vai levantar". Ninguém levantou para mim, por que eu tenho de levantar? Fiquei sentado e o Bush foi até lá para me cumprimentar. E aí, meu caro, eu vi que respeito é respeito. Respeito não é porque você tem dinheiro ou porque você tem arma nuclear. O respeito vem pelo seu comportamento. E eu termino o meu mandato com uma relação de amizade internacional extraordinária, eu tenho consciência de que as pessoas me respeitam, e é isso que eu quero. O Brasil não precisa ser mais do que ninguém, mas também não precisa ser inferior a ninguém.

O avião agora já está parado na pista, mas Lula continua falando sobre a política externa.

Presidente Lula - Essa questão do acordo com o Irã me deixou pessoalmente decepcionado.

Brasileiros - Foi um erro o Brasil entrar nessa história?
Presidente Lula -
Foi um erro deles...

Brasileiros - De quem? Do Irã?
Presidente Lula -
Não, foi um erro do Bush, do Obama... O que eles queriam? Queriam levar o Irã para a mesa de negociação? Eu perguntei ao Obama se ele já tinha conversado com o Ahmadinejad. Não. Perguntei ao Sarkozy. Não. Perguntei ao Gordon Brown: você já conversou com o homem? Não. Ninguém nunca tinha conversado com ele! Ficam brigando pelos assessores... Aí, eu falei para o Obama: "Obama, você é o presidente mais importante do mundo. Pega um telefone e liga para o cara. Convida ele para vir aqui...". Falei para o Sarkozy a mesma coisa. No final da reunião, eu avisei para eles: "Eu vou ao Irã. Vou a Israel, vou ao território palestino e vou conversar com o Ahmadinejad". Eles passaram a dizer que não ia dar certo, não ia dar certo, não ia dar certo. E eu falei: "Só queria que vocês não fizessem o bloqueio ao Irã antes de eu ir lá". Porque eles queriam fazer o bloqueio de qualquer jeito. Daí, o Obama ficou muito nervoso, muito irritado. Os outros também mostraram irritação, mas todo mundo, pela nossa relação de amizade, ficou condescendente. Fui embora e, quando ia viajar ao Irã, antes de ir, recebi uma carta do Obama, que dizia textualmente quais as coisas que ele achava importantes o Ahmadinejad fazer para permitir o acordo. E o Ahmadinejad fez exatamente o que estava pedido na carta do Obama. Para minha surpresa, quando viajei ao Irã, passei na Rússia, e o Obama tinha ligado para o Medvedev, para reclamar da minha ida. Chego no Qatar, a Hillary Clinton tinha ligado para o Emir do Qatar para reclamar da minha ida. Na verdade, a dona Hillary Clinton trabalhou contra o tempo inteiro. Nós chegamos lá, eu e o Celso Amorim, passamos o dia inteiro em reuniões, fui falar até com o grande líder religioso deles, o Khomeini. A toda hora, eu falava para o Ahmadinejad: "Vim aqui para fazer o acordo. Se você não fizer acordo, estará abrindo mão dos dois países que querem contribuir para a paz, o Brasil e a Turquia. Você sabe que eu estou perdendo a amizade com os meus aliados, porque eu acho que a paz vale tudo isso." Na hora em que ele topa os termos do acordo, os caras não aceitam! Não aceitam o que eles mesmos queriam que o cara fizesse. Sabe aquele negócio... Eu te devo 50 dólares. Aí, eu demoro para pagar e, quando vou pagar, você fala: eu não quero mais os 50 dólares! Então, eu fiquei sentido pessoalmente. De qualquer forma, eu descobri também que o Conselho de Segurança da ONU precisa mudar e eles não querem mudar nada. Eles estão em um baile com cinco caras e cinco mulheres bonitas. Por que convidar um sexto ou um sétimo cara para o baile?

A entrevista é finalmente interrompida para o presidente descer do avião, e cumprir seus compromissos em Ribeirão Preto: início das obras do alcoolduto São Sebastião-Uberaba e apresentação dos resultados das ações governamentais para o setor sucroenergético no período 2003-2010. Só retomamos a conversa, já no avião novamente, às quatro da tarde. Na cabine presidencial, agora também viaja o ministro da Agricultura, Wagner Rossi.

Brasileiros - Qual a coisa que o senhor mais tem vontade de fazer em seu primeiro dia sem agenda, sem protocolo, depois de entregar a faixa à presidente? Ninguém acredita que o Lula vai ficar parado em casa, sem fazer nada, sentado no sofá...
Presidente Lula -
Realmente, eu não vou conseguir ficar sentado em casa no sofá. É o que eu disse: vou ter de primeiro desencarnar da Presidência, até por necessidade de sobrevivência. Quero estar bem com a minha cabeça quando deixar de ser presidente. A gente não deixa apenas quando entrega a faixa, a gente só deixa quando consegue tirar da cabeça a ideia de que você foi presidente. Tem de voltar a ser o que você sempre foi antes, entendeu? A única profissão que eu tive na vida foi a de torneiro-mecânico. É a única coisa que eu aprendi a ser. Agora, nem isso sei mais, mudou tudo. No meu tempo, torneiro tinha de ser um artista, agora é um operador de máquina. Presidente não era profissão, era exercício de um mandato. Acabou... Graças a Deus, acabou bem...

Brasileiros - Na imprensa, sai todo dia matéria sobre os planos de Lula para o futuro ao deixar a Presidência. O senhor, afinal, já definiu o que pretende fazer da vida, depois de descansar alguns dias?
Presidente Lula -
Ainda não defini e não tenho preocupação em definir, e não sei o que eu pretendo fazer da vida. Só posso definir o que eu quero fazer depois que eu deixar de ser presidente. Enquanto eu for presidente, eu não penso sobre isso e não decido o que eu vou fazer.


Brasileiros - Como o senhor imagina que será o governo Dilma? Apenas uma continuidade do governo Lula ou terá outras características? E quais seriam? Em que Dilma é diferente de Lula?
Presidente Lula (brincando) -
Se for só uma continuidade, já vai ser uma grande coisa... Agora, como é outra pessoa, é outra cabeça, certamente ela pode fazer mais e pode fazer melhor. Além disso, a Dilma já vem com uma experiência de oito anos de governo. Portanto, ela pode marcar um gol de placa que eu não marquei... A situação do Brasil hoje é invejavelmente melhor do que quando eu peguei o País em 2003. O Brasil está em outro patamar. E ela tem mais conhecimento hoje do que eu quando entrei no negócio. A relação dela com os partidos é muito melhor que a minha quando ganhei as eleições. Então, todas as condições, meu filho, estão dadas para ela fazer um extraordinário governo. Eu espero estar na arquibancada, gritando e torcendo. Não sou daqueles que vai ao estádio para vaiar o meu time. Eu vou para aplaudir o meu time.

Brasileiros - Nesse seu último Natal no Palácio da Alvorada, que presente o senhor gostaria de receber?
Presidente Lula -
Eu não sou de esperar presente de Natal. Veja, para mim, Ricardo, que sou um homem de poucas pretensões materiais, se a minha família estiver com saúde, se meus amigos estiverem todos bem, eu, sinceramente, me sentiria muito gratificado. Se eu estiver com toda a minha família, e se o Zé Alencar puder tomar um gole comigo, já está ótimo.

Brasileiros - O que o senhor vai dizer ao companheiro do PT, que certamente vai aparecer, para lançar o seu nome para 2014?
Presidente Lula -
Eu acho que qualquer resolução sobre 2014 deve ser encabeçada pela companheira presidenta, quando ela entender que chegou o momento de discutir a eleição. Como eu acredito que ela vai fazer um bom governo, ela pode conquistar o segundo mandato, e ganhar as eleições.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Estado versus neoliberalismo. A população paga a quebra da banca mundial.

Matéria da Editoria:
Internacional

20/12/2010

Para onde vai a Europa? 
A resposta à crise proposta pelos mercados (desregulamentação do mercado de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, cortes orçamentários e privatizações) é cada vez mais voraz. A União Europeia necessita de outra estratégia. Estamos assistindo a uma verdadeira guerra dos mercados contra os Estados. O que estamos vendo é uma contrarrevolução social “thatchero-reaganiana”. A questão é saber se as sociedades europeias vão aceitar isso. A partir de agora, o problema para a Europa já não é econômico, mas sim político. O artigo é de Sami Nair.

Sami Nair 
Data: 17/12/2010

Depois da Grécia, a Irlanda. E depois, provavelmente, Portugal. Na sequência, não sabemos. O que é certo é que vários países estão ameaçados pelos mercados. A Espanha já está sob a alça da mira. Mas com o devido respeito pelos demais, o caso da Espanha é diferente. Trata-se da quarta economia da Europa (12% do PIB europeu) e é um peso pesado da política europeia. A dívida espanhola é três vezes superior à grega, seu déficit está, há dois anos, em torno de 10% do PIB, e o desemprego, que atinge todas as faixas de idade, está acima dos 20%. Se a Espanha recorrer ao fundo de resgate europeu, isso abriria também, de maneira inevitável, o caminho para ações especulativas contra Itália e França, o que significaria um giro decisivo para a Europa.

O paradoxo é que a estratégia europeia de saída da crise mundial (desregulamentação do mercado de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, cortes orçamentários e privatizações) mostra os mercados cada vez mais vorazes. Daqui em diante, eles querem tudo. Essa estratégia, fundamentalmente recessiva, provoca um aumento legítimo das reivindicações sociais e políticas e dá lugar a perguntas que começam a ser formuladas espontaneamente pelas opiniões públicas. Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, expressa assim esse estado de ânimo: “Para Atenas, Madri ou Lisboa, se colocará seriamente a questão de saber se interessa continuar o plano de austeridade imposto pelo FMI e por Bruxelas, ou se, ao contrário, é melhor a voltar a serem donos de suas políticas monetárias” (Le Monde, 23-24 de maio de 2010).

Ainda não chegamos a esse ponto, mas se não mudarmos as regras do jogo, a divisão da zona euro se tornará uma hipótese séria. Pois está claro que não poderemos resolver esta crise somente com medidas restritivas que atingem as populações mais expostas (classes médias e populares), e menos ainda com medidas técnicas vinculantes como as apoiadas por Alemanha e França para ativar o fundo de resgate. O presidente do Banco Central alemão, Axel Weber, deu a entender, durante uma visita recente a Paris, que os 750 bilhões de euros deveriam ser de todo modo aumentados se a Espanha recorresse ao fundo. Isso não deve ter agradado muito ao ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, que, em uma entrevista ao Der Spiegel (08/11/2010), informou: durante a fase crítica, prolongação da vida dos créditos; se isso não bastar, os investidores privados deverão aceitar uma depreciação de seus empréstimos em troca de garantias para o restante. Isso é o mesmo que agitar a capa vermelha diante dos investidores privados.

Estes reagiram imediatamente, colocando a Irlanda de joelhos e cercando Portugal antes de assinalar os alvos na Bélgica e na Espanha. Quanto falta para que passem ao ataque? A margem de confiança que concedem aos diferentes países da zona euro já é insustentável: a Alemanha encontra compradores de seus bônus a uma média de 2,7%, enquanto que a Espanha os negocia no melhor dos casos em torno de 5% e Portugal a 6,7%. Os países endividados emprestam, pois, a taxas cada vez mais proibitivas e, se às vezes conseguem ganhar uns pontos, é só porque o Banco Central compra alguns bônus, coisa que não poderá durar muito tempo.

Na verdade, estamos assistindo a uma verdadeira guerra dos mercados contra os Estados. Quando a crise começou, apontei (“A vitória dos mercados financeiros”, El País, 08/05/2010) que os mercados iam submeter à prova a capacidade de resistência dos Estados e dos movimentos sociais, e quem em caso de uma debilidade comprovada dos europeus para definir uma estratégia progressista comum frente à crise, os investidores iam incrementar sua vantagem atacando frontalmente os Estados mais fracos. Objetivos: desregulamentar ainda mais os mercados internos e exigir mais privatizações. É exatamente o que está ocorrendo hoje. O que estamos vendo é uma contrarrevolução social “thatchero-reaganiana”. A questão é saber se as sociedades europeias vão aceitar isso. Neste contexto, o estatuto do euro é um teste definitivo: será, finalmente, posto a serviço da promoção de um modelo social sustentável ou se tornará o vetor da destruição dos restos do Estado de bem estar europeu?

A partir de agora, o problema para a Europa já não é econômico, mas sim político. Se as medidas técnicas adotadas não conseguirem resolver as dificuldades dos países europeus, veremos a divisão da zona do euro anunciada por Stiglitz? E qual será a forma dessa divisão? Uma zona reduzida a seis, sem a Espanha? Uma zona baseada no desacoplamento entre uma moeda única para o casal franco-alemão e alguns outros países, e uma moeda comum para o resto? Um retorno às moedas nacionais? E, neste caso, o que será do mercado único? Ouvimos todos os dias dirigentes políticos afirmarem que estas hipóteses são impensáveis: mas estamos seguros de que controlam os fluxos monetários? Não estão submetidos ao uníssono da Bolsa? Tudo pode ocorrer?

Na verdade, está em jogo o futuro do projeto europeu. As regras de funcionamento do euro previstas pelo Tratado de Lisboa entram cada vez mais em contradição flagrante com as divergências de desenvolvimento dos diversos países da zona. Nenhum governo se atreve, aparentemente, a colocar em dúvida os dogmas que sustentam o Pacto de Estabilidade, ainda que, na prática, ninguém os respeite. Mas, se queremos salvar o euro, é preciso flexibilizar essas regras. E talvez mudá-las. É vital estabelecer, daqui em diante, uma coordenação forte das políticas econômicas europeias, ainda que a Alemanha, tutora do Banco Central, não queira ouvir falar de um “governo econômico”. Aqui está o coração da batalha para a sobrevivência da zona euro e não nas medidas coercitivas previstas pelo acordo adotado em 28 de outubro, em Bruxelas.

Para relançar a Europa, essa coordenação deverá enfrentar pelo menos quatro grandes tarefas; 1) Uma proteção do espaço monetário europeu, regulando efetivamente, como foi previsto na reunião da UE de 18/05/10, os fundos de investimento alternativos e sobretudo os instrumentos ultraespeculativos (hedge funds, private equity, CDS). Isso supõe que se pode pedir explicações ao Reino Unido para que ponha fim à política desestabilizadora da City, principal praça especulativa mundial. 2) Uma mutualização das dívidas públicas europeias com a criação de “bônus europeus” para os países endividados que recorrerem ao fundo de resgate. Para evitar que aumente a desconfiança dos mercados, a Alemanha deve aceitar que a ativação do mecanismo de resgate seja, sob condições precisas, mecânico e não negociável a cada caso, como ocorre agora. 3) A realização de um empréstimo para financiar uma grande política pública europeia de crescimento, de criação de emprego e de pesquisa-inovação, o que supõe uma reforma dos estatutos do Banco Central. 4) Uma harmonização fiscal comum da zona do euro apoiada por um reforço dos fundos de coesão para os países em dificuldades.

Estas medidas teriam um efeito de arrasto prodigioso. Elas fariam os investidores refletir e criariam um impacto psicológico salvador para mobilizar os povos europeus. Na verdade, a escolha é simples: ou bem a Europa sairá desta crise reforçada e capaz de enfrentar a nova geopolítica da economia mundial opondo aos mercados um interesse geral europeu, baseado em estratégias cooperativas entre as nações europeias, ou bem, atolada em seus egoísmos nacionais, terminará ardendo em cinzas moribundas.

(*) Sami Nair é professor convidado da Universidade Pablo de Olavide, Sevilha. Publicado originalmente no jornal El País (16/12/2010)

Tradução: Katarina Peixoto

Repressão contra a weakleaks: A liberdade de expressão da internet em risco

Quem tem medo do Wikileaks? 

“Uma organização de comunicação livre, assentada no trabalho voluntário de jornalistas e tecnólogos, como depositária e transmissora daqueles que querem revelar anonimamente os segredos de um mundo podre, enfrenta aqueles que não se envergonham das atrocidades que cometem, mas se alarmam com o fato de que suas maldades sejam conhecidas por aqueles que elegemos e pagamos”, escreve o sociólogo Manuel Castells em artigo para o jornal espanhol La Vanguardia.

Manuel Castells - La Vanguardia

Texto em português publicado originalmente no IHU-Online - Publicado no La Vanguardia em 30/10/2010

Tinha que acontecer. Há tempo os governos estão preocupados com sua perda de controle da informação no mundo da internet. Já estavam incomodados com a liberdade de imprensa. Mas haviam aprendido a conviver com os meios de comunicação tradicionais. Ao contrário, o ciberespaço, povoado de fontes autônomas de informação, é uma ameaça decisiva a essa capacidade de silenciar sobre a qual a dominação sempre se fundou. Se não sabemos o que está acontecendo, mesmo que teimamos, os governantes têm as mãos livres para roubar e anistiar-se mutuamente, como na França ou na Itália, ou para massacrar milhares de civis e dar livre curso à tortura, como fizeram os Estados Unidos no Iraque ou no Afeganistão.

Os ataques contra o Wikileaks não questionam sua veracidade, mas criticam o fato de sua divulgação com o pretexto de que colocam em perigo a segurança das tropas e cidadãos. Por isso o alarma das elites políticas e midiáticas diante da publicação de centenas de milhares de documentos originais incriminatórios para os poderes fáticos nos Estados Unidos e em muitos outros países por parte do Wikileaks. Trata-se de um meio de comunicação pela internet, criado em 2007, publicado pela fundação sem fins lucrativos registrada legalmente na Alemanha, mas que opera a partir da Suécia. Conta com cinco empregados permanentes, cerca de 800 colaboradores ocasionais e centenas de voluntários distribuídos por todo o mundo: jornalistas, informáticos, engenheiros e advogados, muitos advogados para preparar sua defesa contra o que sabiam que lhes aconteceria.

Seu orçamento anual é de cerca de 300 milhões de euros, fruto de doações, cada vez mais confidenciais, mesmo que algumas sejam de fontes como a Associated Press. Foi iniciado por parte de dissidentes chineses com apoios em empresas de internet de Taiwan, mas pouco a pouco recebeu o impulso de ativistas de internet e defensores da comunicação livre unidos em uma mesma causa global: obter e divulgar a informação mais secreta que governos, corporações e, às vezes, meios de comunicação ocultam dos cidadãos. Recebem a maior parte da informação pela internet, mediante o uso de mensagens encriptadas com uma avançadíssima tecnologia de encriptação cujo uso é facilitado àqueles que querem enviar a informação seguindo seus conselhos, ou seja, desde cibercafés ou pontos quentes de Wi-Fi, o mais longe possível de seus lugares habituais. Aconselham não escrever a nenhum endereço que tenha a palavra wiki, mas utilizar outras que disponibilizam regularmente (tal como http://destiny.mooo.com). Apesar do assédio que receberam desde a sua origem, foram denunciando corrupção, abusos, tortura e matanças em todo o mundo, desde o presidente do Quênia até a lavagem de dinheiro na Suíça ou as atrocidades nas guerras dos Estados Unidos.

Receberam numerosos prêmios internacionais de reconhecimento pelo seu trabalho, incluindo os do The Economist e da Anistia Internacional. É precisamente esse crescente prestígio de profissionalismo que preocupa nas alturas. Porque a linha de defesa contra as webs autônomas na internet é negar-lhes credibilidade. Mas os 70.000 documentos publicados em julho sobre a guerra do Afeganistão ou os 400.000 sobre o Iraque divulgados agora, são documentos originais, a maioria procedentes de soldados norte-americanos ou de relatórios militares confidenciais. Em alguns casos, filtrados por soldados e agentes de segurança norte-americanos, três dos quais estão presos. O Wikileaks tem um sistema de verificação que inclui o envio de repórteres seus ao Iraque, onde entrevistam sobreviventes e consultam arquivos.

Essa é a tática midiática mais antiga: para que se esqueçam da mensagem: atacar o mensageiro. De fato, os ataques contra o Wikileaks não questionam sua veracidade, mas criticam o fato de sua divulgação, sob o pretexto de que colocam em perigo a segurança das tropas e de cidadãos. A resposta do Wikileaks: os nomes e outros sinais de identificação são apagados e são divulgados documentos sobre fatos passados, de modo que é improvável que possam colocar em perigo operações atuais. Mesmo assim, Hillary Clinton condenou a publicação sem comentar a ocultação de milhares de mortos civis e as práticas de tortura revelados pelos documentos. Nick Clegg, o vice-primeiro-ministro britânico, ao menos censurou o método, mas pediu uma investigação sobre os fatos.

Mas o mais extraordinário é que alguns meios de comunicação estão colaborando com o ataque que os serviços de inteligência lançaram contra Julian Assange, diretor do Wikileaks. Um comentário editorial da Fox News chega inclusive a cogitar o seu assassinato. E mesmo sem ir tão longe, John Burns, no The New York Times, procura mesclar tudo num nevoeiro sobre o personagem de Assange. É irônico que isso seja feito por este jornalista, bom colega de Judy Miller, a repórter do The Times que informou, consciente de que era mentira, a descoberta de armas de destruição em massa (veja-se o filme A zona verde).

É o Partido Pirata da Suécia que está protegendo o Wikileaks, disponibilizando-lhe o seu servidor central fechado em um refúgio subterrâneo à prova de qualquer interferência. Essa é a tática midiática mais antiga: para que se esqueçam da mensagem, atacar o mensageiro. Nixon fez isso em 1971 com Daniel Ellsberg, que publicou os famosos papéis do Pentágono que expuseram os crimes no Vietnã e mudaram a opinião pública sobre a guerra. Por isso Ellsberg aparece em entrevistas coletivas ao lado de Assange.

Personagem de novela, o australiano Assange passou boa parte de seus 39 anos mudando de lugar desde criança e, usando seus dotes matemáticos, fazendo ativismo hacker para causas políticas e de denúncia. Agora está mais do que nunca na semiclandestinidade, movendo-se de um país para outro, vivendo em aeroportos e evitando países onde se procuram pretextos para prendê-lo. Por isso, foi aberto na Suécia, onde se encontra mais livre, um processo contra ele por violação, que logo foi negado pela juíza (releiam o começo do romance de Stieg Larsson e verão uma estranha coincidência). É o Partido Pirata da Suécia (10% dos votos nas eleições europeias) que está protegendo o Wikileaks, deixando seu servido central trancado em um refúgio subterrâneo à prova de qualquer interferência.

O drama apenas começou. Uma organização de comunicação livre, assentada no trabalho voluntário de jornalistas e tecnólogos, como depositária e transmissora daqueles que querem revelar anonimamente os segredos de um mundo podre, enfrenta aqueles que não se envergonham das atrocidades que cometem, mas se alarmam com o fato de que suas maldades sejam conhecidas por aqueles que elegemos e pagamos. Continuará.

Tradução: Cepat (Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores)