por António Louçã, RTP
Segundo Ali Agca, mandante foi o cardeal Casaroli
publicado 15:05 10 Novembro '10
O papa João Paulo II, ao visitar Mehmet Ali Agcana cadeia, no Natal de 1983. DR
O militante turco de extrema-direita, Mehmet Ali Agca, afirmou que o atentado contra a vida de João Paulo II, cometido em 13 de Maio de 1981, lhe foi encomendado por um padre às ordens do cardeal Casaroli, a segunda figura mais importante na hierarquia do Vaticano.
Segundo Ali Agca, mandante foi o cardeal Casaroli
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Segundo Mehmet Ali Agca, o homem de mão de Casaroli, que o encarregou de realizar o atentado e depois acompanhou os seus treinos de tiro até ao fatídico 13 de Maio de 1981, foi um padre de nomer "Michele". Nas palavras de Agca, ele fez "treinos de tiro com o padre Michele e com outro agente do Vaticano. Reuni-me várias vezes com ele e fomos à Praça de São Pedro para planear o atentado"
Agca falava à cadeia de televisão turca TRT, desmentindo também todas as conjecturas sobre envolvimentos da CIA, do KGB ou dos serviços secretos búlgaros no atentado. A pista soviético-búlgara, afirmou, foi alimentada como arma contra a URSS, para acelerar a sua crise.
Os quatro tiros disparados contra o papa na Praça de São Pedro atingiram-no nos intestinos (duas balas), na mão esquerda e no braço direito. No entanto, o papa foi rapidamente socorrido e pôde recuperar. Em 1983 visitou Agca na cadeia, em sinal de perdão. Segundo agora afirma o autor do atentado, João Paulo II não lhe fez qualquer pergunta, porque "sabia muito bem que o Vaticano estava por trás de tudo".
Ali Agca era um aventureiro, militante da organização da extrema-direita nacionalista turca "Lobos Cinzentos". Fora detido e condenado pelo assassínio do editor do jornal turco de esquerda Milliyet, fugira da cadeia e exilara-se na Bulgária, o que parecia dar crédito à famosa "pista búlgara" para explicar o atentado contra o papa.
A explicação corrente do atentado colocava o autor material sob as ordens do adido militar búlgaro em Roma, Zilo Vassilev, e do mafioso turco Bekir Celenk, que teria dado ainda na Bulgária as primeiras ordens a Agca no sentido de cometer o atentado.
O autor do atentado foi condenado a prisão perpétua, cumpriu 19 anos de prisão e foi indultado em 2000. Depois disso, viu ser-lhe recusada a cidadania polaca e anunciou ao diário italiano La Repubblica a sua conversão à religião católica e intenções de fazer-se baptizar e de pedir a cidadania portuguesa.
Nessa entrevista ao diário italiano, de 13 de Maio do ano passado, Agca recusara-se ainda a falar sobre o atentado, mas acrescentara enigmaticamente que os seus advogados estavam em contacto com a Cúria Romana.
Para além das várias versões que Agca já tem apresentado sobre o atentado, deixa dúvidas a sua omissão em explicar de que modo e por que motivo um homem de mão de Casaroli lhe teria revelado quem era o seu mandante.
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