segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O resgate do valor dos Cieps como solução educacional e modelo de intervenção do Estado em comunidades carentes.

Brizola e o Rio de Janeiro. 

Um dos principais argumentos da ação unificada das forças de segurança no combate ao crime organizado do Rio é de que é necessário ocupar os territórios do tráfico. Argumento este profundamente honesto e correto, porém vergonhoso.

Vale lembrar, que ao longo do tempo, o Estado se omitiu de suas prerrogativas e deixou inúmeras comunidades à mercê da bandidagem.

Outro fato inconteste é que a corrupção policial, a denominada “Banda Podre”, foi um dos alicerces desta criminalidade fornecendo armas e proteção.

Do mesmo modo, a hipocrisia de muitos indignados contra a violência que usam e abusam dos produtos (drogas e afins) da criminalidade.

Contudo, é dever relembrar a historia quando Brizola ganhou o governo do Estado em 1982 com o seu vice de chapa, um dos maiores intelectuais que esse país já produziu, o antropólogo Darcy Ribeiro.

Brizola delineou uma verdadeira revolução social, que eram os Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPS.

Os CIEPS constituíam em uma escola de qualidade com toda estrutura para a formação e o desenvolvimento pleno de cidadania.

O horário das aulas estendia-se das 8 às 17 oferecendo além do currículo regular, atividades culturais, estudos dirigidos e educação fisica. Os CIEPS forneciam refeições completas aos seus alunos, além de atendimento médico e odontológico. A capacidade média de cada unidade era para mil alunos.

O projeto objetivava, adicionalmente, tirar crianças carentes das ruas, oferecendo-lhes os chamados "pais sociais", funcionários públicos que, residentes nos CIEPS, cuidavam de crianças também ali residentes.

Além do que, a arquitetura dos CIEPS tinha a assinatura de nada mais nada menos de Oscar Niemeyer pois, havia a preocupação de um prédio funcional para atender as necessidades dos estudantes.

Vale resaltar que neste periodo, o Barsil inaugurou sua maior rede de bibliotecas de sua historia, cada CIEP tinha uma biblioteca.

Brizola e Darcy contruíram juntos mais de 500 CIEPS e o que era mais importante, nas áreas mais carentes do estado do Rio.

Essa era uma das principais ocupações do Estado na comunidade, ou seja, escola de qualidade e desenvolvimento de cidadania.

Muitos inclusive, parte das forças progressistas criticaram os CIEPS, diziam que era um projeto caro e populista.

Brizola respondia que caro era a ingnorancia, era a marginalidade, era a exclusão social.

Darcy argumentava que os desfavorecidos tinham o direito inconteste de uma educação de qualidade.

Com a chega ao governo do estado de Marcelo Alencar do PSDB, os CIEPS foram paulatinamente sendo destruídos. Não havia mais a prioridade na revolução educacional.

Hoje, passado mais de 20 anos da criação dos CIEPS, o Brasil observa e aplaude a ação do Exército e das Polícias em reconquistar territórios, que diga se é uma vergonha.

Vimos também dezenas de jovens com fuzil na mão, jovens esses que não estão na escola, outra vergonha.

E mais, vemos que hoje inúmeros líderes políticos de varias agremiações partidarias defenderem escola de tempo integral como uma novidade.

Entretanto vale lembrar mais uma vez Darcy Ribeiro:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”




Henrique Matthiesen

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