terça-feira, 6 de julho de 2010

Guetos ou tribos na internet

Seremos guetos ou tribos que derrubam o império?

27/06/2010 21:42
Por: Corinto Meffe

Estamos perto de criar guetos nos subterrâneos da internet ou de transformar as nossas tribos em verdadeiras nações virtuais? Por enquanto não conseguimos nada além disso.

As redes sociais na internet ainda não foram capazes de revelar se produzem mais guetos ou tribos. Sabemos que estão longe de aglutinar exércitos de transformação, mas por outro lado criaram novos grupos sociais que buscam melhorar a nossa vida e o nosso planeta. São incontáveis comunidades que se agrupam em torno dos temas mais variados, desde “eu gosto de boneca”, até “salvem o planeta” (antes que seja tarde).
Pelas duas comunidades acima verifica-se que trivialidades e atuações politizadas convivem nos ambientes virtuais. Existe um avanço importante que é pouco comentado pelos especialistas: a liberdade comportamental. Sim, na internet ela torna-se exarcebada, com menor tutela e policiamento ideológico. Algo que ajuda no agrupamento das pessoas por afinidades e no desenvolvimento das aptidões individuais.
Para comprovação da liberdade comportamental, basta compararmos com o mundo presencial. Se uma pessoa atuasse em algum grupo de discussão política e mencionasse que também gosta de falar sobre bonecas, certamente sua credibilidade ficaria abalada. E uma outra pessoa, se estivesse numa mesa de bar discutindo os novos modelitos das roupas de boneca e ousasse falar de política-partidária seria considerada uma chata. Aqui fica claro como o ciberespaço protege os anseios individuais.
A liberdade comportamental na internet atinge todas as camadas sociais, correntes ideológicas e instituições. Assim o ganho individual torna-se um dos alicerces mais sólidos para o avanço da internet.
Mas, por outro lado, faz aumentar as preocupações sobre a privacidade na rede, pois afinal, a informação de ordem pessoal somente deve ser coletivizada com a devida autorização do usuário.
Quando mudamos o foco para as questões coletivas os resultados ainda não são tão visíveis quanto daquela liberdade já percebida para o indivíduo.
Reforça-se a dúvida: estamos nos aproximando para criarmos guetos, nos subterrâneos da internet, ou para tornarmos as nossas tribos em verdadeiras nações virtuais?
A questão não é somente se somos guetos ou tribos. Na verdade o que se encontra por trás dessa pergunta é que ainda não conseguimos ser nada além disto.
Temos aqui um exemplo muito prático. O recente caso do ex-governador do Distrito Federal José Arruda. O que ele fez foi intolerante, pois o cargo máximo de uma unidade da federação foi flagrado recebendo dinheiro ilegalmente. A mobilização na internet superou ‘n’ vezes a presencial. Quase todo dia centenas de mensagens foram enviadas aos deputados distritais. Parece que a internet tornou-se o confessionário dos ausentes.
Assim, passamos uma mensagem, reclamamos de alguma coisa e pronto, entramos no mundo dos atuantes. E se estamos dentro de uma comunidade do Orkut dedicado ao “eu odeio…” parece que de forma instantânea ingressamos nesta “revolução” silenciosa.
O que temos na outra ponta, do lado institucional, indica que os dez maiores sítios visitados na internet têm ligação com os grupos poderosos de sempre: a grande imprensa, os gigantes das telecomunicações e informática e instituições financeiras.
São eles que estão por trás dos maiores acessos e maior quantidade de conteúdos. Algo não muito diferente de antes da internet (lembremos que a IBM e a Microsoft já eram poderosas antes da grande rede).
Pela inexistência de uma pesquisa qualitativa que verifique as relações sociais das comunidades e suas influências na sociedade, ainda paira uma certa desconfiança da real capacidade de mudança no comportamento coletivo, na geração de novos interlecutores, nas transformações das estruturas de poder e no alcance efetivo das ações políticas. Convivemos ainda com percepções intuitivas, experimentos isolados, carregadas por um gostinho de mudança.
Seria ceticismo verificarmos que a quebra das barreiras geográficas apenas aproximaram mais do mesmo? Ou seja, a internet somente amplifica e aproxima grupos de afinidade, habilidades individuais, temas de interesse comuns e entretenimento. Ou seria excesso de otimismo acreditarmos que em função dela existe uma democracia mais participava, aumento na decisões políticas e transparência pública?
Ao mesmo tempo em que encontramos comportamentos mais plurais e democráticos, também são verificadas relações autoritárias, arbitrárias e manipuladoras. Isto causa uma mistura de análises entre céticos e apaixonados pela grande rede. Enquanto uns acreditam na radicalização da democracia, outros percebem a tutela totalitária do Grande Irmão ou a perda de privacidade.
Ao verificarmos a manutenção de estruturas de poder similares, surge uma reflexão importante: afinal queremos que esta nova tecnologia seja somente mais um utensílio de consumo e entretenimento ou um instrumento de transformação social? Pode ser os dois, mas aparenta que o pêndulo inclina-se mais para o mundo das trivialidades.
Observa-se que o ponto de equilíbrio encontra-se justamente nos guetos e nas tribos. E estes podem ter função idêntica aos bárbaros na época da queda do Império Romano. Esses bárbaros virtuais, ao tomarem os limites territoriais romanos pela beirada, podem impor a derrocada das atuais estruturas de poder político eeconômico.
Isto significa que os guetos e as tribos necessitam se apropriar com urgência do ciberespaço de uma forma mais organizada. São essas comunidades virtuais que vão derrubar as instituições, os sistemas políticos e econômicos carcomidos, assim como caiu Roma.
Quando navegarmos no infinito da rede não devemos esquecer que temos o timão e as velas em nossas mãos. E já que temos a oportunidade nascida no campo tecnológico, a nossa navegação precisa ser acompanhada de um comportamento transformador, que influencie também o campo social, para sermos algo além de guetos e tribos. [Webinsider]
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Sobre o Autor

Corinto Meffe (corinto.meffe@planejamento.gov.br) é Gerente de Inovações Tecnológicas na Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento.
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    Publicada em: 27/06/2010 21:42
    Impresso em: 06/07/2010
[editor] vtardin@webinsider.com.br

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