domingo, 18 de julho de 2010

Faltou renovação



O que Dunga deixa para 2014

Apenas quatro brasileiros convocados em 2010 terão menos de 30 anos na Copa do Brasil, contra 17 da Alemanha e 13 da campeã Espanha. Palavra da moda, a renovação vai ter que sair do papel

Wesley (esq.) e Neymar podem estar na Copa 2014 (Foto: Santos FC)

Uma das palavras mais recorrentes nas críticas sobre a atuação de Dunga à frente da seleção brasileira após a queda na África do Sul é “renovação”. No caso, a falta dela, por haver o treinador convocado um time envelhecido, com poucos jogadores com idade para serem aproveitados em 2014.
Olhando apenas para a questão etária, de fato, a coisa fica feia. Dos 23 convocados brasileiros para a Copa da África do Sul, apenas 4 terão 30 anos ou menos em 1º de junho de 2014 (os números entre parênteses sempre serão as idades com referência nessa data). Robinho (30), Thiago Silva (29), Ramires (27) e Nilmar (29) têm bola e condições para brigar por espaço na nova seleção que deverá surgir até lá.
Numa análise mais detida, é possível imaginar Maicon (32) e Daniel Alves (31) brigando por vaga na lateral-direita, posição bastante carente. Júlio César (34), Juan (35) e Lúcio (36) podem até aspirar a alguma coisa, pelas características de suas posições e por serem muito bons no que fazem, mas não apostaria nisso, principalmente no caso de Juan, perseguido por contusões.
No meio campo, aos 32, Kaká poderá ter sua terceira chance de brilhar numa Copa – lembrando (e mal comparando…) que Zidane levou a Bola de Ouro de 2006 com 34 primaveras. Elano, que terá 33, pode também pelos menos ajudar na transição. E Felipe Melo até poderia ser opção para primeiro volante, desde que aos 31 anos seus impulsos assassinos tenham sido devidamente controlados – pela vida ou pelos avanços da psiquiatria. Mas ninguém faz muita questão da sua presença.


E os outros, como estão?
Uma comparação com os quatro semifinalistas da Copa da África do Sul mostra que todas as seleções estão na nossa frente também no quesito renovação. O elenco mais jovem é o da Alemanha, que conta 17 jogadores que terão até trinta anos em 2014, incluindo oito dos onze titulares. As exceções são o centroavante Klose (36), o zagueiro Friedrich (35) e o lateral-direito Philipp Lahm, que aos 31 pode até pensar em jogar. Entre os sub-30, estão todos os integrantes do meio-campo que mais animou os fãs de futebol nessa Copa, Sami Khedira (27), Bastian Schweinsteiger (29), Mesut Oezil (25) e Lucas Podolski (28). Podemos esperar, portanto, um time alemão ainda mais forte – porque mais experiente – em 2014.
Na segunda colocação, os espanhois também levam boa parte de seu elenco para o Mundial brasileiro. Dos 23 convocados, 13 terão até 30 anos no início do torneio. Entre eles estarão Iniesta (30), Fernando Torres (30), Sérgio Ramos (28), Pedro (27) e o mal educado Pique (27). Entre os mais velhos estão os três goleiros, Casillas, Pepe Reina e Valdez, que terão respectivamente 33, 33 e 32 anos na ocasião, idades ainda razoáveis para guarda-metas. Os nomes mais importantes entre as possíveis perdas por idade são Xavi (34) e o artilheiro David Villa (33).
Na vice-campeã Holanda, serão 12 os sub-30 entre os atletas convocados este ano. Do quarteto ofensivo, apenas Kuyt (33) não cumpre o requisito, restando Van Persie (30), Robben (30) e Sneijder (29). O volante De Jong terá 29, o que é uma boa notícia para os fãs de kung-fu. Entre as prováveis perdas holandesas, estão o também pouco amigável volante Mark Van Bommel (37) e o capitão Giovanni Van Bronckhorst (39). Nada grave, convenhamos.
Completando o quarteto de semifinalistas da Copa sul-africana, o Uruguai terá também 12 jogadores do atual elenco estarão abaixo da linha arbitrária definida por este blogueiro. Entre eles estão Cavani e Luis Suarez, ambos com 27. Os dois podem perder a companhia do melhor jogador da Copa 2010, Diego Forlán, que terá 35 anos. Os botafoguenses certamente lamentarão a ausência de Loco Abreu, três anos mais velho que Forlán. Já os são-paulinos podem nutrir esperanças de ver Lugano mais uma vez em terra brasileiras, já que 33 anos é idade ainda razoável para zagueiros. O goleiro Muslera (27) e o meia revelação Nicolas Lodeiro (25) têm lenha para queimar por mais dois Mundiais. No caso do arqueiro, sorte para os adversários…


Então, a casa caiu?
Isso não quer dizer que o Brasil esteja condenado a ter um time fraco em 2014. Em se tratando da capacidade brasileira de produzir bons boleiros, quatro anos é uma eternidade. E mesmo hoje há jogadores de qualidade por aí, como os santistas Ganso e Neymar, cuja presença no selecionado foi cobrada já nesta Copa. Ainda na Vila Belmiro, temos os volantes Arouca e Wesley, bem como os centroavantes André e Keirrison (um de saída, o outro recém-chegado), que já mostraram potencial.
Isso só no Santos. Ainda temos Hernanes e Miranda (São Paulo), Philipe Coutinho (Vasco), Elias e Dentinho (Corinthians), Fred (Fluminense, que terá 30 anos em 2014) e um monte de outros. O que falta mesmo é um treinador sério e criativo que consiga escolher os melhores entre esse povo e criar um jeito ofensivo, bonito e eficiente deles jogarem juntos. Qualidades que eu e meus céticos botões não vemos em nenhum dos nomes mais comentados para assumir o legado de Dunga – incluindo Felipão, que saltou de “gaúcho retranqueiro” a “melhor de todos os técnicos” na avaliação geral. Enfim, nos resta esperar e torcer.


E a Argentina?
A título de curiosidade, já que os caras também não foram muito longe na África do Sul, como está a renovação entre nossos hermanos argentinos? Até que bem: 12 dos atuais jogadores estarão abaixo dos 30 ou com essa idade. Entre eles, todo o ataque titular, com Tevez (30), Higuain (26), Di Maria (26) e o melhor do mundo Lionel Messi, que aos 26 anos estará com fome de bola para repetir Diego Maradona e ganhar uma Copa do Mundo. Falando no craque-treinador, seu genro Sergio Aguero também estará à disposição, com 26 anos.
A despeito da empolgação dos torcedores platinos com a ofensividade do time de Maradona e a inegável simpatia de sua mitológica figura, lá, como cá, faz falta um técnico com mais cancha para organizar o time e fazer os craques renderem tudo que podem. Mas aí, de certa forma, os irmãos também saem na frente: erraram na execução, mas a proposta do Pibe de Oro era bem mais interessante que a de Dunga.

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