sexta-feira, 16 de julho de 2010

Quem que censura a mídia mesmo?

Publicado no Amalgama
15–07–2010

O catecismo anti-petista

por Tiago Pereira * – A liberdade de imprensa sofreu um duro golpe na última semana. O diretor de jornalismo da TV Cultura, Gabriel Priolli, foi afastado, com fortes indícios de interferência política. A TV Cultura é uma emissora pública, controlada pelo governo do Estado de São Paulo. Supostamente, o renomado jornalista teria sido afastado por causa da produção de reportagem sobre o custo dos pedágios das estradas paulistas.
Não é nem a primeira e nem a segunda vítima. Perguntas impróprias sobre o pedágio, durante o programa Roda Viva, ao ex-governador José Serra também teriam levado ao afastamento de Heródoto Barbeiro. Priolli e Barbeiro não foram demitidos, apenas afastados. A demissão causaria burburinho ainda maior. Luís Nassif, outro elogiado jornalista e hoje um sucesso na internet como blogueiro, foi demitido (esse sim) no ano passado após uma matéria sobre a publicidade da Sabesp, espalhada pelo país com nenhum outro objetivo plausível, a não ser promover o atual candidato a presidência — a Sabesp é uma empresa mista paulista, não caberia propaganda em outros estados. O candidato nega participação, mas o histórico e os bastidores apontam para outros caminhos. O restante da mídia praticamente se cala, finge que não é com ela.
Por outro lado, uma parcela da dita grande mídia continua assustada e faz assustar com os “radicais do PT”. A revista Veja entrou de vez na campanha, ou nunca saiu. Na edição dessa semana, traz na capa a estrela do PT e um horrível monstro de cinco cabeças a representar os “radicais”. “A fera petista que Lula domou agora desafia a candidata Dilma”. Cheira a terrorismo eleitoral. Discurso oposicionista barato. A imagem da capa é inspirada na capa do O Catecismo anticomunista, um livrinho católico escrito por D. Geraldo Proença.
A principal cabeça do monstro é o tão falado “controle da imprensa”. Desde que a proposta apareceu no Programa Nacional de Direitos Humanos, que atentava para o monopólio no setor e propunha o “controle social da mídia”, os grandes jornais fazem disso um cavalo de batalha. Alguns daqueles que colaboravam com a ditadura, hoje posam de defensores da liberdade e acusam o governo Lula, de maneira infundada, de querer descambar para a censura.
Compõem o restante do discurso conservador a “vista grossa” do governo e do PT com o MST, a bandeira da legalização do aborto, a revisão da lei da anistia e a proposta de taxação das grandes fortunas. Cabe perguntar: num país ainda com enorme desigualdade social, é tão absurdo fazer com que os mais ricos paguem mais impostos? A Veja acha que sim!
O “gancho” para tudo isso foi o confusão em torno do registro da candidatura de Dilma Rousseff e a troca dos programas de governo. No lugar do programa da coligação, mais moderado, registraram o programa do PT, mais vermelho. Erro de gabinete, algo natural. Dias antes, a Folha fez confusão parecida com o anúncio de uma rede de supermercados, soltando a propaganda errada, que fazia referência à eliminação do Brasil da Copa, um partida antes da fatídica derrota.
O candidato da oposição sequer registrou um programa. Na falta, anexou ao registro um “discurso”. A Veja deu apenas uma legenda de fotografia. Preferiram não abordar o tema. Vai que o José Serra não gosta…
* Tiago Pereira, Mairiporã-SP. Blog: tiagopereira.wordpress.com.

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