sábado, 15 de maio de 2010

Déficit dos governos aumentou quase sete vezes desde 2007, segundo dados da OCDE

Países ricos carregam dívida de US$ 43 tri

Déficit dos governos aumentou quase sete vezes desde 2007, segundo dados da OCDE

09 de maio de 2010 | 0h 00
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
Nunca em tempos de paz governos somaram déficits públicos tão grande quanto o que será registrado em 2010. Dados das dívidas nacionais dos 30 países industrializados indicam que o rombo nas contas chegam a US$ 43 trilhões, a maior já contabilizada por qualquer entidade internacional em qualquer momento da história.
Os dados são da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países desenvolvidos. A conclusão do levantamento é de que, sem dúvida, muitos países caminham para um cenário crítico e vivendo além da capacidade de se financiar.
Em 2009, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculava que o Produto Interno Bruto (PIB) do planeta era de US$ 57,9 trilhões. Se em 2010 o PIB mundial ficar estagnado ou crescer pouco, a dívida apenas dos países ricos representaria 75% da riqueza do planeta.
Desde 2007, o déficit dos governos ricos aumentou em quase sete vezes em valores totais. O montante atingiu US$ 3,4 trilhões em 2010, depois que americanos, alemães, ingleses e vários outros governos tiveram de abrir seus cofres para salvar setores inteiros da economia. Outra constatação foi a queda acentuada na arrecadação diante da recessão que provocada a partir de setembro de 2008.
Bolha. Na Espanha, o setor imobiliário, que representava quase 20% da arrecadação dos municípios, desabou com a crise. Assim, a bolha imobiliária no país acabou tendo um impacto direto na capacidade de o Estado se financiar. Na Europa, os déficits nacionais foram multiplicadas por 12 em três anos e o salto entre 2008 e 2009 na dívida total foi o maior em "tempos de paz".
A dívida da UE era de 61,5% do PIB em 2008. No ano passado, chegou a 72,6% e, em 2011, atingirá 83,7%. Segundo os dados da Comissão Europeia, a Grécia será a líder ao final de 2010, com 124,9% do PIB em dívidas. Ou seja, a dívida supera a riqueza do país. Em Portugal, a taxa não passaria de 85%, contra 64% na Espanha.
Alerta de Obama. Reunindo todos os países ricos, o volume da dívida seria de fato a bolha mais ameaçadora já conhecida pelo mercado financeiro: US$ 43 trilhões. Na OCDE, esses números são o que estão por trás da preocupação de vários governantes. Nos Estados Unidos, a dívida passou de 70% do PIB em 2007 para estimados 94% em 2010.
Na sexta-feira, o presidente Barack Obama foi claro em alertar aos europeus de que a crise da Grécia precisaria ser solucionada. Afinal, apenas três de seus grandes bancos têm uma exposição na Europa de mais de US$ 3,5 trilhões.
Um novo problema com algum deles ou com qualquer banco europeu seria fatal e reiniciaria todo o processo de quebra de instituições. Isso porque dificilmente a opinião pública mundial permitiria um governo voltar a resgatar um banco. "A paciência da opinião pública com os governos pode não se repetir em uma nova crise", afirmou, há quatro dias, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet.
Apelo. Na quinta-feira, o primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, fez um apelo a seu Parlamento para aprovar um pacote de austeridade para permitir que recursos da UE e do FMI fossem usados para salvar sua economia. Ao tentar convencer os parlamentares, alertou:
"Precisamos nos acostumar que não estávamos vivendo dentro das nossas capacidade. Agora, isso terá de acabar." Seu recado valeria para vários outros países da Europa.
Na sexta-feira, os governos europeus se comprometeram a aumentar o risco fiscal e a implementar novas medidas de austeridade. A meta é a de ter o nível da dívida abaixo de 60% em três anos.
A história já mostrou que isso é possível. Mas as condições precisam ser adequadas e os esforços serão profundos. O Reino Unido levou cinco décadas para reduzir sua dívida de 300% durante a Segunda Guerra Mundial para pouco mais de 30% nos anos 90.
Queda de impérios. Estudos realizados pelo historiador Niall Ferguson alertam que impérios caíram não apenas por causa de guerras ou catástrofes, mas também diante de dívidas impagáveis contraídas.
Esse, segundo ele, foi o caso do Império Romano ou da dinastia Ming, na China. Isso tudo sem a existência de especuladores para apostar contra as moedas desses impérios. 

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