sábado, 15 de maio de 2010

Rio de Janeiro inaugura série de Marchas da Maconha em 2010

07/05/2010

Rio de Janeiro inaugura série de Marchas da Maconha em 2010

Já estão marcadas novas mobilizações do movimento, que se organiza de maneira descentralizada nacionalmente

 Por Júlio Delmanto

No último final de semana, 1 e 2 de maio, aconteceram as primeiras edições de 2010 da Marcha da Maconha. Somadas às manifestações de Rio de Janeiro e Recife, realizadas nos dias 1 e 2 de março, respectivamente, foram ao menos 5 mil pessoas se organizando por novas leis e mentalidade para se lidar com psicoativos ilícitos. “Uma pessoa que participa num movimento como esse, o primeiro estigma que tentam pregar em cima é que é favorável a disseminação das drogas ou ao tráfico. A pessoa que está lutando aqui é por uma política preventiva, democrática e eficiente”, declarou o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, presente à Marcha do Rio. “Esse é um movimento contra a hipocrisia”, complementou.

Marco Magri, membro do coletivo paulista da Marcha da Maconha e também do Coletivo DAR, apontou que no Rio de Janeiro existe uma maior tolerância da Justiça em relação ao evento, que foi proibido “somente” três vezes nos últimos oito anos, diferentemente da capital paulista, por exemplo, na qual ninguém pôde marchar nos últimos dois anos, sob acusação de “apologia ao crime”. Ele avalia, no entanto, que “nem é tudo é maravilhoso”, tendo em vista a mobilização que acontece em outros países: “Tomando um distanciamento da organização e vendo como o debate sobre regulamentação de cannabis está colocado na sociedade, é clara a baixa adesão dos usuários e simpatizantes. Se tomarmos como exemplo histórico de trabalho sério, vemos uma Marcha no Canadá com 400 mil pessoas numa população total de 2,5 milhões de habitantes”.

No entanto, para a manifestação acontecer foi necessário o pedido de um habeas corpus preventivo, que foi estendido a todos os manifestantes presentes. Segundo texto do documento, impetrado por Nilo Batista, Cláudio Costa, Gerardo Xavier Santiago, André Barros e Maria Clara Batista, “a Marcha não se destina a incentivar nem o porte, nem o uso da substância” e sim propor mudanças na 11.343 que proíbe venda, produção e distribuição de algumas substâncias rotuladas genericamente de “drogas”. Para os advogados, “pretender interditar o lugar público para o exercício da liberdade de expressão é desconhecer todo o processo histórico que possibilitou a invenção da democracia”.

Segundo Magri, “ainda é absurda a necessidade de um HC preventivo para a realização de uma manifestação pública”, e por isso o movimento aguarda um posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre a proibição do evento em algumas regiões do país. “Não necessitaríamos recorrer à Justiça para garantir algo que está na lei”, apontou. Para ele, a organização do evento “está cada dia melhor”, ficando “muito mais fácil para os interessados participarem, e inclusive para os interesseiros se aproveitarem”. Ele alerta para a cobertura de grande mídia, que preferiu destacar mais um jovem preso por pixação do que todo o contexto, e recomenda “os trabalhos audiovisuais independentes que se esforçaram para mostrar a Marcha pelo lado de dentro, de quem organiza, de quem apoia, desvendando muito melhor a diversidade que encontrei por lá”.
  
É completamente hipócrita a crítica que se faz”, discursou Minc. “A conclusão da ONU é que se gastaram trilhões de dólares, só nos EUA há mais de um milhão de usuários presos – no Brasil o total deve ser uns 280 mil - , e não diminuíram consumo, poder dos traficantes nem a corrupção policial”. Segundo o ex-ministro, a maior parte dos dirigentes mundiais já está se conscientizando, através de uma visão “econômica e racional”, de que “esta política de guerra às drogas fracassou, ela é um desastre grandes dimensões”. Ele propõe a utilização deste dinheiro gasto na repressão para programas de prevenção, educação e saúde pública. “A prisão não resolve a questão em nenhum país do mundo”, declarou.

Já estão marcadas novas mobilizações do movimento, que se organiza de maneira descentralizada nacionalmente. No próximo fim de semana, haverá Marcha da Maconha em Belo Horizonte , Florianópolis, Porto Alegre e Vitória, no dia 16 a manifestação está marcada para Fortaleza, no dia 23 é a vez de São Paulo e Brasília marchará no dia 27.

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