segunda-feira, 24 de maio de 2010

Imprensa brasileira se rende ao protagonismo de Lula

17/05/2010 - vermelho.org.br

Imprensa brasileira se rende ao protagonismo de Lula

O acordo assinado entre o Brasil, Turquia e Irã sobre o programa nuclear deste último país, teve grande repercussão internacional entre os principais líderes mundiais e a imprensa internacional. Apesar do ceticismo dos Estados Unidos e de Israel, como já era esperado, não há como negar o protagonismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da diplomacia brasileira no caso. Papel até então ignorado pela imprensa brasileira.
No entanto, nesta segunda (17), rádios, tevês e os principais sites de notícias do país deram grandes destaques ao fechamento do acordo, principalmente sobre a repercussão positiva na imprensa mundial. Logo cedo, o programa Bom Dia Brasil, da Rede Globo, destacou que o país assumiu uma posição audaciosa, de liderança. “Entrou no jogo difícil do Oriente Médio a até agora teve êxito.”

“ONU saúda acordo com Irã, mas diz que resoluções têm de ser cumpridas”, destacou o G1. “Para analista iraniano, vitória da diplomacia brasileira silencia os EUA”, publicou o UOL. Embora o clima de ceticismo também tenha prevalecido, a audácia da diplomacia brasileira não pôde ser negada.

Houve espaço para os aliados do presidente na cobertura: “José Alencar ressalta atuação 'brilhante' de Lula nas negociações pelo fim da crise”, destacou o site do jornal O Globo. “Dilma diz que Lula marcou um gol no Oriente Médio”, trouxe a Folha Online.

Mas nem sempre foi assim. Quando recentemente Lula foi apontado como o líder mais influente do mundo pela revista norte-amercana Time, a chamada grande imprensa deu espaço para as principais lideranças oposicionistas ridicularizarem o fato, embora no ano passado os jornais Le Monde e El Pais já o tivessem considerado entre as 50 personalidades da década.

Outro fato bastante emblemático a respeito do assunto e, tratado internamente numa palestra feita, em fevereiro passado, pelo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, refere-se às negociações em Cancun (México), em 2003, durante reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Na ocasião, o ministro destacou que o encontro “foi um momento estruturante” da política externa brasileira. Conseguiu agregar o G-20 (grupos dos 20 países em desenvolvimento), porém, a imprensa brasileira abria as seguintes manchetes: “Fracasso em Cancun” ou “Brasil, Índia e China responsáveis pelo fracasso em Cancun.”

Comparação de coberturas

“Sobre os mesmos fatos, comparei as manchetes brasileiras e as internacionais, sobretudo quando se referiam ao Brasil. Parecem duas histórias completamente diferentes, com a mídia brasileira sempre nos jogando para baixo: ou era fracasso ou era obstrução. Sempre uma palavra negativa. Na mídia internacional, era o contrário: Brasil lidera grupo de países em desenvolvimento. Uma percepção bem mais sofisticada daquilo que estava acontecendo”, lembrou Amorim.

Segundo ele, até hoje a imprensa brasileira tem desenhado a reunião como o “fracasso de Cancun”. “Fracasso teria sido concluir Cancun em bases totalmente assimétricas e desvantajosas para os países em desenvolvimento. Claro que houve outros movimentos, acho que o fato de o G-20 estar bem organizado também inspirou outros países em desenvolvimento – no caso, países africanos, países de menor desenvolvimento relativo – a se articularem em torno de outras questões que para eles eram mais prementes talvez e, com tudo isso, na realidade, não se pôde concluir Cancun.”

Naquele contexto, Amorim demonstrou convicção ao afirmar que “grande parte da mídia interna reflete intensamente as pressões externas”. Afirmou que na ocasião teve que disputar não só na mesa de negociação, mas também na mídia. “Porque o comum nessas situações é que a versão que saía nos primeiros dias era sempre a versão dos países desenvolvidos, em que países como Brasil e Índia, atrapalhavam as negociações e criavam dificuldades.”

“Porém, aos poucos isso foi se modificando e ficou claro que tínhamos objetivos totalmente legítimos, porque o que estávamos querendo era que os nossos produtos agrícolas pudessem competir em condições de igualdade, e não competir com o Tesouro dos Estados Unidos, ou com o da União Europeia, que subsidiam altamente a sua produção”, afirmou o ministro.

De Brasília,
Iram Alfaia

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