02/09/2010
Grande mídia ignora greve de fome de mapuches chilenos
Ainda hoje a nossa mídia de referência (também conhecida como grande mídia, mídia hegemônica, mídia golpista) ecoa comentários raivosos contra o governo cubano ao abordar a greve de fome realizada por alguns presos da Ilha, soltos recentemente. A conduta desses meios de comunicação em relação à greve de fome dos índios mapuches chilenos, que rola há 53 dias, é bem diferente. O uso de dois pesos e duas medidas pelos meios de comunicação monopolizados por um pequeno grupo de famílias capitalistas não chega a ser novidade. Reflete o pensamento e a prática da direita. Tal mídia tratou como “presos de consciência” indivíduos que foram encarcerados por crimes comuns, conforme esclareceu o governo cubano. Agora, como os presos políticos são índios (sujeitos secularmente à opressão e ao genocídio) em luta contra grandes empresas capitalistas, a preocupação com as liberdades humanas e a democracia desaparece. A situação dos grevistas é dramática.
Fase crítica
A coordenadora de familiares dos 32 mapuches presos advertiu para o agravamento do estado de saúde dos indígenas, alguns já com risco vital. Segundo a porta-voz dos familiares, María Tracal, os grevistas se encontram em fase crítica, evidenciada pela perda de tecido muscular e o enfraquecimento de órgãos vitais como os pulmões, os rins, o coração e o fígado.
Nos últimos dias, vários dos detentos em presídios do sul do país tiveram que ser transportados com urgência para os hospitais. Corre-se o risco de celebrar o bicentenário da independência do colonialismo espanhol com mapuches agonizando, alertou um comentarista da rádio chilena Bío Bío, que considerou iminente um desfecho fatal.
Manifestações
Enquanto isso, continuam as manifestações nesta cidade em defesa da causa mapuche e denúncia de setores políticos e intelectuais opostos à aplicação da lei antiterrorista na região chilena de Araucanía. Ontem, um grupo de historiadores chilenos divulgou uma declaração em apoio à luta da etnia por direitos tão sagrados como o da terra e em rejeição à militarização do território arauco.
Silêncio da mídia
Os profissionais criticaram o silêncio dos grandes meios de comunicação no Chile e convocaram uma manifestação de solidariedade com os povos originários para 7 de setembro, em frente ao Arquivo Histórico Nacional.
Por sua vez, o deputado e presidente do Partido Comunista, Guillermo Teillier, defendeu uma mesa de diálogo do governo com os representantes do povo mapuche. “Justo agora, quando vamos celebrar o bicentenário, sendo este povo ancestral o que primeiro lutou pela liberdade da nossa pátria, não podemos dar o pagamento que lhe estamos dando hoje, temos que consertar esta dívida histórica”, sublinhou Teillier.
Contra o latifúndio
Os mapuches lutam ininterruptamente contra os latifundiários, exigindo que saiam imediatamente de seus territórios. Esses indígenas são povos concentrados principalmente nas regiões centro-sul do Chile e no Sudeste da Argentina. São historicamente perseguidos e reprimidos e hoje representam cerca de 900 mil habitantes.
Durante os anos 1990, eles se notabilizaram por deflagrar inúmeros protestos contra empresas florestais e proprietários agrícolas. As terras em luta são caracterizadas pela alta fertilidade, sobretudo as de Bío Bío e Araucanía, atualmente infestadas de plantações de pinheiros e eucaliptos, no qual prepondera a monocultura e, sendo assim, prejudica o ecossistema de quem depende das tais terras.
Repressão
O Estado chileno, por seu turno, não poupa esforços na repressão aos indígenas, que necessitam das terras para sobreviver. Mas, em defesa da propriedade privada, as autoridades alegam que a repressão é necessária para que "não se crie problemas para a economia regional".
Os mapuches reivindicam o fim da aplicação da "lei anti-terrorista", em vigência no país desde 1984, promulgada no gerenciamento de Augusto Pinochet (1973-1990). Além da lei possuir dispositivos que dobram automaticamente as penas dos condenados, ela ajuda a criminalizar qualquer luta indígena, o que também viola os direitos humanos.
Entre outras atribuições é a supressão do direito ao hábeas corpus e consolidação do "inimigo interno", mecanismo que possibilita ao aparato policial e militar torturar e prender à bel prazer sob pretexto da violação da propriedade privada, da terra e de "ameaça ao povo". Aproximadamente 500 pessoas continuam em cárcere no Chile devido esta lei.
Falsa democracia
O Chile é um país que se supõe democrático, mas que oculta práticas de tortura e políticas genocidas. Dessa forma, os latifúndios se apoderaram das terras, tendo poder e privilégios que mantêm utilizando forças paramilitares, quando não contam com as forças de segurança oficiais. O etnocídio, portanto, é um dos subsídios conquistados pelas transnacionais com a exploração dos povos indígenas. As riquezas petrolíferas e hidráulicas junto com a madeira são as mais exploradas. Por exemplo: em 1999, a empresa transnacional Ralco ficou com os territórios do povo indígena Pehuenche causando o desaparecimento de seu patrimônio cultural.
Em defesa dos seus direitos territoriais, a resistência do povo Mapuche tem provocado descontentamento à classe dominante chilena. Em 2001, quatro líderes de comunidades Mapuches — Juan Marileo, Juan Carlos Huenulao, Florencio Marileo e Patricia Troncoso — da cidade de Ercilla, a 560 quilômetros de Santiago, também na fértil região da Araucanía, foram acusados pelo incêndio de cerca de cem hectares de pinheiros pertencentes à empresa Florestal Mininco. Contra eles foi aplicada a lei antiterrorista. A decisão judicial estabeleceu aos acusados indenização com o pagamento de 423 milhões de pesos, o equivalente a US$ 821 mil.
Os acusados pelas leis de exceção costumam ficar em prisão preventiva por mais de um ano antes que seu caso chegue a julgamento. A conduta do governo direitista do Chile, sustentada em leis criadas na ditadura de Pinochet, atenta contra os direitos humanos, a liberdade e a democracia. E a mídia hegemônica, tão combativa na exploração dos presos cubanos, se refugia num silêncio cínico e revelador.
Da redação, com Prensa Latina
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