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02/08/2010
Universidade e sociedade
“Mas o berço não é a vida. Alguns gostariam que ficássemos sempre no berço.”
B. Spaventa
Por Ari de Oliveira Zenha
Ao se colocar o problema da universidade no contexto social da sociedade capitalista, temos que levar em consideração não só seu aspecto como instituição da superestrutura do sistema capitalista, mas também como esta universidade se insere no processo de produção, acumulação e reprodução do capital.
O processo de ensino, do conhecimento não se restringe à universidade e nem se encerra nela.
O conhecimento como parte da formação cultural de uma nação, de um povo, lato sensu, não deve ser entendido simplesmente como uma forma de uma necessidade técnica, esta concebida como um aparato de “conhecimentos” necessários e destinados às classes dominantes e seu aparato político, ideológico e produtivo. A discussão que se deve realizar é que tipo de cultura, de orientação humanística, de concepção de mundo, de criação de maturidade e capacidade intelectual que queremos ter ao inserir a universidade como elemento do processo de conhecimento, de criatividade e capacitação intelectual, moral, ética e crítica dentro da sociedade civil.
Normalmente ao se discutir a questão da universidade tem-se perdido entre os meandros de um ideologismo ingênuo e muitas vezes inconseqüente, nos quais questões fundamentais do processo do conhecimento e sua absorção pelo homem são relegadas a um segundo plano.
A divisão social do trabalho imposta pelo sistema capitalista enfrenta não só na sua estrutura produtiva como também na sua superestrutura – e é aí que se insere a questão mais profunda e ampla do conhecimento – sua apropriação, sua reprodução e tipo de orientação que se dá. É esta orientação, é esta capacitação do conhecimento que deve estar posta em estudo.
Isso não quer dizer que os aspectos ideológicos, políticos e econômicos da sociedade de classe não devam ser considerados, pois são fundamentais não só na formação do conhecimento, como interferem profundamente na concepção de homem que se quer formar dentro de uma idéia ampla, transformadora e crítica de orientação humanística da cultura em geral.
A autonomia universitária, a “grade” curricular, a formação pré-universtária é que podem possibilitar a capacitação e condição de aprimoramento e ampliação intelectual para se galgar os degraus do conhecimento. O problema fundamental do ensino público gratuito e de qualidade (qualidade no sentido cultural e não técnico-instrumental) deve ser posto em discussão dentro da estrutura da sociedade civil e não “reformas” de cima para baixo onde não se envolve toda esta sociedade e vem como forma de adequar o conhecimento às necessidades imperiosas do pensamento conservador liberal, neoliberal do capitalismo. Tornar o ensino e o conhecimento (de qualidade) direito de acesso a todos sem distinção de raça, origem social e credo religioso, é dever do Estado. Delegar este ao setor privado é, no mínimo, se eximir de uma responsabilidade democrática, estabelecendo deveres e obrigações do Estado a serviço acintosamente, de forma hipócrita e cínica ao capital, colocando de forma explícita para toda a sociedade civil que o Estado está sim, despudoradamente, a serviço das classes dominantes.
A reforma universitária deve estar sob a hegemonia da sociedade civil, e não limitada a setores privilegiados desta, e nem mesmo restrita à sua superestrutura.
Portanto, o que está em questão e estudo é o conhecimento, sua apropriação, seus aspectos, suas características e sua disseminação na sociedade.
O conhecimento e sua evolução como forma de apropriação histórica da cultura da civilização, da superação do pensamento em termos do senso comum, elevando o sentido e a finalidade da vida do ser humano é obrigação de todos aqueles comprometidos com a transformação social.
Ari de Oliveira Zenha é economista.
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