domingo, 29 de agosto de 2010

A blogosfera versus mídia corporativa - a democratização da informação e informação democratizada

Publicado no blog viomundo.com.br

20 de agosto de 2010 às 11:51

Eurico Vianna: Da sociedade vertical à sociedade horizontal

Caros Blogueiros,
Moro atualmente fora do Brasil e tenho acompanhado à distância, e graças aos Blogueiros e à internet, as atualidades políticas e culturais do Brasil. Graças a essa façanha da blog-esfera brasileira no fortalecimento da mídia alternativa, pessoas como eu podem se manter atualizadas sem ter que se submeter, e na verdade à contragosto, à agenda política da grande mídia. Com interesse especial tenho acompanhado também o ‘Encontro dos Blogueiros Progressistas’, razão pela qual resolvi compartilhar uma fonte que, acredito, pode colaborar com o papel democratizador da informação exercido pelo blogs.
Clay Shirky, autor e pesquisador sobre internet e mídia social, no seu livro Here Comes Everybody: How Change Happens When People Come Together, [Aí vem todo mundo: Como as mudanças acontecem quando as pessoas se unem*] editado pela Penguin Books (2008) anuncia uma revolução em todo campo institutional de nossas sociedades. E só é uma revolução, como ele mesmo diz, se alguém sair perdendo. Em relação à realização de tarefas e resolução de problemas, essa mudança, que já está em andamento, vai minar o poder de instituições hierárquicas e enrigecidas e empoderar grupos cooperativos frouxamente associados. Acho que vale a pena conferir a utilidade para o contexto de luta dos blogs brasileiros. O sítio de palestras TedTalks.com disponibiliza uma apresentação do autor para download. Com legendas em português a palestra Institutions versus Collaboration (aqui) resume bem os assuntos tratados no livro.
Estudando a revolução causada pelas novas tecnologias nas instituições em geral, Shirky aponta o jornalismo como uma das classes onde a mudança é mais evidente. Ele, analisa, por exemplo, a intercessão entre a ‘blog-esfera’ e o jornalismo, e a questão do blogueiro ser, ou não, um jornalista — para ele essa não é a questão mais importante. Para ele importa mais entender como, por meio de baixo custo e novas tecnologias, a ‘amadorização’ na veiculação de informações termina por extrapolar a exclusividade da classe profissional. Achei dois de seus insights muito válidos, não só para os blogueiros, mas para todos os progressistas.
Primeiramente, no tocante ao jornalismo, a queda radical dos custos operacionais e a maneira como as mídias sociais mudam o cenário. Shirky afirma que essas novas tecnologias invertem o padrão ‘filtre primeiro e publique depois’, para o ‘publique primeiro e filtre depois’. Em sua análise, essa mudança tira das mãos dos ‘grandes’ editores o poder de decisão sobre o que é pauta (ou ao menos o relativiza), e passa a valorizar o julgamento do leitor, na medida em que este, por meio dos blogs, começa a redefinir a pauta da grande mídia. Um viés inovativo para o entendimento das mudanças tão faladas atualmente. Uma leitura genial e bem instrutiva, valendo, portanto, para todas as pessoas interessadas em desenvolver e aprimorar padrões mais cooperativos e horizontais de ação coletiva.
Outro insight importante é o papel dos novos meios de comunicação social na alteração dos padrões de formação, manutenção e operação de grupos sociais. Os novos meios, facilitando o compartilhamento de informações, a cooperação e a ação coletiva, interferem no equilíbrio entre a abordagem institutional, inerentemente exclusiva, segundo ele, mas predominante até o momento, e a abordagem colaborativa, mais democrática, mas até recentemente desprovida de tecnologias que a apoiassem.
Shirky, no entanto, alerta que “a questão aqui, não é que ‘isso é maravilhoso’ ou que vamos ver uma transição de abordagens exclusivamente institucionais para abordagens exclusivamente cooperativas. Vai ser muito mais complicado que isso. Mas o ponto é que será um reajuste maciço. E já que podemos vê-lo com antecedência e sabemos que está chegando, meu argumento é essencialmente: nós podemos muito bem nos preparar melhor para ele”.
Eurico Vianna

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