Revista Fórum
A metamorfose da ChinaPaís, que conseguiu diminuir a própria pobreza, se converteu em um formidável doador de assistência e investidor em países em desenvolvimento. A ajuda que a China dá a África, América Latina e sudeste asiático passou de menos de US$ 1 bilhão, em 2002, para US$ 25 bilhões, em 2007.Por Mitch Moxley, da IPS [13 de julho de 2010 - 13h12] Quando a Grã-Bretanha anunciou que deixaria de conceder à China assistência ao desenvolvimento, a medida foi representativa da virada protagonizada pelo país asiático, que passou de receptor a doador. Seguindo o rumo de outras nações ocidentais, o secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha, Andrew Mitchell, disse em junho que os 40 milhões de libras (quase US$ 63 milhões) que seu governo envia anualmente à China serão melhor gastos em outra parte. A China é a economia de mais rápido crescimento no mundo, e logo será a segunda maior. “O dinheiro britânico deveria ser gasto na ajuda à população mais pobre dos países mais pobres, fazendo com que cada centavo marque uma diferença real, dando às famílias a oportunidade de um futuro melhor”, disse Mitchell. De fato, a China, cuja própria pobreza diminuiu nos últimos 25 anos, se converteu em um formidável doador de assistência e investidor em países em desenvolvimento. Segundo um informe divulgado em 2009 pelo Serviço de Investigação do Congresso dos Estados Unidos, a ajuda que a China dá a África, América Latina e sudeste asiático passou de menos de US$ 1 bilhão, em 2002, para US$ 25 bilhões, em 2007. “Nos últimos anos, a República Popular da China aumentou sua presença diplomática e conquistou a boa vontade internacional mediante o financiamento de projetos de infraestrutura e de desenvolvimento de recursos naturais, assistência na realização desses projetos e grandes investimentos econômicos em muitos países em desenvolvimento”, diz o informe. O estudo também concluiu que as atividades chinesas em matéria de assistência a países da África e América Latina servem aos seus interesses econômicos de longo prazo, enquanto as que realiza no sudeste asiático refletem objetivos diplomáticos e estratégicos em um prazo maior. Entretanto, o informe lembra que, embora essas iniciativas de ajuda “sejam uma lembrança altamente visível do crescente poder brando da China, outros países e regiões, como União Europeia, Estados Unidos e Japão, continuam dominando os investimentos diretos na África, América Latina e sudeste da Ásia”. De todo modo, o aumento dos projetos chineses de assistência e investimentos diretos no exterior reflete que Pequim aceita cada vez mais seu papel de líder mundial em desenvolvimento. “Na medida em que a China fica mais rica, é sua responsabilidade ajudar outros países pobres”, disse Wang Yaohui, diretor-geral do Centro para a China e a Globalização, uma organização de especialistas independentes com sede em Pequim. “É uma transição natural”, acrescentou. A China não tem uma agência central de assistência. Sua ajuda ao desenvolvimento é administrada basicamente pelo Ministério do Comércio, bem como pelo Ex-Im Bank da China, Ministério das Finanças ou das Relações Exteriores. Apenas no Camboja, os investimentos diretos chineses chegaram a US$ 8 bilhões em junho, convertendo a China no maior investidor nesse país. Os investimentos da China se voltam para agricultura, turismo, infraestrutura, energia hidrelétrica e indústria do vestuário, disse o secretário de Estado do Ministério da Economia, Kong Vibol. Os países africanos são os principais beneficiários da ajuda chinesa. No final de setembro de 20009, a ajuda total de Pequim à África foi de US$ 11,15 bilhões. Mais da metade dos 900 projetos que a China tem em andamento na África têm o objetivo de melhorar o sustento dos cidadãos locais, com obras de infraestrutura como vias férreas e centrais elétricas, escreveu Wang Wei, pesquisador do Instituto de Estudos Internacionais da China, no portal China.org.cn. Dar ajuda à África tem vantagens estratégicas. Pequim tem o olhar voltado para a vasta riqueza de recursos e energia desse continente, e não faz nenhum segredo de seu desejo de ali alcançar um papel influente. A China é o segundo maior sócio comercial da África. Entre 2000 e 2009, o comércio bilateral aumentou de US$ 10, 6 bilhões para US$ 91,1 bilhões. Além de potencializar a ajuda à África, Pequim começou a cancelar a dívida desse continente, para o qual havia enviado voluntários. O governo chinês também criou um fundo de desenvolvimento de recursos humanos para as nações africanas, que, entre outros objetivos, oferecerá bolsas de estudo e ajudará esses países a instalar laboratórios e a financiar construção de escolas. “As estreitas relações entre a China e os países africanos exercem um efeito positivo sobre o desenvolvimento econômico da África”, escreveu Wei. “A construção de obras de infraestrutura em setores como transporte, energia hidrelétrica e telecomunicações potencializou o desenvolvimento econômico africano”, acrescentou. Para Wei, é provável que não seja altruísmo o que guia a superpotência. “É verdade que a China pode ter maior influência frente a esses países”, disse. Por outro lado, Niu Jun, professor da Escola de Relações Internacionais da Universidade de Peking, disse que a China também dá assistência em situações nas quais não espera nada em troca, por exemplo, em situações de desastres. “Na medida em que a China se torna mais rica e mais industrializada, dará ajuda a mais países. Nós incentivaremos seu desenvolvimento”, afirmou Jun. Por IPS/ Envolverde. |
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