quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Dilma não é Lula de saias. Retrospectivas e perspectivas I

Reproduzidos do Amalgama (http://www.amalgama.blog.br/)
Posted: 12 Jan 2011 08:44 AM PST

por André Egg
Outro dia escrevi um texto dizendo que o lulismo acabava com a saída de Lula do governo. É que eu via muita gente dizendo que Dilma era fantoche de Lula, e que ele continuaria dando as cartas num provável governo dela.
Eu dizia que ele sai de cena, e isso está acontecendo até mais rápido do que eu imaginava.
Na equipe de transição, Palocci assumiu papel chave, e considero que ele entrou como homem do Lula. Ficou no ministério, como Chefe da Casa Civil e responsável pela coordenação política. Gilberto Carvalho, assessor especial de Lula, também ficou como ministro. Justamente ele, que chora ao falar de Lula, e fica ameaçando com a volta do barbudo em 2014.
Mas à medida que o governo Dilma vai se desenhando, ele aponta para algumas diferenças importantes em relação à era Lula.
Um cara entendido em política interna do PT diz que o Palocci já está sendo fritado. Isso significaria um lulista a menos.
O ministério de Dilma também já apontou diferenças importantes: substituições nas Relações Exteriores e no Banco Central, para ficar nas que vão provocar mudanças mais imediatas e efetivas. No MRE, o Brasil adota postura mais cautelosa em relação ao Irã, e parece que vai reforçar parcerias mais tradicionais (meu colega Marlon Marques já vem escrevendo sobre isso). No Banco Central, mudou-se a pilotagem do mercado de câmbio, com a sinalização de que está com os dias contados a política de sobrevalorizar o Real para combater a inflação (veja a opinião do João Villaverde). Ao mesmo tempo, já se fala em redução da meta de inflação, atualmente em 4,5% com tolerância de 2 pontos.
Outra mudança importante foi o deslocamento de Paulo Bernardo para o Ministério das Comunicações. Isso aponta para a intenção de promover uma mudança forte no setor, com critérios técnicos. O setor é mais do que estratégico na economia do século XXI, e o Brasil tem muito que avançar. Sem um lobista da Globo no cargo, fica muito mais fácil.
Em outros setores do governo, segue tudo na mesma. Fernando Haddad mantido na Educação, onde vem fazendo bom trabalho. Orlando Silva mantido nos Esportes, onde continuará não fazendo nada, e o Brasil segue sem nenhuma política de universalização da prática esportiva – como seria de se esperar da gestão de um ministro comunista. Na Cultura, parece que a coisa vai piorar um bocado, com o feudo que já foi de Gilberto Gil passando para Chico Buarque. Ao menos Juca Ferreira era um bom executivo na pasta – seu afastamento é mau sinal.
Em geral, a área gerencial do Governo Federal já era pilotada por Dilma há muito tempo. Por isso não precisou grandes mudanças. Onde Lula reservava mais autonomia era na coordenação política, no Banco Central, e nas Relações Exteriores. Onde não precisou atender aliados de outros partidos, Dilma parece que deixa bem claro que seu governo não é o de um Lula de saias.
André Egg
Músico e historiador, professor da Faculdade de Artes do Paraná, ex-professor da Faculdade Teológica Batista do Paraná, doutor em História Social pela USP.

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