sábado, 15 de maio de 2010

A insustentável crise do euro



Fernando Canzian

09/05/2010

"Matilha de lobos"

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NATAL - Pergunto a um investidor português que está no Nordeste atrás de oportunidades de investimento se a moeda única europeia, o euro, tem futuro.
A resposta dele é não. Acha que a Grécia sairá da zona do euro (com 16 países) "por bem ou por mal". E que é questão de tempo até que outros países sejam engolfados pelos problemas que estão sacrificando a economia grega.
Portugal seria o próximo? O maior risco é a Espanha, responde.
Na semana passada, o euro perdeu 4,3% de seu valor frente o dólar, a maior queda desde a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.
No fundo, o português acha que os mercados estão em uma queda de braço com os governos. Mas os chamados "fundamentos econômicos" estariam, desta vez, do lado do mercado. É muita dívida em países como Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda para pouca expectativa de crescimento. "A conta não fecha", diz.
Mesmo que a Europa arrume bilhões de euros para estancar a crise de confiança em vários países (traduzida na dificuldade e custos elevados que eles vêm encontrando para rolar débitos), a dinâmica de crescimento baixo, nulo ou negativo tornaria tudo insustentável ao longo do tempo.
No final de semana, os ministros da União Europeia voltaram a prometer mais mecanismos de rolagem das dívidas de países altamente endividados.
"Vamos defender o euro com o que for necessário", disse a espanhola Elena Salgado.
No caso da Grécia, haverá um pacote de cerca da metade do PIB do país. Mesmo assim, os mercados não deixam o país em paz e continua exigindo juros extorsivos para refinanciar seus débitos. Na prática, o pacote de ajuda substituirá o mercado, subsidiando uma Grécia endividada além das possibilidades.
O risco é não ter dinheiro para salvar uma economia maior que vier a ser atacada pela "matilha de lobos" em que se transformou o mercado, nas palavras do ministro sueco Anders Borg.
É fato que os mercados estão criando essa volatilidade toda e pressionando os países mais endividados (cobrando juros maiores para rolar suas dívidas). É certo também que se aproveitam de uma situação de fragilidade de algumas economias (como de uma presa ferida) para elevarem seus ganhos.
Mas não deixa de ser totalmente verdade também que alguns países europeus viveram muito além de suas possibilidades ao longo de muitos anos, em um período de grande oferta de dinheiro barato ao redor do mundo. Se endividaram e gastaram a vontade.
Agora, a conta chegou e a zona do euro terá de dar um jeito de pagar. Ou extirpar os membros que agiram de forma irresponsável.
Os três quadros nesta página mostram os rombos nas contas de Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha; para quem esses países devem; e como a instabilidade já se reflete no mercado de ações na comparação com os EUA.

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Abaixo, veja também link de entrevista com o economista Amir Khair, especialista em finanças públicas (ele foi secretário da Fazenda do Município de São Paulo).
Khair fala sobre Grécia, os desafios que a crise coloca ao Brasil e mostra uma visão incomum (mas totalmente coerente) sobre o que pode ser feito para manter o Brasil na rota do crescimento sustentável

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