15/05/2010 - vermelho.org.br
Audiência pública comprova descalabro das privatizações em SP
Passados 14 anos da privatização do setor energético paulista o e apenas dois dias do apagão produzido pela multinacional norte-americana AES-Eletropaulo - que deixou o centro da capital paulista sem luz por quase oito horas, o plenário Franco Montoro, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, foi palco quinta-feira (13) da audiência pública “Chega de pagar para ficar no escuro”.A audiência pública promovida pelo Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia), Federação dos Trabalhadores Urbanitários do Estado de São Paulo (FTIUESP) e pelo deputado Rui Falcão (PT) reuniu dezenas de lideranças sindicais, dos movimentos sociais e parlamentares, que condenaram o sucateamento do sistema elétrico paulista e a sua entrega ao capital privado – a maioria internacional – que tem multiplicado os apagões. E iluminado os seus cifrões.
SERRA BATE O MARTELO: Entre os absurdos proporcionados pelo desmantelamento do patrimônio público dos paulistas, foi lembrado que multinacionais como a AES Eletropaulo, chegaram mesmo a dar calote na dívida com o BNDES, sem falar na proliferação de CNPJs para driblar a fiscalização... E como não recordar do afinco do então ministro do Planejamento de FHC, José Serra, segurando o martelo da privatização da Espírito Santo Centrais Elétricas (Escelsa)? (foto ao lado)
Logo no início do evento foi lida uma carta do presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e líder eletricitário, Artur Henrique, com a qual lembrava que a privatização do setor era “uma tragédia anunciada” em que os tucanos “rifaram o patrimônio público” em nome do “abate de uma dívida que só cresceu, enquanto as tarifas subiram astronomicamente, a qualidade dos serviços despencou e os apagões se tornam cada vez mais freqüentes, penalizando duplamente a população”.
ALTAS TARIFAS - Levantamento apresentado pelo presidente da Federação dos Urbanitários, Djalma de Oliveira, demonstrou que após a privatização/desnacionalização, a energia brasileira passou a ser a quinta mais cara do mundo, algo completamente injustificável, principalmente porque países com a mesma matriz hidráulica, como Canadá e Noruega, ocupam respectivamente a 29ª e 30ª posição. Depois da “venda” do patrimônio público, apontou Djalma, as tarifas aumentaram em mais de 200% acima da inflação, com percentuais que estampam o tamanho do crime cometido pelo tucanato. Na década de 1997/2007, contra uma inflação acumulada de 96,80% (ICV-Dieese) ou 93,53% (IPCA-IBGE), o reajuste de energia elétrica na Região Sudeste alcançou 261,63% (comercial); 262,94% (residencial) e 395,74% (industrial).
O presidente do Sinergia, Jesus Garcia, citou a verdadeira epidemia de acidentes de trabalho ocorrida por conta da precarização e terceirização dos serviços, “que são um câncer no setor elétrico” e denunciou a prática antissindical das empresas que amealharam o patrimônio público e que “agora não dão a mínima justificativa para descumprirem acordos com os trabalhadores”.
Entre os inúmeros exemplos de descalabro, foi citada a explosão da uma subestação de energia no bairro de Pirituba, na Capital, em novembro de 2009, causada por falta de pessoal e de manutenção.
ATRASO - Na lembrança de todos, reforçada com um gráfico apresentado pelo presidente do Sinergia, a falta de operadores que fez o Estado de São Paulo bater o recorde de demora para restabelecer a energia após o “apagão”, com 6 horas e 12 minutos; contra 5 horas e 3 minutos do Rio; 3 horas e 46 minutos do Espírito Santo e apenas duas horas de Minas Gerais, segundo dados do próprio Operador Nacional do Sistema (NOS).
O deputado Rui Falcão falou da extrema dificuldade encontrada pelos parlamentares para fiscalizar as empresas após as privatizações. “Os serviços privatizados pioraram e os preços das tarifas representam um peso no orçamento doméstico e um aumento nos custos de produção. Hoje, São Paulo está à mercê dos monopólios privados”. O parlamentar comunicou que pretende, através de projeto de lei, amparado na mobilização popular, retirar a Companhia Energética de São Paulo (CESP) da lista de empresas a serem privatizadas. O petista também criticou a irracionalidade de repassar o patrimônio público dos paulistas para mãos estrangeiras, como foi o caso da CTEEP, de posse dos colombianos da ISA.
Fazendo um histórico do descalabro tucano, o parlamentar lembrou que as privatizações renderam R$ 32,9 bilhões, mas o Balanço Geral do Estado mostra que a dívida consolidada cresceu de R$ 34 bilhões em 1994 para R$ 138 bilhões em 2004. “Resumo da privataria: Alckmin vendeu 2/3 das estatais, mas a dívida cresceu 33,5% em dez anos” , frisou.
“Não há razão para enxugamento das estruturas, para não cumprir contratos, para não investir em manutenção preventiva, em expansão da rede, porque essas empresas privadas já acumulam mais de R$ 20 bilhões de geração de caixa, com lucros superiores a R$ 15 bilhões”, destacou o parlamentar petista. Conforme Rui Falcão, apenas nos últimos seis anos, cinco empresas alcançaram geração de caixa de R$ 17.65 bilhões: CTEEP (R$ 5,03 bilhões); EBE (1,53 bilhões) ; Eletropaulo (R$ 4,951 bilhões); AES Tietê (R$ 3,92 bilhões) e Duke (R$ 2,21 bilhões).
DEMISSÕES - Uma pesquisa realizada pela subseção do Dieese-Energéticos com base em relatórios da administração, compara o número de trabalhadores das empresas na época da sua privatização (25.677) com o ano de 2008 (14.055), comprovando a redução de 45,26% no quadro de funcionários. Houve perda de postos de trabalho em todas as privatizadas: CPFL - de 5.524 trabalhadores baixou para 3.028 (-45,18%); Eletropaulo – de 7.668 para 4.141 (-46%); CTEEP – ISA – de 2.737 para 1.327 (-51,52%); AES Tietê – de 832 para 318 (-61,78%); DUKE – de 400 para 304 (-24%); Bandeirante – de 4.503 para 1.068 (-76,28%); Elektro – de 2.757 para 2.678 (-2,87%) e CPFL Piratininga – de 1.256 para 1.191 (-5,18%).
ACIDENTES - O número de acidentes no setor entre 1999/2008 não deixa dúvidas sobre os graves riscos - para o usuário - da substituição de trabalhadores qualificados por pessoal de “empresas contratadas”. Ocorreram neste período 1368 acidentes (+ 56,8%) com o público – envolvendo tratamento médico de zero a 15 dias; 236 acidentes (+ 233,33%) com tratamento médico de 15 dias a dois meses; 141 acidentes (+500%) com tratamento médico de dois a quatro meses; 120 acidentes (-21,43%) com lesões corporais graves (perda de órgãos e invalidez temporária, etc.) e 566 acidentes (+26,47%) com morte ou invalidez permanente. No mesmo período os acidentes com empresas contratadas foram 1498 (+ 41,25%) envolvendo tratamento médico de zero a 15 dias;, 273 acidentes (+ 75,00%) com tratamento médico de 15 dias a dois meses; 81 acidentes (+80%) com tratamento médico de dois a quatro meses; 29 acidentes com lesões corporais graves (perda de órgãos e invalidez temporária, etc.) e 56 acidentes (+100%) com morte ou invalidez permanente.
DESCULPAS - O apagão que atingiu cinco bairros centrais de São Paulo na terça-feira (11) (Bela Vista, Campos Elíseos, Higienópolis, Santa Cecília e República) foi ocasionado, conforme a AES-Eletropaulo, pelo rompimento de uma emenda em cabo subterrâneo no Largo do Arouche. Há denúncias do Sindicato sobre demissões de técnicos altamente qualificados e falta de investimento.
A multinacional é uma das empresas que questionou as novas regras de aferição da qualidade do serviço, em vigor desde 1º de janeiro, e que deveriam ter gerado abatimentos – a partir das contas de abril - pelo não fornecimento de energia
Recentemente a AES Eletropaulo anunciou o pagamento de dividendos relativos ao exercício de 2009, a ser realizado em duas parcelas no valor total de R$ 686,316 milhões.
Fonte: portal da CUT
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