quinta-feira, 28 de abril de 2011

Chernobyl: Uma cidade fantasma assombrada pelo perígo mortal da radiação

Via MSN
O perigo de Chernobyl continua vigente
Alina em frente a sua antiga casa
Crédito: Cortesia de Alina Rudya 
Prípat, Ucrânia, 26/4/2011 – Eram quase seis da manhã do dia 26 de abril de 1986 quando Alexey Breus saiu de seu apartamento rumo ao trabalho, no Reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, sem saber que há cinco horas havia começado o histórico desastre nuclear. “Quando cheguei de ônibus vi a destruição. Fiquei arrepiado”, contou à IPS.

Alexey soube que havia ocorrido algo horrível. Até então não se dera conta de sua relativa sorte, 15 operadores e seis bombeiros haviam morrido. “Passei todo o dia correndo na sala de controle tentando retirar água do reator. Senti náuseas, outros vomitaram”, contou.

Às quatro da tarde seu chefe decidiu que os esforços eram inúteis e ordenou que todos abandonassem o recinto. “Fui a última pessoa a apertar botões e interruptores para tentar acertar as coisas”, afirmou Alexey. Quando trocou de roupa notou que sua pele estava meio bronzeada, mas até então desconhecia a gravidade da situação e parou para comprar pão antes de ir para casa.

A explosão do Reator 4 da usina de Chernobyl liberou 200 vezes mais radiação do que as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, e deixou quatro mil mortos, 40% do território europeu contaminado e mais de 400 mil desabrigados. O Reator foi enterrado sob uma estrutura de concreto, conhecida como sarcófago, que ainda contém combustível altamente radioativo, e que será substituída por uma nova construção.

A maioria dos trabalhadores da usina e seus familiares residiam em Prípiat, cidade de 50 mil habitantes que, estando a um quilômetro de Chernobyl, teve de ser evacuada de forma permanente. Vinte e cinco anos depois, Alexey regressa em busca da Rua Lênin, onde vivia seu amigo Konstantin Rudya. Ex-engenheiro da usina nuclear, que vivia ali com sua mulher e a filha Alina. A jovem, que agora estuda fotografia em Berlim, regressou com ele a Prípiat, de onde foi evacuada nos braços de sua mãe.

Konstantin morreu há cinco anos de um câncer repentino e implacável na coluna vertebral com características inexplicáveis pelos médicos. No prazo de um mês passou de simples dor nas costas a não poder movimentar o torso que, segundo os que estiveram com ele, fazia um arrepiante ruído de vidro quebrado. A autópsia revelou que parte de sua coluna tinha se transformado em uma esponja calcificada e que desaparecera o resto do osso. “Nesse momento me dei conta do que significa Chernobyl”, disse Alina, que na época estudava em Budapeste.

Prípiat foi lentamente devorada por uma vegetação agressiva e indiferente, com árvores que crescem dentro dos edifícios. O que foi uma cidade futurista com jovens promissores se converteu em um doloroso monumento da extinta era soviética.

Nervosa, Alina procurou pelo apartamento da família. Deixou para traz as portas entreabertas do elevador para subir as escadas de madeira, muito deterioradas após anos de infiltração de água. Teve que entrar em vários antes de encontrar o seu. Não há quase objetos em muitos dos apartamentos. Prípiat perdeu seus tesouros após anos de pilhagens. Alina se deu conta de que estava em sua casa quando, perto de uma janela do quarto andar, viu uma foto sua quando bebê deixada de propósito por seu pai, que morreu aos 47 anos.

Sua mãe, Marina, não quer regressar, mas ainda se lembra dos dias surrealistas que se seguiram ao acidente. Quando Konstantin chegou à sua casa, fechou as janelas e deu iodo a ela e sua filha. Todos sabiam que algo não ia bem, mas as pessoas continuavam nadando no rio. As autoridades interromperam todas as formas de comunicação. Era impossível fazer ligações telefônicas e sair ou chegar à cidade, até que foi anunciado por alto-falantes a evacuação obrigatória. Tinha se passado 36 horas da explosão do Reator 4.

“Alguns amigos fizeram uma pequena mala com roupas para uma semana, nunca imaginei que não voltaríamos”, disse Marina à IPS. Não quero nem pensar no risco que ainda se corre pela exposição a altas doses, potencialmente letais, de radiação. “Os que pensam na morte o tempo todo, morrem primeiro”, acrescentou. As duas devem fazer exames clínicos todos os anos, mas Alina confessa que os evita por medo.

O sofrimento da família Rudya não mudou sua opinião favorável à energia nuclear, que compartilham com a maioria dos ucranianos e o governo, que prevê construir 22 novos reatores até 2030.

No apartamento de Marina em Kiev há muitas fotografias de Konstantin sorrindo dentro da usina nuclear de Chernobyl. Ele recebeu muitas ofertas de trabalho do exterior, mas sempre quis ficar na Ucrânia. Seu trabalho o levou a realizar frequentes incursões no sarcófago mortal. “Nunca pesou em ir embora da Ucrânia, era um patriota, queria ficar em Kiev e por isso continuou trabalhando em Chernobyl”, disse Marina à IPS. 

Envolverde/IPS
FOTOCrédito: Cortesia de Alina Rudya
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