domingo, 24 de outubro de 2010

Marilena Chauí - Serra é uma ameaça a democracia e aos direitos sociais

Serra é uma ameaça a democracia e aos direitos sociais    
         Leia e assista a entrevista da filósofa Marilena Chauí sobre a importância da eleição de Dilma, no Youtube. Transcrição da entrevista:
         Serra é uma ameaça a democracia
            “O que é a democracia? A democracia não é apenas um regime formal da lei e da ordem. O que é a democracia, que a faz diferente de todos os outros regimes políticos? É que ela é a criação de direitos. A consolidação e a criação de direitos. E, quando tomamos o governo Lula, o que é que nós vemos? Nós vemos justamente a criação de direitos. O acesso a cidadania. O acesso a milhões de brasileiros que estavam excluídos. Os programas sociais fizeram com que os direitos sociais e econômicos e culturais fossem garantidos para todos os brasileiros.
             A democracia, na medida em que ela cria direitos, ela exige que um país seja reconhecido pela sua estabilidade interna, pela capacidade da sua economia de assegurar a tranquilidade dos seus cidadãos. O que foi o governo Lula? Foi exatamente isso. E que nos permitiu atravessar uma crise que abalou o mundo inteiro e não nos atingiu. E um governo democrático, é aquele que garante o direito da nação de aparecer como autônoma, independente, falando de igual para igual diante das grandes potências mundiais.
            Nós estávamos acostumados com um Brasil submisso, um Brasil que obedecia ordens da Europa e dos Estados Unidos. O que temos agora, é um Brasil que tem os seus direitos internacionais afirmados e garantidos. Diante desta realização democrática, um governo possível, impossível ou melhor improvável, jamais virá, mas se houvesse, um governo Serra, significaria a liquidação desta economia. Por quê?.
            Comecemos (a responder esta questão) pelos direitos sociais e políticos. O que caracteriza uma política neoliberal? A gente pensa no enxugamento do estado, e pensa sempre na privatização de empresas. É claro, como FHC declarou em público várias vezes, a alma da privatização da Vale do Rio Doce foi o Serra. E agora, podem ler no Jornal Valor Econômico, apretenção deles de privatizar o pré-sal.
            Mas o mais grave neste enxugamento do Estado, é o que acontece com os direitos sociais, porque o Estado deixa de ter responsabilidade pelos direitos sociais - como a Educação, como a Saúde, mas transforma estes direitos em serviços para serem vendidos e comprados no mercado. Isso é a privatização dos direitos, a desaparição dos direitos sociais, dos econômicos, dos direitos culturais. Isso é uma destruição da democracia.
            É isso que Serra representa. Representa um Brasil internacionalmente submisso. Um Brasil sem direitos sociais, econômicos e culturais, e um Brasil de privatização das coisas mais importantes que asseguram a nossa economia. Não é possível admitir uma coisa dessa.

            Mídia de Serra parte para a desinformação  
            A democracia como nós vimos é a criação de direitos. Um dos direitos fundamentais da democracia é o direito à palavra, direito ao pensamento, o direito à expressão, e o direito à opinião. Isso é o núcleo da democracia. Serra e os seus apoiadores são uma ameaça para este direito fundamental. A prova disso, temos várias. Por exemplo: a espetacular e risível e absurda demissão da colunista Maria Rita Kiel do Estadão, porque ela escreveu um artigo que contraria a linha editorial do jornal. Isso de um jornal que estava fazendo a campanha da liberdade de imprensa, da liberdade de opinião contra o PT, quando uma voz discordante se ergueu - demissão.
            Isso é o que eles entendem por liberdade de pensamento e opinião. Mas não é só isso que é desrespeitado. O que é desrespeitado é o direito fundamental de produzir a informação, difundir a informação, e ter acesso à informação. Ora, o que a mídia apoiadora do Serra tem feito? Ela tem feito a desinformação. Exemplos: Na versão eletrônica, uma das mídias afirmou que Romeu Tuma tinha morrido. Depois desdisse, mas isso alertou uma quantidade grande de eleitores e mudou a eleição para o Senado. E era mentira.
            O jornal Folha de São Paulo publicou em manchete que Dilma ia tirar o aborto do programa. Porque isso é mentira? Porque o aborto não está no programa da Dilma. Ou seja, a desinformação, é a destruição da opinião pública. Aliás, não é de admirar que 80% dos brasileiros, pelas pesquisas, consideram o governo Lula bom e ótimo. Não é curiosíssimo que a mídia não faz outra coisa senão dizer que este é pior governo do mundo. Então, que valor tem estes 80% de opinião pública – nenhum!
            A mídia não tem nenhum respeito pela verdade opinião pública dos cidadãos. Mas por que a desinformação? Qual é a finalidade dessa desinformação?  A finalidade da desinformação não apenas manter o eleitorado na ignorância. É introduzir como tema de discussão alguns temas fragmentados sem contexto nenhum, e querer transformar estes temas isolados e fragmentados nos temas eleitorais.
            Por quê isso? Porque a verdadeira discussão é a discussão de dois projetos de nação diferentes. Mas o Serra não quer discutir o projeto dele. Ele não quer discustir o projeto dele, porque sabe a avaliação que nós temos do governo Fernando Henrique. Então como ele (Serra) não quer discutir o programa dele, em função do medo que ele tem do que é o significado deste programa, eles entraram na desinformação. Em outras palavras, o que é a desinformação – é a desconversa. Serra quer marcar ponto com a desconversa. Mas nenhum cidadão vai se iludir com uma conversa dessa não é?
            Serra se traveste de ambientalista. Ele representa o agro-negócio
            Quando a gente analisa os mapas eleitorais do segundo turno há uma coisa surpreendente. O Serra venceu em todas as regiões do agro-negócio. Ele venceu nas regiões ruralistas. Nas regiões do Dem. Nas regiões de latifúndio. Ora ele venceu nas regiões que fazem desmatamento. Que atacam o meio ambiente. Que impedem as ações dos ambientalistas. Eu tenho certeza que diante da presença do Dem, que é o vice do Serra, da votação que ele teve do agro-negócio, nenhum ambientalista consciente, que pensa nas gerações futuras (eu cheguei numa idade que são as gerações futuras que contam), é por isso que eu tenho um enorme respeito pelos pelo meio ambiente e pelos ambientalistas. E, eu tenho certeza que eles percebem a farsa que está sendo montada, na medida em que aquele que é o candidato do agro-negócio, candidato dos ataques ao meio-ambiente queira se apresentar como um ambientalista. E, isso é tão claro, e eu tenho certeza que foi por isso que a Marina disse em diversas ocasiões que tem o PT no coração e o PV no coração. Não podemos brincar com isso, porque é verdeade. É o que há de importante na questão ambiental.
            Portanto, Serra não apenas uma ameaça para a república, uma ameaça para a democracia, uma ameaça para a liberdade de pensamente e da palavra, ele também é uma ameaça para o meio-ambiente.
            Competência e sensibilidade de Dilma
            Olha é uma alegria e uma felicidade que o Brasil venha a ter uma mulher presidente. Eu penso que pertenço a uma geração que foi privilegiada. Uma geração que viu Mandela na presidência, que viu Lula na presidência, viu um operário na presidência, e viu Obama na presidência, e agora vai ver uma mulher na presidência. Eu sempre digo que é muita coisa para uma geração só. Mas é uma maravilha.
            Eu conheço Dilma de duas maneiras. Por um lado eu a conheço pelo seu trabalho. Eu a conheço a partir do momento que ela fez aquela grande exposição pelo PAC, eu fiquei muito impressionada – com a coerência, com a competência, com a capacidade de gestão, e com a capacidade de compreender a relação entre administração e política, entre governo e democracia. Eu fiquei muito impressionada com ela, quando em anos atrás, ela expôs o PAC.
            Depois eu a conheci pessoalmente. Então, além de apreciá-la, eu sinto uma enorme admiração. Eu participei de um encontro pequeno, com várias mulheres, de diferentes profissões, de diferentes tendências políticas, diferentes tentências religiosas, e que fizeram muitas perguntas, numa conversa, e Dilma me impressionou - pela clareza, certeza dos seus pontos de vista, pela capacidade de escutar o outro, ponderar e raciocinar, pela compreensão que ela tem dos problemas globais, do Brasil e do mundo. Eu fiquei impressionadíssima com sua competência, com a coerência, com a clareza, e sobretudo, com essa capacidade que poucas pessoas têm, de escutar o outro e pensar a partir do que o outro diz. E isso nós sabemos é o coração da democracia. Viva a Dilma e viva o povo brasileiro. 

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