Observatório da Imprensa - LEITURAS DE ÉPOCA
A saúde da presidente
Por Luciano Martins Costa em 30/05/2011 na edição 643
Comentário para o programa radiofônico do OI, 30/5/2011
A manchete da revista Época desta semana poderia induzir a um interessante debate sobre limites do direito à informação. Sim, há limites para essa liberdade mesmo nas mais avançadas democracias do mundo. Uma dessas restrições diz respeito a informações sobre a saúde de alguém.
No caso da Época, trata-se de ampla reportagem vasculhando os exames médicos, boletins, medicamentos e cuidados dispensados à presidente da República, Dilma Rousseff.
Há quem diga que a vida pública tem tantas benesses que a eventual perda de privacidade seria um custo irrelevante. No entanto, no caso da atual presidente, a análise precisa levar em conta um contexto muito específico.
Em primeiro lugar, a capa de Época traz o relato sobre uma suposta vulnerabilidade na saúde de Dilma Rousseff no momento em que praticamente toda a imprensa tenta convencer a opinião pública de que ela também é politicamente frágil. Essa visão foi construída pelos jornais da semana passada ao relatar a votação do projeto de mudanças no Código Florestal em meio a discussões sobre o enriquecimento do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.
Informações facilitadas
Para dez entre dez comentaristas da imprensa, a entrada em cena do ex-presidente Lula da Silva, que reuniu lideranças de seu partido para animar um movimento de reação aos ataques contra Palocci, representava um sinal de fraqueza da presidente diante da primeira crise de seu governo.
No entanto, há bastante controvérsia sobre o papel exercido por Lula nesses dias – inclusive a possibilidade de seu protagnismo ter sido encomendado justamente para distrair a atenção da imprensa – suficiente para fundamentar interpretações opostas. Por exemplo, a de que Dilma, com isso, ganhou tempo para rearrumar a casa.
Se a reportagem de Época levasse o leitor a concluir que a presidente da República tem uma saúde tão frágil que poderia comprometer seu desempenho no cargo, estaria desenhado um quadro ao gosto dos adeptos de teorias conspiratórias.
Como o resultado da reportagem convence o leitor de que Dilma Rousseff teve, sim, problemas graves de saúde mas segue em boas condições e sob controle médico, resta concluir que as informações foram facilitadas pelo próprio governo, com a participação dos especialistas que a atendem.
terça-feira, 31 de maio de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Novo Código Florestal - Entenda a polêmica.
25/5/2011 - 11h35
Com emenda polêmica, Câmara aprova projeto do novo Código Florestal
Via envolverde.com.br
Foram 410 votos a favor, 63 contrários e 1 abstenção. Além da aprovação do projeto em si, a emenda 164, aprovada por 273 votos a 182 rachou a base do governo, o que levou os principais partidos governistas (PT e PMDB) para lados opostos. O texto da emenda consolida a manutenção de atividades agrícolas nas APPs (áreas de preservação permanente), autoriza os Estados a participarem da regularização ambiental e deixa claro a anistia para os desmates registrados até junho de 2008.
Entre outras medidas, o Código define a isenção da Reserva Legal para as propriedades de até quatro módulos (20 a 400 hectares, dependendo do Estado), ponto do qual o governo é contra. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a medida deixará 15 milhões de hectares, o equivalente ao território do Acre, sem reflorestamento. A emenda e o texto de Rebelo foram considerados um retrocesso pelos ambientalistas que se revezaram na tribuna para fazer críticas à proposta.
“É uma vergonha para o Brasil. A emenda muda a essência do texto do deputado Aldo Rebelo”, criticou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que chegou a falar em nome da presidente da República. Contrário ao protesto, o colega da base aliada e líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), negou que o texto, acordado com aliados e oposicionistas, seja uma derrota. “Sou o governo Dilma, não aceito que se diga aqui que está se derrotando o governo. Como, se a proposta é nossa?”, questionou.
A emenda proposta pelo PMDB, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), dá aos estados e ao Distrito Federal (DF), assim como a União, o poder de legislar sobre a política ambiental. Vacarezza afirmou que Dilma irá vetá-la caso o Senado não a retire do projeto.
Matéria publicada pelo EcoD em 25 de abril mostrou a opinião de especialistas sobre a possibilidade de os estados estabelecerem códigos florestais próprios. “Se começarem a pipocar leis estaduais, vai haver uma insegurança jurídica muito ruim”, alertou o professor de direito ambiental da PUC-PR, Vladimir Passos de Freitas. A Constituição Federal permite que os estados legislem sobre o tema desde que não sejam mais permissivos que as leis federais. Caso contrário, a lei pode ser considerada inconstitucional
Entenda a polêmica acerca do Código
Criado em 1965, no início da Ditadura Militar (1964-1985), o Código Florestal determina como deve ser a preservação de rios, florestas e encostas, combinada com a produção de alimentos e a criação de gado. Com o passar dos anos, a legislação tem sofrido várias modificações. Há 12 anos o Congresso tenta discutir um novo texto.
Agora, o governo pretende reverter no Senado os pontos dos quais é contra, além de ampliar a punição do agricultor que for reincidente em crimes ambientais. Caso não consiga desfazer o cenário, a presidente Dilma Rousseff pretende vetar parte dessas medidas. Na campanha eleitoral, Dilma se comprometeu a não autorizar projetos que estabelecessem a redução de reserva legal e das APPs.
* Publucado originalmente no site EcoD.
Com emenda polêmica, Câmara aprova projeto do novo Código Florestal
Via envolverde.com.br
Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
O relator do novo Código Florestal, deputado Aldo Rebelo (ao centro), comemora aprovação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados.
Depois de muitas semanas de negociações, conflitos de interesses e troca de farpas, a Câmara dos Deputados aprovou na noite da terça-feira, 24 de maio, o texto-base do projeto que busca reformar o Código Florestal brasileiro (que já existia desde 1965), com mudanças que podem ser consideradas uma derrota para o governo. Agora, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) segue para o Senado e, após passar pela Casa, terá a sanção ou o veto da presidente Dilma Rousseff.
O relator do novo Código Florestal, deputado Aldo Rebelo (ao centro), comemora aprovação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados.
Depois de muitas semanas de negociações, conflitos de interesses e troca de farpas, a Câmara dos Deputados aprovou na noite da terça-feira, 24 de maio, o texto-base do projeto que busca reformar o Código Florestal brasileiro (que já existia desde 1965), com mudanças que podem ser consideradas uma derrota para o governo. Agora, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) segue para o Senado e, após passar pela Casa, terá a sanção ou o veto da presidente Dilma Rousseff.
Foram 410 votos a favor, 63 contrários e 1 abstenção. Além da aprovação do projeto em si, a emenda 164, aprovada por 273 votos a 182 rachou a base do governo, o que levou os principais partidos governistas (PT e PMDB) para lados opostos. O texto da emenda consolida a manutenção de atividades agrícolas nas APPs (áreas de preservação permanente), autoriza os Estados a participarem da regularização ambiental e deixa claro a anistia para os desmates registrados até junho de 2008.
Entre outras medidas, o Código define a isenção da Reserva Legal para as propriedades de até quatro módulos (20 a 400 hectares, dependendo do Estado), ponto do qual o governo é contra. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a medida deixará 15 milhões de hectares, o equivalente ao território do Acre, sem reflorestamento. A emenda e o texto de Rebelo foram considerados um retrocesso pelos ambientalistas que se revezaram na tribuna para fazer críticas à proposta.
“É uma vergonha para o Brasil. A emenda muda a essência do texto do deputado Aldo Rebelo”, criticou o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que chegou a falar em nome da presidente da República. Contrário ao protesto, o colega da base aliada e líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), negou que o texto, acordado com aliados e oposicionistas, seja uma derrota. “Sou o governo Dilma, não aceito que se diga aqui que está se derrotando o governo. Como, se a proposta é nossa?”, questionou.
A emenda proposta pelo PMDB, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), dá aos estados e ao Distrito Federal (DF), assim como a União, o poder de legislar sobre a política ambiental. Vacarezza afirmou que Dilma irá vetá-la caso o Senado não a retire do projeto.
Matéria publicada pelo EcoD em 25 de abril mostrou a opinião de especialistas sobre a possibilidade de os estados estabelecerem códigos florestais próprios. “Se começarem a pipocar leis estaduais, vai haver uma insegurança jurídica muito ruim”, alertou o professor de direito ambiental da PUC-PR, Vladimir Passos de Freitas. A Constituição Federal permite que os estados legislem sobre o tema desde que não sejam mais permissivos que as leis federais. Caso contrário, a lei pode ser considerada inconstitucional
Entenda a polêmica acerca do Código
Criado em 1965, no início da Ditadura Militar (1964-1985), o Código Florestal determina como deve ser a preservação de rios, florestas e encostas, combinada com a produção de alimentos e a criação de gado. Com o passar dos anos, a legislação tem sofrido várias modificações. Há 12 anos o Congresso tenta discutir um novo texto.
Em outubro de 2009, Rebelo assumiu a relatoria do projeto. À época, o deputado apresentou um documento que foi alvo de críticas de ambientalistas e ruralistas. Ao longo do trabalho, o parlamentar foi acusado de defender os interesses do agronegócio e promover a anistia de desmatadores. Em resposta, ele afirmou que estava trabalhando pelo equilíbrio dos interesses do meio ambiente e da agricultura. “Como relator, não aguento mais amarrar e desamarrar esse fecho de lenha e carregá-lo por mais tempo. É o momento de votarmos e deixarmos que o Senado realize seu trabalho.”
Agora, o governo pretende reverter no Senado os pontos dos quais é contra, além de ampliar a punição do agricultor que for reincidente em crimes ambientais. Caso não consiga desfazer o cenário, a presidente Dilma Rousseff pretende vetar parte dessas medidas. Na campanha eleitoral, Dilma se comprometeu a não autorizar projetos que estabelecessem a redução de reserva legal e das APPs.
* Publucado originalmente no site EcoD.
Lula foi escalado para atrair a marcação. Imprensa levou "olé".
CASO PALOCCI
A imprensa foi driblada
Por Luciano Martins Costa em 28/05/2011 na edição 643
Comentário para o programa radiofônico do OI, 27/5/2011
Os jornais de sexta-feira (27/5) dão grande repercussão às recentes manifestações da presidente Dilma Rousseff, que saiu em defesa do seu ministro da Casa Civil e veio a público anunciar que não aprova o material didático contra a homofobia que deveria ser distribuído em escolas públicas.
Como se todas as reportagens tivessem sido preparadas pelo mesmo editor, em todas elas está dito, explicita ou implicitamente, que a decisão da presidente de vir a público criticar a "politização" das denúncias contra Antonio Palocci foi resultado de uma orientação de seu antecessor, o ex-presidente Lula da Silva.
Da mesma forma, afirmam os jornais que a declaração da presidente a respeito do "kit" anti-homofobia foi uma imposição da chamada bancada religiosa.
O contrário
A imprensa tem todo direito – e é parte de suas atribuições – de buscar interpretações para os fatos. Esse é um dos elementos do processo pelo qual um fato vira notícia. No entanto, sem a apresentação de fontes qualificadas, a afirmação de que a principal autoridade do país só se move por estímulo externo é não apenas desrespeitosa com relação à figura da presidente, mas também revelação de desconhecimento sobre como funciona o sistema de decisões do Planalto.
Jornalistas que já frequentaram os centros do poder no país sabem que em torno de todas as decisões importantes sempre há um grupo de especialistas e que nenhum mandatário, nem mesmo o ex-presidente Fernando Collor, que tinha uma característica mais personalista, dispensava o auxílio de seus conselheiros.
Em momentos como o que tem vivido o governo nos últimos dias, o gabinete de crise reúne-se quase automaticamente, e dele fazem parte especialistas de diversas áreas. De modo geral, acontece quase naturalmente uma troca intensa de mensagens com opiniões, avaliações, dados estatísticos e até, eventualmente, pesquisas rápidas para previsão de resultados de cada alternativa apresentada. Acontece o mesmo nas grandes empresas, em eventos como acidentes graves e outros incidentes que possam prejudicar suas marcas.
A visita do ex-presidente Lula da Silva a Brasília, com sua proverbial capacidade para aglutinar e produzir factóides, pode ter sido exatamente o contrário do que supôs a imprensa. Enquanto Lula distraia a atenção dos jornalistas, o gabinete de crise penteava a declaração "de improviso" da presidente da República.
A imprensa tomou um drible no melhor estilo Neymar.
A imprensa foi driblada
Por Luciano Martins Costa em 28/05/2011 na edição 643
Comentário para o programa radiofônico do OI, 27/5/2011
Os jornais de sexta-feira (27/5) dão grande repercussão às recentes manifestações da presidente Dilma Rousseff, que saiu em defesa do seu ministro da Casa Civil e veio a público anunciar que não aprova o material didático contra a homofobia que deveria ser distribuído em escolas públicas.
Como se todas as reportagens tivessem sido preparadas pelo mesmo editor, em todas elas está dito, explicita ou implicitamente, que a decisão da presidente de vir a público criticar a "politização" das denúncias contra Antonio Palocci foi resultado de uma orientação de seu antecessor, o ex-presidente Lula da Silva.
Da mesma forma, afirmam os jornais que a declaração da presidente a respeito do "kit" anti-homofobia foi uma imposição da chamada bancada religiosa.
O contrário
A imprensa tem todo direito – e é parte de suas atribuições – de buscar interpretações para os fatos. Esse é um dos elementos do processo pelo qual um fato vira notícia. No entanto, sem a apresentação de fontes qualificadas, a afirmação de que a principal autoridade do país só se move por estímulo externo é não apenas desrespeitosa com relação à figura da presidente, mas também revelação de desconhecimento sobre como funciona o sistema de decisões do Planalto.
Jornalistas que já frequentaram os centros do poder no país sabem que em torno de todas as decisões importantes sempre há um grupo de especialistas e que nenhum mandatário, nem mesmo o ex-presidente Fernando Collor, que tinha uma característica mais personalista, dispensava o auxílio de seus conselheiros.
Em momentos como o que tem vivido o governo nos últimos dias, o gabinete de crise reúne-se quase automaticamente, e dele fazem parte especialistas de diversas áreas. De modo geral, acontece quase naturalmente uma troca intensa de mensagens com opiniões, avaliações, dados estatísticos e até, eventualmente, pesquisas rápidas para previsão de resultados de cada alternativa apresentada. Acontece o mesmo nas grandes empresas, em eventos como acidentes graves e outros incidentes que possam prejudicar suas marcas.
A visita do ex-presidente Lula da Silva a Brasília, com sua proverbial capacidade para aglutinar e produzir factóides, pode ter sido exatamente o contrário do que supôs a imprensa. Enquanto Lula distraia a atenção dos jornalistas, o gabinete de crise penteava a declaração "de improviso" da presidente da República.
A imprensa tomou um drible no melhor estilo Neymar.
Pedágio estimula o uso do avião. Ê ê êêê São Paulo...
CartaCapital - http://www.cartacapital.com.br -
Pedágio deixa transporte aéreo mais barato que carro em algumas regiões
Posted By Rede Brasil Atual On 26 de maio de 2011 @ 17:44 In Economia
Por Suzana Vier*
São Paulo – Depois de comparar o custo da viagem de automóvel com a de avião entre São Paulo e Ribeirão Preto, distantes 316 quilômetros, a arquiteta Juliana Vilarta optou pela passagem aérea. “Para viajar sozinha, é mais barato viajar de avião. Não que seja barato, mas vale mais a pena”, calcula.
O preço mais acessível das passagens aéreas e o número crescente de praças de pedágio no estado levam cada vez mais pessoas a aderir ao avião, no lugar do carro ou do ônibus. Atualmente, o estado tem 239 pontos de pedagiamento em 98 cidades. Em diferentes comparações entre trechos ligando a capital ao sul de Minas Gerais, ao norte, e à região central do estado, os pedágios tornam o custo da viagem de avião mais em conta para cumprir os mesmos percursos.
Nos últimos dois meses, Juliana viajou, na maioria das vezes, de avião. “Já cheguei a pagar R$ 79 por um voo que demora 54 minutos. O ônibus fica em R$ 60 e levo seis horas”, compara a arquiteta. Para o mês de junho, ela já tem passagem comprada por R$ 98, antecipou à Rede Brasil Atual.
No site da empresa aérea que interliga os dois destinos de Juliana, a reportagem encontrou passagens a R$ 108. A viagem dura 54 minutos. Quando decide viajar de carro, Juliana tem o gasto de R$ 43,35 por oito praças de pedágio e de pelo menos mais R$ 43 se usar álcool como combustível. Se decidir utilizar gasolina, o valor sobe para cerca de R$ 57.
Ao todo, o gasto da viagem de carro fica perto de R$ 100 e vai levar cerca de cinco horas, apenas R$ 8 a menos do que o bilhete regular da companhia aérea. Para a arquiteta, que enxerga nos pedágios a principal razão para o encarecimento dos deslocamentos, é “revoltante” o quanto se gasta nestas tarifas em São Paulo. “É um absurdo, por que não tem tanta manutenção (das estradas) pelo preço cobrado”, avalia.
Écio Scandiuzzi, diretor de uma escola de idiomas, também optou pelo transporte aéreo para viajar até Uberaba (MG). Ele mora em São Paulo, mas prefere ir até o aeroporto de Viracopos (em Campinas, a 99 quilômetros da capital), onde pega um avião R$ 89 até a cidade mineira – mais 391 quilômetros.
Utilizando carro, Écio passaria por oito praças de pedágio e pagaria R$ 47,70. Acrescentando-se a despesa com combustível, o gasto total seria de R$ 115. “É mais cômodo e mais rápido”, avalia. Percorrer o trecho leva uma hora e meia de avião ou cinco de carro – que custaria R$ 26,70 a mais.
Atrativo
Em levantamentos realizados pela reportagem, em pelo menos outros três destinos no estado de São Paulo, utilizar avião mostra-se mais atrativo que usar rodovias concedidas à gestão privada.
O deslocamento de Campinas a Presidente Prudente, cidades distantes 557 quilômetros entre si, é um exemplo. A passagem aérea sai por R$ 99. De automóvel, o valor ficaria em R$ 138. O gasto com combustível fica próximo de R$ 73, se for álcool, e o de pedágios em R$ 65. Além de mais barato, o voo dura perto de uma hora e 30 minutos, ante sete horas de viagem de carro.
Para ir da capital paulista a Bauru (330 quilômetros) também é mais econômico o avião. A passagem aérea mais barata pode ser encontrada por R$ 65, contra R$ 88,33 de gasto com automóvel. Quase a metade, R$ 44,20, fica nos pedágios. O passageiro demora 58 minutos de avião e por volta de quatro horas de carro.
No trajeto de São Paulo a São José do Rio Preto, os gastos praticamente se igualam. De avião fica em R$ 119 e de automóvel R$ 120,59. Mais da metade dos gastos são de pedágio, R$ 61,50. A diferença mesmo é o tempo despendido. Cerca de uma 1 hora e 17 minutos no transporte aéreo, contra 5 horas e 30 minutos quando se vai de carro.
Os valores de pedágio e combustível foram calculados por meio do site Mapeia.com [1], especializado em cálculos de viagem.
No valor das passagens aéreas não estão incluídas as taxas de embarque cobradas pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). As taxas variam de acordo com os serviços oferecidos no local de embarque. Em aeroportos classificados pela Infraero como categoria 3, como o de Bauru e de Presidente Prudente, a taxa é de R$ 13,44. Em São José do Rio Preto, Campinas, Ribeirão Preto e Uberaba, cujos aeroportos são categoria 2, a tarifa fica em R$ 16,23, e nos aeroportos de São Paulo, categoria 1, em R$ 20,66.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/economia/pedagio-deixa-transporte-aereo-mais-barato-que-carro-em-algumas-regioes
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[1] Mapeia.com: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2011/05/www.mapeia.com.br
Pedágio deixa transporte aéreo mais barato que carro em algumas regiões
Posted By Rede Brasil Atual On 26 de maio de 2011 @ 17:44 In Economia
Por Suzana Vier*
São Paulo – Depois de comparar o custo da viagem de automóvel com a de avião entre São Paulo e Ribeirão Preto, distantes 316 quilômetros, a arquiteta Juliana Vilarta optou pela passagem aérea. “Para viajar sozinha, é mais barato viajar de avião. Não que seja barato, mas vale mais a pena”, calcula.
O preço mais acessível das passagens aéreas e o número crescente de praças de pedágio no estado levam cada vez mais pessoas a aderir ao avião, no lugar do carro ou do ônibus. Atualmente, o estado tem 239 pontos de pedagiamento em 98 cidades. Em diferentes comparações entre trechos ligando a capital ao sul de Minas Gerais, ao norte, e à região central do estado, os pedágios tornam o custo da viagem de avião mais em conta para cumprir os mesmos percursos.
Nos últimos dois meses, Juliana viajou, na maioria das vezes, de avião. “Já cheguei a pagar R$ 79 por um voo que demora 54 minutos. O ônibus fica em R$ 60 e levo seis horas”, compara a arquiteta. Para o mês de junho, ela já tem passagem comprada por R$ 98, antecipou à Rede Brasil Atual.
No site da empresa aérea que interliga os dois destinos de Juliana, a reportagem encontrou passagens a R$ 108. A viagem dura 54 minutos. Quando decide viajar de carro, Juliana tem o gasto de R$ 43,35 por oito praças de pedágio e de pelo menos mais R$ 43 se usar álcool como combustível. Se decidir utilizar gasolina, o valor sobe para cerca de R$ 57.
Ao todo, o gasto da viagem de carro fica perto de R$ 100 e vai levar cerca de cinco horas, apenas R$ 8 a menos do que o bilhete regular da companhia aérea. Para a arquiteta, que enxerga nos pedágios a principal razão para o encarecimento dos deslocamentos, é “revoltante” o quanto se gasta nestas tarifas em São Paulo. “É um absurdo, por que não tem tanta manutenção (das estradas) pelo preço cobrado”, avalia.
Écio Scandiuzzi, diretor de uma escola de idiomas, também optou pelo transporte aéreo para viajar até Uberaba (MG). Ele mora em São Paulo, mas prefere ir até o aeroporto de Viracopos (em Campinas, a 99 quilômetros da capital), onde pega um avião R$ 89 até a cidade mineira – mais 391 quilômetros.
Utilizando carro, Écio passaria por oito praças de pedágio e pagaria R$ 47,70. Acrescentando-se a despesa com combustível, o gasto total seria de R$ 115. “É mais cômodo e mais rápido”, avalia. Percorrer o trecho leva uma hora e meia de avião ou cinco de carro – que custaria R$ 26,70 a mais.
Atrativo
Em levantamentos realizados pela reportagem, em pelo menos outros três destinos no estado de São Paulo, utilizar avião mostra-se mais atrativo que usar rodovias concedidas à gestão privada.
O deslocamento de Campinas a Presidente Prudente, cidades distantes 557 quilômetros entre si, é um exemplo. A passagem aérea sai por R$ 99. De automóvel, o valor ficaria em R$ 138. O gasto com combustível fica próximo de R$ 73, se for álcool, e o de pedágios em R$ 65. Além de mais barato, o voo dura perto de uma hora e 30 minutos, ante sete horas de viagem de carro.
Para ir da capital paulista a Bauru (330 quilômetros) também é mais econômico o avião. A passagem aérea mais barata pode ser encontrada por R$ 65, contra R$ 88,33 de gasto com automóvel. Quase a metade, R$ 44,20, fica nos pedágios. O passageiro demora 58 minutos de avião e por volta de quatro horas de carro.
No trajeto de São Paulo a São José do Rio Preto, os gastos praticamente se igualam. De avião fica em R$ 119 e de automóvel R$ 120,59. Mais da metade dos gastos são de pedágio, R$ 61,50. A diferença mesmo é o tempo despendido. Cerca de uma 1 hora e 17 minutos no transporte aéreo, contra 5 horas e 30 minutos quando se vai de carro.
Os valores de pedágio e combustível foram calculados por meio do site Mapeia.com [1], especializado em cálculos de viagem.
No valor das passagens aéreas não estão incluídas as taxas de embarque cobradas pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). As taxas variam de acordo com os serviços oferecidos no local de embarque. Em aeroportos classificados pela Infraero como categoria 3, como o de Bauru e de Presidente Prudente, a taxa é de R$ 13,44. Em São José do Rio Preto, Campinas, Ribeirão Preto e Uberaba, cujos aeroportos são categoria 2, a tarifa fica em R$ 16,23, e nos aeroportos de São Paulo, categoria 1, em R$ 20,66.
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sábado, 28 de maio de 2011
A imprensa tradicional se esforça, não para ter credibilidade, mas para ser temida e dominar pelo medo, como qualquer ditadura
A busca diária do escândalo
Enviado por luisnassif, seg, 23/05/2011 - 08:00
Coluna Econômica
Há uma profunda dissintonia entre alguns grandes veículos de comunicação e a opinião pública.
Em países de instituições mais avançadas, o escândalo é o ápice do jornalismo. É aquele momento crítico, em que o jornal coloca em jogo sua credibilidade, seu discernimento, sua capacidade de apuração. E cada denúncia é uma pancada, que derruba governos, parlamentares, curva empresas e poderosos.
Por isso mesmo, é matéria rara. Escândalo não dá em árvore. Principalmente o grande escândalo, o que mexe com instituições e o poder.
Por aqui, a crise do grande jornalismo tornou-se endêmica. O jornalismo comporta inúmeras pautas nobres, o grande perfil, a grande matéria de negócios, a grande matéria econômica crítica, grandes temas culturais, temas relevantes de políticas públicas. Mas o escândalo, qualquer um que seja, tornou-se pauta única, samba de uma nota só.
***
Na chamada grande mídia, utiliza-se a escandalização para tudo e para nada. O diretor de redação do jornalão quer acertar contas com quem o criticou? Basta uma matéria tratando como escândalo um fato normal. Determinada fonte não atendeu ao pedido de entrevista da revista semanal? Pau nela. O editor não foi com a cara de determinado político? Denúncia nele.
Esse jornalismo de acerto de contas compromete a imagem do veículo, passa a ideia de mesquinharia, de desrespeito.
De poder respeitado para poder temido? É essa a legitimação que se pretende para a ação da velha mídia?
***
O grande fator de disciplinamento do jornalismo é o respeito aos fatos, o discernimento, o conhecimento especialmente em relação a temas ligados ao mercado financeiro e à Justiça – dois dos fóruns centrais dos escândalos e que exigem conhecimento especializado.
Por aqui abriu-se mão desse conhecimento. O repórter consulta o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) pega qualquer informação sobre o personagem a ser atacado e escreve a matéria tratando como escândalo, como se o fato de estar no SIAFI fosse suspeito.
Vai-se além. Em nome da manchete diária escandalosa, matérias podem ser inventadas, pode-se mentir sobre a existência de gravações inexistentes, como prova da acusação, que nada acontece.
Tomem-se as principais capas da revista Veja no último trimestre do ano passado. A revista foi acusada frontalmente de estar mentindo nas principais denúncias formuladas. A defesa dos jornalistas consistia em alegar que dispunham de gravações comprovando as acusações. Desafiados a mostrá-las, jamais o fizeram. Porque as afirmações eram mentirosas.
***
Cria-se um terrível mundo do faz-de-conta que acaba comprometendo o próprio papel fiscalizador da mídia. A denúncia relevante acaba se perdendo no oceano de irrelevâncias que tem caracterizado esse festival diário de denúncias.
***
Em algum momento a ficha irá cair. As denúncias serão mais raras e mais consistentes. Não serão utilizadas como jogada política e acerto de contas com adversários, mas como instrumentos de controle público.
Mas ainda haverá uma grande jornada rumo ao amadurecimento. E, acredito, não se dará no campo da velha mídia.
Enviado por luisnassif, seg, 23/05/2011 - 08:00
Coluna Econômica
Há uma profunda dissintonia entre alguns grandes veículos de comunicação e a opinião pública.
Em países de instituições mais avançadas, o escândalo é o ápice do jornalismo. É aquele momento crítico, em que o jornal coloca em jogo sua credibilidade, seu discernimento, sua capacidade de apuração. E cada denúncia é uma pancada, que derruba governos, parlamentares, curva empresas e poderosos.
Por isso mesmo, é matéria rara. Escândalo não dá em árvore. Principalmente o grande escândalo, o que mexe com instituições e o poder.
Por aqui, a crise do grande jornalismo tornou-se endêmica. O jornalismo comporta inúmeras pautas nobres, o grande perfil, a grande matéria de negócios, a grande matéria econômica crítica, grandes temas culturais, temas relevantes de políticas públicas. Mas o escândalo, qualquer um que seja, tornou-se pauta única, samba de uma nota só.
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Na chamada grande mídia, utiliza-se a escandalização para tudo e para nada. O diretor de redação do jornalão quer acertar contas com quem o criticou? Basta uma matéria tratando como escândalo um fato normal. Determinada fonte não atendeu ao pedido de entrevista da revista semanal? Pau nela. O editor não foi com a cara de determinado político? Denúncia nele.
Esse jornalismo de acerto de contas compromete a imagem do veículo, passa a ideia de mesquinharia, de desrespeito.
De poder respeitado para poder temido? É essa a legitimação que se pretende para a ação da velha mídia?
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O grande fator de disciplinamento do jornalismo é o respeito aos fatos, o discernimento, o conhecimento especialmente em relação a temas ligados ao mercado financeiro e à Justiça – dois dos fóruns centrais dos escândalos e que exigem conhecimento especializado.
Por aqui abriu-se mão desse conhecimento. O repórter consulta o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) pega qualquer informação sobre o personagem a ser atacado e escreve a matéria tratando como escândalo, como se o fato de estar no SIAFI fosse suspeito.
Vai-se além. Em nome da manchete diária escandalosa, matérias podem ser inventadas, pode-se mentir sobre a existência de gravações inexistentes, como prova da acusação, que nada acontece.
Tomem-se as principais capas da revista Veja no último trimestre do ano passado. A revista foi acusada frontalmente de estar mentindo nas principais denúncias formuladas. A defesa dos jornalistas consistia em alegar que dispunham de gravações comprovando as acusações. Desafiados a mostrá-las, jamais o fizeram. Porque as afirmações eram mentirosas.
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Cria-se um terrível mundo do faz-de-conta que acaba comprometendo o próprio papel fiscalizador da mídia. A denúncia relevante acaba se perdendo no oceano de irrelevâncias que tem caracterizado esse festival diário de denúncias.
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Em algum momento a ficha irá cair. As denúncias serão mais raras e mais consistentes. Não serão utilizadas como jogada política e acerto de contas com adversários, mas como instrumentos de controle público.
Mas ainda haverá uma grande jornada rumo ao amadurecimento. E, acredito, não se dará no campo da velha mídia.
A mudança da estrutura de classes e um novo pacto social no Brasil
Colunista: Gilberto Maringoni 19/05/2011
DEBATE ABERTO
Um novo pacto de classes?
As gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930.
Data: 13/05/2011
Qual o significado dos governos Lula e Dilma na esfera da representação política brasileira? Com sua heterogênea base de apoio e com uma ação destinada a beneficiar o capital financeiro e parcelas expressivas da pequena burguesia, dos trabalhadores e dos setores organizados sem ferir nenhum interesse das classes dominantes, as gestões capitaneadas pelo PT conformam um novo pacto social. Tudo indica não se tratar de algo episódico, mas de uma mudança estrutural em relação ao cenário observado ao longo dos anos 1980 e 1990. O processo só encontra paralelo na aliança delineada por Getulio Vargas a partir de 1930. Com essa amplíssima base social, não é à toa que a oposição de direita tenha definhado nos últimos anos. Sem grandes contradições, parte expressiva desta se bandeia para as asas da base governista, sem que exista uma crise de representação da grande burguesia instalada no país.
1. Há um traço definidor da conjuntura atual: a virtual falência dos partidos de direita, PSDB, DEM e PPS. Sem conseguir formular um projeto próprio que os diferencie substancialmente dos governos Lula e Dilma, tais agremiações esfacelam-se em querelas internas, golpes das burocracias partidárias, disputa de espaços entre caciques, debandada geral e instabilidades insolúveis. Suas perspectivas eleitorais para 2012 e 2014 minguam à medida que o tempo passa
2. As tentativas recentes de se soldar novamente um polo de oposição conservadora caíram no vazio. Primeiro foi um pronunciamento do Senador Aécio Neves (PSDB-MG), alardeado como divisor de águas, no início de abril. Para a Câmara Alta convergiram dirigentes de alta graduação. Aécio, orador regular, contou com o valioso empurrão da mídia, com destaque em todos os jornais e telejornais. Usou e abusou de bordões, como “não é mais possível”, “o país não aceita” e platitudes tais. Passados três ou quatro dias, ninguém mais tocava no assunto.
3. Semanas depois, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicar extensa nota na revista Interesse Nacional, intitulada “O papel da oposição”. FHC, percebendo que o problema de seus aliados não está apenas na cabeça das pessoas, buscou um novo chão para assentar suas idéias. Fez um diagnóstico correto, em que pesem os ataques que vem sofrendo.
4. O ex-Presidente afirmou o seguinte: “Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo ‘aparelhou’, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias”.
5. E mais adiante, emendou: “Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à TI (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de ‘classe C’ ou de nova classe média. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental”.
6. Por fim, ele completa: “A imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc. É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos”.
7. FHC detectou um problema sem solução à vista para os conservadores, dos quais ele continua sendo o principal formulador: a base social da oposição de direita está se erodindo. Não se trata apenas de uma busca pelo “povão” ou de uma tentativa de se encontrar apoio entre os setores emergentes. É algo mais profundo e estrutural. Os partidos de direita perdem apoio entre as classes dominantes, vale dizer entre os setores do grande capital.
8. Uma verificação prática dessa afirmação foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo de 6 de setembro de 2010, na reta final da corrida presidencial. Lá está escrito: “O Tribunal Superior Eleitoral divulgou neste domingo a arrecadação e os gastos de campanha declarados pelos candidatos à Presidência. Dilma Rousseff, do PT, foi a que mais arrecadou: R$ 39,5 milhões. A petista juntou mais do que José Serra, do PSDB, e Marina, do PV, juntos. O candidato tucano arrecadou R$ 26 milhões e a candidata verde R$ 12 milhões”.
9. Em outras palavras, as diversas frações do grande capital apostaram a maior parte de suas fichas na campanha petista em 2010. Assim, do ponto de vista material e objetivo, a opção de tais setores era clara ao fim de oito anos da administração do presidente Lula.
10. No entanto, isso ainda não significava que a representação política do que se entende por grande burguesia em atuação no Brasil tivesse feito uma opção indiscutível pelo Partido dos Trabalhadores como ferramenta da representação político-institucional. A maior expressão de tal dúvida estava no comportamento dos meios de comunicação no fim do primeiro e em todo o segundo mandato de Lula. Estes demonstraram nítida preferência pelo candidato tucano José Serra.
11. Ao longo de oitos anos, o PT completou uma hábil movimentação para ganhar a confiança do topo do empresariado operante no Brasil. Embora as mudanças programáticas nessa direção já fossem perceptíveis desde a década anterior, a consolidação dessas diretrizes aconteceu com a ação concreta da administração pública.
12. Começando seu primeiro mandato com um duro ajuste fiscal e com a reforma da Previdência, o Presidente Lula exibiu na prática o programa de governo que desejava tocar dali em diante. Entretanto, ao contrário do que muitos vocalizaram à ocasião, o governo petista não era uma mera continuidade de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
13. A gestão Cardoso representou no Brasil a aplicação a ferro e fogo das diretrizes do Estado Mínimo, com uma agressiva política de privatizações, de liberalização da movimentação de capitais e do desinvestimento na expansão de atividades próprias do Estado, como os serviços públicos, as forças armadas e a diplomacia. Nesses anos, o salário mínimo, como consequência, chegou a um de seus mais baixos patamares históricos, de 70 dólares mensais.
14. A partir de 1999, após a quebra do real, houve uma quase institucionalização da política monetária de corte ultraliberal, com a sacramentação do Banco Central independente e do tripé metas de inflação, juros altos e câmbio flutuante. Nada disso foi mudado na gestão do ex-metalúrgico.
15. Qual o giro operado por Lula? Primeiro foi o de ganhar a confiança dos chamados mercados, através da manutenção da ortodoxia monetária, especialmente ao longo de seu primeiro mandato (2003-2007). Depois foi mostrar ao grande capital que o desenvolvimento do país estava centrado em pelo menos duas bases: expansão do mercado interno e busca de novos mercados os países em desenvolvimento. Nessas duas vertentes, o dirigente petista teve amplo sucesso.
16. A diplomacia brasileira conseguiu atrair novos parceiros, após anos seguidos de déficits em nossa balança comercial ou de resultados medíocres (déficit de US$ 697 milhões em 2000, alcançando um pico de US$ 46 bilhões em 2006), resultantes de anos de sobreapreciação cambial (www.portalbrasil.net/economia_balancacomercial.htm )
17. Na fronteira interna, a estabilidade monetária, após as turbulências de 1999-2002, possibilitou uma acelerado crescimento do crédito tanto às empresas quanto às pessoas físicas. Esta última modalidade resultou em inédita expansão da indústria de bens de consumo duráveis, em especial da automobilística. Os números do Banco Central são eloqüentes: de pouco menos de 20% em julho de 2004, o total de crédito ofertado na economia chegou a 45,7% do PIB em junho de 2010. Os empréstimos do BNDES, com juros subsidiados (TJLP) de 6% ao ano, saltaram de R$ 35,1 bilhões em 2003, para R$ 140 bilhões em 2010.
18. Aliado a políticas de valorização do salário mínimo – que teve seu valor majorado em 70% em termos reais ao longo dos dois governos lulistas -, à expansão da seguridade social e a políticas focadas de transferência de renda, o mercado interno sustentou expressivos índices de crescimento e melhoria na distribuição de renda entre os assalariados. Apesar disso, a distribuição funcional da renda – entre capital e trabalho – manteve-se quase inalterada. A participação dos salários na renda nacional, que conheceu um pico de 50% no final da década de 1950 chegou a 35,2% em 1995 e caiu constantemente até o piso de 30,8% em 2004, conhecendo uma lenta recuperação, alcançando 34% em 2010, segundo dados do IPEA.
19. No entanto, a grande política de transferência de renda continuou sendo representada pelas altas taxas de juros, que nunca baixaram de um patamar real de 6% ao ano (isto é, descontada a inflação). Em 2011, a elevação da taxa selic para 12% resultará em uma transferência de cerca de R$ 235 bilhões dos cofres públicos para os detentores de títulos da dívida, o que equivale a pouco mais de 40% do orçamento público federal. Em uma frase, se os pobres ganharam no governo Lula, é certo que os ricos ganharam muito mais.
20. Essa combinação – juros elevados, expansão creditícia, salário mínimo e políticas focadas – literalmente “bombou” o crescimento econômico brasileiro, sem alterar profundamente a estrutura de classes no país. Lula concretizou uma espécie “capitalismo popular” que gerou folga nas contas públicas para alavancar políticas anticíclicas eficazes durante a crise internacional de 2008-9.
21. Com medidas de teor keynesiano – pesados investimentos em infraestrutura, elevação do poder de compra aos que têm propensão a gastar – aliadas à manutenção de altas taxas de juros e subsídios ao setor privado, o Estado brasileiro logrou impedir que a oferta de crédito no mercado interno fosse interrompida durante o período mais agudo da crise. Não apenas não houve penalização a nenhum setor do capital, como este recebeu subsídios importantes para não ser capturado pela maré montante das incertezas. Não houve aqui também uma penalização dos trabalhadores. Os níveis reais de salário e de emprego se mantiveram, com poucas oscilações.
22. Frisa-se aqui o que está subjacente a estas linhas: todas as iniciativas de Lula em momento algum o colocaram em rota de colisão com as forças de mercado. Ao contrário.
23. O governo Dilma tem se mostrado mais realista que o próprio governo Lula em sua adesão aos mercados como eles são. Trata-se de um passo à frente, que consolida diretrizes anteriores e que, tudo indica, repactua as relações entre as classes sociais no Brasil. Trata-se de algo estrutural, como não se via no país desde o primeiro governo Vargas (1930-45).
24. Getúlio Vargas conseguiu empreender um grande acordo, mudando as relações de produção e as relações sociais, modernizando o parque produtivo, utilizando a política fiscal para investimentos em infraestrutura que davam suporte à industrialização e concedendo leis trabalhistas ao crescente operariado urbano. Logrou fazer isso sem tocar na propriedade da terra e conformando sob suas bases dois partidos aparentemente antagônicos, o PSD (representante dos grandes latifundiários e industriais e o PTB, vocalizando os anseios dos trabalhadores). Elemento fundamental para a concretização desse pacto, que duraria até 1964, foi a dura repressão à esquerda comunista. Assim, o pacto getulista teve duas vias, a política e a econômica, que se materializou em novas relações entre as classes sociais.
25. É bem possível que estejamos assistindo a uma nova pactuação desse tipo em nosso país. O governo não é apenas petista (agremiação que representa as massas assalariadas em sua essência), mas também do PMDB (amálgama partidário a agrupar diversas facções do capital). As bases foram cimentadas por Lula, especialmente durante a crise de poucos anos atrás e conhecem sua arte final na gestão de Dilma Rousseff. Suas bases – repetimos - são altas taxas de juros a remunerar o capital (além de subsídios de várias ordens) e aumentos do salário mínimo e políticas sociais focadas para os trabalhadores.
26. Uma diferença salta à vista. Enquanto Getulio integrou os trabalhadores ao modelo desenvolvimentista através da concessão de direitos trabalhistas, Lula realiza movimentação semelhante através de aumentos salariais, expansão do crédito e iniciativas focadas, que aumentam o poder de compra dos pobres. Em síntese, a integração atual se faz via mercado.
27. No caso de Dilma, a consolidação do acordo passa também pela política. O traço mais significativo nesse quesito foi talvez a visita da Presidenta à comemoração dos 90 anos da Folha de S. Paulo, logo em seu primeiro mês de mandato. Ali, a mandatária tratou de tecer loas ao conceito liberal de liberdade de imprensa – isto é, ao de liberdade de empresa – elidindo qualquer veleidade de controle social da mídia, como foi insistentemente debatido na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em dezembro de 2009.
28. Os sinais mais significativos das tendências da nova gestão foram o anúncio dos cortes orçamentários de R$ 50 bilhões para que fosse cumprida a inédita marca de 3,3% do PIB de superávit primário, as seguidas elevações das taxas básicas de juros pelo Banco Central, o giro da política externa em favor de um maior alinhamento com os EUA, as estreitas ligações do Ministério da Cultura com entidades privadas, o anúncio da privatização dos aeroportos mais rentáveis do país, entre outras iniciativas. Digna de nota foi a adesão de Jorge Gerdau Johanpeter, um dos maiores empresários brasileiros e beneficiário das privatizações dos anos 1990, ao governo, com função no Palácio.
29. Embora não haja uma radical mudança em relação ao segundo governo Lula, os primeiros meses da gestão Dilma acentuam características pró-mercado que ficaram em segundo plano de 2007 a 2010, especialmente no período da crise. Ao mesmo tempo, saem de cena aspectos que poderiam sedimentar uma política mais progressista e democrática. Alguns casos são significativos.
30. A política externa de Lula, por exemplo, representou inegáveis avanços democráticos ao não se subordinar claramente à casa Branca. Episódios dignos de nota foram os comportamentos do Itamaraty durante o golpe de Estado em Honduras, as negociações com o Irã no que toca ao seu programa nuclear e o reconhecimento da necessidade de um Estado palestino. Pautado pela ampliação de parcerias comerciais, o Brasil fortaleceu o Mercosul, investiu fortemente na criação da Unasul, organização continental sem a presença dos EUA e não se somou à direita brasileira em contenciosos com a Bolívia e Paraguai nas disputas energéticas. A diplomacia capitaneada por Celso Amorim ganhou com isso a antipatia frontal dos grandes meios de comunicação.
31. Outra alteração notável se verifica na questão da regulação da mídia. No apagar das luzes da administração anterior, o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), Franklin Martins, esboçou um projeto para o setor. Até agora não se sabe que destino terá a proposta.
32. Aliás, no quesito Comunicação, apesar de críticas vocalizadas pelo Presidente Lula durante o segundo mandato, poucos foram os avanços. As diretrizes da I Confecom até agora não entraram no debate institucional. A esse respeito vale ler o texto “Política de Comunicações: o balanço dos governos Lula”, de Venício Lima, ex-professor da UnB e especialista no tema. Em uma longa avaliação, Lima afirma: “Não houve qualquer alteração fundamental no quadro de concentração da propriedade da mídia no Brasil entre 2003 e 2010”.
33. A esta altura, vale perguntar: qual é o projeto do governo? Seguramente não é mais um projeto projeto democrático e popular, denominação que caiu em desuso nos últimos anos, apesar de ter marcado o desenvolvimento do PT por mais de uma década.
34. O programa do segundo mandato foi inspirado no projeto “Esperança e mudança”, do PMDB, lançado em 1982 e que contou com a colaboração dos chamados desenvolvimentistas da época, como Carlos Lessa, Luciano Coutinho, Maria da Conceição Tavares, José Serra, Luis Carlos Mendonça de Barros, entre outros. Caudatário das teses da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), aquele texto tinha um viés fortemente nacionalista e estatizante, definindo, por exemplo, todas as riquezas do subsolo à esfera estatal, além de se pautar por temas como prioridade às empresas nacionais, reforma agrária, combate à financeirização da economia, entre outros tópicos. Era um programa avançado, que balizou o partido na elaboração da Constituição de 1988 e que se pautava pela existência de uma burguesia nacional, tese polêmica na ciência política.
35. O projeto empreendido pelo PT no governo é muito menos ousado e tímido e foi conhecendo nuances através do tempo. Mas no segundo mandato de Lula podem-se reconhecer várias diretrizes do velho PMDB, muito mais do que formulações emanadas dos encontros e congressos petistas.
36. No entanto, o alargamento pragmático do petismo tornou tanto seu próprio programa quanto o receituário do PMDB de três décadas atrás apenas vagas lembranças. Há uma elasticidade no ideário governista pronto para acolher a todos. Uma matriz dessa natureza não é elaborada para realizar mudanças, mas para deixar a essência da estrutura social e política do país mais ou menos como está.
37. Vale um parêntesis. Quem empurrou o transformismo mais longe nesses tempos não foi o PT. Foi outro partido da base, o PCdoB. A adaptação do que seria um partido comunista à vida como ela, com sua adesão à administração municipal da cidade de São Paulo levou o presidente da sigla, Renato Rabelo, a dizer o seguinte em entrevista recente: “Não estamos indo para o lado do Kassab. O Kassab é que está vindo para o lado de cá” (). A realpolitik faz milagres...
38. Alguns setores próximos ao governo argumentam que a oposição está se dissolvendo por não ter entendido as mudanças ocorridas no país com os governos Lula e Dilma. A tese ainda está para ser provada. Mas o certo é que tais setores estão migrando para a base do governo justamente por terem entendido o significado dos governos Lula e Dilma. Ou seja, entendem que a adesão é possível pela grande convergência de pontos de vista. O que parece estar se dissolvendo são as fronteiras políticas entre governo e oposição conservadora, que possibilita a entrada acelerada da velha direita na base oficial.
39. A erosão oposicionista tem um certo tom farsesco. Vários dirigentes abandonam suas hostes originais para buscarem abrigo na base do governo. É o caso exemplar do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e da líder ruralista Katia Abreu.
40. Mudou o natal ou mudaram eles? Mudou o governo ou mudaram eles? Ao que tudo indica e ao contrário dos prognósticos de Renato Rabelo, Kassab continua a fazer em São Paulo a mesma administração elitista, voltada para os setores mais ricos da cidade e Katia Abreu não abriu mão de sua defesa do latifúndio e de sua ojeriza pelo MST. Como quem tem dinheiro não o queima, Kassab e Abreu buscam abrigo entre aqueles que podem também representar seus interesses.
41. De certa maneira, o mote lançado por Gilberto Kassab para seu PSD parece ter contaminado o ideário político nacional: não é de esquerda, nem de direita e nem de centro. Ou seja, porta aberta para todos os que buscam negar peremptoriamente que tem lado nas disputas políticas da sociedade. Não por acaso, quase sempre são de direita.
42. O novo pacto de classes gestado em Brasília e que conforma setores aparentemente antagônicos pode ter vida longa. Cabe tentar vislumbrar seus limites e possibilidades. Ou seja, que tipo de mudanças tal coalizão pode realizar no país?
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Nassif explica Palocci e os meandros da guerra de bastidores do Brasil de hoje. Fantástico! Siga os links.
Para entender a consultoria de Palocci
Enviado por luisnassif, qui, 26/05/2011 - 10:35
Para entender o festival de irrelevâncias com que a velha mídia trata o caso Palocci – e sua dificuldade em entrar nos temas centrais.
Antonio Palocci cumpriu bem seu papel de fazer o meio campo do governo com o grande capital. Mas queria mais: ser aceito no clube, ser recebido na sala de visitas. Tornou-se o Pedro Malan do PT, não apenas na orientação econômica, mas nos maneirismos adquiridos nos salões, na maneira de falar baixo, como gente fina.
Sua consultoria faz lobby, sim.
Juntando as informações que saem picadas na imprensa, percebe-se que provavelmente sua maior fonte de receita decorreu da operação de capitalização da WTorre pelo banco BTG Pactual.
A WTorre sempre foi uma empresa enrolada, com algumas operações complicadas. Adquiriu o esqueleto do prédio da Eletropaulo por R$ 385 milhões graças a ligações que tinha no antigo ABN Amro, que financiou a compra.
Depois o ABN foi adquirido pelo Santander. Mantida a influência da WTorre, o Santander adquiriu o complexo por mais de R$ 1 bilhão. Mas não resolveu os pepinos da construtora. Parte das dívidas junto a bancos e fornecedores foi transformada em capital, mas os pepinos continuaram.
No segundo semestre de 2010 começou a aproximação do Pactual com a WTorre. Justo no período em que Palocci assessorava a empresa.
Segundo matéria do Valor
Depois de tentar se capitalizar via mercado e de enfrentar uma situação financeira bastante delicada em 2010, o empresário Walter Torre conseguiu o que está sendo considerada pelo mercado a melhor solução possível para o seu negócio. Uma verdadeira reviravolta, no melhor dos clichês. A aproximação entre Walter Torre e André Esteves, do BTG Pactual, foi decisiva. O empresário precisava de capital e o banqueiro, de imóveis. Juntos, criaram a maior empresa de properties (imóveis de renda) do Brasil, com ativos de R$ 5,3 bilhões.
Provavelmente uma operação legítima, em que o maior banco de investimento brasileiro entrou no capital de uma grande empresa em dificuldade. Ganha o Pactual, ganha a WTorre e ganha o consultor que promoveu o casamento. E tudo indica que esse consultor foi Palocci.
A questão toda é a maneira como Palocci caiu nas boas graças do Pactual. Foi na época em que estava sendo negociado com o Goldman Sachs. O banco tinha pepinos de toda ordem junto à Receita. Tudo foi resolvido no Conselhinho da Fazenda, na época de Palocci Ministro.
Porque os jornalões não entram no tema central? Simples: porque alguns devem favores ao Pactual e outros querem parceria no futuro.
Leia aqui "O caso André Esteves", na série "O caso de Veja".
Com esses ingredientes, percebe-se um enorme jogo de hipocrisias de lado a lado. Dificilmente esses episódios serão aprofundados, porque aí se entra na seara da influência do Pactual. E nenhum jornalão vai escarafunchar onde seria necessário.
Palocci e a WTorre
Para entender o festival de irrelevâncias com que a velha mídia trata o caso Palocci – e sua dificuldade em entrar nos temas centrais.
Antonio Palocci cumpriu bem seu papel de fazer o meio campo do governo com o grande capital. Mas queria mais: ser aceito no clube, ser recebido na sala de visitas. Tornou-se o Pedro Malan do PT, não apenas na orientação econômica, mas nos maneirismos adquiridos nos salões, na maneira de falar baixo, como gente fina.
Sua consultoria faz lobby, sim.
Juntando as informações que saem picadas na imprensa, percebe-se que provavelmente sua maior fonte de receita decorreu da operação de capitalização da WTorre pelo banco BTG Pactual.
A WTorre sempre foi uma empresa enrolada, com algumas operações complicadas. Adquiriu o esqueleto do prédio da Eletropaulo por R$ 385 milhões graças a ligações que tinha no antigo ABN Amro, que financiou a compra.
Depois o ABN foi adquirido pelo Santander. Mantida a influência da WTorre, o Santander adquiriu o complexo por mais de R$ 1 bilhão. Mas não resolveu os pepinos da construtora. Parte das dívidas junto a bancos e fornecedores foi transformada em capital, mas os pepinos continuaram.
No segundo semestre de 2010 começou a aproximação do Pactual com a WTorre. Justo no período em que Palocci assessorava a empresa.
Segundo matéria do Valor
Depois de tentar se capitalizar via mercado e de enfrentar uma situação financeira bastante delicada em 2010, o empresário Walter Torre conseguiu o que está sendo considerada pelo mercado a melhor solução possível para o seu negócio. Uma verdadeira reviravolta, no melhor dos clichês. A aproximação entre Walter Torre e André Esteves, do BTG Pactual, foi decisiva. O empresário precisava de capital e o banqueiro, de imóveis. Juntos, criaram a maior empresa de properties (imóveis de renda) do Brasil, com ativos de R$ 5,3 bilhões.
Provavelmente uma operação legítima, em que o maior banco de investimento brasileiro entrou no capital de uma grande empresa em dificuldade. Ganha o Pactual, ganha a WTorre e ganha o consultor que promoveu o casamento. E tudo indica que esse consultor foi Palocci.
A questão toda é a maneira como Palocci caiu nas boas graças do Pactual. Foi na época em que estava sendo negociado com o Goldman Sachs. O banco tinha pepinos de toda ordem junto à Receita. Tudo foi resolvido no Conselhinho da Fazenda, na época de Palocci Ministro.
Porque os jornalões não entram no tema central? Simples: porque alguns devem favores ao Pactual e outros querem parceria no futuro.
Leia aqui "O caso André Esteves", na série "O caso de Veja".
Com esses ingredientes, percebe-se um enorme jogo de hipocrisias de lado a lado. Dificilmente esses episódios serão aprofundados, porque aí se entra na seara da influência do Pactual. E nenhum jornalão vai escarafunchar onde seria necessário.
Palocci e a WTorre
Enviado por luisnassif, qui, 26/05/2011 - 15:20
De fontes próximas a Palocci::
Sem entrar no mérito das demais informações contidas na nota "Para entender a consultoria de Palocci" , não houve sua participação na operação Pactual-WTorre. São falsas as informações de que ele teria recebido R$ 350 mil por mês da empreiteira, conforme foi noticiado pela mídia. Seu trabalho consistiu em duas ou três palestras em 2007.
É total a probabilidade do vazamento dos clientes ter saído da prefeitura de São Paulo. No dia 5 de maio um servidor municipal da Secretaria das Finanças acessou as contas de Palocci, com o objetivo de extornar um imposto cobrado a mais.
No dia 15 de maio começaram as denúncias.
De fontes próximas a Palocci::
Sem entrar no mérito das demais informações contidas na nota "Para entender a consultoria de Palocci" , não houve sua participação na operação Pactual-WTorre. São falsas as informações de que ele teria recebido R$ 350 mil por mês da empreiteira, conforme foi noticiado pela mídia. Seu trabalho consistiu em duas ou três palestras em 2007.
É total a probabilidade do vazamento dos clientes ter saído da prefeitura de São Paulo. No dia 5 de maio um servidor municipal da Secretaria das Finanças acessou as contas de Palocci, com o objetivo de extornar um imposto cobrado a mais.
No dia 15 de maio começaram as denúncias.
A. Dines: capa falsa da edição 30.000 da Folha é antológica pq escancarou o pecado maior do jornalismo: a arrogância.
LEITURAS DA FOLHA
Ranking furado e pago pelo anunciante
Por Alberto Dines em 24/5/2011
O grande desafio do jornalista em todos os tempos, em qualquer tecnologia ou plataforma, é a escolha hoje da manchete que será história amanhã. Carlos Eduardo Lins da Silva e Caio Túlio Costa pinçaram com precisão a mãe de todas as opções da atividade jornalística: a hierarquização do noticiário, o ranking do que importa.
A profissão que não pode ser profissão – porque o ministro Gilmar Mendes, do STF, desconhece a história da difusão do conhecimento – cruza com a historiografia e ultrapassa o conceito de testemunha ocular da história.
O jornalista é um agente da história, mesmo quando faz a opção errada. Suas escolhas, fundadas ou infundadas, são as ferramentas do futuro historiador. Assim como os profetas bíblicos não faziam adivinhações, apenas pressentiam o natural desdobramento dos fatos – segundo a defesa do padre Vieira perante o Tribunal do Santo Ofício –, o jornalista não usa a bola de cristal nem joga búzios. Serve-se apenas da sua perplexidade diante do mundo.
A capa falsa da edição nº 30.000 da Folha de S.Paulo é antológica porque escancarou o pecado maior da atividade jornalística: a arrogância. A manchete das manchetes no arco de 90 anos não aconteceu na data informada e comparada com os outros eventos selecionados revela-se rigorosamente aleatória, fabricada por inconfundível viés ideológico.
"Jornalismo de resultados"
Ao lado do horror dos campos de concentração nazistas, da explosão da bomba atômica em Hiroshima ou da destruição das torres gêmeas em Nova York, a queda do Muro de Berlim ou o fim da Guerra Fria revela-se um factóide, ou eventóide, porque aconteceu aos poucos – a repercussão tornou-a maior do que a ocorrência. A ruína do chamado "socialismo real" ocorreu antes, em 1985, quando Mikhail Gorbachov foi escolhido secretário-geral do PC da velha URSS. O resto é decorrência.
O texto que acompanha a manchete é um primor de desinformação, não obstante os 22 anos decorridos: a "Alemanha reunificada" não se tornou um pilar da União Européia, foi o Mercado Comum, projeto social-democrata tocado pela França e pela República Federal da Alemanha (isto é, Alemanha Ocidental).
E tem mais: Collor não foi deposto pela Câmara, renunciou.
O pior de tudo é que este ranking é de mentirinha, foi estampado em capa e contracapa falsas, no dia seguinte à publicação de uma capa prostituída por um informe publicitário da operadora Claro (domingo, 22/5, distribuição apenas aos assinantes da capital paulista). A brincadeira da segunda-feira (23) foi bancada pela TIM.
Trinta mil edições em 90 anos de existência merecem homenagem mais respeitosa mesmo quando o "jornalismo de resultados" torna-se mais resultado do que jornalismo.
Leia também
Notícia, o jornalismo e a história – Carlos Eduardo Lins da Silva
Jornal se redime de erro cometido há 21 anos – Caio Túlio Costa
terça-feira, 24 de maio de 2011
A crise tucana é uma "sinunca de bico"
A crise Tucana.
Já não é de hoje que o ninho tucano vive uma profunda crise.
A hegemonia paulista é uma das razões que escancara a disputa política em meio ao ninho. A novidade agora é que os próprios Tucanos Paulistas já não falam a mesma língua.
Os tucanos paulistas sempre foram os donos do partido e da razão, sempre viram os outros Estados como apêndice de seus desígnios eleitorais. Jamais o PSDB teve um candidato à presidência que não fosse do ninho paulista.
Agora, os tucanos de São Paulo demonstram o que há muito tempo já é sabido na politica: os projetos pessoais, a ganancia pelo poder são agora expostos para todo o país.
José Serra, que não suporta Geraldo Alkmim, que ignoram FHC,que por conseguinte não confia em nenhum dos dois. Este é o enredo dos tucanos em São Paulo e que arrasta todo o Partido.
Outro fato que se coloca na crise tucana é a falta de um projeto para o Brasi; aliás vale ressaltar que eles nunca tiveram um projeto nacional.
Os Tucanos surgiram com o ideário da “moderna” social democracia europeia, tendo como base as ideias de Miterrand da França.
Sem dúvida uma plataforma interessante para os rebeldes do PMDB que construíram o PSDB, e na sua essência sempre foram adeptos do sistema Parlamentarista, proposta esta derrota em plebiscito no Brasil.
Com o advento do Plano Real, formulado e implementado no Governo de Itamar Franco, os tucanos obtiveram vitória na sucessão presidencial com FHC.
Mas, as ideias da social democracia europeia não subiram a rampa junto com os tucanos.
Entretanto, o governo de FHC se caracterizou por um governo de um projeto de neoliberalismo, numa ação agressiva de enxugamento do papel do Estado Brasileiro, cunhada numa aliança com o PFL que se caracterizou por um governo de direita e de submissão aos interesses nacionais.
Mais do que isso, o Governo FHC foi uma era de pouco crescimento e desenvolvimento econômico e social, sem citar as questões éticas da era FHC.
Tal desempenho cuminou com a eleição de Lula para presidente, derrotando o candidato de FHC, José Serra que dizia ser a continuidade sem continuísmo.
Daí em diante, o PSDB nunca mais se achou e sua crise começou a germinar de forma inequívoca, transformando o partido num aparelho de ambições nada republicanas.
Fora do poder central do Brasil, a disputa tucana mudou-se para São Paulo onde os caciques começaram uma disputa fraticida.
Disputa essa que se acirrou com a derrota de José Serra na última eleição presidencial, e que se desenvolve até a convenção nacional do partido, com a perspectiva de terminar no poder judiciário.
Do outro lado, temos os diretórios tucanos que pleiteiam um lugar ao ninho, como Aécio Neves de Minas Gerais.
Entretanto, a grande questão dos tucanos continua sendo a sua falta de projeto para o país, a falta de identidade com os grandes temas nacionais e a falta de sensibilidade com o fazer politica.
Hoje os tucanos vislumbram uma fusão com seus antigos aliados - DEM ex-PFL e PPS - colocando de vez o rótulo de partido de direita ao PSDB.
Talvez seja essa saída, assumir de vez seu o abandono da social democracia, e se render a direita neoliberal dos Demos.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Caso Palocci: Discutir o assunto, sem fazer o jogo do PiG e sem constrangimento.
Nota do editor:
Este blog tem procurado promover discussão sobre o assunto, a partir de questionamentos veiculados através de fontes fora da esfera do PiG. Somos totalmente contra a repercussão de matérias produzidas por aqueles veículos que, sabemos, jogam com a opinião pública na busca da desestabilização dos governos de esquerda. Foi assim com o de Lula (ainda é) e, agora, com o de Dilma.
Acreditamos que a discussão deva ocorrer para esclarecer as dúvidas eventuais e, se possível, em tempo real. Só assim formaremos uma contraposição à altura do enfrentamento.
As críticas são cabíveis.
O PiG já tem as suas formas, amplamente financiadas, de divulgação das suas idéias e interesses. A blogosfera progressista, os Blogs Sujos, não deveriam estar entre elas. Porém, não cabe censura, repreensão ou boicote quando "amigos" questionam atos do governo e de seus representantes. Colocar seus argumentos em discussão não significa que os apoiamos, mas que respeitamos as suas opiniões e desejamos debatê-las.
José Serra 2012 faz 1 a 0 com dossiê Palocci. Com ajuda de blogs “sujos”.
Segunda-feira 23, maio 2011
O jornal Folha de São Paulo, expoente da imprensa demo-tucana, soltou o dossiê “Palocci”, denunciando que ele aumentou seu patrimônio, sem sequer se dar ao trabalho de apurar se há algo ilícito ou não, antes de publicar.
A Folha sabia que bastava soltar essa notícia no ventilador para matar dois coelhos com uma cajadada só:
1) Para parte da esquerda, ficar rico (independente de como fique) é traição aos ideais socialistas (mesmo sabendo que Engels foi um industrial milionário que contribuiu, não apenas intelectualmente, mas também financeiramente para a propagação do marxismo), e gente que sempre se ôpos a Palocci no governo, por considerá-lo por demais ortodoxo na economia, aproveitaria o noticiário para partir para cima e tentar derrubá-lo do ministério de Dilma. O alvo desta esquerda é Palocci, mas a imprensa demo-tucana a está usando como bucha de canhão para atingir seu verdadeiro alvo: desestabilizar o governo Dilma.
2) A classe média udenista demo-tucana, leitora da Folha, começou a ver com bons olhos a Presidenta Dilma Rousseff, e passou a reprovar a campanha de baixaria de José Serra em 2010 (até porque não deu certo). A inflação não vai inflar como esperava a oposição. Para piorar, escândalos do governo Serra e Alckmin estão vindo à tona. Então, o projeto de poder demo-tucano precisava de uma dose de escândalo para recuperar nos conservadores, o fervor anti-lulista, anti-petista e anti-esquerda, já que há chances reais da prefeitura de São Paulo deixar de ser um reduto demo-tucano em 2012, e da oposição definhar ainda mais em todas as prefeituras do Brasil. Então devassar e demonizar Palocci reforça o discurso anti-PT com base em escândalos e prepara o terreno para José Serra (PSDB/SP) concorrer à prefeito de São Paulo em 2012.
Era de se esperar o dossiê Palocci saltar das páginas da Folha para as páginas da revista Veja, Época e para a tela da Globo e Band, com o estilo noticioso do PIG (Partido da Imprensa Golpista).
A novidade são alguns blogs “sujos” adotarem o PIG como fonte confiável, de forma acrítica, repetindo o efeito manada de Veja e da Globo.
Isso foi um golaço de mão, que nem José Serra esperava ganhar de presente. Ele na moita, deve estar morrendo de rir, sem se expor, “poupando Palocci”, enquanto Folha, Globo, Veja, Estadão, Band, Record exploram o dossiê, e blogs “sujos” completam o serviço para ele.
Não é pecado criticar o governo, e quem comete falcatruas tem mais é que ir para a cadeia mesmo, mas com a imprensa que temos no Brasil de hoje, as críticas devem ser racionais, na medida dos fatos, e não fazendo campanha política oposicionista para derrubar ministros.
Muitos leitores dizem, com razão, que o fato da escandalização beneficiar tucanos, não justifica passar a mão na cabeça de qualquer falcatrua, venha de quem vier, e doa a quem doer.
Ninguém honesto e de boa-fé discorda disso.
É óbvio que o enriquecimento de um homem com vida pública desperta desconfianças, com o tanto de notícias de roubalheiras que existem no meio político.
Mas antes de atirar em Palocci as pedras “gentilmente” cedidas pelos demo-tucanos dos partidos e da imprensa, vamos nos ater aos fatos, para comprovar que há mais indícios de que Palocci agiu dentro das regras legítimas do capitalismo, do que indícios que ele tenha se locupletado. Que dêem a chance de Palocci se explicar (ele disse que fará isso ao Procurador Geral da República, nesta semana), antes de ser pregado na cruz.
Pelos indícios até aqui apontados, a acusação que cabe a Palocci é apenas política: ele mudou sua base eleitoral dos trabalhadores para uma elite econômica. E dedicou-se também à vida empresarial, enriquecendo, em vez de dedicar-se apenas às atividades políticas de interesse coletivo. Essa crítica política é legítima. Qualquer pessoa de esquerda que já votou ou não em Palocci, tem o direito de não querer votar mais nele devido a seu novo perfil político, mas repetir as ilaçoes do PIG é um pouco demais.
Acusá-lo de corrupção, não só carece de provas, mas os indícios apontam mais para o contrário: que ele tenha ganho seu dinheiro dentro dos critérios de honestidade do capitalismo.
Eis os fatos e indícios:
Só em piadas, empresários fazem contrato e emitem nota fiscal para deixar rastros de atos criminosos
Crime de informação privilegiada é quando um agente público usa de informações sigilosas sob sua responsabilidade, para dar ou ganhar vantagens.
Não é crime o fato de Palocci ser bem informado sobre a conjuntura da economia nacional, e vender consultoria sobre informações que poderiam ser publicadas num artigo de jornal. Exemplo: prognósticos sobre o mercado interno, sobre qual será o crescimento econômico, o emprego, a duração da “marolinha”, etc.
Só em “piada de português” (com todo o respeito aos irmãos e ancestrais portugueses), quem “compra” informação privilegiada, ou tráfico de influência, faz contrato. E só na piada, quem vende emite nota fiscal.
Crimes desse tipo são feitos na calada da noite para não deixar rastros.
Então, soa ridículo quererem vincular a lista de clientes da empresa de consultoria de Palocci com ilícitos. Como se grandes empresários fossem, premeditadamente, deixar tamanhos vestígios registrados em contratos (mesmo que fosse um contrato de fachada, jamais os fariam em nome de suas empresas e suas marcas).
Por que empresários pagariam tanto em consultorias para Palocci?
Antes mesmo de Lula ser eleito em 2002, Palocci foi uma espécie de embaixador do PT junto aos grandes empresários e banqueiros. Foi importante para tranquilizar e estabelecer um diálogo com um setor que tinha muito preconceito contra um governo de Lula e, por conservadorismo, até prejudicavam a ampliação de suas próprias empresas, com medo de investir.
Palocci, além da militância no PT desde 1980, entendia a linguagem dos empresários. Para Lula, o ministro da Fazenda cumpria as principais missões que lhe eram delegadas:
- debelar a crise econômica deixada por FHC;
- manter a geração de empregos na economia (inclusive desarmando os preconceitos dos empresários);
- garantir recursos para erradicar a pobreza;
- controlar a inflação;
- tirar o Brasil da “urucubaca” do FMI;
- dar acesso ao microcrédito para os mais pobres;
- popularizar o crédito a juros mais baixos (consignado);
- garantir o ambiente propício ao aumento das exportações e ao investimento, etc.
Para os empresários, Palocci era o canal de diálogo que entendia a linguagem deles, e funcionava como interlocutor de um pacto social, onde o regime democrático e capitalista seria respeitado, contanto que humanizado com distribuição de renda.
Sua passagem pelo Ministério da Fazenda revelou-o como um raro caso de sucesso no poder executivo. Enquanto os consultores demo-tucanos com doutorado nas Universidades estrangeiras, apostavam no caos na economia, e na volta triunfal de FHC em 2006, Palocci tanquilizava os empresários com prognósticos otimistas.
Os prognósticos de Palocci se realizaram. Os doutores demo-tucanos, que cobravam fortunas por suas consultorias, fracassaram.
Nada mais natural aos empresários do que passarem a se interessar pelos “palpites” de Palocci, mais do que dos doutos demo-tucanos. E é um direito de Palocci, quando estava fora do governo, resolver cobrar por suas opiniões sobre a economia, afinal por que deveria dar consultoria privada de graça para a nata do PIB brasileiro?
E se passou a dar consultoria para as maiores empresas brasileira, é natural que os valores cobrados fossem altos.
Quanto a este aspecto acima, não há como condenar Palocci, nem eticamente, porque mesmo no período em que foi deputado, ninguém aponta uma votação em que ele tivesse contrariado a orientação do governo e do PT.
Para dar um exemplo, com certeza todos os clientes de sua consultoria se engajaram na campanha para derrubar a CPMF, mas Palocci não só votou pela manutenção da CPMF (e venceu na Câmara dos Deputados, só perdendo no Senado), como a defendeu publicamente.
Outra razão para empresários se interessarem pela consultoria de Palocci pode ser explicada pela simpatia por ele como político mais moderado e atencioso aos empresários, diante da continuidade do governo petista (possibilidade já considerada bastante provável durante o segundo mandato de Lula). Qualquer pessoa rica que quer ajudar outra pessoa a viabilizar um negócio, dá preferência a ela na hora de comprar ou contratar serviços. Essa escolha por preferência pessoal é imoral e ilícita quando é praticada numa empresa estatal, mas numa empresa privada não é, pois cada empresário pode fazer as escolhas que quiser com seu próprio dinheiro.
Novamente a crítica que cabe aqui é só política: ele mudou sua base eleitoral, e se dedicou também a atividade empresarial, e não apenas a causas políticas coletivas populares.
O jogo da imprensa demo-tucana
Já tem quase uma semana que o assunto veio à baila, e a própria imprensa não conseguiu até agora encontrar nenhum ilícito de fato. Se limitou a denunciar que Palocci enriqueceu rapidamente, e incitar no imaginário popular que seu enriquecimento seria ilícito, ignorando todas as evidências de que pode ser lícito.
Além disso, por que a Folha, Globo, Veja, Estadão, Band e Record não divulgam os nomes dos clientes de Palocci?
Já vazaram valores, datas e dois nomes de clientes da consultoria de Palocci. A esta altura, está claro que os barões da mídia e os chefes das redações já tem em mãos o vazamento de quem são os clientes de Palocci.
Se fazem ilação de acusar Palocci de usar consultoria de fachada, teria que haver corruptores, e seriam os clientes.
Se o PIG não publica é porque são grandes marcas, e grandes anunciantes no próprio PIG.
O PIG sabe que difamar Palocci gerará, no máximo, uma indenização pequena perto do faturamento de uma Globo ou Folha (indenizações deste tipo não tem passado de R$ 150 mil). Já difamar uma grande marca, sem provas, gera uma indenização milionária, pelo prejuízo na imagem da marca. E cancelamento de contratos de anúncios.
Então a farra do denuncismo irresponsável pára na pessoa de Palocci, e cinicamente o acusam de não divulgar os clientes, sabendo que o ministro ficaria exposto uma indenização milionária se o fizesse.
Por Zé Augusto
domingo, 22 de maio de 2011
Crescem os riscos de aprovarem um código florestal que anistia desmatadores.
Ambiente
Código Florestal deve confirmar primeira derrota do governo no Congresso
Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual - Publicado em 21/05/2011, 10:59 Última atualização às 10:59
Líderes partidários reúnem com presidente da Câmara, Marco Maia (PR-RS) durante votação em plenário do novo Código Florestal (Foto: Agência Câmara)
São Paulo - O Código Florestal encaminha-se para se tornar o primeiro revés do governo de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. A falta de acordo na Câmara dos Deputados e a manutenção da posição do governo federal em não prorrogar o prazo de 11 de junho para adequação de proprietários rurais produziram desgates com os ruralistas. A votação do texto que altera a legislação ambiental brasileira está prevista para a próxima terça-feira (24) e o provável apoio da maioria da Câmara dos Deputados aos ruralistas tornam inócuas as demandas do governo..
Na semana passada, a votação foi adiada após uma conturbada discussão e de uma manobra regimental para suspender a sessão. Antes, porém, o líder do PT, Paulo Teixeira (PT) alertou que o partido não poderia votar o texto por considerar que o acordo firmado antes entre governistas e o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), não estava cumprido na versão lida em plenário.
O principal emblema do desgaste produzido no episódio entre os aliados de Dilma na Casa foi a decisão do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, de barrar outras votações até que o Código Florestal fosse apreciado. A ameaça envolveu acordo com a oposição, e adiou pretensões do Planalto que queria ver votadas medidas provisórias relacionadas a licitações da Copa do Mundo e da Olimpíada. O PMDB é o segundo maior partido da Câmara e um dos com maior presença de ruralistas.
Os principais entraves, do ponto de vista do governo, são a anistia a desmatadores por violações à legislação antes de 2008, o que consolidaria as áreas desmatadas, e o fim da prerrogativa de o Executivo federal normatizar áreas de proteção permanente (APPs) por decreto. Por esses pontos, Vaccarezza chegou a cogitar a hipótese de Dilma vetar o texto, já que, depois da Câmara, há terreno ainda mais promissor para os ruralistas no Senado, onde a presença da bancada é ainda mais forte.
Crise na Casa Civil
Até o dia 10, data em que o relatório de Rebelo foi lido, era Antonio Palocci, ministro-chefe da Casa Civil, o principal articulador do governo para tentar evitar a anistia aos desmatadores. Tanto é que ele tornou-se a referência no Palácio do Planalto para organizações socioambientalistas. Diante das acusações de conflito de interesses entre as atividades de uma empresa aberta pelo ministro – que lhe permitiram aumentar o patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos – Palocci ficou com ainda menos espaço e tempo na agenda para articular.
O que movia o ministro no debate ambiental, segundo assessores da pasta responsáveis pela interlocução como Legislativo, era a análise de que mudanças no Código Florestal teriam um efeito ruim para a imagem do governo. Isso vale tanto do ponto de vista internacional quanto considerando-se o eleitorado doméstico – sete meses depois de Marina Silva, candidata terceira colocada à Presidência, ter recebido 20 milhões de votos.
Foi com esse amparo que Teixeira e, mais comedidamente Vaccarezza, atuaram para adiar a votação. O desgaste com os outros partidos da base aconteceu e pouca gente se arrisca a prever os efeitos disso em futuras votações.
Como Rebelo não arreda pé de defender seu relatório – endossado pela bancada ruralista – o cenário que se vislumbra é de a matéria ser colocada em votação nos termos que desagradam o governo. O recurso deve ser apresentar, para ser apreciado em separado, emendas sobre os pontos polêmicos. Se a sequência se confirmar, são grandes as chances de uma primeira derrota governista na Câmara.
Leia também:
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Abaixo-assinado pede saída de Aldo Rebelo da relatoria do Código Florestal
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Por: Anselmo Massad, Rede Brasil Atual - Publicado em 21/05/2011, 10:59 Última atualização às 10:59
Líderes partidários reúnem com presidente da Câmara, Marco Maia (PR-RS) durante votação em plenário do novo Código Florestal (Foto: Agência Câmara)
São Paulo - O Código Florestal encaminha-se para se tornar o primeiro revés do governo de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. A falta de acordo na Câmara dos Deputados e a manutenção da posição do governo federal em não prorrogar o prazo de 11 de junho para adequação de proprietários rurais produziram desgates com os ruralistas. A votação do texto que altera a legislação ambiental brasileira está prevista para a próxima terça-feira (24) e o provável apoio da maioria da Câmara dos Deputados aos ruralistas tornam inócuas as demandas do governo..
Na semana passada, a votação foi adiada após uma conturbada discussão e de uma manobra regimental para suspender a sessão. Antes, porém, o líder do PT, Paulo Teixeira (PT) alertou que o partido não poderia votar o texto por considerar que o acordo firmado antes entre governistas e o relator do projeto, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), não estava cumprido na versão lida em plenário.
O principal emblema do desgaste produzido no episódio entre os aliados de Dilma na Casa foi a decisão do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, de barrar outras votações até que o Código Florestal fosse apreciado. A ameaça envolveu acordo com a oposição, e adiou pretensões do Planalto que queria ver votadas medidas provisórias relacionadas a licitações da Copa do Mundo e da Olimpíada. O PMDB é o segundo maior partido da Câmara e um dos com maior presença de ruralistas.
Os principais entraves, do ponto de vista do governo, são a anistia a desmatadores por violações à legislação antes de 2008, o que consolidaria as áreas desmatadas, e o fim da prerrogativa de o Executivo federal normatizar áreas de proteção permanente (APPs) por decreto. Por esses pontos, Vaccarezza chegou a cogitar a hipótese de Dilma vetar o texto, já que, depois da Câmara, há terreno ainda mais promissor para os ruralistas no Senado, onde a presença da bancada é ainda mais forte.
Crise na Casa Civil
Até o dia 10, data em que o relatório de Rebelo foi lido, era Antonio Palocci, ministro-chefe da Casa Civil, o principal articulador do governo para tentar evitar a anistia aos desmatadores. Tanto é que ele tornou-se a referência no Palácio do Planalto para organizações socioambientalistas. Diante das acusações de conflito de interesses entre as atividades de uma empresa aberta pelo ministro – que lhe permitiram aumentar o patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos – Palocci ficou com ainda menos espaço e tempo na agenda para articular.
O que movia o ministro no debate ambiental, segundo assessores da pasta responsáveis pela interlocução como Legislativo, era a análise de que mudanças no Código Florestal teriam um efeito ruim para a imagem do governo. Isso vale tanto do ponto de vista internacional quanto considerando-se o eleitorado doméstico – sete meses depois de Marina Silva, candidata terceira colocada à Presidência, ter recebido 20 milhões de votos.
Foi com esse amparo que Teixeira e, mais comedidamente Vaccarezza, atuaram para adiar a votação. O desgaste com os outros partidos da base aconteceu e pouca gente se arrisca a prever os efeitos disso em futuras votações.
Como Rebelo não arreda pé de defender seu relatório – endossado pela bancada ruralista – o cenário que se vislumbra é de a matéria ser colocada em votação nos termos que desagradam o governo. O recurso deve ser apresentar, para ser apreciado em separado, emendas sobre os pontos polêmicos. Se a sequência se confirmar, são grandes as chances de uma primeira derrota governista na Câmara.
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Caso Palloci: Mino Carta chama à reflexão. Não dá pra ignorar o assunto.
O poder, quando corrompe
Mino Carta 20 de maio de 2011 às 10:24h
Silvio Berlusconi já não vive dias tão felizes. As eleições administrativas realizadas na Itália entre os dias 15 e 16 não favoreceram o seu partido ousadamente chamado Povo da Liberdade.
Praças importantes ficam nas mãos de prefeitos de centro-esquerda e a maior surpresa vem de Milão, a cidade do premier, onde a sua candidata, Letizia Moratti, em busca de reeleição, sai para o segundo turno em desvantagem em relação ao seu adversário, Giuliano Pisapia, esquerdista convicto.
Para tão fervoroso apaixonado pelo poder como Berlusconi, intérprete da ditadura da maioria a enxergar na oposição parlamentar e na Justiça que cumpre seu papel democrático a derradeira manifestação do comunismo, votos são combustível indispensável. Desta vez a colheita encolheu bastante ao registrar derrotas que pareciam impossíveis, de sorte a justificar quem fala de novo na antecipação das eleições políticas.
Berlusconi empenhou-se a fundo na campanha, mas sua retórica, mesmo exposta por uma rede maciça de televisão, não teve o efeito habitual junto a quantos ao elegê-lo envergonharam a Itália não menos do que ele. É lógico supor que as últimas desastradas façanhas do casanova da política italiana pesaram na balança eleitoral. Berlusconi é exemplar perfeito de quem se lambuza no poder. Porta-se como um sultão e se exibe suas fraquezas não é somente por obra de uma forma de jactância infantil, mas também, e sobretudo, porque certo de que tudo a ele é permitido.
Há nuances entre um abuso de poder e outro. O caso Strauss-Kahn, ao menos segundo meus reflexivos botões, é bem diferente. Antes de mais nada, dizem eles, como figura proeminente da política e da economia, ao contrário de Berlusconi, Strauss-Kahn é competente, e muito, e cogita de interesses bem diversos daqueles buscados pelo premier italiano. Que sempre se tratou de um sedutor era sabido, mas seus últimos lances donjuanescos chegam a revelar um traço doentio. Antes de explorar as benesses do poder, ele é vítima de si mesmo, e vai pagar caro por isso.
De outra natureza ainda é o caso do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, de características tipicamente nativas, de uma sociedade do privilégio vocacionado para a predação. O ex-ministro da Fazenda milita em uma categoria que no Brasil apresenta dimensões e tonelagem excepcionais. Os botões, insistentes, me levam a recordar personagens que influenciaram a política econômica brasileira nas últimas décadas, e ficaram ricos, melhor, riquíssimos, depois de deixarem seus cargos. Estabelecidas sólidas cabeças de ponte dentro dos gabinetes governistas, venderam a peso de ouro conselhos abastecidos pela chamada inside information. O próprio Palocci incumbe-se de desfiar um rosário de nomes ilustres que o precederam neste gênero de atividade. Sustenta, impávido, a seguinte tese: se eles pecaram, por que não eu?
A despeito de comportamento tão desarmado, não faltam elementos de surpresa, a começar pelo fato de que este desabrido pessoal fala de centenas de milhões como se fossem bagatela em um país tão desigual quanto o nosso. Capaz, contudo, de incluir quatro ricaços na lista dos cem mais enquanto não há um sequer a representar vários países do chamado Primeiro Mundo. Mas Palocci é um ex-trotskista, militante de um partido que até hoje se pretende de esquerda. E não falta quem acredite…
O desfecho do presente enredo é até imprevisível, mesmo porque o instituto da impunidade continua em pleno vigor. Neste exato instante, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cesar Peluso, se empenha em busca de um caminho para agilizar a Justiça brasileira.
É esforço louvável nesta nossa terra, onde os ricos não costumam correr o risco de ir para a cadeia e onde um criminoso comum como Cesare Battisti ainda espera pelo asilo político, concedido por um Estado disposto a assinar um Tratado de Extradição com a Itália sem confiar na Justiça deste país, e até a condená-la.
Aliás, o próprio Berlusconi a ataca sem quartel. Meus botões malignamente sugerem que talvez o premier italiano tenha alguma peculiar semelhança com variados esquerdistas brasileiros.
Mino Carta
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br
Silvio Berlusconi já não vive dias tão felizes. As eleições administrativas realizadas na Itália entre os dias 15 e 16 não favoreceram o seu partido ousadamente chamado Povo da Liberdade.
Praças importantes ficam nas mãos de prefeitos de centro-esquerda e a maior surpresa vem de Milão, a cidade do premier, onde a sua candidata, Letizia Moratti, em busca de reeleição, sai para o segundo turno em desvantagem em relação ao seu adversário, Giuliano Pisapia, esquerdista convicto.
Para tão fervoroso apaixonado pelo poder como Berlusconi, intérprete da ditadura da maioria a enxergar na oposição parlamentar e na Justiça que cumpre seu papel democrático a derradeira manifestação do comunismo, votos são combustível indispensável. Desta vez a colheita encolheu bastante ao registrar derrotas que pareciam impossíveis, de sorte a justificar quem fala de novo na antecipação das eleições políticas.
Berlusconi empenhou-se a fundo na campanha, mas sua retórica, mesmo exposta por uma rede maciça de televisão, não teve o efeito habitual junto a quantos ao elegê-lo envergonharam a Itália não menos do que ele. É lógico supor que as últimas desastradas façanhas do casanova da política italiana pesaram na balança eleitoral. Berlusconi é exemplar perfeito de quem se lambuza no poder. Porta-se como um sultão e se exibe suas fraquezas não é somente por obra de uma forma de jactância infantil, mas também, e sobretudo, porque certo de que tudo a ele é permitido.
Há nuances entre um abuso de poder e outro. O caso Strauss-Kahn, ao menos segundo meus reflexivos botões, é bem diferente. Antes de mais nada, dizem eles, como figura proeminente da política e da economia, ao contrário de Berlusconi, Strauss-Kahn é competente, e muito, e cogita de interesses bem diversos daqueles buscados pelo premier italiano. Que sempre se tratou de um sedutor era sabido, mas seus últimos lances donjuanescos chegam a revelar um traço doentio. Antes de explorar as benesses do poder, ele é vítima de si mesmo, e vai pagar caro por isso.
De outra natureza ainda é o caso do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, de características tipicamente nativas, de uma sociedade do privilégio vocacionado para a predação. O ex-ministro da Fazenda milita em uma categoria que no Brasil apresenta dimensões e tonelagem excepcionais. Os botões, insistentes, me levam a recordar personagens que influenciaram a política econômica brasileira nas últimas décadas, e ficaram ricos, melhor, riquíssimos, depois de deixarem seus cargos. Estabelecidas sólidas cabeças de ponte dentro dos gabinetes governistas, venderam a peso de ouro conselhos abastecidos pela chamada inside information. O próprio Palocci incumbe-se de desfiar um rosário de nomes ilustres que o precederam neste gênero de atividade. Sustenta, impávido, a seguinte tese: se eles pecaram, por que não eu?
A despeito de comportamento tão desarmado, não faltam elementos de surpresa, a começar pelo fato de que este desabrido pessoal fala de centenas de milhões como se fossem bagatela em um país tão desigual quanto o nosso. Capaz, contudo, de incluir quatro ricaços na lista dos cem mais enquanto não há um sequer a representar vários países do chamado Primeiro Mundo. Mas Palocci é um ex-trotskista, militante de um partido que até hoje se pretende de esquerda. E não falta quem acredite…
O desfecho do presente enredo é até imprevisível, mesmo porque o instituto da impunidade continua em pleno vigor. Neste exato instante, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cesar Peluso, se empenha em busca de um caminho para agilizar a Justiça brasileira.
É esforço louvável nesta nossa terra, onde os ricos não costumam correr o risco de ir para a cadeia e onde um criminoso comum como Cesare Battisti ainda espera pelo asilo político, concedido por um Estado disposto a assinar um Tratado de Extradição com a Itália sem confiar na Justiça deste país, e até a condená-la.
Aliás, o próprio Berlusconi a ataca sem quartel. Meus botões malignamente sugerem que talvez o premier italiano tenha alguma peculiar semelhança com variados esquerdistas brasileiros.
Mino Carta
Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br
Estudo coloca trabalhadores brasileiros em vantagem sobre norte-americanos
Levantamento aponta que assalariados têm mais proteção social no Brasil e que empregos gerados no País têm sido de melhor qualidade do que nos EUA
21 de maio de 2011 | 17h 54
Tiago Décimo, de O Estado de S. Paulo
SALVADOR - Um estudo realizado em parceria entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba) abrangendo 70% dos trabalhadores formais urbanos (não-agrícolas) do Brasil (55 milhões de pessoas) e dos Estados Unidos (116 milhões) causou surpresa, entre os próprios pesquisadores, ao atestar que, no Brasil, os assalariados têm mais proteção social e os empregos gerados têm sido de melhor qualidade do que nos Estados Unidos - mesmo antes da eclosão da crise econômica mundial, em 2008.
No ensaio "Os sentidos das precariedades em dois mercados nacionais de trabalho: Brasil e Estados Unidos", os pesquisadores Claudio Salvadori Dedecca e Wilson Menezes, professores, respectivamente, da Unicamp e da Ufba, levam em consideração dados oficiais dos países e fatores como remuneração, desigualdade da massa salarial e perfil do contrato de trabalho, de acordo com a segurança oferecida ao trabalhador.
De acordo com os pesquisadores, os resultados contestam teses que relacionam melhorias na remuneração média e na proteção social dos assalariados com menos regulação nos contratos de trabalho.
Segundo o estudo, enquanto houve, na última década, no Brasil, expansão na absorção de trabalhadores pelo mercado formal - com mais proteção social -, com aumento real na média de salários (13% entre 2001 e 2009), nos Estados Unidos ocorreu fenômeno inverso: a ampliação de vagas ocorre principalmente em áreas de remuneração mais baixa, como em grandes redes varejistas, e é seguida por constante diminuição na proteção social. Além disso, não resulta em aumento salarial médio real (3% entre 2001 e 2009).
Hoje, mostra a pesquisa, o trabalhador norte-americano não conta com diversos direitos legais com os quais os empregadores brasileiros têm de arcar, como férias e feriados remunerados, pagamento de horas extras e licença-maternidade.
"Os resultados apontam para uma redução das precariedades dos contratos de trabalho no mercado brasileiro, (...) situação que não encontra sinalização para o mercado de trabalho americano", conclui o estudo. "A constatação não confirma a tese que associa um menor desemprego e maior proteção a uma menor regulação dos contratos de trabalho, independentemente da efetividade das matrizes institucionais."
O levantamento integra um projeto maior, que inclui pesquisadores e universidades da Europa e dos Estados Unidos. A próxima etapa será comparar as realidades dos mercados de trabalho brasileiro e norte-americano com o mexicano.
21 de maio de 2011 | 17h 54
Tiago Décimo, de O Estado de S. Paulo
SALVADOR - Um estudo realizado em parceria entre a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba) abrangendo 70% dos trabalhadores formais urbanos (não-agrícolas) do Brasil (55 milhões de pessoas) e dos Estados Unidos (116 milhões) causou surpresa, entre os próprios pesquisadores, ao atestar que, no Brasil, os assalariados têm mais proteção social e os empregos gerados têm sido de melhor qualidade do que nos Estados Unidos - mesmo antes da eclosão da crise econômica mundial, em 2008.
No ensaio "Os sentidos das precariedades em dois mercados nacionais de trabalho: Brasil e Estados Unidos", os pesquisadores Claudio Salvadori Dedecca e Wilson Menezes, professores, respectivamente, da Unicamp e da Ufba, levam em consideração dados oficiais dos países e fatores como remuneração, desigualdade da massa salarial e perfil do contrato de trabalho, de acordo com a segurança oferecida ao trabalhador.
De acordo com os pesquisadores, os resultados contestam teses que relacionam melhorias na remuneração média e na proteção social dos assalariados com menos regulação nos contratos de trabalho.
Segundo o estudo, enquanto houve, na última década, no Brasil, expansão na absorção de trabalhadores pelo mercado formal - com mais proteção social -, com aumento real na média de salários (13% entre 2001 e 2009), nos Estados Unidos ocorreu fenômeno inverso: a ampliação de vagas ocorre principalmente em áreas de remuneração mais baixa, como em grandes redes varejistas, e é seguida por constante diminuição na proteção social. Além disso, não resulta em aumento salarial médio real (3% entre 2001 e 2009).
Hoje, mostra a pesquisa, o trabalhador norte-americano não conta com diversos direitos legais com os quais os empregadores brasileiros têm de arcar, como férias e feriados remunerados, pagamento de horas extras e licença-maternidade.
"Os resultados apontam para uma redução das precariedades dos contratos de trabalho no mercado brasileiro, (...) situação que não encontra sinalização para o mercado de trabalho americano", conclui o estudo. "A constatação não confirma a tese que associa um menor desemprego e maior proteção a uma menor regulação dos contratos de trabalho, independentemente da efetividade das matrizes institucionais."
O levantamento integra um projeto maior, que inclui pesquisadores e universidades da Europa e dos Estados Unidos. A próxima etapa será comparar as realidades dos mercados de trabalho brasileiro e norte-americano com o mexicano.
O lulismo elegeu Dilma e é nessa linha que o seu governo deveria seguir.
O ministro consultor
Palocci e as escolhas de Dilma
Palocci e as escolhas de Dilma
publicada sábado, 21/05/2011 às 19:27 e atualizada sábado, 21/05/2011 às 20:21
por Rodrigo Vianna
A denúncia contra Palocci parece consistente. Ah, mas a “Folha” quer desgastar a Dilma… E daí? O fato ocorreu ou não?
Ah, mas a denúncia foi vazada por “ruralistas” interessados em enfraquecer o ministro. E daí, de novo? É só quando os poderosos divergem que essas coisas vêm à tona…
Sim, Palocci (contradição do mundo real?!) cumpria nesse caso um papel positivo: negociava duramente com os ruralistas da base governista, para que aceitassem um Código Florestal menos retrógrado do que o proposto por Aldo Rebelo.
Por isso, criticar Palocci agora – dizem alguns apoiadores de Dilma – é fazer “o jogo da direita”. Será?
Aliás, se o caso surgiu como “fogo amigo” de dentro da base governista, por conta da votação do Código Florestal, a essa altura parece ter ganho dinâmica própria. Os jornais já relacionam o enriquecimento de Palocci à campanha de Dilma. Vale a pena manter um ministro que traz esse grau de instabilidade ao governo?
Quem acompanhou os bastidores da campanha eleitoral de 2010 sabe qual foi a opção de Dilma e do núcleo dirigente do PT no primeiro turno: tentaram ganhar a eleição só com o programa de TV e a popularidade do Lula. A idéia era ganhar sem fazer política. No primeiro turno, foi assim: campanha controlada pelo marqueteiro e pelos 3 porquinhos (Palocci, Dutra e Zé Eduardo).
Quem fez política foi o Serra. Politizou pela direita: trouxe aborto e religião para a campanha. Com isso, empurrou milhões de votos pra Marina, e levou a eleição pro segundo turno. Aí, a ficha no PT caiu. Dilma e o núcleo da campanha finalmente compreenderam o que já estávamos vendo na internet há semanas: o terrorismo conservador. Dilma deixou os conselhos do marqueteiro de lado, teve coragem de ir pra cima no debate da “Band” (primeiro domingo do segundo turno): pendurou no pescoço do Serra a história do aborto (a mulher de Serra tinha dito que Dilma gostava de “matar crancinhas”), falou em Paulo Preto, reanimou a militância.
Se Dilma tivesse insistido no figurino do primeiro turno, poderia ter perdido a eleição. Pesquisas internas, pouco antes do debate da Band, davam apenas 4 pontos de diferença sobre Serra no início do segundo turno. Foi a realidade que levou Dilma a mudar de figurino.
Pois bem. Passada a eleição, Dilma montou o ministério e começou a governar. Como? Com o figurino idêntico ao usado no primeiro turno da eleição: sem política, longe dos movimentos sociais, procurando agradar o “mercado” e a “velha mídia”. Foi uma escolha.
Palocci tem a ver com isso. Coordenou a campanha. Ele quer um governo moderadíssimo, que não assuste a turma a quem dá “consultoria”.
Logo no início do governo, estava claro que Dilma procurava ocupar um espaço mais ao centro. Lula tinha (e tem) apoio da esquerda tradicional, dos movimentos sociais, do povão que saiu da miséria. Dilma foi em direção à classe média que lê a “Veja”. Com Palocci à frente. Palocci é amigo da “Veja” e da “Globo”. Palocci é blindado na “Globo”. Perguntem ao Azenha o que aconteceu na Globo quando ele tentou fazer uma reportagem sobre o irmão do Palocci, 5 anos atrás…
Renato Rovai publicou em seu blog um texto que mostra a repercussão desastrosa – para o governo – do caso Palocci nas redes sociais. Como aconteceu na eleição, com o aborto e a onda consevadora: primeiro os temas batem na internet, depois chegam às ruas.
Assim como ocorreu na eleição, Dilma talvez perceba que o figurino palocciano não garantirá estabilidade ao governo. Com quem ela vai contar quando enfrentar crise séria? Com a família Marinho? Com os banqueiros?
Dilma segue com popularidade alta. Mas o caso Palocci mostra os limites do governo. E os riscos que ela corre diante da primeira crise mais grave. Pode faltar base social…
Mas, seja qual for a escolha de Dilma (ela a essa altura parece mais próxima de optar por um acerto “por cima”, com os que mandam nas finanças e nas comunicações do Brasil), é inaceitável que o governo vote o novo Código Florestal sob chantagem dos ruralistas.
O governo está sob pressão dos ruralistas, que dizem nos bastidores: “a oposição pode maneirar com o Palocci, desde que passe o Código Florestal que nós queremos!”
O texto vai a votação na terça.
Hoje, o governo Dilma corre o seguinte risco: aceitar a chantagem dos ruralistas pra salvar Palocci e… não conseguir salvar Palocci. Seria um desastre.
Dilma precisa fazer uma escolha agora. Semelhante à que ela fez naquele debate na “Band”, no início do segundo turno. A quem ela pretende agradar? À turma do Palocci, ou à turma que foi à rua e garantiu a vitória dela enfrentando a onda conservadora que Serra trouxe para o debate?
A oposição está enfraquecida. O lulismo é forte e dominante no país. Mas o governo Dilma parece frágil. Equação estranha. É preciso aproximar o governo Dilma do lulismo. Dilma ganhou por causa disso. Vai governar, de verdade, se estiver alinhada ao lulismo.
Leia outros textos de Palavra Minha
por Rodrigo Vianna
A denúncia contra Palocci parece consistente. Ah, mas a “Folha” quer desgastar a Dilma… E daí? O fato ocorreu ou não?
Ah, mas a denúncia foi vazada por “ruralistas” interessados em enfraquecer o ministro. E daí, de novo? É só quando os poderosos divergem que essas coisas vêm à tona…
Sim, Palocci (contradição do mundo real?!) cumpria nesse caso um papel positivo: negociava duramente com os ruralistas da base governista, para que aceitassem um Código Florestal menos retrógrado do que o proposto por Aldo Rebelo.
Por isso, criticar Palocci agora – dizem alguns apoiadores de Dilma – é fazer “o jogo da direita”. Será?
Aliás, se o caso surgiu como “fogo amigo” de dentro da base governista, por conta da votação do Código Florestal, a essa altura parece ter ganho dinâmica própria. Os jornais já relacionam o enriquecimento de Palocci à campanha de Dilma. Vale a pena manter um ministro que traz esse grau de instabilidade ao governo?
Quem acompanhou os bastidores da campanha eleitoral de 2010 sabe qual foi a opção de Dilma e do núcleo dirigente do PT no primeiro turno: tentaram ganhar a eleição só com o programa de TV e a popularidade do Lula. A idéia era ganhar sem fazer política. No primeiro turno, foi assim: campanha controlada pelo marqueteiro e pelos 3 porquinhos (Palocci, Dutra e Zé Eduardo).
Quem fez política foi o Serra. Politizou pela direita: trouxe aborto e religião para a campanha. Com isso, empurrou milhões de votos pra Marina, e levou a eleição pro segundo turno. Aí, a ficha no PT caiu. Dilma e o núcleo da campanha finalmente compreenderam o que já estávamos vendo na internet há semanas: o terrorismo conservador. Dilma deixou os conselhos do marqueteiro de lado, teve coragem de ir pra cima no debate da “Band” (primeiro domingo do segundo turno): pendurou no pescoço do Serra a história do aborto (a mulher de Serra tinha dito que Dilma gostava de “matar crancinhas”), falou em Paulo Preto, reanimou a militância.
Se Dilma tivesse insistido no figurino do primeiro turno, poderia ter perdido a eleição. Pesquisas internas, pouco antes do debate da Band, davam apenas 4 pontos de diferença sobre Serra no início do segundo turno. Foi a realidade que levou Dilma a mudar de figurino.
Pois bem. Passada a eleição, Dilma montou o ministério e começou a governar. Como? Com o figurino idêntico ao usado no primeiro turno da eleição: sem política, longe dos movimentos sociais, procurando agradar o “mercado” e a “velha mídia”. Foi uma escolha.
Palocci tem a ver com isso. Coordenou a campanha. Ele quer um governo moderadíssimo, que não assuste a turma a quem dá “consultoria”.
Logo no início do governo, estava claro que Dilma procurava ocupar um espaço mais ao centro. Lula tinha (e tem) apoio da esquerda tradicional, dos movimentos sociais, do povão que saiu da miséria. Dilma foi em direção à classe média que lê a “Veja”. Com Palocci à frente. Palocci é amigo da “Veja” e da “Globo”. Palocci é blindado na “Globo”. Perguntem ao Azenha o que aconteceu na Globo quando ele tentou fazer uma reportagem sobre o irmão do Palocci, 5 anos atrás…
Renato Rovai publicou em seu blog um texto que mostra a repercussão desastrosa – para o governo – do caso Palocci nas redes sociais. Como aconteceu na eleição, com o aborto e a onda consevadora: primeiro os temas batem na internet, depois chegam às ruas.
Assim como ocorreu na eleição, Dilma talvez perceba que o figurino palocciano não garantirá estabilidade ao governo. Com quem ela vai contar quando enfrentar crise séria? Com a família Marinho? Com os banqueiros?
Dilma segue com popularidade alta. Mas o caso Palocci mostra os limites do governo. E os riscos que ela corre diante da primeira crise mais grave. Pode faltar base social…
Mas, seja qual for a escolha de Dilma (ela a essa altura parece mais próxima de optar por um acerto “por cima”, com os que mandam nas finanças e nas comunicações do Brasil), é inaceitável que o governo vote o novo Código Florestal sob chantagem dos ruralistas.
O governo está sob pressão dos ruralistas, que dizem nos bastidores: “a oposição pode maneirar com o Palocci, desde que passe o Código Florestal que nós queremos!”
O texto vai a votação na terça.
Hoje, o governo Dilma corre o seguinte risco: aceitar a chantagem dos ruralistas pra salvar Palocci e… não conseguir salvar Palocci. Seria um desastre.
Dilma precisa fazer uma escolha agora. Semelhante à que ela fez naquele debate na “Band”, no início do segundo turno. A quem ela pretende agradar? À turma do Palocci, ou à turma que foi à rua e garantiu a vitória dela enfrentando a onda conservadora que Serra trouxe para o debate?
A oposição está enfraquecida. O lulismo é forte e dominante no país. Mas o governo Dilma parece frágil. Equação estranha. É preciso aproximar o governo Dilma do lulismo. Dilma ganhou por causa disso. Vai governar, de verdade, se estiver alinhada ao lulismo.
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sábado, 21 de maio de 2011
Espanha vai às ruas por uma “sociedade nova que dê prioridade à vida acima dos interesses econômicos e políticos”
Via cartamaior.com.br Internacional| 20/05/2011
O mundo à espera de Madri
Espanha vai às ruas por uma “sociedade nova que dê prioridade à vida acima dos interesses econômicos e políticos”, inspirando outros movimentos e países. Para um modelo de revolução que levou apenas três meses para cruzar o abismo econômico e social demarcado pelo mar Mediterrâneo, parece um tanto óbvio que espalhar-se dentro das fronteiras da União Europeia é o menor dos saltos. Uma semana depois, poucos duvidam da #revoluçãoespanhola. O artigo é de Wilson Sobrinho.
Wilson Sobrinho, correspondente da Carta Maior em Londres
“Ninguém espera a #revoluçãoespanhola”, diz, citando Monty Phython e o formato hashtag consagrado no Twitter, um dos cartazes favoritos na praça Puerta del Sol em Madrid, onde milhares de manifestantes protestam contra o desemprego, a crise econômica e o sistema político espanhol. Embora chamar os acontecimentos atuais no país de “revolução” seja um certo atropelo no momento, a frase sintetiza com alguma precisão o movimento nascido para ser um evento de um dia de duração e que agora causa arrepios na espinha dos políticos ao ameaçar reencenar roteiros vividos em Tunísia, Egito, Iêmen, Barein, Siria, Marrocos, Líbia e outros. Desta vez, à margem norte do Mediterrâneo.
Há, em um relato feito pelo independente PeriodismoHumano.com, uma boa pista sobre a gênese do que vem acontecendo no país ibérico. “Tudo isso surge de uma iniciativa espontânea de um grupo de pessoas que decidiu dormir na praça depois de uma manifestação. Era fácil assim! Poderia ter sido eu ou você, mas foram essas 40 pessoas que iniciaram tudo”, disse uma voz anônima em meio aos manifestantes de Madri, na praça-tornada-quartel-general temporário dos descontentes, que agora já somam uma multidão.
No domingo passado, milhares de pessoas foram às ruas do país – uma semana antes das eleições municipais. Convocados pelo movimento Democracia Real Já, sob o slogan “não somos mercadorias nas mãos de banqueiros e políticos”, 130 mil pessoas protestaram em dezenas de cidades espanholas. “Esta mobilização foi o princípio de uma série de longo prazo”, dizia um comunicado publicado na terça-feira, quando os passos levavam a crer que a ocupação das praças seguiria em crescimento. “O que nos move é a firme convicção de aprofundar o caminho que começamos”.
“Somos pessoas que viemos livre e voluntariamente”, reforça outro manifesto publicado em tomalaplaza.net, site que reúne relatos das manifestações através da Espanha e em outros países onde cidadãos espanhóis se solidarizam. O texto, traduzido para mais de uma dezena de línguas por voluntários via internet, defende “uma sociedade nova que dê prioridade à vida acima dos interesses econômicos e políticos. (..) [Queremos] Demonstrar que a sociedade não adormeceu e que seguiremos lutando pelo que merecemos mediante a via pacífica”.
“É uma vitória inquestionável que uma organização criada há três meses seja capaz de mobilizar dezenas de milhares de pessoas em mais de 50 cidades da Espanha sem o apoio de nenhum partido político, de nenhum sindicato e de nenhum grande meio de comunicação”, analisa em seu blog o jornalista Ignacio Escolar, que graças à cobertura do evento que vem fazendo está recebendo 200 mil visitas por hora em seu site (www.escolar.net).
Era quarta-feira à noite quando o El País concedia “um salto de qualidade notável nas manifestações”. Nos primeiros dias, dizia o jornal madrileno “eram os jovens e as pessoas em contato com as redes sociais que foram à Puerta del Sol”. Agora juntam-se à aglomeração os “adultos, gente cuja informação chega através dos meios de comunicação tradicionais”. “A chama dos indignados se mantém viva. E não parece que irá se apagar até domingo. Tudo indica que irá além. Há muita gente que está farta”, reconhece o diário.
Com o crescimento do acampamento, grupos de trabalho foram formados – com voluntários cuidando da limpeza, da alimentação, do fornecimento de sinal de internet e da organização geral. Até uma enfermaria foi montada na praça Puerta del Sol. Além, claro, das discussões políticas.
Entre as ideias defendidas na praça, segundo relato de Periodismo Humano, estão a reforma da lei eleitoral, propondo o fim do financiamento privado das campanhas; maior participação popular na formatação dos orçamentos públicos; reformas trabalhistas, políticas e fiscais, com o aumento do imposto de renda nas camadas mais ricas da população; aumento do salário mínimo e maior controle sobre a atividade dos bancos. Sugestões que se somam a uma carta de propostas exposta pelo Democracia Real Já, que defendem medidas que preservem os serviços públicos de qualidade e reduzam os gastos militares, para ficar em dois exemplos.
Impasse
Diante de eleições regionais no domingo, a Junta Eleitoral Central votou pela proibição de manifestações durante o final de semana, sob o argumento de que o resultado das urnas poderia ser influenciado e distorcido pela presença dos manifestantes nas praças do país.
Em uma enquete conduzida pelo jornal Público, 95% das pessoas se mostraram contrárias à decisão da Junta Eleitoral. E mesmo pessoas ligadas à polícia – a quem caberá a missão de desalojar os “indignados” (como a imprensa espanhola vem chamado os manifestantes) – já se declararam contrárias à ideia de removê-los. “Seria um erro tremendo, um erro absoluto a polícia desocupar a praça”, disse o vice-secretário da Confederação Espanhola de Polícia, Lorenzo Nebrera, em um texto produzido pela Europa Press na tarde desta sexta-feira.
É improvável, porém, que a decisão desfaça os acampamentos e que os manifestantes voltem para casa. Pelo contrário, uma convocação de mobilização para os primeiros minutos da madrugada de sábado corre a internet, e a hashtags #nonosvamos é uma das favoritas.
“Queremos lembrar que não nos identificamos com nenhum partido político, nenhuma organização sindical ou social”, responderam os manifestantes em um comunicado, para logo em seguira convidar “todas as pessoas que queriam participar, que venham à [praça Puerto del] Sol ou às praças de suas cidades”.
Enquanto os populares cantam e gritam à espera do sábado que os proíbe de estar na rua, sem sinal algum de recuo, um fato inescapável que deve se verificar no decorrer dos próximos dias está exposto na capa do jornal Público. “Ontem era uma tendência. Hoje uma realidade. O movimento cidadão que desde domingo passado se concentra nas praças da Espanha, encontrou eco e vozes em todos os cantos do mundo”, observa o jornal. “De Los Angeles a Sidney passando pela Cidade do México, Helsinki, Budapeste e Roma. São mais de 230 [cidades com manifestações]”.
A maioria das manifestações formadas por cidadãos espanhóis demonstrando apoio aos seus pares. Porém, na Itália já há um embrião formado por italianos dispostos a levar as suas próprias angústias às ruas. “Decidimos unir as nossas convocatórias com as de Democracia Real Já porque a nossa situação não é muito diferente do que a espanhola”, disse um ativista, com manifestações programadas para Roma, Turin, Bolonha, Milão, Bari, Perugia, Trieste, Florença.
Para um modelo de revolução que levou apenas três meses para cruzar o abismo econômico e social demarcado pelo mar Mediterrâneo, parece um tanto óbvio que espalhar-se dentro das fronteiras da União Europeia é o menor dos saltos. Uma semana depois, poucos duvidam da #revoluçãoespanhola.
Clique aqui e confira o mapa das manifestações
http://www.thetechnoant.info/campmap/
Fotos: Julio Albarran (http://www.flickr.com/photos/julioalbarran/)
Wilson Sobrinho, correspondente da Carta Maior em Londres
“Ninguém espera a #revoluçãoespanhola”, diz, citando Monty Phython e o formato hashtag consagrado no Twitter, um dos cartazes favoritos na praça Puerta del Sol em Madrid, onde milhares de manifestantes protestam contra o desemprego, a crise econômica e o sistema político espanhol. Embora chamar os acontecimentos atuais no país de “revolução” seja um certo atropelo no momento, a frase sintetiza com alguma precisão o movimento nascido para ser um evento de um dia de duração e que agora causa arrepios na espinha dos políticos ao ameaçar reencenar roteiros vividos em Tunísia, Egito, Iêmen, Barein, Siria, Marrocos, Líbia e outros. Desta vez, à margem norte do Mediterrâneo.
Há, em um relato feito pelo independente PeriodismoHumano.com, uma boa pista sobre a gênese do que vem acontecendo no país ibérico. “Tudo isso surge de uma iniciativa espontânea de um grupo de pessoas que decidiu dormir na praça depois de uma manifestação. Era fácil assim! Poderia ter sido eu ou você, mas foram essas 40 pessoas que iniciaram tudo”, disse uma voz anônima em meio aos manifestantes de Madri, na praça-tornada-quartel-general temporário dos descontentes, que agora já somam uma multidão.
No domingo passado, milhares de pessoas foram às ruas do país – uma semana antes das eleições municipais. Convocados pelo movimento Democracia Real Já, sob o slogan “não somos mercadorias nas mãos de banqueiros e políticos”, 130 mil pessoas protestaram em dezenas de cidades espanholas. “Esta mobilização foi o princípio de uma série de longo prazo”, dizia um comunicado publicado na terça-feira, quando os passos levavam a crer que a ocupação das praças seguiria em crescimento. “O que nos move é a firme convicção de aprofundar o caminho que começamos”.
“Somos pessoas que viemos livre e voluntariamente”, reforça outro manifesto publicado em tomalaplaza.net, site que reúne relatos das manifestações através da Espanha e em outros países onde cidadãos espanhóis se solidarizam. O texto, traduzido para mais de uma dezena de línguas por voluntários via internet, defende “uma sociedade nova que dê prioridade à vida acima dos interesses econômicos e políticos. (..) [Queremos] Demonstrar que a sociedade não adormeceu e que seguiremos lutando pelo que merecemos mediante a via pacífica”.
“É uma vitória inquestionável que uma organização criada há três meses seja capaz de mobilizar dezenas de milhares de pessoas em mais de 50 cidades da Espanha sem o apoio de nenhum partido político, de nenhum sindicato e de nenhum grande meio de comunicação”, analisa em seu blog o jornalista Ignacio Escolar, que graças à cobertura do evento que vem fazendo está recebendo 200 mil visitas por hora em seu site (www.escolar.net).
Era quarta-feira à noite quando o El País concedia “um salto de qualidade notável nas manifestações”. Nos primeiros dias, dizia o jornal madrileno “eram os jovens e as pessoas em contato com as redes sociais que foram à Puerta del Sol”. Agora juntam-se à aglomeração os “adultos, gente cuja informação chega através dos meios de comunicação tradicionais”. “A chama dos indignados se mantém viva. E não parece que irá se apagar até domingo. Tudo indica que irá além. Há muita gente que está farta”, reconhece o diário.
Com o crescimento do acampamento, grupos de trabalho foram formados – com voluntários cuidando da limpeza, da alimentação, do fornecimento de sinal de internet e da organização geral. Até uma enfermaria foi montada na praça Puerta del Sol. Além, claro, das discussões políticas.
Entre as ideias defendidas na praça, segundo relato de Periodismo Humano, estão a reforma da lei eleitoral, propondo o fim do financiamento privado das campanhas; maior participação popular na formatação dos orçamentos públicos; reformas trabalhistas, políticas e fiscais, com o aumento do imposto de renda nas camadas mais ricas da população; aumento do salário mínimo e maior controle sobre a atividade dos bancos. Sugestões que se somam a uma carta de propostas exposta pelo Democracia Real Já, que defendem medidas que preservem os serviços públicos de qualidade e reduzam os gastos militares, para ficar em dois exemplos.
Impasse
Diante de eleições regionais no domingo, a Junta Eleitoral Central votou pela proibição de manifestações durante o final de semana, sob o argumento de que o resultado das urnas poderia ser influenciado e distorcido pela presença dos manifestantes nas praças do país.
Em uma enquete conduzida pelo jornal Público, 95% das pessoas se mostraram contrárias à decisão da Junta Eleitoral. E mesmo pessoas ligadas à polícia – a quem caberá a missão de desalojar os “indignados” (como a imprensa espanhola vem chamado os manifestantes) – já se declararam contrárias à ideia de removê-los. “Seria um erro tremendo, um erro absoluto a polícia desocupar a praça”, disse o vice-secretário da Confederação Espanhola de Polícia, Lorenzo Nebrera, em um texto produzido pela Europa Press na tarde desta sexta-feira.
É improvável, porém, que a decisão desfaça os acampamentos e que os manifestantes voltem para casa. Pelo contrário, uma convocação de mobilização para os primeiros minutos da madrugada de sábado corre a internet, e a hashtags #nonosvamos é uma das favoritas.
“Queremos lembrar que não nos identificamos com nenhum partido político, nenhuma organização sindical ou social”, responderam os manifestantes em um comunicado, para logo em seguira convidar “todas as pessoas que queriam participar, que venham à [praça Puerto del] Sol ou às praças de suas cidades”.
Enquanto os populares cantam e gritam à espera do sábado que os proíbe de estar na rua, sem sinal algum de recuo, um fato inescapável que deve se verificar no decorrer dos próximos dias está exposto na capa do jornal Público. “Ontem era uma tendência. Hoje uma realidade. O movimento cidadão que desde domingo passado se concentra nas praças da Espanha, encontrou eco e vozes em todos os cantos do mundo”, observa o jornal. “De Los Angeles a Sidney passando pela Cidade do México, Helsinki, Budapeste e Roma. São mais de 230 [cidades com manifestações]”.
A maioria das manifestações formadas por cidadãos espanhóis demonstrando apoio aos seus pares. Porém, na Itália já há um embrião formado por italianos dispostos a levar as suas próprias angústias às ruas. “Decidimos unir as nossas convocatórias com as de Democracia Real Já porque a nossa situação não é muito diferente do que a espanhola”, disse um ativista, com manifestações programadas para Roma, Turin, Bolonha, Milão, Bari, Perugia, Trieste, Florença.
Para um modelo de revolução que levou apenas três meses para cruzar o abismo econômico e social demarcado pelo mar Mediterrâneo, parece um tanto óbvio que espalhar-se dentro das fronteiras da União Europeia é o menor dos saltos. Uma semana depois, poucos duvidam da #revoluçãoespanhola.
Clique aqui e confira o mapa das manifestações
http://www.thetechnoant.info/campmap/
Fotos: Julio Albarran (http://www.flickr.com/photos/julioalbarran/)
A juventude espanhola sai às ruas num movimento que ameaça se espalhar pela Europa.
Internacional| 20/05/2011Via cartamaior.com.br
Cresce na Espanha a Revolução dos Indignados
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens. A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o FMI, a OTAN, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: PP e PSOE. O artigo é de Armando G. Tejeda, do La Jornada.
Armando G. Tejeda - La Jornada
Acompanhe a Revolução dos Indignados, ao vivo, direto de Madri, pela Soltv
A Junta Eleitoral Central da Espanha proibiu em todo o país qualquer manifestação desde a zero hora de sábado até às 24 horas de domingo, dia das eleições municipais, em uma clara alusão às mobilizações do movimento cidadão Democracia Real Já que, desde o último domingo, ocorrem em repúdio ao modelo político e econômico vigente e que já se espalharam em escala nacional.
Alfredo Peréz Rubalcaba, ministro do Interior, declarou que o governo só esperava o pronunciamento da junta eleitoral para decidir se ordena à polícia dispersar os manifestantes. Enquanto isso, milhares de cidadãos indignados na Porta do Sol, em Madri, na Praça da Catalunha, em Barcelona, na Praça do Pilar, em Zaragoza, e no Parasol da Encarnação, em Sevilla, entre outras, voltaram a romper o cerco policial e, uma vez mais, repudiaram a política, banqueiros e empresários.
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens e acabou se estendendo para a comunidade espanhola na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e México, entre outros países.
No quinto dia de mobilizações a afluência aumentou sensivelmente, sobretudo em Madri e Barcelona, onde dezenas de milhares entoaram palavras de ordem durante horas. Uma delas advertia: se vocês não nos deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir.
Os manifestantes desenvolveram métodos de organização através de comissões por setores – saúde, alimentação, meios de comunicação, etc. -, que decidem cada atividade. Nas assembleias gerais decide-se a estratégia e busca-se uma mensagem política unificada que mostrem as principais razões de descontentamento e protesto. Na quinta-feira, por exemplo, decidiu-se manter a mobilização até o próximo domingo, quando ocorrem as eleições locais, e, o mais importante, confirmar a convocatória para a manifestação deste sábado.
Mais tarde, a Junta Eleitoral Central declarou ilegais as concentrações, ao considerar que elas não se ajustam à lei eleitoral e excedem o direito de manifestação garantido constitucionalmente. De fato, desde o início da semana, todas as mobilizações, concentrações e marchas da “revolução espanhola” foram declaradas ilegais pela Junta Eleitoral de Madri. Em resposta, o número de indignados se multiplicou.
Depois de conhecer a decisão da Junta Eleitoral Central, o movimento cidadão decidiu simplesmente manter o acampamento, ao mesmo tempo em que ecoou um grito unânime: não nos tirarão daqui, vamos ganhar esta revolução. Em seguida, foi lido o manifesto original do movimento em uma dezena de idiomas. O texto aponta a classe política e os meios de comunicação eletrônicos como os grandes aliados dos agentes financeiros, os causadores e grandes beneficiários da crise. Advertem que é preciso um discurso político capaz de reconstruir o tecido social, sistematicamente enfraquecido por anos de mentiras e corrupção. “Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos políticos majoritários, mas isso não equivale a perder nosso sentido crítico. Não tememos a política. Tomar a palavra é política. Buscar alternativas de participação cidadã é política”.
A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o Fundo Monetário Internacional, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: o direitista Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda.
A reação da direita
Desde a esquerda, há tentativas de aproximação aos indignados. O líder do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, disse que é preciso escutar e ter sensibilidade porque há razões para a expressão desse descontentamento e dessa crítica. O líder da Esquerda Unida, Cayo Lara, defendeu o fim da submissão e do bipartidarismo, propiciado pela atual lei eleitoral.
Mas o setor duro da direita política e midiática reclamou com insistência a atuação policial para acabar com todas as mobilizações, sobretudo na Porta do Sul, e pediu inclusive ao Ministério do Interior para que adotasse meios violentos para assegurar esse fim. Uma das imagens do dia (quinta-feira) foi a do ex-ministro da Defesa durante o governo de José María Aznar, Federico Trillo, insultando com o dedo um grupo de cidadãos da revolução dos indignados.
As desqualificações mais fortes vieram, porém, dos meios de comunicação conservadores e da televisão pública de Madri, que acusaram o movimento de ser comunista, socialista, antissistema e de ter relação com o ETA. Um dos ideólogos da direita, César Vidal, foi mais além e depois de chamar, depreciativamente os manifestantes de “perroflautas” (tribo urbana também conhecida como ‘pés pretos’, formada por punks, anarquistas, hippies e ‘gente desocupada’), assegurou que estes jovens mantém contato regular com o Batasuna-ETA e que receberam cursos de guerrilha urbana, da Segi (organização de juventude da esquerda basca).
O movimento cidadão tem seu próprio canal de televisão, que transmite sem cessar as imagens da Porta do Sul (www.solttv.tv).
Tradução: Katarina Peixoto
Fotos: Xinhua
Armando G. Tejeda - La Jornada
Acompanhe a Revolução dos Indignados, ao vivo, direto de Madri, pela Soltv
A Junta Eleitoral Central da Espanha proibiu em todo o país qualquer manifestação desde a zero hora de sábado até às 24 horas de domingo, dia das eleições municipais, em uma clara alusão às mobilizações do movimento cidadão Democracia Real Já que, desde o último domingo, ocorrem em repúdio ao modelo político e econômico vigente e que já se espalharam em escala nacional.
Alfredo Peréz Rubalcaba, ministro do Interior, declarou que o governo só esperava o pronunciamento da junta eleitoral para decidir se ordena à polícia dispersar os manifestantes. Enquanto isso, milhares de cidadãos indignados na Porta do Sol, em Madri, na Praça da Catalunha, em Barcelona, na Praça do Pilar, em Zaragoza, e no Parasol da Encarnação, em Sevilla, entre outras, voltaram a romper o cerco policial e, uma vez mais, repudiaram a política, banqueiros e empresários.
O movimento que iniciou no dia 15 de maio, chamado 15-M ou a “revolução espanhola”, cresceu quinta-feira com panelaços que reuniram multidões em dezenas de cidades de todo o país para exigir a mudança de um sistema que consideram injusto. A revolta cresce a cada hora. Começou com uma convocatória nas redes sociais e internet para repudiar a corrupção endêmica do sistema e a falta de oportunidades para os mais jovens e acabou se estendendo para a comunidade espanhola na Itália, Inglaterra, Estados Unidos e México, entre outros países.
No quinto dia de mobilizações a afluência aumentou sensivelmente, sobretudo em Madri e Barcelona, onde dezenas de milhares entoaram palavras de ordem durante horas. Uma delas advertia: se vocês não nos deixam sonhar, nós não os deixaremos dormir.
Os manifestantes desenvolveram métodos de organização através de comissões por setores – saúde, alimentação, meios de comunicação, etc. -, que decidem cada atividade. Nas assembleias gerais decide-se a estratégia e busca-se uma mensagem política unificada que mostrem as principais razões de descontentamento e protesto. Na quinta-feira, por exemplo, decidiu-se manter a mobilização até o próximo domingo, quando ocorrem as eleições locais, e, o mais importante, confirmar a convocatória para a manifestação deste sábado.
Mais tarde, a Junta Eleitoral Central declarou ilegais as concentrações, ao considerar que elas não se ajustam à lei eleitoral e excedem o direito de manifestação garantido constitucionalmente. De fato, desde o início da semana, todas as mobilizações, concentrações e marchas da “revolução espanhola” foram declaradas ilegais pela Junta Eleitoral de Madri. Em resposta, o número de indignados se multiplicou.
Depois de conhecer a decisão da Junta Eleitoral Central, o movimento cidadão decidiu simplesmente manter o acampamento, ao mesmo tempo em que ecoou um grito unânime: não nos tirarão daqui, vamos ganhar esta revolução. Em seguida, foi lido o manifesto original do movimento em uma dezena de idiomas. O texto aponta a classe política e os meios de comunicação eletrônicos como os grandes aliados dos agentes financeiros, os causadores e grandes beneficiários da crise. Advertem que é preciso um discurso político capaz de reconstruir o tecido social, sistematicamente enfraquecido por anos de mentiras e corrupção. “Nós, cidadãos, perdemos o respeito pelos partidos políticos majoritários, mas isso não equivale a perder nosso sentido crítico. Não tememos a política. Tomar a palavra é política. Buscar alternativas de participação cidadã é política”.
A também chamada Revolução dos Indignados acusa, pela situação atual, o Fundo Monetário Internacional, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a União Europeia, as agências de classificação de risco, o Banco Mundial e, no caso da Espanha, os dois grandes partidos: o direitista Partido Popular (PP) e o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de centro-esquerda.
A reação da direita
Desde a esquerda, há tentativas de aproximação aos indignados. O líder do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, disse que é preciso escutar e ter sensibilidade porque há razões para a expressão desse descontentamento e dessa crítica. O líder da Esquerda Unida, Cayo Lara, defendeu o fim da submissão e do bipartidarismo, propiciado pela atual lei eleitoral.
Mas o setor duro da direita política e midiática reclamou com insistência a atuação policial para acabar com todas as mobilizações, sobretudo na Porta do Sul, e pediu inclusive ao Ministério do Interior para que adotasse meios violentos para assegurar esse fim. Uma das imagens do dia (quinta-feira) foi a do ex-ministro da Defesa durante o governo de José María Aznar, Federico Trillo, insultando com o dedo um grupo de cidadãos da revolução dos indignados.
As desqualificações mais fortes vieram, porém, dos meios de comunicação conservadores e da televisão pública de Madri, que acusaram o movimento de ser comunista, socialista, antissistema e de ter relação com o ETA. Um dos ideólogos da direita, César Vidal, foi mais além e depois de chamar, depreciativamente os manifestantes de “perroflautas” (tribo urbana também conhecida como ‘pés pretos’, formada por punks, anarquistas, hippies e ‘gente desocupada’), assegurou que estes jovens mantém contato regular com o Batasuna-ETA e que receberam cursos de guerrilha urbana, da Segi (organização de juventude da esquerda basca).
O movimento cidadão tem seu próprio canal de televisão, que transmite sem cessar as imagens da Porta do Sul (www.solttv.tv).
Tradução: Katarina Peixoto
Fotos: Xinhua
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