segunda-feira, 23 de maio de 2011

Caso Palocci: Discutir o assunto, sem fazer o jogo do PiG e sem constrangimento.

Nota do editor: 
Este blog tem procurado promover discussão sobre o assunto, a partir de questionamentos veiculados através de fontes fora da esfera do PiG. Somos totalmente contra a repercussão de matérias produzidas por aqueles veículos que, sabemos, jogam com a opinião pública na busca da desestabilização dos governos de esquerda. Foi assim com o de Lula (ainda é) e, agora, com o de Dilma. 
Acreditamos que a discussão deva ocorrer para esclarecer as dúvidas eventuais e, se possível, em tempo real. Só assim formaremos uma contraposição à altura do enfrentamento.
As críticas são cabíveis. 
O PiG já tem as suas formas, amplamente financiadas, de divulgação das suas idéias e interesses. A blogosfera progressista, os Blogs Sujos, não deveriam estar entre elas. Porém, não cabe censura, repreensão ou boicote quando "amigos" questionam atos do governo e de seus representantes. Colocar seus argumentos em discussão não significa que os apoiamos, mas que respeitamos as suas opiniões e desejamos debatê-las.




José Serra 2012 faz 1 a 0 com dossiê Palocci. Com ajuda de blogs “sujos”.
Segunda-feira 23, maio 2011

O jornal Folha de São Paulo, expoente da imprensa demo-tucana, soltou o dossiê “Palocci”, denunciando que ele aumentou seu patrimônio, sem sequer se dar ao trabalho de apurar se há algo ilícito ou não, antes de publicar.

A Folha sabia que bastava soltar essa notícia no ventilador para matar dois coelhos com uma cajadada só:

1) Para parte da esquerda, ficar rico (independente de como fique) é traição aos ideais socialistas (mesmo sabendo que Engels foi um industrial milionário que contribuiu, não apenas intelectualmente, mas também financeiramente para a propagação do marxismo), e gente que sempre se ôpos a Palocci no governo, por considerá-lo por demais ortodoxo na economia, aproveitaria o noticiário para partir para cima e tentar derrubá-lo do ministério de Dilma. O alvo desta esquerda é Palocci, mas a imprensa demo-tucana a está usando como bucha de canhão para atingir seu verdadeiro alvo: desestabilizar o governo Dilma.

2) A classe média udenista demo-tucana, leitora da Folha, começou a ver com bons olhos a Presidenta Dilma Rousseff, e passou a reprovar a campanha de baixaria de José Serra em 2010 (até porque não deu certo). A inflação não vai inflar como esperava a oposição. Para piorar, escândalos do governo Serra e Alckmin estão vindo à tona. Então, o projeto de poder demo-tucano precisava de uma dose de escândalo para recuperar nos conservadores, o fervor anti-lulista, anti-petista e anti-esquerda, já que há chances reais da prefeitura de São Paulo deixar de ser um reduto demo-tucano em 2012, e da oposição definhar ainda mais em todas as prefeituras do Brasil. Então devassar e demonizar Palocci reforça o discurso anti-PT com base em escândalos e prepara o terreno para José Serra (PSDB/SP) concorrer à prefeito de São Paulo em 2012.

Era de se esperar o dossiê Palocci saltar das páginas da Folha para as páginas da revista Veja, Época e para a tela da Globo e Band, com o estilo noticioso do PIG (Partido da Imprensa Golpista).

A novidade são alguns blogs “sujos” adotarem o PIG como fonte confiável, de forma acrítica, repetindo o efeito manada de Veja e da Globo.

Isso foi um golaço de mão, que nem José Serra esperava ganhar de presente. Ele na moita, deve estar morrendo de rir, sem se expor, “poupando Palocci”, enquanto Folha, Globo, Veja, Estadão, Band, Record exploram o dossiê, e blogs “sujos” completam o serviço para ele.

Não é pecado criticar o governo, e quem comete falcatruas tem mais é que ir para a cadeia mesmo, mas com a imprensa que temos no Brasil de hoje, as críticas devem ser racionais, na medida dos fatos, e não fazendo campanha política oposicionista para derrubar ministros.

Muitos leitores dizem, com razão, que o fato da escandalização beneficiar tucanos, não justifica passar a mão na cabeça de qualquer falcatrua, venha de quem vier, e doa a quem doer.

Ninguém honesto e de boa-fé discorda disso.

É óbvio que o enriquecimento de um homem com vida pública desperta desconfianças, com o tanto de notícias de roubalheiras que existem no meio político.

Mas antes de atirar em Palocci as pedras “gentilmente” cedidas pelos demo-tucanos dos partidos e da imprensa, vamos nos ater aos fatos, para comprovar que há mais indícios de que Palocci agiu dentro das regras legítimas do capitalismo, do que indícios que ele tenha se locupletado. Que dêem a chance de Palocci se explicar (ele disse que fará isso ao Procurador Geral da República, nesta semana), antes de ser pregado na cruz.

Pelos indícios até aqui apontados, a acusação que cabe a Palocci é apenas política: ele mudou sua base eleitoral dos trabalhadores para uma elite econômica. E dedicou-se também à vida empresarial, enriquecendo, em vez de dedicar-se apenas às atividades políticas de interesse coletivo. Essa crítica política é legítima. Qualquer pessoa de esquerda que já votou ou não em Palocci, tem o direito de não querer votar mais nele devido a seu novo perfil político, mas repetir as ilaçoes do PIG é um pouco demais.

Acusá-lo de corrupção, não só carece de provas, mas os indícios apontam mais para o contrário: que ele tenha ganho seu dinheiro dentro dos critérios de honestidade do capitalismo.

Eis os fatos e indícios:

Só em piadas, empresários fazem contrato e emitem nota fiscal para deixar rastros de atos criminosos
Crime de informação privilegiada é quando um agente público usa de informações sigilosas sob sua responsabilidade, para dar ou ganhar vantagens.

Não é crime o fato de Palocci ser bem informado sobre a conjuntura da economia nacional, e vender consultoria sobre informações que poderiam ser publicadas num artigo de jornal. Exemplo: prognósticos sobre o mercado interno, sobre qual será o crescimento econômico, o emprego, a duração da “marolinha”, etc.

Só em “piada de português” (com todo o respeito aos irmãos e ancestrais portugueses), quem “compra” informação privilegiada, ou tráfico de influência, faz contrato. E só na piada, quem vende emite nota fiscal.

Crimes desse tipo são feitos na calada da noite para não deixar rastros.

Então, soa ridículo quererem vincular a lista de clientes da empresa de consultoria de Palocci com ilícitos. Como se grandes empresários fossem, premeditadamente, deixar tamanhos vestígios registrados em contratos (mesmo que fosse um contrato de fachada, jamais os fariam em nome de suas empresas e suas marcas).

Por que empresários pagariam tanto em consultorias para Palocci?
Antes mesmo de Lula ser eleito em 2002, Palocci foi uma espécie de embaixador do PT junto aos grandes empresários e banqueiros. Foi importante para tranquilizar e estabelecer um diálogo com um setor que tinha muito preconceito contra um governo de Lula e, por conservadorismo, até prejudicavam a ampliação de suas próprias empresas, com medo de investir.

Palocci, além da militância no PT desde 1980, entendia a linguagem dos empresários. Para Lula, o ministro da Fazenda cumpria as principais missões que lhe eram delegadas:

- debelar a crise econômica deixada por FHC;

- manter a geração de empregos na economia (inclusive desarmando os preconceitos dos empresários);

- garantir recursos para erradicar a pobreza;

- controlar a inflação;

- tirar o Brasil da “urucubaca” do FMI;

- dar acesso ao microcrédito para os mais pobres;

- popularizar o crédito a juros mais baixos (consignado);

- garantir o ambiente propício ao aumento das exportações e ao investimento, etc.

Para os empresários, Palocci era o canal de diálogo que entendia a linguagem deles, e funcionava como interlocutor de um pacto social, onde o regime democrático e capitalista seria respeitado, contanto que humanizado com distribuição de renda.

Sua passagem pelo Ministério da Fazenda revelou-o como um raro caso de sucesso no poder executivo. Enquanto os consultores demo-tucanos com doutorado nas Universidades estrangeiras, apostavam no caos na economia, e na volta triunfal de FHC em 2006, Palocci tanquilizava os empresários com prognósticos otimistas.

Os prognósticos de Palocci se realizaram. Os doutores demo-tucanos, que cobravam fortunas por suas consultorias, fracassaram.

Nada mais natural aos empresários do que passarem a se interessar pelos “palpites” de Palocci, mais do que dos doutos demo-tucanos. E é um direito de Palocci, quando estava fora do governo, resolver cobrar por suas opiniões sobre a economia, afinal por que deveria dar consultoria privada de graça para a nata do PIB brasileiro?

E se passou a dar consultoria para as maiores empresas brasileira, é natural que os valores cobrados fossem altos.

Quanto a este aspecto acima, não há como condenar Palocci, nem eticamente, porque mesmo no período em que foi deputado, ninguém aponta uma votação em que ele tivesse contrariado a orientação do governo e do PT.

Para dar um exemplo, com certeza todos os clientes de sua consultoria se engajaram na campanha para derrubar a CPMF, mas Palocci não só votou pela manutenção da CPMF (e venceu na Câmara dos Deputados, só perdendo no Senado), como a defendeu publicamente.

Outra razão para empresários se interessarem pela consultoria de Palocci pode ser explicada pela simpatia por ele como político mais moderado e atencioso aos empresários, diante da continuidade do governo petista (possibilidade já considerada bastante provável durante o segundo mandato de Lula). Qualquer pessoa rica que quer ajudar outra pessoa a viabilizar um negócio, dá preferência a ela na hora de comprar ou contratar serviços. Essa escolha por preferência pessoal é imoral e ilícita quando é praticada numa empresa estatal, mas numa empresa privada não é, pois cada empresário pode fazer as escolhas que quiser com seu próprio dinheiro.

Novamente a crítica que cabe aqui é só política: ele mudou sua base eleitoral, e se dedicou também a atividade empresarial, e não apenas a causas políticas coletivas populares.

O jogo da imprensa demo-tucana
Já tem quase uma semana que o assunto veio à baila, e a própria imprensa não conseguiu até agora encontrar nenhum ilícito de fato. Se limitou a denunciar que Palocci enriqueceu rapidamente, e incitar no imaginário popular que seu enriquecimento seria ilícito, ignorando todas as evidências de que pode ser lícito.

Além disso, por que a Folha, Globo, Veja, Estadão, Band e Record não divulgam os nomes dos clientes de Palocci?

Já vazaram valores, datas e dois nomes de clientes da consultoria de Palocci. A esta altura, está claro que os barões da mídia e os chefes das redações já tem em mãos o vazamento de quem são os clientes de Palocci.

Se fazem ilação de acusar Palocci de usar consultoria de fachada, teria que haver corruptores, e seriam os clientes.

Se o PIG não publica é porque são grandes marcas, e grandes anunciantes no próprio PIG.

O PIG sabe que difamar Palocci gerará, no máximo, uma indenização pequena perto do faturamento de uma Globo ou Folha (indenizações deste tipo não tem passado de R$ 150 mil). Já difamar uma grande marca, sem provas, gera uma indenização milionária, pelo prejuízo na imagem da marca. E cancelamento de contratos de anúncios.

Então a farra do denuncismo irresponsável pára na pessoa de Palocci, e cinicamente o acusam de não divulgar os clientes, sabendo que o ministro ficaria exposto uma indenização milionária se o fizesse.

Por Zé Augusto

Um comentário:

  1. Li a sua análise toda. Gostei de lê-la. Deu-me mais argumentos para avaliar essa questão. Hoje em dia estamos tão à mercê de falcatruas de indivíduos e tão nas mãos da grande mídia, que ficamos tontos na hora de colocar os pontos nos "is" e de tomar partido de alguma coisa ou alguém. O poder em todos os sentidos nos atropela e esmaga cotidianamente, de forma que não sabemos mais em quem confiar. Grande abraço e parabéns pelo seu blog. Eu o tenho linkado lá no meu, que ainda é uma brinacadeira. Não sou jornalista, sou professora, mas adoro essa coisa de ser blogueira. Se qusier, dê uma olhdinha por lá http://orealimaginado.blogspot.com/

    ResponderExcluir

Comente e ajude a construir um conteúdo mais rico e de mais qualidade.