sábado, 9 de outubro de 2010

Análise da falha das pesquisas e os fatores que levaram ao segundo turno

Fatores que influenciaram os votos

Por Gunter Zibell

"São dois os fatores principais que tiraram votos de Dilma na reta final.
a) Um deles foi sim a "emoção" dos eleitores cristãos, que aderiram de última hora a Marina. J. R. Toledo analisou bem isso no blog dele do Estadão, pois o movimento foi possível de captar pelo Ibope, que divulgou os percentuais de votos por religião declarada e se trata de linhas muito diferentes ao longo de setembro. A própria Marina acreditava em 15 milhões de votos, teve quase 20 milhões. Acho que se pode calcular entre 4 e 5 milhões de votos para Marina como sendo "anti-aborto", de pessoas relativamente indiferentes a outras questões sócio-econômicas. Metade desses votos transferiu-se ao longo de semanas, mas uns 2 milhões nos últimos dias.
O ponto aqui é que esses votos não são referentes a desenvolvimento sustentável ou a qualquer discurso propositivo. A plataforma de Marina tem vários focos e uma das coisas que ela fala desde o início é sobre plebiscito para aborto (e há cerca de um mês elogiei Marina por isso entre outras coisas.) Então cabe a Dilma e Serra definirem suas posições. Um presidente pode optar por não encaminhar projeto a respeito como também pode se comprometer a vetar leis a respeito.
(Eu pessoalmente sou intermediário em relação a essa questão : sou contrário ao aborto também por razões religiosas – não o recomendaria a ninguém; mas sou favorável à descriminalização, por julgar que essa questão é de foro íntimo e que não deveria fazer parte da legislação por ser justamente religiosa. E porque a criminalização não impede que 1 milhão de abortos sejam cometidos por ano, com riscos para as mães e, na verdade, sem punição legal efetiva para as mães e para as clínicas. Essa dubiedade pode ser removida e entendo que nesse caso plebiscito pode até ser um caminho, mas melhor seria discutir no Congresso e na AGU.)
b) Outro fator é a desconsideração sistemática da abstenção pelos analistas. Lembrei na sexta passada que o Datafolha pode não utilizar uma amostragem representativa da população total, mas, sim, mais próxima da população que vota. Supondo que desses 18% que não votaram talvez 60% sejam dilmistas teríamos quase 15 milhões de votos para Dilma e mais 10 milhões para a oposição.
x-x-x-x
Portanto há dois caminhos para ajustar as pesquisas recentes às urnas. Se simularmos 2 MM indo de Marina para Dilma e somarmos 14 MM para um lado e 9 MM para outro (menos que a abstenção para considerar os indecisos), chegaríamos a 51,5% de válidos para Dilma, o que é bem próximo das pesquisas convencionais com dados coletados no final de setembro.
Parece que as duas coisas ocorreram simultaneamente e o único que resultou fora de esquadro foi a pesquisa de boca de urna do Ibope. 

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