terça-feira, 23 de agosto de 2011

O trabalhismo e a reforma do Estado

O trabalhismo tem como historia a ideia da modernidade do Estado brasileiro. Foi assim com Getúlio Vargas, que ao chefiar a revolução de 30, transformou um país semifeudal em um país em franco desenvolvimento e industrialização.

Infelizmente, o golpe de 1964 que derrubou João Goulart impediu a continuação da modernização de nosso país e hoje, a agenda das reformas de base é tão contemporânea como em 1964.

Entretanto, a reforma das reformas está na educação, base de qualquer sociedade civilizada e desenvolvida. É urgente compreender que é na educação de nosso povo que edificaremos a justiça social e a modernidade, assim como a industrialização de nossa pátria.

Para isso, a educação deve ser uma prioridade de Estado, como elemento essencial de nossa afirmação soberana e nosso desenvolvimento.

Um projeto de nação que visa sua soberania na afirmação de sua identidade, é essencial que todo sistema educacional seja estatal.

Não cabe à iniciativa privada a formação de nossa inteligência e de nosso desenvolvimento. A educação é um elemento estratégico para a formação e a construção de um projeto nacional.

A política educacional no Brasil deve ser do mesmo modo uniforme, respeitando as culturas regionais, mas deve ser dirigida pelo Estado Brasileiro, federalizada em sua plenitude.

Como também deve ser de período integral da creche ao ensino médio, e nossas universidades têm que ser abertas e preparadas para as necessidades de nosso povo. Cabe à universidade a posição estratégica da busca de novas tecnologias para nossa industrialização, como também a pesquisa como elemento fundamental de nosso desenvolvimento nas áreas das ciências humanas.

Nossa educação tem que se caracterizar por uma visão mais humanística, ressaltar e aprofundar valores de solidariedade, de cooperação, de respeito à diversidade, além de ser um instrumento do pleno desenvolvimento intelectual e cultural numa visão crítica e construtiva do Estado e da sociedade Brasileira.

Para isso é necessário que se rompa com este modelo alienante e falido de nosso sistema educacional. É urgente que atrelemos 10% de nosso PIB para a educação, como também que garantiremos que nossas reservas petrolíferas como o do Pré-Sal seja investido em pelo menos 50% na educação.

É importante compreender que o trabalhismo do século XXI só será possível se elevarmos o nível educacional e cultural de nosso povo, uma vez que a elevação desses fatores - educação e cultura -,são elementos fundamentais para o aperfeiçoamento de nosso Estado.

Portanto, somente com a reforma da educação podemos pensar no trabalhismo como pensamento e como opção de uma nova sociedade.

O trabalhismo do século XXI tem que ser forjado na reforma educacional, na mudança dos paradigmas que norteiam nossa sociedade, pois, sem isso o trabalhismo se torna utópico.

Cabe ao PDT organizar a sociedade para darmos o grande salto que necessitamos de uma nação forte soberana e dona de si.

Esse é o trabalhismo do século XXI o trabalhismo pela educação.




 Henrique Matthiesen

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Salvem a internet!!

Via Blog do Miro

A internet está sob forte ameaça



Por Emiliano José, em seu sítio:

Está em curso no Brasil uma clara luta política, envolvendo a internet. Que ninguém se engane: é uma luta política. Há a posição dos que acreditam, como eu e vários outros deputados e deputadas, como Paulo Teixeira, Luiza Erundina, Jean Willis, Manuela D´Avila, Paulo Pimenta e tantos outros, que primeiro é o caso de garantir a existência de um marco civil garantidor das liberdades, uma espécie de orientação básica do direito humano de acesso à internet, hoje um instrumento fundamental para o desenvolvimento da cidadania, da cultura, da educação e da própria participação política.

E a posição dos que se apressam a procurar mecanismos de criminalização dos usuários da rede, que hoje no Brasil, com todas as dificuldades de acesso, já chegam perto dos 70 milhões. Como pensar primeiro no crime face a essa multidão, e depois na liberdade de acesso? Só os conservadores, interessados em atender a evidentes interesses econômicos, podem pensar primeiro na criminalização e só então nos direitos democráticos dos usuários.

Creio que a internet, tenho dito isso com frequência, é uma espécie de marco civilizatório, que mudou a natureza da sociabilidade contemporânea, a relação entre as pessoas e os povos, mudou a própria política, impactou a própria noção de representação. Constitui um admirável mundo novo, a ser preservado sob um estatuto de liberdades, e não constrangido sob uma pletora de leis criminalizantes. Talvez seja o seu potencial revolucionário, a possibilidade que ela dá de articulação em rede, que provoque urticária nos conservadores. Talvez, não. Certamente.

Nos últimos dias, os defensores da criminalização navegam num cenário de representação terrorista, como se os últimos ataques de hackers a sites governamentais fossem uma absoluta novidade e como se uma legislação que criminalize usuários ou tente colocá-los sob o guante de um vigilantismo absoluto fosse segurança suficiente para a ação dos hackers. Os ataques aos sites governamentais não tiveram qualquer gravidade, foram coisas de amadores, como já se provou. E curioso é que só tenham sido atacados sites do governo. Não é que não haja leis ou que não deva haver. Deve. Mas, devagar com o andor que o santo é de barro.

Primeiro, vamos pensar nas liberdades. Não devemos nos apressar, como pretende o deputado Azeredo, com o projeto de criminalização de usuários, a pretender uma vigilância absurda ao acabar com a navegação anônima na rede, ao querer guardar por três anos os dados de todo mundo nos provedores, ao estabelecer uma espécie de big brother pairando sobre a multidão de navegantes, que tem o direito de liberdade de expressão e não podem estar submetidos ao grande irmão.

O governo federal se preocupou com isso, com as liberdades, e instalou uma consulta pública sobre o Marco Civil da Internet no Brasil de forma a construir democraticamente um sistema garantidor de princípios, garantias e direitos dos usuários da internet, o que é a atitude mais correta, e primeira, se quisermos tratar a sério das coisas da rede.

Entre outubro de 2009 e maio de 2010 a consulta se desenvolveu, com ampla participação, e, ao que sabemos, o marco civil foi elaborado, só faltando a assinatura do Ministério do Planejamento para voltar à Casa Civil da Presidência da República, para então, assinado pela presidenta Dilma, chegar à Câmara Federal.

Não se trata de primeiro chamar a polícia. Primeiro, vamos garantir liberdades e direitos. Depois, pensar na tipificação dos crimes. Até porque a ideia de que colocar na cadeia um bocado de jovens usuários resolve o problema é uma ilusão de bom tamanho. Os hackers, os mais competentes, os mais habituados aos segredos da rede, costumam entrar em sistemas sofisticados sem grandes dificuldades. A própria rede, no entanto, tem condições amplas de desenvolver sistemas de prevenção, de segurança, reconhecidamente eficientes, embora não se possa dizer nunca que invioláveis.

Creio que o melhor é baixar a bola, insistir junto ao governo para o envio o mais rápido possível do projeto do marco civil da internet para o Congresso, e depois disso, então pensar na tipificação dos crimes e nas punições possíveis, sem nunca mexer nas liberdades dos usuários, e sem estabelecer quaisquer medidas que visem acabar com a navegação anônima, até porque isso, sem dúvida, seria mexer com o princípio sagrado das liberdades individuais e confrontaria com a própria Constituição.

No dia 13 de julho, foi realizado um seminário na Câmara Federal, com a participação de especialistas e de setores da sociedade civil, para debater o assunto. O seminário foi resultado de uma proposta minha, com a visão que expresso aqui, e outra do deputado Sandro Alex, que tem uma visão diversa, embora, como me disse, disposto ao diálogo para chegar a um consenso. Nós juntamos as duas iniciativas, e o debate foi muito esclarecedor de que interesses estão em jogo.

De um lado, aqueles que defendem o projeto Azeredo, estiveram empresas de segurança da área da informática, escritórios de advocacia interessados nos clientes que o projeto Azeredo vai criar, e setores conservadores do Judiciário. Do outro lado, entre os que sustentam as posições que tenho defendido, os que defendem a liberdade na internet e que demonstraram o quanto de atraso poderia significar a aprovação desse projeto, que a rede dos libertários chamou com propriedade de AI-5 digital da internet.

Ficou evidente, durante o seminário, que o projeto Azeredo, além de tudo, atende aos interesses do mundo das empresas que defendem os direitos autorais no sentido mais conservador, inclusive dos grandes centros da indústria cultural dos EUA. É que o projeto pretende impedir a prática tão comum da maioria dos internautas de baixar músicas, por exemplo. Milhões de pessoas seriam criminalizadas se o AI-5 digital fosse aprovado. Os militantes digitais que se colocam contra o projeto entregaram ao presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Bruno Araújo, do PSDB, durante o seminário, por proposta minha, um abaixo-assinado com mais de 163 mil assinaturas contra o projeto, a evidenciar o quanto de revolta ele tem provocado.

Há a previsão de que o projeto seja votado logo no início de agosto deste ano. Lutamos para que não fosse votado imediatamente, como se pretendia, e justiça se faça, o deputado Azeredo concordou com o adiamento. Creio, no entanto, que o melhor seria, como já disse, aguardar a chegada do marco civil para só depois, então, pensar na tipificação de crimes. E vamos tentar isso. Na verdade, o projeto é muito ruim e não deveria ser aprovado. O importante é que todos estejam atentos para que a democracia não seja atingida, para que a liberdade na internet não seja violentada.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A mídia golpista e os rabiscos nas paredes do Congresso.


PIEGUICE EM BRASÍLIA
Rabiscos nas paredes do Congresso

Por Luciano Martins Costa em 12/08/2011 na edição 654
Comentário para o programa radiofônico do OI, 12/8/2011

Os jornais desta sexta-feira, dia 12, destacam com textos mais ou menos emocionados a descoberta de mensagens deixadas por operários que trabalharam na construção do edifício do Congresso Nacional, em Brasília, em 1959.

São frases piegas, platitudes produzidas por homens simples que se sentiam provavelmente muito orgulhosos por estarem ajudando a levantar a nova capital do país.

Mas, para a imprensa, é uma mensagem do passado a cobrar “dignidade e honra” e manifestar esperança no futuro do Brasil.

“Esperança e melancolia se misturam em um português precário”, observa a reportagem do Estadão, um dos diários que investiu mais no assunto.

Nas outras páginas que trazem notícias de Brasília, o tema recorrente é a corrupção, com destaque para as investigações sobre desvios no Ministério do Turismo.

Trata-se, na prática, de uma dessas séries de reportagens, que começou no Ministério dos Transportes e ameaça devassar todo o governo nos próximos meses, colhendo aqui e ali os resultados do garimpo de repórteres em material que vaza de investigações oficiais ou oficiosas, de fontes policiais ou plantação de desafetos políticos.

Como pano de fundo, a imprensa repete quase diariamente que a atual presidente da República está se livrando de uma herança deixada por seu antecessor.

Coincidentemente, a descoberta das inscrições feitas por operários numa laje do edifício da Câmara dos Deputados aconteceu por conta de um vazamento.

Em busca da fonte de uma infiltração de água, os engenheiros encontraram o lugar onde os trabalhadores anotaram há 52 anos suas reflexões e suas expectativas sobre o futuro do país.

Também naquela época havia denúncias de corrupção, e a construção de Brasília é considerada por historiadores e jornalistas como o ponto original dos esquemas criminosos envolvendo empreiteiras e políticos.

Algumas reluzentes empresas do Brasil de hoje nasceram como fornecedores de equipamentos e mão de obra para a consolidação do sonho de Juscelino Kubitschek.

Carregam, desde então, um longo prontuário de acusações e suspeitas de irregularidades em suas relações com o dinheiro público.

Chantagens explícitas

Os jornais noticiam praticamente todos os dias uma nova suspeita, esforçam-se por vincular os casos entre si e montam um cenário no qual toda a base aliada estaria envolvida num programa de saques contra oTesouro.

Paralelamente, editoriais e artigos induzem à interpretação de que o governo federal é refém de seus apoiadores.

Iniciativas da presidente da República, como a sucessão de demissões no Ministério dos Transportes, são temperadas com recomendações à chefe do governo para se livrar de seus aliados.

Mas nada se esclarece a respeito da questão central: quem assegura a governabilidade em caso de uma ruptura na base parlamentar?

A imprensa já publica recados maliciosos de representantes de partidos que orbitam o poder federal, insinuando que podem aprovar projetos que aumentam gastos públicos, inviabilizando medidas do governo para defender a economia brasileira dos efeitos da crise na Europa e nos Estados Unidos.

Além disso, existe a ameaça explícita de provocar um impasse semelhante ao que paralisou o governo dos Estados Unidos na semana passada, no debate em torno da ampliação dos limites de endividamento do Tesouro americano.

No caso do Brasil, trata-se do risco de o Congresso Nacional reduzir a margem de liberdade do Executivo na gestão do orçamento.

As chantagens nesse sentido já aparecem nos jornais.

Se nos Estados Unidos o Tea Party foi ressuscitado pela mão da imprensa conservadora e se tornou protagonista central de uma crise econômica sem precedentes, no Brasil a bancada do “toma lá, dá cá” se perpetua na periferia do poder, gerando crises sucessivas que podem, eventualmente, afetar as chances nacionais de desenvolvimento.

A corrupção não foi inventada neste século.

As mensagens esperançosas de operários que construiram Brasilia precisam ser lidas com menos pieguice e mais objetividade.

Se a imprensa realmente quer o combate à corrupção, precisa ir fundo às suas raízes e levantar para valer a bandeira da reforma política.

Por exemplo, denunciando os corruptores.

Nenhum governo será capaz de quebrar o vício da corrupção sem o respaldo da sociedade publicizado pela imprensa.

O risco é o governo se livrar de seus aliados e acabar refém da mídia.

Governo paulista deve decidir se destroi ou mantém a TV Cultura. E logo!


TV PÚBLICA
O governo paulista é contra a TV Cultura?

Por Eugênio Bucci em 12/08/2011 na edição 654
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 11/8/2011; intertítulos do OI

O título deste artigo não é uma provocação. A pergunta que ele encerra está na ordem do dia. Afinal, o que o Palácio dos Bandeirantes quer da TV Cultura? Pretende asfixiá-la? Embora essa resposta se esconda nas ambiguidades melífluas do governo, os fatos parecem indicar que sim, a intenção é abandonar a nossa emissora pública à carência total de recursos. Entre as evidências mais recentes, destaquemos uma, apenas uma.

Na segunda-feira (8/8), reportagem da Folha de S.Paulo, assinada pela repórter Lúcia Valentim Rodrigues, mostra que, ano após ano, vai escasseando o investimento público na Fundação Padre Anchieta (à qual pertencem a Rádio e a TV Cultura). Em 2003, ele representava 81,53% da receita da fundação. Agora, está na casa dos 50%. Em valores absolutos, o declínio é dramático. A previsão de R$ 84 milhões de verba estatal para este ano fica 35% abaixo da verba de 2010.

Ainda que não sejam exatos, esses números não são acidentais. Há neles a consistência de uma política deliberada, embora não declarada. Prestemos atenção, porque, se levada ao limite, essa política vai matar a TV Cultura. Das duas, uma: ou ela não terá recursos para mais nada e se perderá na irrelevância, até desaparecer na garoa cinzenta, às margens do Tietê, ou terá de buscar o faturamento no mercado publicitário – o que já vem fazendo, há uns bons anos – e, nesse caso, ficará cada vez mais parecida com as televisões comerciais. Será a morte, do mesmo jeito.

Morte matada

Uma televisão pública parecida com as emissoras comerciais é uma instituição dispensável. Não tem razão de ser. A TV pública só é necessária às sociedades democráticas porque consegue pôr no ar uma programação alternativa, substancialmente distinta, capaz de dar destaque a atrações que não trariam resultados econômicos a uma empresa que depende de lucro para sobreviver. Exatamente por isso, ela não deve exibir publicidade de lojas e de automóveis em seus intervalos. Quando cai nessa tola armadilha, fica esteticamente similar às outras; a sua cadência, o seu ritmo, vai se tornando igual – e, mais ainda, a sua lógica ordenadora interna é absorvida pelas leis do mercado, como se ela fosse comercial. Aí, ela passa a prestar contas aos anunciantes, em vez de prestar contas à cidadania.

Isso mesmo: a televisão pública presta contas à cidadania. É bem verdade que essa formulação, com essas palavras, eriça as sobrancelhas e franze a calva dos gestores mais, digamos, tecnocráticos. “Mas o que significa essa tal cidadania?”, eles contestam, do alto de sua razoabilidade aritmética.

Para que eles entendam – ainda que o esforço seja inútil – seria bom lembrar aqui o exemplo das escolas públicas. Pedir que as escolas públicas deem margem operacional positiva no final do ano seria um contrassenso, e disso eles bem sabem. As escolas públicas existem não para dar dinheiro no balanço contábil, mas para produzir conhecimento e qualificar gente numa escala que não aparece em business plan, mas faz toda a diferença no progresso e na vida nacional.

A televisão pública é mais ou menos a mesma coisa: sem ela a vida cultural se amofina, a diversidade das ideias se apequena, o horizonte existencial da Nação se estreita. Assim como a boa escola pública, a emissora pública presta o seu serviço à democracia, ao desenvolvimento, à educação. Assim como a escola pública, ela presta contas ao cidadão (não ao consumidor) e à sociedade (não ao mercado).

“Você está exagerando, meu caro”, vai debochar o tecnocrata. E, no entanto, não há exagero algum aqui. Em todas as democracias maduras existem instituições de comunicação pública. E todas elas vivem de dinheiro público. Mesmo num modelo de financiamento como o da BBC, baseado na cobrança de uma taxa anual (compulsória) nos lares com televisão, a garantia de financiamento vem do Estado, pois a taxa é cobrada por força de lei, assegurada pelo Estado. Assim, o dinheiro que sustenta a BBC é dinheiro público.

Nos Estados Unidos, as emissoras da National Public Radio (NPR) e do Public Broadcasting Service (PBS) recebem verba estatal. Não adianta procurar, não existe outra saída. Se o Estado não assegurar o financiamento das emissoras públicas, elas fenecem: ou morrem no acostamento, sucateadas, ou se convertem nesses monstrengos de segunda linha, exibindo comerciais de segunda linha e programas de quinta (existem algumas dessas pelo mundo).

Falta projeto

Em resumo, cabe ao Estado assegurar os meios de financiamento público – e, de outro lado, cabe à direção da emissora pública promover uma gestão transparente, eficiente, baseada nos princípios da legalidade, da moralidade e da economicidade. É evidente que este artigo não defende o cabide de empregos nem a instrumentalização das antenas pelos interesses partidários de governantes – essa é a pior doença nas emissoras públicas brasileiras. A fórmula saudável reside na combinação do financiamento público com gestão fiscalizada, auditada e competente, mas independente tanto do governo quanto do mercado.

Quanto a isso, a atual direção da Fundação Padre Anchieta vem dando mostras de que tem compromisso real com o imperativo inadiável de sanear a administração. Ela chegou a demitir funcionários para ganhar produtividade e combater inchaços que eram inaceitáveis. Há coragem e disposição genuinamente pública na direção da fundação. O que falta é apoio claro do governo do Estado.

Falta, enfim, um projeto claro. A TV Cultura ainda é a única emissora brasileira a merecer o adjetivo pública. Ela não tem funções governamentais e opera com boa margem de independência. Cabe ao governo decidir e declarar se quer mantê-la ou se quer destruí-la.

***

[Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA-USP e da ESPM, foi membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta de maio de 2007 a maio de 2010 e comentarista do Jornal da Cultura entre outubro de 2010 e junho de 2011]

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Em média, 300 crianças de até 5 anos morrem por dia na Somália. Veja como ajudar.

Fome na Somália se agrava; saiba como ajudar
Diversas ONGs atuam no Chifre da África e aceitam doações em dinheiro e trabalho voluntário

estadão.com.br

SÃO PAULO - A divulgação do primeiro relatório sobre o número de mortes provocadas pela crise alimentar na região do Chifre da África revela que mais de 29 mil crianças com menos de 5 anos já morreram de fome nos últimos três meses na Somália - uma média de 300 por dia, quase 15 por hora.

Veja também:
Olhar sobre o mundo: Somália - combinação mortífera

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 640 mil crianças somalis estão subnutridas e 3,2 milhões de pessoas - de uma população total de 7,5 milhões - precisam de ajuda imediata para sobreviver.

Nesta semana, a ONU declarou situação de fome em mais três regiões do sul da Somália, elevando a cinco o total de áreas atingidas.A ONU calcula que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido em decorrência do atual período de seca, o pior a afetar a Somália em 60 anos.

O alto índice de crianças somalis com desnutrição aguda indica que o número de óbitos entre crianças pequenas aumentará ainda mais. Conheça algumas das formas de ajudar a Somália a combater a fome. E participe divulgando a hashtag #ajudeasomalia no Twitter.

domingo, 7 de agosto de 2011

Único sobrevivente de bombardeio atômico morre aos 93 anos.

Sobrevivente das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki morre no Japão
Tsutomu Yamaguchi morreu de câncer no estômago, aos 93 anos



Foto: © AP - Tsutomu Yamaguchi, que sobreviveu aos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki

A única pessoa oficialmente reconhecida como sobrevivente das duas bombas atômicas lançados pelos Estados Unidos sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, ao final da 2.ª Guerra Mundial, morreu na segunda-feira aos 93 anos, de câncer no estômago, informou-se nesta quarta-feira.
Por muito tempo Tsutomu Yamaguchi foi certificado como um "hibakusha," ou sobrevivente de radiação, do bombardeio de Nagasaki, em 9 de agosto de 1945.
Em março do ano passado, o governo japonês confirmou que ele também sobreviveu ao bombardeio de Hiroshima três dias antes, em 6 de agosto de 1945.
Nesse dia, o bombardeio americano U.S. B-29 Enola Gay lançou uma bomba atômica que explodiu em Hiroshima às 8h15 (horário local). Yamaguchi estava na cidade em uma viagem de negócios para a firma em que trabalhava, no setor naval da Mitsubishi. Cerca de 140 mil pessoas foram mortas, muitas instantaneamente, enquanto outras milhares ficaram gravemente feridas.
"Enquanto caminhava, ouvi o som de um único avião. Olhei para o céu e vi o B-29, e ele lançou dois paraquedas. De repente, vi um grande clarão e eu desfaleci", relembrou anos depois em uma entrevista ao jornal britânico The Times.
Apesar de ter sofrido queimaduras graves, Yamaguchi conseguiu no dia seguinte retornar à sua casa, na cidade de Nagasaki. Ele estava lá quando a cidade também foi bombardeada pelos Estados Unidos. Cerca de 70 mil morreram, mas Yamaguchi sobreviveu novamente.

Leia também:
Reconstrução transformou Hiroshima em 'cidade da paz'

"Minha exposição dupla à radiação é agora oficialmente reconhecida pelo governo", afirmou Yamaguchi em 2009. "Isso deixará claro às gerações mais jovens a história de horror das bombas atômicas mesmo depois de minha morte."
Muitos dos que sobreviveram aos bombardeios sofreram uma vida de problemas de saúde relacionados à radição, incluindo cânceres. Yamaguchi perdeu a audição no ouvido esquerdo e sofreu de leucemia aguda, catarata e outras doenças relacionadas às bombas em anos subsequentes.
Yamaguchi se tornou conhecido no Japão por suas frequentes palestras sobre os horrores da guerra e como ativista pelo desarmamento nuclear. O prefeito de Nagasaki, Tomihisa Taue, lamentou sua morte e afirmou que "um excelente contador de histórias" desapareceu.
Acredita-se que um pequeno número de japoneses tenha sobrevivido a ambos os bombardeios, mas Yamaguchi era o único sobrevivente das duas bombas oficialmente reconhecido pelo governo japonês.

Com BBC

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Imprensa chinesa experimenta a liberdade de opinião e expressão.

Imprensa chinesa desafia censura no acidente de trem rápido

Claudia Trevisam

Parte da imprensa chinesa ignorou de maneira ostensiva determinação dos censores de Pequim e decidiu publicar com destaque reportagens independentes sobre o acidente de trens rápidos que matou 40 pessoas no dia 23 de julho e gerou a maior onda de críticas ao governo já registrada na internet.

A ordem do Departamento de Propaganda chegou aos veículos de comunicação na sexta-feira à noite, quando muitos deles fechavam cadernos especiais sobre o assunto para sábado e domingo. Os editores deveriam reduzir o espaço dedicado ao tema, publicar apenas textos positivos, utilizar informações da agência oficial Xinhua e não veicular fotos do acidente.

O semanário Economic Observer desobedeceu à determinação e trouxe no dia seguinte oito páginas sobre o acidente, com o título “Sem milagre em Wenzhou”, uma referência à declaração do porta-voz do Ministério das Ferrovias, Wang Yongping, de que o resgate de uma menina de dois anos 21 horas depois do choque entre os trens havia sido um “milagre”. Entre os títulos trazidos pela publicação estava “Quem é o assassino?”. Milhões de comentários deixados na internet sustentam que as operações de resgate foram mal conduzidas e suspensas precocemente. Fundado em 2001, o Economic Observer é independente (sem vínculo com órgãos oficiais) e tem a reputação de realizar uma das melhores coberturas de temas econômicos e financeiros da China.

Outro veículo que ignorou as ordens dos censores foi o Diário Metropolitano do Sul (Nangfang Du Shi), que apesar de ser ligado ao Partido Comunista costuma trazer reportagens investigativas. No domingo, o jornal usou um palavrão para se referir ao “milagre” mencionado pelo porta-voz do Ministério das Ferrovias, cuja reputação já era baixa junto ao público chinês e foi destruída pela maneira com que reagiu ao acidente. A maioria dos veículos cumpriu a determinação dos censores, mas alguns jornalistas manifestaram sua frustração e relataram na internet as ordens recebidas do governo, que são tratadas pelas autoridades como segredos de Estado. Enquanto muitos optaram pelo anonimato, o editor de fotografia do jornal Notícias de Pequim descreveu a atuação do Departamento de Propaganda em um post no Weibo (microblog), o equivalente chinês do Twitter, bloqueado no país.

Segundo Chen Jie, a primeira orientação foi dada por telefone às 21h de sexta-feira: a imprensa deveria “esfriar” a cobertura do desastre e evitar análise, comentários, reportagens ou links na internet para os textos. Só declarações oficiais “positivas” deveriam ser veiculadas. Outra ligação foi recebida às 22h: “Nenhuma notícia sobre o acidente, não importa se positiva ou negativa”. A orientação final veio por volta da meia-noite: “Vocês podem usar apenas palavras da agência Xinhua e nenhuma foto deve ser utilizada. As reportagens não podem ser publicadas com destaque. Ele nos ordenaram a fazer o que diziam sem questionamento. Nós cancelamos a edição de nove páginas”, disse Chen em seu post. No sábado, o Notícias de Pequim publicou um texto sobre a previsão do tempo em sua primeira página, onde estaria o texto sobre o acidente, em uma decisão que lembra a adotada pelo Estado e o Jornal da Tarde quando estava em vigor a censura prévia no Brasil (1968-1975) _poemas de Camões e receitas de bolos eram publicados no lugar de reportagens vetadas.

A Associação de Jornalistas de Hong Kong divulgou nota no sábado na qual criticou a determinação do Departamento de Propaganda e demandou que ela seja cancelada. “Nós precisamos aprender com esse terrível desastre para prevenir a sua repetição”, ressaltou a entidade. Mesmo monitorados pelas autoridades de Pequim, os microblogs se transformaram em um catalisador do descontentamento da população em relação à falta de transparência com qual o governo reagiu ao acidente, que ocorreu quando um trem ficou sem energia e foi atingido por outro que trafegava na mesma linha.

Nos nove dias que se seguiram ao choque, os microblogs do portais Sina e QQ receberam, respectivamente, 10 milhões e 20 milhões de comentários sobre o assunto. Ontem, o jornal oficial China Daily, editado em inglês pelo Conselho de Estado, trouxe uma reportagem positiva sobre o Weibo, dizendo que a ferramenta é uma plataforma para o desenvolvimento de uma “cidadania madura, a qual é um pré-requisito para a China avançar na direção de uma sociedade civil”. Zhang Jiang, professor de Comunicação e Jornalismo Internacional da Universidade de Estudos Internacionais de Pequim, classifica o movimento de uma “revolução”, mas ressalta que ela não tem uma natureza política. Apesar disso, ele ressalta que será um enorme desafio para o governo se equilibrar entre essa nova forma de participação e a censura. “Eu diria que é uma das maiores dores de cabeça para as autoridades.”

Que venha a crise! O Brasil está preparado para enfrentá-la.



Economia| 04/08/2011



Brasil tem quase R$ 1 tri para blindar economia real de crise mundial

Governo conta com munição de R$ 960 bilhões para atravessar uma nova crise econômica mundial, bem acima do arsenal de 2008. São US$ 347 bi em reservas, a sexta maior do planeta, segundo o Fundo Monetário Internacional, e R$ 420 bi em depósitos compulsórios. Recursos podem ser usados caso dinheiro suma da economia real e afete financiamento a empresas. “É uma garantia que nós temos a mais no Brasil hoje para fazer frente a um ambiente internacional que pode mudar no curto prazo", diz presidente do BC, Alexandre Tombini. "Brasil nunca esteve tão preparado contra crises", afirma ministro da Fazenda, Guido Mantega.

André Barrocal

BRASÍLIA – O Brasil possui um colchão de R$ 960 bilhões para enfrentar uma eventual nova crise econômica mundial, entre reais e dólares guardados pelo Banco Central (BC). Maior do que em 2008, quando estourou a crise financeira que agora pode se desdobrar em uma segunda etapa, a munição ajudaria a economia brasileira a continuar rodando, ao servir de fonte de financiamento para empresas que queiram investir e exportar.

“São ferramentas que nós temos para o caso de um agravamento da crise”, disse nesta quinta-feira (04/08) o presidente do BC, Alexandre Tombini. “É uma garantia que nós temos a mais no Brasil hoje para fazer frente a um ambiente internacional que pode mudar no curto prazo”, completou.

O arsenal é formado pelos dólares pertencentes ao governo e por uma parte do dinheiro que os bancos pegam dos clientes e precisam, obrigatoriamente, deixar parado no BC (depósitos compulsórios).

As reservas internacionais do governo, mantidas no BC, somam US$ 347 bilhões, algo em torno de R$ 540 bilhões, considerando-se o preço do dólar nesta quinta-feira (04/08). O estoque é 60% superior ao de setembro de 2008 (US$ 205 bilhões), mês em que foi deflagrada a crise financeira com a quebra da instituição financeira norte-americana Lehman Brothers.

Os dólares das reservas podem ser usados pelo governo para financiar empresas exportadoras que, caso se concretize a crise mundial que se desenha, poderiam não conseguir a moeda emprestada lá fora, algo que aconteceu em 2008.

É comum um exportador pegar dólar emprestado para financiar suas operações no dia a dia porque, em geral, o cliente importador dele não paga a compra no ato. A empresa recorre a um banco para adiantar, na forma de empréstimo, o dólar que ganhará com a exportação. E paga a dívida depois, quando recebe do cliente, também em dólar, o pagamento pela venda.

Segundo relatório divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a economia brasileira nesta terça-feira (03/08), o Brasil é hoje o sexto país com a maior reserva de dólares do planeta. Só no primeiro semestre de 2011, o governo engordou o caixa em US$ 37 bilhões, mais de 10% do total.

Na semana passada, durante visita oficial da presidenta argentina, Cristina Kirchner, a presidenta Dilma Rousseff disse que, nas conversas, as duas tinham se dado conta de que, juntos, os dois países (Brasil e Argentina) possuem a quarta maior reserva mundial, quase US$ 400 bilhões. A Argentina, segundo informação oficial, tem US$ 50 bilhões de estoque.

No caso do depósito compulsório dos bancos, a quantia guardada hoje pelo BC é de R$ 420 bilhões, 68% acima da observada em 2008 (R$ 250 bilhões). Este volume aumentou bastante desde o ano passado, porque o governo decidiu usar o aumento dos depósitos compulsórios para controlar a inflação – menos dinheiro no caixa dos bancos significa menos empréstimos e, portanto, menos consumo e investimentos, o que alivia a atividade econômica.

Os compulsórios podem ser úteis caso haja uma nova crise e o setor bancário repita o comportamento de 2008. Na época, as instituições financeiras ficaram com medo de emprestar e optaram por aplicar ainda mais no “mercado” em negócios com títulos públicos do governo em troca de juros altos.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, também nesta quinta-feira (04/08), que espera que a situação no mundo melhore mas, que se isso não ocorrer, o país está pronto para o que virá. "Caso haja um agravamento, o Brasil nunca esteve tão preparado para enfrentar as consequências de uma crise ou de uma nova crise", afirmou.

Nesta sexta-feira (05/08), Matega participará de uma reunião de ministros da economia dos países membros da União Sul-Americana de Nações (Unasul), em Lima, no Peru, para discutir como a região pode se proteger de uma nova crise.

*Matéria alterada depois da publicação para acréscimo de informações.

O jornalismo de sujeiras e lucros do Cidadão Murdoch Kane

23/07/2011 - 17:23 | Pedro de Oliveira | São Paulo

Cidadão Murdoch

"O melhor agente regulador será o que estiver morto".

Com esta frase, Rupert Murdoch – um dos maiores barões da imprensa mundial, tão bem caracterizado pelo filme dirigido por Orson Welles em 1941, "Cidadão Kane" – definiu seu pensamento a respeito de organismos reguladores de imprensa. Famoso por seu ultra-neoliberalismo e seu completo desrespeito por qualquer instituição que impeça o crescimento vertiginoso de suas empresas na esfera de mídia, Murdoch vive seus dias mais constrangedores.

Depois de se negar, num primeiro momento, a comparecer diante de uma comissão especial do parlamento britânico para explicar o escândalo das escutas telefônicas clandestinas conduzidas pelo jornal News of the World – o jornal dominical inglês que tinha a maior tiragem da história do jornalismo na Inglaterra (2 milhões e meio de exemplares) e que foi fechado no último dia 10 de julho depois de 168 anos de vida – acabou forçado a depor diante da Comissão de Cultura.

Falou, balbuciou, fingiu não entender o que lhe perguntavam e não explicou nada, tentando se eximir de responsabilidades em fatos que remontam ao inicio dos anos 2000, quando a editora-chefe, Rebekah Brooks, assumiu o comando do jornal.

Durante o depoimento, um comediante inglês tentou até jogar um prato com creme de barbear em sua face, no que foi impedido pela diligente esposa de Murdoch.

Desde o inicio de 2000 até estas duas últimas semanas, cerca de 4 mil pessoas tiveram seu sigilo telefônico quebrado por um sistema financiado pelo jornal de Murdoch. Policiais londrinos foram subornados e os dirigentes principais da Polícia Metropolitana e da Scotland Yard tiveram que se demitir de seus cargos nesta semana em função de terem sido complacentes e inoperantes na tarefa de investigar denúncias que apareceram em meados da década passada.

Até o príncipe Charles teve seu celular violado

O fato é que o próprio Príncipe Charles acabou tendo a caixa de mensagens de seu celular violada clandestinamente em 2005 por um detetive contratado pelo jornal News of the World. Foi quando veio à luz mensagens de amor de Charles por sua amante e atual esposa, Camilla Parker Bowles. O Palácio de Buckinghan alertou, na época, a Polícia Metropolitana que por sua vez mandou prender o editor do jornal responsável por questões ligadas à realeza, Clive Goodman, e também um investigador profissional chamado Glenn Mulcaire, que confessou ter gravado as mensagens não apenas do príncipe, como de outras personalidades públicas.

O caso mais escandaloso vazou quando o jornal acessou clandestinamente o celular de Milly Doler, uma estudante inglesa que foi abusada e morta em 2002 na volta da escola. Na verdade o detetive particular limpou as mensagens do celular para não entupir a caixa de mensagens, o que levou a família da jovem ter a esperança vã de que a menina pudesse estar viva ainda. Em 2003, houve uma troca de cadeiras na direção do sistema de jornais de Murdoch na Inglaterra: Rebekah Brooks assume a chefia do jornal The Sun e Andy Coulson passa a dirigir o News of the World. Andy Coulson renunciou ao seu cargo quando houve a denúncia de que o jornal havia violado o celular do príncipe Charles, argumentando que nada sabia deste tipo de atividade de seus jornalistas. Uma investigação interna do jornal detectou que se tratou de um caso isolado e que não havia indícios de que era uma ação generalizada.

A ação do Comitê de Auto-regulação da imprensa

Os jornais ingleses criaram um órgão de auto-regulação de suas próprias atividades – uma espécie de comissão de controle interno chamado PCC, na sigla em inglês. Esta comissão também declarou não haver problemas na ação informativa do jornal e tudo ficou por isso mesmo. O jornal The Guardian, entretanto, foi o que resolveu divulgar em 2009 que um grande número de celebridades e políticos estavam com suas ligações telefônicas sendo violadas. Então se levantou a necessidade de reabrir a investigação de denúncias abafadas pela polícia. O chefe da Polícia Metropolitana, que agora foi obrigado a renunciar, impediu a reabertura do caso.

O atual primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, está enfrentando sua maior crise política desde a posse. Pois ao assumir seu mandato (após a derrota dos trabalhistas), trouxe para o governo exatamente o chefe de redação do News of the World Andy Coulson, que havia renunciado ao seu cargo por denúncias de violação telefônica. Cameron foi obrigado a demiti-lo do cargo de porta-voz e enfrenta agora uma série de acusações no parlamento, que foi convocado extraordinariamente de seu período de recesso, para analisar a nova situação criada.

O império de Murdoch continua sua trajetória

Há duas semanas, o sistema News Corporation – que é a holding do império de mídia de Rupert Murdoch – estava para fechar o maior negócio de sua história, quando ameaçou comprar a maior empresa de televisão a cabo do Reino Unido, a BSkyB. As denúncias de grampos telefônicos clandestinos dos jornais de Murdoch, no entanto, fizeram o negócio ser suspenso. Pelo menos por enquanto.

Se verificarmos o perfil dos negócios de mídia de Murdoch, iremos constatar que a parte relacionada a jornais abarca apenas 13% do total dos lucros da News Corporation. O segmento de televisão a cabo é responsável por mais de 43%, o setor de filmes para cinema 15%, o de TV comercial 9% e o de satélites de comunicação cerca de 2%, entre outros empreendimentos do grupo de menor expressão.

A corporação dos Murdoch continua de olho no negócio de TV a cabo, o mais lucrativo dos segmentos da empresa. Este setor é dirigido atualmente pelo filho de Mudoch, James Murdoch. Nos Estados Unidos, onde a News Corporation tem seu braço norte-americano agora com o controle de um dos maiores jornais de negócios do mundo, o Wall Street Journal, eles estão sob vigilância e sob investigação do sistema de controle de impostos do Tio Sam. Um exército de advogados contratados por Murdoch tenta defender a corporação da acusação comprovada de que suas empresas estão pagando tão somente 20% de impostos federais, enquanto deveriam estar pagando cerca de 35%.

O império construído por Rupert Murdoch passa por dificuldades, mas ainda é muito poderoso e espalha seus tentáculos por vários continentes, desde a Austrália, passando pela Europa (onde tem interesses em vários países) e nos Estados Unidos. Seus métodos são os mesmos do imperialismo em suas ações tanto no período colonialista, quando na era atual onde reina o neoliberalismo: a agressividade, o roubo de dinheiro público, a corrupção, o pagamento de propinas para policiais e autoridades constituídas, a aproximação com os poderosos de ocasião, o achaque e o apoio a políticas intervencionistas no plano internacional. Ao lado dessa plataforma está o repúdio permanente a qualquer tipo de regulação e controle público de suas atividades, como expressou Murdoch em sua máxima contra os agentes reguladores.

* Artigo publicado originalmente no Portal Vermelho. Pedro de Oliveira é jornalista e membro do Conselho Editorial da revista Princípios e do Portal Vermelho

Obama dá um tiro mortal no coração da população mais necessitada norte-americana.



Matéria da Editoria: Internacional 01/08/2011

A emboscada de Obama contra os direitos sociais

Wall Street sabe que para ter votos suficientes no Congresso para destruir o New Deal, o Social Security, o Medicare e o Medicaid, é preciso ter um presidente democrata no comando. Um congresso democrata bloquearia qualquer tentativa republicana de fazer o tipo de corte que Obama está propondo. Mas a oposição democrática fica paralisada quando o próprio presidente Obama – o presidente liberal por excelência, o Tony Blair americano – age como o chefe de torcida para cortar direitos e outros gastos sociais. O artigo é de Michael Hudson.

Michael Hudson - New Economic Perspectives

Data: 31/07/2011

Você sabe que a outra face da dívida está tão melodramaticamente encenada como uma exibição da Federação Mundial de Luta-Livre quando Obama faz a sua flagrantemente vazia ameaça ao Congresso, de que se não “atacar os desafios mais difíceis dos direitos sociais e da reforma tributária” não haverá dinheiro para pagar o Social Security no próximo mês. Nessa fala sobre o déficit, na noite de 25 de julho, ele ameaçou que “se nos declararmos inadimplentes, não teremos dinheiro suficiente para pagar todas as nossas contas – as quais incluem os pagamentos mensais do Social Security, as pensões dos veteranos de guerra e os contratos do governo que assinamos com milhares de empresas”.

Isso não é verdade nem de longe. Mas se tornou o tema mais assustador há mais de uma semana, desde que o presidente usou quase as mesmas palavras nas suas entrevistas ao âncora do jornal da noite da CBS, Scott Pelley.

É claro que o governo terá dinheiro suficiente para pagar o Social Security mensalmente. A administração do Social Security tem seus próprios fundos – nas contas do Tesouro. Eu entendo que advogados (como Obama e na verdade a maior parte dos presidentes americanos) raramente entendem de economia. Mas esta é uma questão legal. Obama certamente deve saber que o Social Security é solvente, com ativos líquidos para pagá-lo por muitas décadas vindouras. Ainda assim, Obama pôs o Social Security lá no topo da lista.

A explicação mais razoável para essa ameaça vazia é que ele está tentando causar pânico nos idosos, na expectativa de que de alguma maneira a negociação do orçamento pareça ser sacada de sua manga para salvá-los. A realidade, claro, é que eles estão sendo levados para o abate. (E nem uma palavra corretiva lembrando ao presidente a realidade financeira, por parte do secretário da rubineconomia [1], secretário do Tesouro Geithner, do neoliberal presidente do Federal Reserve, Bernanke, ou qualquer outro na administração democrata de Wall Street, conhecida como Conselho de Lideranças Democrata).

É um engodo. Obama chegou a enterrar o Social Security, o Medicare e o Medicaid, não para salvá-los, mas para matá-los. Isso estava claro desde o começo dessa administração, quando ele designou sua Comissão para Redução do Déficit, liderada pelos inimigos confessos do Social Security, como o senador do Wisconsin, Alan Simpson e Erskin Bowles, outro nome da rubineconomia, da administração Clinton. As mais recentes escolhas de Obama, de republicanos e de democratas conservadores para serem delegados no Congresso a fim de reescreverem o código tributário num jogo bipartidário – para evitar sua rejeição – não passa de uma manobra para aprovar uma "reforma" fiscal impossível de aprovar por representantes democraticamente eleitos.

O diabo sempre está nos detalhes. E os lobistas de Wall Street sempre têm esses detalhes bem dobrados em suas pastas para pô-los à disposição dos seus representantes no Congresso e dos senadores dedicados. E neste caso eles têm o presidente, que tem aceitado seus conselhos ao ponto de convidar para fazerem parte de seu gabinete e agirem com factoides para capturar o governo em seu benefício e assim criarem o “socialismo para os ricos”.

Não há tal coisa, é claro. Quando os governos são dos ricos, a isso se chama oligarquia. Os diálogos de Platão deixam claro que, em vez de se tomar as sociedades como democracias ou oligarquias, era melhor observá-las em movimento. As democracias tendem a polarizarem economicamente (sobretudo entre credores e devedores) até se tornarem oligarquias. Estas, por sua vez, tendem a se tornarem aristocracias hereditárias. No tempo, famílias dominantes vão lutar entre si, e um grupo (como os Kleisthenes em Atenas em 507 a.C.) levaria “o povo para dentro da festa” e criaria uma democracia. E assim o triângulo eterno da política seguiria adiante.

É isso o que está se passando hoje. Em vez de aproveitar o que a Era Progressista antecipou – uma evolução na direção do socialismo, com o governo fornecendo a infraestrutura básica e outras necessidades com subsídio -, estamos vendo um lapso temporal de volta ao neofeudalismo. A diferença, claro, é que esse tempo para a sociedade não é controlado por garras militares no território. Hoje a finança obtém o que a força militar fazia em tempos passados. Em vez de amarrados à terra sob o feudalismo, hoje as famílias podem viver onde quer que queiram – contanto que levem uma vida inteira para pagar a hipoteca ou qualquer casa que venham a comprar.

E em vez da sociedade pagar tributos pelo uso da terra a conquistadores, paga aos banqueiros. Assim como o acesso à terra era precondição para as famílias se sustentarem durante o feudalismo, precisa-se ter crédito, para água, assistência médica, pensões ou Social Security e outras necessidades básicas, hoje em dia – e deve-se pagar juros, recompensar e monopolizar a renda para a oligarquia neofeudal que agora fazendo das suas, dos EUA a Irlanda e Grécia.

O governo dos EUA gastou 13 trilhões de dólares em resgates financeiros, desde a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008. Mas Obama alerta que, de trinta anos para cá, o fundo de ativos que financia o Social Security gerou um déficit de 1 trilhão de dólares. É para evitar isso que ele pede com urgência o desmantelo dos programas sociais para arcar com aqueles pagamentos, agora.

Parece que os 13 trilhões usados eram todo o dinheiro que o governo verdadeiramente tem. Os bancos e as empresas de Wall Street pegaram o dinheiro e se foram. Não há o suficiente para pagar o Social Security, o Medicare ou outro gasto social que os democratas conservadores e os republicanos planejam cortar, agora.

Não tão rápido. O plano será “mascarar” a crise atual, reduzindo os planos à “Comissão para a Redução do Déficit #2”, nomeada pelos membros do Congresso.

Finalmente, temos a “mudança em que podemos acreditar”. A mudança real é sempre surpreendente, afinal.

A falsa crise
Muitas vezes é necessário uma crise para criar um vácuo que alimenta esses detalhes tóxicos. Está claro que Wall Street não gosta de crises reais – exceto aquelas que fazem os computadores gerarem rápidos ganhos especulativos na fibrilação atual do ziguezague dos mercados. Mas quando o assunto é dinheiro vivo, a ilusão de uma crise tem preferência, elevada melodramaticamente ao estágio que mobilize emocionalmente ao máximo a audiência, tanto como um bom editor edita um plano sequência. O trem acelerado passará por cima da garota amarrada aos trilhos? Ela escapará a tempo?

O trem é o débito; a garota é para ser tomada como a economia estadunidense. Mas ela se mostra nada mais que Wall Street disfarçada. O exercício vira uma comédia nem tão divina. Obama oferece um plano que parece bastante republicano. Mas os republicanos dizem não. Há uma ilusão de que uma luta real se passa. Eles acusam Obama de socialista.

Os democratas expressam choque com o desconforto de serem ameaçados. Muitos dizem “onde está o real Obama?”. Mas parece que o Obama real se tornou um republicano de Wall Street disfarçado, vestido com roupas democratas. É isso o que o Comitê de Líderes Republicanos é, basicamente: Democratas de Wall Street.

Isso não é tanto um oximoro como pode parecer. Há uma razão por que os democratas pós-Clinton de hoje são partidários do desfazimento do que Franklin Delano Roosevelt e democratas de antanho defenderam. Um Senado democrata nunca deveria ceder aos constrangimentos impostos por Wall Street e trair sua constituição urbana, caso um presidente republicano propusesse o que Obama está lhes oferecendo.

Eis o que o próximo candidato republicano pode dizer: “Você sabe que o que quer que nós, republicanos, quisermos, Obama irá nos apoiar. Se você não quer uma política republicana, então vote em mim para presidente. Porque um Congresso democrata irá se opor a uma política republicana caso proponhamos essas medidas. Mas se Obama as propõe, o Congresso envelhecerá e não resistirá”.

É a mesma história na Inglaterra, onde o Partido Trabalhista é convocado para terminar o trabalho que os conservadores começaram, mas precisam agora do Novo Trabalhismo para acalmar a oposição popular à privatização de rodovias e parcerias público-privadas na administração das linhas do metrô de Londres. E é a mesma história na França, onde um governo socialista está dando apoio a programas de privatização ditados pelo Banco Central Europeu.

Revisitando as falácias de sempre
Quando se encontra representantes dos governos e a mídia repetindo erros econômicos como um mantra incessante, sempre há um interesse especial em operação. O setor financeiro tem interesse específicos em desviar os passos dos eleitores, fazendo-os crer que a economia afundará numa crise se Wall Street não tiver o que pretende – frequentemente por meio da isenção de tributos e da sua desregulação.

A primeira falácia de Obama é a de que o orçamento do governo é como o da família. Famílias não emitem títulos da dívida e obrigam o resto do mundo a lidar com isso como dinheiro fosse. Só governos podem fazê-lo. É um privilégio que os bancos agora gostariam de ter – a capacidade de criar créditos livremente nos teclados de seus computadores e cobrar juros sobre o que é quase de graça e que os governos podem na verdade criar gratuitamente.

“Hoje, todas as famílias sabem que uma pequena dívida de cartão de crédito é gerenciável. Mas se mantemos esse mesmo padrão, o crescimento de nossa dívida poderá nos custar empregos e causar um sério prejuízo à economia”. Mas economias necessitam do dinheiro do governo para crescer – e esse dinheiro é fornecido pela rolagem dos déficits orçamentários federais. Essa tem sido a essência do gasto anticíclico keynesiano por mais de meio século. Até hoje, essa era uma política do partido democrata.

É verdade que o presidente Clinton operou um superávit orçamentário. A economia sobreviveu por conta do sistema bancário comercial, que supriu o crédito necessário para a economia crescer – à base de juros. Para forçar a economia a se fiar Wall Street em vez de no governo, o governo precisa parar de gerar déficits orçamentários. A economia então terá uma escolha: encolher rapidamente ou se transferir quase todo o superávit orçamentário aos bancos, enquanto a economia rende com base no privilégio da criação de crédito.

Obama também finge que as agências de classificação de crédito estão prontas para agirem como mascotes de seus clientes, a maior parte dos seguradores financeiros, ao fazerem toda a economia pagar taxas de juros cada vez mais altas em seus cartões de crédito e bancos. “Pela primeira vez na história”, dissimula Obama, “nossa classificação com um triplo A estaria em queda, deixando os investidores ao redor do mundo a se perguntarem se os EUA ainda é uma boa aposta. As taxas de juros iriam disparar nos cartões de crédito, hipotecas e aluguéis de carros, o que implicaria uma grande alta de impostos sobre o povo americano”.

A verdade é que gerar um superávit orçamentário aumentaria as taxas de juros, porque forçaria a economia a ficar cativa do sistema bancário. A administração Obama agora está profundamente envolvida numa fase retórica orwelliana.

Durante a fala de Obama, não pude deixar de sentir que tinha escutado aquilo antes. E então me lembrei quando. Em 2008, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse, para contrapor o argumento de Sheila Blair, de que todos os clientes do sistema estadunidense de seguros dos depósitos bancários (FDIC) poderiam frear a crise de setembro, com só os jogadores temerários perdendo ganhos que só poderiam esperar obter no seu sistema de crédito livre. “Se o sistema financeiro for autorizado a colapsar”, ele alertou, no seu discurso na Biblioteca Reagan, “é o povo americano que pagará o preço. Isso nunca se tratou de bancos, mas sempre de oportunidade e prosperidade continuada para todos os americanos”.

Mas é claro que se trata de bancos. Wall Street sabe que para ter votos suficientes no Congresso para destruir o New Deal, o Social Security, o Medicare e o Medicaid, é preciso ter um presidente democrata no comando. Um congresso democrata bloquearia qualquer tentativa republicana de fazer o tipo de corte que Obama está propondo. Mas a oposição democrática fica paralisada quando o próprio presidente Obama – o presidente liberal por excelência, o Tony Blair americano – age como o chefe de torcida para cortar direitos e outros gastos sociais.

Dessa maneira, assim como a City de London deu sustentação ao Partido Trabalhista inglês nas suas diretrizes, quando o Partido Conservador não poderia dar esses passos radicais, como privatizar as autoestradas e o metrô de Londres, e só os social democratas da Islândia puderam afundar a economia na vassalagem da dívida em relação a Inglaterra, a Holanda, e o Partido Socialista Grego está à frente da luta pela privatização e pelos resgates bancários, assim nos EUA o Partido Democrata está entregando sua base eleitoral – trabalho urbano, especialmente as minorias radicais e os pobres que são os mais injuriados pelo plano de austeridade de Obama – a Wall Street.

Portanto, Obama está fazendo o que qualquer bom demagogo faz: entregando seu eleitorado ao seus financiadores de campanha de Wall Street. Yves Smith chamou a isso de “a ida de Nixon a China ao contrário”.

Os republicanos retribuem sem pôr uma alternativa confiável na candidatura à sucessão presidencial. O efeito consiste em dar a Obama espaço para ele se mover à vontade para a direita do espectro político. Longe o suficiente dos seus democratas, que estão mais interessados em resgatar o Social Security, não dos republicanos.

Isso se faz mais facilmente sob a pressão do pânico próximo. Isso funcionou depois de setembro de 2008 com o programa de resgate bancário (TARP), afinal de contas. O melodrama do resgate de Wall Street deveria ser visto como um ensaio geral para a atual não crise do teto da dívida.

[1] Um neologismo corrente hoje nos EUA, derivado do todopoderoso Rubin, Secretário do Tesouro no governo Clinton, ex-executivo do ban co Goldman Sachs e homem chave na implementação das contra-reformas neoliberais nos EUA dos anos 90.

(*) Michael Hudson é ex-economista de Wall Street. Professor da Universidade do Missouri, Kansas City (UMKC), é autor de muitos livros, incluindo Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (new ed., Pluto Press, 2002) and Trade, Development and Foreign Debt: A History of Theories of Polarization v. Convergence in the World Economy. Email: mh@michael-hudson.com

Tradução: Katarina Peixoto

Publicado originalmente em New Economic Perspectives

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Como a dívida global foi criada e porque ela é impagável.




     

 Como o sistema financeiro mundial criou a dívida

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos experimentando na crise atual. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

Marco Antonio Moreno - El Blog Salmón




O colapso econômico é iminente. Os países mais industrializados do mundo enfrentam uma grande crise da dívida provocada pela crise do crédito de 2008, após a crise das hipotecas imobiliárias e a queda do Lehman Brothers. Estas crises originadas por um colapso do crédito costumam ser muito mais prolongadas e profundas que as crises desencadeadas por um surto inflacionário. Grande parte do mundo enfrenta este tsunami da dívida à beira da bancarrota, como acontece com Grécia, Irlanda e Portugal. No entanto, podemos falar de bancarrota quando estes países possuem enormes riquezas em capital humano e recursos produtivos? De acordo com o atual sistema financeiro, sim. E é por isso que os serviços públicos estão sendo cortados e os bens públicos privatizados.

Ao contrário da crença popular, o dinheiro que circula pelo mundo não é criado pelos governos, mas sim pela banca privada em forma de empréstimos, que são a origem da dívida. Este sistema privado de criação de dinheiro tornou-se tão poderoso nos últimos dois séculos que passou a dominar os governos em nível mundial. No entanto, este sistema contém em si próprio a semente da sua destruição e é o que estamos a experimentar na crise atual: a destruição do sistema financeiro que temos conhecido, dado que não tem nenhum tipo de saída pelas vias convencionais. Dados os seus níveis colossais, trata-se de uma dívida impagável.

Para compreender isto, há que referir que o sistema financeiro tem funcionado sempre como um gigantesco esquema ponzi, onde os novos devedores permitem manter a velocidade do crédito. Se se produz um colapso dos novos devedores, o sistema fica sem a opção de conceder mais crédito e, à medida que esta opção se cristaliza com o tempo, o sistema inteiro entra em colapso e requer injeções de liquidez na esperança de que os fluxos voltem à normalidade. A habituação do dna coletivo à dependência do crédito produziu este retorno à normalidade durante várias décadas. Mas até o dna acusa fadiga e nesta co-dependência ao crédito recorda os sintomas da escravatura: é a escravatura da dívida.

A criação de dinheiro através do sistema de reserva fracionada

Os bancos centrais são os responsáveis pela oferta monetária primária, ou base monetária, conhecida também como dinheiro de alto poder expansivo. Este dinheiro de alto poder expansivo é o que chega aos bancos privados, que são quem o reproduz pela via do crédito. A reprodução do dinheiro original depende da taxa de encaixe, ou reservas mínimas requeridas, que produz o efeito inverso: quanto menor é a exigência de reservas, maior é a quantidade de dinheiro que a banca privada cria. Isto conhece-se como o multiplicador monetário e a sua fórmula, muito simples, é m=1/r, onde m é o multiplicador monetário e r o nível de reservas exigidas em percentagem.

Deste modo, perante um nível de reservas de 50% (r=0,5 na equação), o multiplicador monetário é 2, como era nas origens da banca inglesa no ano de 1630. Se o nível de reservas é de 20%, o multiplicador monetário é 5 e se as reservas exigidas são de 10%, o multiplicador é 10 (m=1/0,1), o que indica que está a multiplicar-se dez vezes a quantidade de dinheiro real oferecida pelo banco central.

Grande parte da desregulamentação financeira promovida desde os anos 80 consistiu em dar aos bancos a maior das liberdades para o montante das suas reservas. Deste modo, a clássica norma de reservas em torno de 10% ou 20% foi reduzida a níveis de 1%, e mesmo inferiores, como aconteceu com Citigroup, Goldman Sach. JP Morgan e Bank of America, que, nos momentos mais sérios, afirmavam ter uma taxa de encaixe de 0,5%, com o qual o multiplicador (m=1/0,005) permitia criar 200 milhões de dólares com um só milhão em depósito. E no período da bolha, as reservas chegaram a ser inferiores a 0,001%, o que indica que por cada milhão de dólares em depósito real, se criavam 1.000 milhões do nada.

Esta foi a galinha dos ovos de ouro para a banca. Uma galinha que era de todas as formas insustentável e que foi assassinada pela própria cobiça dos banqueiros que se aproximaram do crescimento exponencial do dinheiro até que este entrou em colapso, demonstrando que toda a ficção se asfixia na conjectura e nada é senão o que é. A solução que os bancos centrais ofereciam era muito simples: mal havia um aumento da inflação, elevavam a taxa de juro para assim encarecerem o crédito e bloquearem os potenciais novos empréstimos (cortando, desta forma, potenciais novos empréstimos) e incentivando, a taxas mais altas, o “aforro” seguro dos prestamistas.

Entende-se agora o abismo em que estamos e por que razão governos e bancos centrais correm a tapar esses enormes buracos que o dinheiro falsamente criado deixou? Entende-se por que razão a Fed e o BCE correm a resgatar o lixo dos ativos tóxicos criado neste tipo de operações? Se ainda há dúvidas, deixo aqui este vídeo (ver acima) que pode ajudar a compreender parte importante deste fenômeno. Este documento foi realizado em 2006 e contém sérias advertências que não foram ouvidas nem pelos governos nem pelas pessoas. Por algo será.

(*) Artigo publicado em El Blog Salmón, traduzido por Ana Bárbara Pedrosa paraesquerda.net

Alô, alô, Terezinha! O Jobim foi businado!

Dia 31 de julho de 2011. O dia da "morte" ministerial de Nelson Jobim.

Dilma já havia dado sinais da sua insatisfação com as declarações fora do tom desse tal Jobim.

Jobim, autor do "Samba de Uma Nota Fora", cantou alto todo o seu amor tucano e o seu compromisso com os adversários do governo ao qual servia. Foi "businado". Óbvio!

Que vá fazer barulho em outra freguesia.


A boa notícia chegou através de @radiodomoreno, do O Globo. Veja como:

RadiodoMoreno 6:15pm via web

Estou indo agora na missa com a Mariana. Vou aproveitar e rezar pela alma política do meu amigo Jobim, já queo corpo ministerial já se foi:

É que ninguém, mas ninguém mesmo, conseguiu demover a Dilma de demití-lo. Se não for nesta segunda, será nesta terça.

Para não ter que voltar atrás, na quarta-feira ainda, Dilma convidou um cara pro lugar dele. E o cara aceitou no ato. Jobim, segundo amigo,

não percebeu ainda o tamanho da besteira, a reafirmação do óbvio. Meu caro amigo Jobim, quem sou eu pra te ensinar, mas às vezes, a repe...

tição de uma frase pode soar diferente aos mesmos ouvidos que já a ouviram. Aquele negócio de "idiota", ou sei lá o termo, que tu dissestes

nos 80 anos de FH, e que tu me confidenciastes ter sido pruma colega minha jornalista, pois o PT inteiro acha que foi pra ele. Sabes pq ...

serás demitido? Pegaste a Dilma de veneta! Ela tava de veneta qdo convidou o cara pro teu lugar e agora não pode voltar mais atrás!