Valor Econômico - 14/03/2012
"Ninguém anunciou uma guerra, minha jovem", disse o presidente dos EUA, Barack Obama, em Nova York em 2 de março, apontando o dedo para uma pessoa da plateia que criticou a possibilidade de uma ação militar contra o Irã. "Mas compreendemos sua opinião." O auditório aplaudiu e um sorriso atravessou o rosto do presidente.
É muito cedo para dizer quando, ou mesmo se, a prolongada disputa sobre o programa nuclear do Irã vai resultar num conflito armado. "Ainda há uma janela para uma solução diplomática", disse Obama antes de um encontro com o premiê de Israel, Benyamin Netanyahu, em 5 de março. Uma série de sanções econômicas ocidentais contra o governo iraniano, que incluem o embargo às exportações de petróleo para a União Europeia, aumentou a disposição dos governantes do país de "recomeçar as negociações sem precondições, coisa à qual eles não estavam receptivos no ano passado", diz Karim Sadjadpour, analista especializado em Irã do Carnegie Endow-ment for International Peace. Uma guerra com o Irã em 2012 "é plausível, mas não provável", diz ele.
A justificativa econômica contra uma guerra é forte. O nervosismo com a instabilidade no Oriente Médio já elevou o preço do petróleo tipo Brent em cerca de 10% desde o começo do ano. Até um conflito limitado com o Irã - o segundo maior produtor de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), atrás só da Arábia Saudita - elevaria o prêmio de seguro sobre o tráfego de navios petroleiros pelo golfo Pérsico.
O Irã exporta 2,5 milhões de barris de petróleo por dia, e a Opep carece de capacidade para compensar a provável perda de fornecimento iraniano na eventualidade de um ataque, segundo afirma Robert McNally, presidente do Rapidan Group, uma consultoria especializada no setor de energia.
Isso seria uma fórmula para um choque do petróleo muito mais doloroso que o atualmente vivido pelos consumidores mundiais. "O que estamos vendo agora é um mercado que está muito temeroso e muito apertado", diz McNally, ex-diretor sênior de energia internacional do National Security Council. "Nessas condições, não é preciso muita coisa para provocar uma disparada nos preços do petróleo."
O quanto o preço subiria com uma guerra e quais as consequências para a economia mundial? Isso dependerá de dois fatores: se a ação militar será iniciada por Israel ou pelos EUA, e da resposta do Irã.
Um ataque de Israel, que possui um poder aéreo limitado, pode terminar em questão de horas. Teria como alvos as quatro principais instalações nucleares iranianas de que o mundo tem notícia, mas não há garantias de que as bombas israelenses conseguiriam penetrar e destruir as instalações subterrâneas mais profundas do Irã.
Por outro lado, um ataque pelos militares americanos seria mais longo e mais abrangente, segundo Matthew Kroenig, especialista em segurança nuclear do Council on Foreign Relations, um centro de estudos americano. Ele acredita que uma campanha de bombardeios de duas semanas poderia não só varrer do mapa o programa nuclear iraniano, como também acabar com as defesas aéreas do país e com parte de sua capacidade em termos de mísseis balísticos.
Acredita-se que a nova geração de bombas "bunker-buster" (que penetram em bunkers subterrâneos) dos EUA, de 13.600 kg, poderia pulverizar alvos a até 60 m embaixo do solo. "Há muita confusão entre o que um ataque israelense faria e o que um ataque americano poderia fazer", diz Kroenig. "Israel conseguiria fazer o programa nuclear iraniano retroceder entre um e três anos. Os EUA conseguiriam atrasá-lo por dez anos."
Mas os custos disso poderão ser muito grandes. Se os EUA atacarem, "os iranianos poderão achar que têm menos a perder", retaliando com agressividade, acredita Michael Makovsky, diretor de política externa do Bipartisan Policy Center de Washington. Teerã poderia tentar sabotar instalações petrolíferas na Arábia Saudita e no sul do Iraque, lançar mísseis contra Israel ou empregar navios de guerra menores para investir contra navios petroleiros no mar da Arábia.
O pior cenário possível seria uma ação do Irã para sufocar o acesso ao Estreito de Hormuz, pelo qual passam até 40% do petróleo transportado por via marítima no mundo, possivelmente liberando seu estoque de 2.000 minas. Os EUA já alertaram que tal iniciativa provocaria um ataque total contra os militares iranianos. Será que o país está disposto a assumir tal risco? "Se o Irã concluir que seu regime está ameaçado, poderá tentar ampliar o máximo possível o conflito, com a maior rapidez possível, para levar outras potências a agir como mediadores", diz McNally.
Uma análise da consultoria Rapidan Group prevê que um ataque aéreo direcionado contra o Irã, seguido de uma resposta parcial iraniana, levaria os preços do petróleo a subir US$ 23 por barril antes de um recuo. O petróleo tipo Brent foi negociado a US$ 125,98 o barril na sexta. Um conflito mais prolongado, se envolver o fechamento, mesmo que breve, do Estreito de Hormuz, poderia elevar os preços do petróleo em US$ 60 por barril, "Isso seria a maior ruptura geopolítica da história do mercado global de petróleo", afirma McNally.
Ed Morse, diretor global da análise de commodities do Citigroup, estima que, se o petróleo chegar a US$ 160 o barril, os EUA perderiam dois pontos percentuais de crescimento econômico, o bastante para acabar com a nascente recuperação e fazer o país voltar à recessão.
O dilema para o governo Obama é que as alternativas podem ser ainda piores. "Se não tivermos esse confronto agora e acabarmos com um Irã nuclear, teremos que avaliar as consequências de lidar com uma corrida armamentista nuclear no Golfo Pérsico", diz Anthony Cordesman, do Center for Strategic and International Studies.
No mínimo, os EUA teriam de investir em novas tecnologias antimísseis e manter presença considerável no Oriente Médio, justo agora que se retira de suas guerras na região. "Isso poderia ter um grande impacto na intenção dos EUA de reduzir seus gastos com defesa", diz Cordesman. Como um Irã nuclear deixaria o Oriente Médio e o mundo menos estáveis, isso também implicaria viver com preços do petróleo maiores por um futuro indeterminado. "De longe, o pior resultado para a economia mundial seria o Irã com armas nucleares e hostil", diz McNally.
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