quarta-feira, 20 de junho de 2012

Campanha Haddad: Clima quente na blogosfera. Os grandes embates se dão fora do PIG

Nota do editor:
Clipei apenas a matéria publicada pelo Miro porque resume bem o contexto e contém todas as informações e links.

Quarta-feira, 20 de junho de 2012

Resposta a Nassif sobre Erundina
Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:

O jornalista e blogueiro Luis Nassif publicou hoje um texto, intitulado "Luiza Erundina: tudo por uma foto" em que analisa a renúncia da deputada federal (PSB/SP) à candidatura de vice-prefeita pelo PT/SP, na chapa liderada por Fernando Haddad. O texto que se segue ao mencionado post, abaixo reproduzido, é uma resposta às críticas de Nassif.


*****

"Luiza Erundina: tudo por uma foto"

"Tenho um carinho histórico por Luiza Erundina.

Quando foi alvo de uma tentativa de golpe por parte do Tribunal de Contas do Município (TCM) devo ter sido o único jornalista a sair em sua defesa. Tinha o programa Dinheiro Vivo, na TV Gazeta, de público majoritariamente empresarial. Externei minha indignação que teve ter tido algum peso na decisão do presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) Mário Amato, de visitá-la com uma comitiva de empresários, hipotecando-lhe solidariedade.

Defendia-a também quando operadores do PT criaram o caso Lubeca. E, recentemente, o Blog conduziu uma campanha de arrecadação de fundos, para ajudar Erundina a pagar uma condenação injusta dos tempos em que foi prefeita.

Sempre admirei sua luta pelos movimentos sociais, das quais sou periodicamente informado por irmãs lutadoras.

Por tudo isso, digo sem pestanejar: ao pedir demissão da candidatura de vice-prefeita de Fernando Haddad, Erundina errou, pensou só em si, não nas suas bandeiras políticas nem nos seus movimentos sociais. Foi terrivelmente individualista.

À luz das entrevistas que concedeu ontem, constata-se que os motivos foram fúteis. Estava informada da aliança do PT com Paulo Maluf; chocou-se com a foto de Lula e Haddad com ele. Foi a foto, não a aliança, que a chocou.

A foto tem uma simbologia negativa, de fato. Aqui mesmo critiquei o lance. Mas apenas simbologia. Não se tenha dúvida de que, eleito Haddad, Erundina seria a vice-prefeita plena para a periferia, seria os movimentos sociais assumindo uma função relevante na administração municipal.

No entanto, Erundina abdicou dessa missão, abriu mão de suas responsabilidades em relação aos movimentos sociais, devido ao simbolismo de uma foto. Ela sabia que, eleito Haddad, seria mínima a participação do malufismo na gestão da prefeitura; seria máxima a intervenção de Erundina nas políticas sociais.

Poderia ter dado uma entrevista distinguindo essas posições, externando sua repulsa do malufismo, mas ressaltando a diferença de poder entre ambos.

Mas Erundina se sentiu preterida, não por Haddad, mas por Lula, que deixou-se fotografar com Maluf e não com Erundina.

Seu gesto foi para punir Lula, pouco importando o quanto prejudicaria seus próprios seguidores, os movimentos sociais. Ela abriu mão de um cargo que não era seu, mas de seus representados, para punir Lula.

E quem ela procura para a retaliação? Justamente os órgãos de imprensa que mais criminalizam os movimentos sociais, que tratam questão social como caso de polícia. Coloca a bala no revólver e o entrega à revista Veja. A quem ela fortaleceu? Ao herdeiro direto do malufismo na repulsa aos movimentos sociais: Serra.

Saiu bem na foto da mídia, melhor do que Lula com Maluf, mas a um preço muito superior. E quem vai pagar a conta são os movimentos sociais, pelo fato de sua líder ter abdicado de um cargo que a eles pertencia."

Fim do texto de Nassif.

*****

Uma primeira questão a ser analisada diz respeito à premissa adotada pelo título e reproduzida pelo post: Erundina teria renunciado "por uma foto", ou seja, por atenção e holofotes midiáticos. Teria sido mesmo essa sua motivação? Parece pouco provável. Em primeiro lugar, porque Erundina está na política profissional há quase quatro décadas e em nenhum momento demonstrou avidez por holofotes midiáticos - pelo contrário: discrição e a recusa em modelar o seu discursode acordo com o que a mídia quer ouvir são duas características distintivas de sua atuação.

Em segundo, porque, se se mantivesse candidata, ela teria, no mínimo, mais de três meses de exposição diária, sendo que exclusivamente positiva nas propagandas eleitorais. Achar que ela trocou tudo isso por uma exposição momentânea na mídia e a qual, ao mesmo tempo em que a promove, incita ódios exacerbados entre sinpatizantes do partido mais votado do país parece pouco lógico.

O poder da imagem

Além dessa premissa questionável, o texto omite que Erundina renunciou à posição de vice mas se comprometeu a continuar fazendo campanha, ou seja, a atuar junto às bases sociais do partido, embora com menos proeminência - dado que desmonta um dos principais argumentos de Nassif, de que Erundina "abriu mão de suas responsabilidades em relação aos movimentos sociais".

Há, ainda, dois pontos altamente questionáveis no artigo: o primeiro é a afirmação de que uma foto é "só simbologia", fingindo desconhecer que simbologia é a essência, o fator preponderante em uma eleição. E sendo que a foto em questão, de Lula "beijando a mão" de Maluf na mansão deste - comprada sabe-se lá com que dinheiro -, é até agora, e tende a continuar sendo por um bom tempo, a imagem-símbolo da campanha.

Para além da Veja

O segundo ponto questionável é aproveitar-se da disseminação de justificado sentimento antimídia para tipificar Erundina como uma espécie de parceira da Veja - e, portanto, de Serra. "Coloca a bala no revólver e o entrega à revista Veja" é um período indigno do jornalista equilibrado que Nassif costuma ser, trai o (em seu caso, particularmente justificável) ódio subjacente à revista dos Civita e, escrito com o fígado, evidencia as reais motivações do ataque a Erundina.

Porém, haja simplismo: para além das maquinações da mídia, o fato é que tanto a surpreendente desistência de Erundina, como a aliança do outrora combativo PT com o político de cujas práticas deriva o verbo "malufar" são, inquestionavelmente, matéria de interesse jornalístico, de Veja inclusive.

Protagonismo das redes

A bem da verdade, quem alienou movimentos sociais e beneficiou Serra, quando Erundina ainda "era" vice, foi o PT/SP ao se aliar à mais nefasta figura do conservadorismo populista paulista, um individuo que não pode botar os pés fora do país sob risco de ser preso pela Interpol. Quem convive com petistas e com os movimentos sociais sabe que foi a partir dessa aliança esdrúxula que uma parte talvez minoritária, mas certamente volumosa da militância passou a se dizer "broxada" e "sem tesão" pela campanha.

E, como boa matéria de Luciano Coutinho no Observatório da Imprensa revela, foi ao receber esse feedback negativo de setores da militância nas redes sociais que Erundina convenceu-se de que deveria renunciar à candidatura - um gesto que não pode, portanto, ser classificado de "terrivelmente individualista" nem de dar-se sem levar em consideração os movimentos sociais. Pelo contrário: como observa Coutinho, "O episódio marca o momento em que as novas mídias se sobrepõem à mídia tradicional numa disputa eleitoral no Brasil".

Quem tudo quer...

Ainda mais importante: por paradoxal que pareça, a decisão de Erundina, não obstante prejudicial, neste momento, à candidatura petista, tem tido um efeito renovador, ao escancarar o autoengano da direção e de muitos militantess, dispostos a vender a alma, a mandar "às favas os escrúpulos", em troca de um minuto e meio na TV.

A culpa pelo desastre é deles, quem deu uma banana aos movimentos sociais ligados ao PT foram eles, quem impôs uma decisão vinda de cima, acabando com a tradição de democracia interna do PT são eles, que devem agora responder por suas ações, ao invés de transferirem covardemente o ônus destas a terceiros, que tiveram o desplante de expô-los como mero mercadores. Erundina não pode ser responsabilizada por agir de forma límpida e restituir a primazia da ética sobre o ultrapragmatismo.

Gesto desmistificador

Sua atitude é o contrário de uma ação individualista e covarde, de prima-dona, como sugere Nassif: é um gesto de extrema coragem e de altruísmo, que renuncia à possibilidade iminente de ascensão ao poder e à chance única de encerrar sua carreira política em alto estilo; um gesto que tem e terá consequências dolorosas, que já lhe cobram um preço altíssimo, através da agressão de petistas descontentes que ora udo fazem para transformá-la em um pária e em conspurcar sua imagem (até com Demóstenes Torres ela foi hoje comparada...).

Achar que a figura pública diferenciada que ela sempre foi ousou um gesto tão redentor e que acarreta tantos revezes pessoais só para "ficar bem na foto" é indigno de Erundina - e de Nassif.

Luiza explica: "Minha desistência não significa recusa ao Haddad"

Da Carta Maior

Política| 20/06/2012 |


“Não vou mudar de lado: Haddad é o melhor candidato”
Apesar de ter desistido de concorrer como vice à Prefeitura de São Paulo, na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT), a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) descartou a possibilidade de apoiar outro candidato: “Minha desistência não significa recusa ao Haddad ou ao projeto que ele representa. Nada me move ou me leva a sair deste campo onde eu sempre estive, que é o campo socialista. Eu não vou mudar de lado nunca”.

Najla Passos

Brasília - Apesar de ter desistido de concorrer como vice à Prefeitura de São Paulo, na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT), a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) descartou, nesta quarta (20), em coletiva à imprensa, a possibilidade de apoiar outro candidato nas eleições deste ano. “Minha desistência não significa recusa ao Haddad ou ao projeto que ele representa. Esse compromisso permanece, até porque é um compromisso com minhas bases em São Paulo. Nada me move ou me leva a sair deste campo onde eu sempre estive, que é o campo socialista. Eu não vou mudar de lado nunca”, esclareceu.

A deputada atribuiu sua desistência única e exclusivamente ao espaço que o partido deu ao presidente estadual do PP, deputado Paulo Maluf, com quem firmou aliança na última segunda (18). Sua renúncia, inclusive, foi anunciada após publicação, pela imprensa, de uma foto em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Maluf, após visita à residência dele, no bairro Jardins, em São Paulo. “Não foi a foto em si, mas o simbolismo dela, o que ela representa. O fato do ex-presidente Lula, com a força que tem, com a popularidade que tem, ir à casa do Maluf. Uma pessoa só vai a casa da outra quando mantêm relações de amizade, relações de respeito mútuo”, observou.

Para Erundina, Lula errou ao aceitar se reunir com Maluf em ambiente privado e firmar uma aliança com ele, em troca de espaço na TV para a campanha de Haddad. “É um preço muito alto por uma coisa tão pequena. Mídia é importante, mas não é tudo em uma campanha. Caso contrário eu não teria me elegido há 22 anos”, disse. E, após reconhecer que não manteve contatos recentes com o ex-presidente, alfinetou: “Lula é sensível. A essas alturas ele já deve ter percebido o fora que deu”.

Erundina contou que, quando aceitou ser vice na chapa de Haddad, não foi informada das pretensões do PT em firmar aliança com o PP de Maluf. “A presença do Maluf só atrapalha, só desqualifica, só afasta as pessoas”.

Entretanto, admitiu que não é ingênua e que não descartava essa hipótese, principalmente em função das relações que os dois partidos mantém em âmbito nacional. “Eu estive na residência do Haddad, no domingo à noite, e ele minimizou o acordo com o PP e disse que estava esperando o retorno da direção nacional do PT. Eu achava que a aliança até poderia ser fechada, mas na sede de um dos partidos, de uma forma mais institucional”, justificou.

Para a parlamentar, Maluf representa o que há de pior para a política brasileira, por ser procurado pela Interpol e, principalmente, “pelo estrago que ele fez à democracia do país”. “Ele se alinhou com a ditadura, foi prefeito biônico e construiu cemitérios para desova dos corpos de militantes de esquerda que sumiram, que foram vítimas de tortura. Quando eu fui prefeita, nos identificamos uma vala clandestina, no Cemitério de Perus, com oito corpos de desaparecidos políticos da Ditadura Militar. Portanto, conviver com esta criatura não dá. Muito menos, fazer política com ele”, explicou.

Questionada se Maluf já não estaria morto politicamente antes da aliança, foi contundente. “Maluf é muito vivo. Ele parecia morto e enterrado, e por isso investiu pesado para ser resgatado pelo PT. O que ele quer, agora, é se higienizar ao lado de forças políticas que não o representam, porque nós estamos em pleno processo de revelação dos crimes da ditadura”, observou.

Provocada pela mídia, Erundina admitiu que considera a aliança com o PP uma “concessão de princípios”. Porém, afirmou que não irá permitir que sua desistência seja utilizada pelo campo da direita para prejudicar o projeto que o campo socialista, incluindo o PT e seu partido, têm para a prefeitura de São Paulo. “O Maluf tem muito mais a ver com o outro campo e só não está lá porque não aceitaram pagar o preço alto que ele cobrou: a Secretaria de Habitação de São Paulo”.

De acordo com ela, a decisão de deixar a chapa de Haddad foi, também, uma forma de preservar o projeto encabeçado por ele. “Se eu continuasse, teria que passar o tempo todo me justificando pela saia justa de estar ali junto com o Maluf. E isso atrapalha qualquer processo eleitoral. Foi uma decisão muito difícil, mas fiz o que julguei correto”, acrescentou.

Redes sociais tiram Erundina da chapa de Haddad. O Pig não manda mais.


A tuitada de Erundina
Por Luciano Martins Costa em 20/06/2012 na edição 699

Comentário para o programa radiofônico do OI, 20/6/2012

A decisão da deputada Luiza Erundina, do PSB, de não aceitar a candidatura a vice-prefeito na chapa liderada pelo Partido dos Trabalhadores, em São Paulo, é o principal destaque das edições de quarta-feira (20/6) dos jornais paulistas.

A atitude de Erundina se dá em protesto contra a forma como o ex-presidente Lula da Silva e o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, candidato a prefeito, festejaram a adesão do deputado Paulo Maluf, do Partido Popular, à aliança. Segundo a deputada, existe uma incompatibilidade insuperável entre suas convicções políticas e Paulo Maluf, a quem acusa de corrupto e ex-aliado da ditadura militar.

A notícia foi tratada de maneiras diversas pelos dois principais jornais da capital paulista.
O Estado de S. Paulo se concentra na firmeza de convicções de Luiza Erundina, critica explicitamente o ex-presidente Lula, em editorial, por admitir a aliança com Maluf, e aposta que o Partido dos Trabalhadores var perder votos por conta dessa decisão. Já a Folha de S. Paulo entende que a desistência de Erundina “agrava a crise na campanha petista”, sem no entanto explicar de que crise se trata, uma vez que não havia crise alguma, apenas o processo normal de negociações para a formação de uma chapa. Tanto aFolha está errada que a própria Erundina anunciou que, mesmo não sendo candidata, continuará apoiando Fernando Haddad.

Estômago sensível
Pela forma como são compostas as reportagens sobre política, muitas vezes o leitor tem dificuldades para entender o sentido real dos acontecimentos. Em geral, o destaque exagerado para declarações – que podem ser selecionadas em extensão e significado pelos guardiães do jornalismo – acaba condicionando o entendimento dos fatos.

Pode acontecer, por exemplo, de o aspecto mais importante de uma reportagem sobre política não ter uma relação direta com política. No caso das campanhas eleitorais, por exemplo, a fase de formação das chapas é definida por matemática simples, a chamada conta de padeiro, sobre o tempo que se pode obter na propaganda obrigatória conforme a composição de partidos da aliança.

A desistência de Luiza Erundina se transforma em notícia importante não porque essa conta tenha sido alterada – afinal, o PSB segue aliado da candidatura de Fernando Haddad, ao lado do partido de Maluf, garantindo mais tempo de rádio e televisão para a chapa. O que a torna interessante é o fato de que alguém ainda tenha estômago sensível para essas alianças, que se tornam negócios cada vez mais distantes dos perfis ideológicos que se imaginam nos partidos políticos.

Erundina simplesmente não suportaria ter que dividir o palanque com Paulo Maluf, e isso surpreende a imprensa.

A voz dos eleitores
Interessante notar como o jogo democrático se tornou tão amoral e pragmático que o fato de alguém se negar a engolir como aliado um adversário figadal como é o caso de Erundina com Maluf pode ser tido como causador de crise.

Erundina fez o que era esperado dela. No mais, como se diz nas transmissões de futebol, segue o jogo, e o jogo é esse mesmo ao qual estamos habituados e ao qual a imprensa aderiu há muito tempo – não mais como observadora distanciada, mas como protagonista.

Mas o aspecto que provavelmente escapa do leitor mais distraído é que Erundina pautou sua decisão em dois movimentos. Primeiro, fez o seu protesto formal contra a maneira como Lula e Haddad se dispuseram a festejar Maluf. Procurada pelos caciques do PT e do PSB, chegou a se acalmar e manteve a candidatura. Mas no segundo momento decidiu que não poderia participar dessa aliança, e desistiu da candidatura.

E o que a moveu no segundo momento não foram declarações, artigos ou editoriais de jornais: foram as manifestações de seus eleitores nas redes sociais digitais. Esse é um dos aspectos mais importantes desse episódio.

Claro que a deputada deve ter levado em conta a reação da imprensa tradicional, que certamente iria se dedicar a cobrar dela a coerência política que a obrigaria a rejeitar a aliança com Maluf. Mas não foi a imprensa que a moveu – foram as manifestações espontâneas de cidadãos através da internet.

O episódio marca o momento em que as novas mídias se sobrepõem à mídia tradicional numa disputa eleitoral no Brasil. Trata-se de um aspecto que não vai estar em manchetes do tipo “mensagens no twitter levam Erundina a desistir de candidatura”. Mas que todos sabem que vai marcar a política, como marca a vida social.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Lula, “a melhor reencarnação já vista de Franklin Roosevelt” (The Guardian)

Opera Mundi


Jornal britânico diz que Brasil é modelo de diplomacia e compara Lula a Franklin Roosevelt
Para The Guardian, “já é tempo de o ocidente incorporar o crescimento do Brasil de forma mais ativa e iniciar um comprometimento mais profundo”

O Brasil “não apenas deve ter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como também é a melhor razão para uma reforma do órgão e para uma tentativa de tornar o sistema internacional mais representativo”. É o que diz um elogioso editorial publicado nesta segunda-feira (11/06), no qual o jornal britânico The Guardian sugere uma maior valorização da diplomacia de Brasília e destaca a ascensão econômica vivenciada pelo país ao longo dos últimos anos.

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De acordo com a publicação, “já é tempo de o Ocidente incorporar o crescimento do Brasil de forma mais ativa e iniciar um comprometimento mais profundo” com o país. Isso porque, “embora seja líder da desigualdade social no mundo”, ele “também lidera a resolução desse problema” por meio de “famosos programas sociais que auxiliaram 20 milhões a deixar a pobreza e criar um novo mercado interno”.

Traçando uma linha cronológica para o processo de estabilização da economia brasileira, o artigo parte do governo de Fernando Henrique Cardoso e se estende até a atual gestão de Dilma Rousseff, que é classificada como uma “reformista pragmática”. De acordo com o The Guardian, em meio a esse fenômeno de aquecimento do mercado doméstico e elevação da renda per capita, houve ainda a importância do ex-presidente Lula, “a melhor reencarnação já vista de Franklin Roosevelt”, o líder norte-americano que superou o crash de 1929 graças à elevação de investimentos públicos e consequente fomento à atividade econômica.

Em meio aos preparativos para eventos de relevância global como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, ainda restaria para a presidente Dilma Rousseff “a transferência de sua popularidade e competência administrativa para o congresso”, de tal forma que o legislativo acompanhe o andar de seu governo. O principal desafio da atual presidente, segundo o The Guardian, ainda é “destravar a produtividade e estabelecer uma economia mais avançada”.

No campo das relações internacionais, “Brasília não apenas dobrou o número de seus diplomatas na última década como também redobrou sua ênfase na diplomacia como a única forma de "multipolaridade benigna”. Fenômeno esse que reflete “o luxo de uma região pacífica” e uma “longa tradição e experiência sobre as naturezas da soberania e da democratização”.

sábado, 9 de junho de 2012

Quem vai riscar o fósforo?

Do Bog do Albiero

sábado, 9 de junho de 2012

O INCÊNDIO

Cá com os meus botões, fico a pensar se quando Hitler insuflou o povo alemão contra os judeus ele, de fato, instigou o ódio ou apenas aproveitou-se de um sentimento generalizado que já permeava seu povo. Viviam-se tempos de desemprego e recessão e a sensação era de que os judeus tomavam empregos e se apropriavam de riquezas dos alemães.

Em tempos de vacas magras, e diante da incapacidade governamental de dar conta das demandas - mormente de ordem econômica -, apela-se para o sentimento de patriotismo. Afinal, o culpado é sempre o outro, o diferente.

Quando os nativos começam a se preocupar com os estrangeiros, com os de outra raça ou região, por medo de que estes lhes tirem os empregos e dividam suas riquezas, é sinal evidente de que está se formando, ou já está formado, um caldo de cultura propício ao surgimento de um líder político que possa vir a fazer uso dessa matéria-prima para arroubos nazi-fascistas.

O Brasil vive momentos de pleno respeito às instituições democráticas, a despeito de vãs tentativas maldosas de alguns de mostrar o contrário. Depois que os membros do Congresso, regiamente remunerados pelo governante de plantão, garantiram a este um novo mandato, por meio da emenda constitucional que lhe proporcionou a reeleição, não se teve notícia séria de outro rompimento institucional grave.

Logo depois desse triste episódio, falou-se tanto do risco, só existente na mente dos que foram apeados do poder e de seus seguidores, de que Lula, alçado à presidência da República, instalaria o caos no Brasil. Muitos não resistiram à tentação de associá-lo a figuras históricas nefastas, como Hitler e Mussolini. Quebraram a cara, mas ainda hoje não dão o braço a torcer. Onda vai, onda vem, lá vêm eles com a lengalenga. O ex-presidente, porém, foi o que mais respeito dedicou às instituições.

Respeitou o Ministério Público Federal quando aceitou a indicação feita pelos procuradores da República, e manteve a nomeação de Antonio Fernando de Souza, reconduzindo-o ao cargo de Procurador-Geral. E olha que ele havia sido o autor da denúncia do tal "mensalão"! Depois, repetiu a conduta em relação a outro nome surgido por indicação do conjunto de procuradores, Roberto Gurgel. E em relação a este, o tempo incumbiu-se de mostrar-lhe a verdadeira cara. Só para comparar, o governador Geraldo Alckmin, por exemplo, não teve coragem de seguir o exemplo de Lula e nomeou para Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo quem bem quis, ignorando o preferido de promotores e procuradores, escolhido em democrático processo eletivo interno.

Muito se disse, também, acerca de um desejo oculto de Lula calar a imprensa. Veja, Folha, Estadão, TV Globo e outros da chamada mídia velha - a que denomino "cardomídia" - não perderam um dia sequer a oportunidade de atacar o governo petista, a própria figura do presidente, por razões às vezes justas, injustas na maioria. E o que fez o ex-presidente? Nos momentos mais críticos, fez discursos, apenas. Quantos processos moveu contra os órgãos de imprensa? Nenhum! E olha que não lhe faltou material. Quantas vezes deu ordens às estatais para que cortassem a destinação de verba publicitária para esses veículos? Nenhuma!

Também a título de comparação, Gilmar Mendes, valendo-se do prestígio de ministro do STF, não perdeu tempo ao ver-se criticado por blogues independentes. Foi ao presidente da Caixa Econômica Federal e "solicitou" a ele que parasse de - como disse - "financiar esses blogues que atacam as instituições". Por "instituição", leia-se ele próprio, Gilmar Mendes, já experimentado em fazer pressões do gênero, como a que fez sobre o mesmo ex-presidente Lula para que este demitisse o delegado que comandava a Polícia Federal e a ABIN, Paulo Lacerda.

No plano interno, à parte ter sucumbido à pressão do então presidente do STF, Lula proporcionou melhores condições à Polícia Federal, que desencadeou centenas de ações que levaram à prisão "gente graúda" - governadores, desembargadores, juízes, prefeitos, empresários - e fez a Controladoria Geral da União funcionar. Criticou, é verdade, o Tribunal de Contas da União, e com razão, já que este enveredou por um ativismo político inaceitável. Mas respeitou plenamente suas decisões.

Lula também não se deixou encantar pelo canto de sereia dos que lhe anteviam a possibilidade de um terceiro mandato. O ex-presidente tinha tudo para isso, aceitação popular e maioria no Congresso, mas manteve-se firme no respeito às regras vigentes.

Enfim, não foi Lula o "novo anticristo" que muitos alardearam. Mas é fato que, ao menos por estas bandas paulistas, há um preconceito permeando os nativos, que se verifica na preocupação que muitos nutrem em relação aos nordestinos, por exemplo. O caso Maiara Petruso, condenada recentemente por ter promovido uma sórdida campanha pelo Twitter logo depois das eleições presidenciais, é significativo. Em mensagens claras, sem meias palavras, ela pregava a "morte aos nordestinos", associando-os a "vagabundos", usurpadores das "nossas riquezas".

Esse sentimento em relação aos nordestinos continua presente nas redes sociais, na forma de piadas de péssimo gosto, que muitos ingênua ou maldosamente repetem, passam adiante, curtem e festejam. Aos ingênuos e aos maldosos falta respeito, amor ao próximo, tolerância às diferenças.

É verdade que vivemos um momento econômico excelente, comparado ao resto do mundo, graças sobretudo às medidas certeiras adotadas pelo próprio Lula e por sua sucessora, em meio a uma forte crise internacional. Mas é certo que o caldo de cultura está pronto, disseminado, espalhado feito combustível, à espera de um líder destrambelhado que queira riscar o fósforo.

Vergonhosa Auschwitz Brasileira (com entrevista de Cláudio Guerra)




Não há paralelo na história da humanidade de tamanha brutalidade e estupidez do que o holocausto na 2ª Guerra Mundial.

O campo de concentração localizado no Sul da Polônia e controlado pela Alemanha Nazista, conhecido como Auschwitz foi um dos símbolos mais nefasto deste sorumbático período.

Lá funcionava o cerne da administração de diversos outros campos de concentração e ali foram mortos mais de um milhão de judeus.

Como forma de eliminar suas vítimas um dos instrumentos utilizados foi um crematório, onde os corpos dos judeus eram queimados e suas vidas e suas histórias viravam literalmente fumaça.

Inacreditável que uma das nações mais sofisticadas do mundo, com um povo conhecido pela filosofia e pelas ideias tenha compactuado e participado de tamanha monstruosidade.

Entretanto, parece que os horrores da experiência trágica dos nazistas de Auschwitz tenha se repetido em solo brasileiro.

O recém-lançado livro cujo título é “Memórias de uma guerra suja” traz o depoimento estarrecedor e contundente do ex-delegado da repressão do Regime Militar, Claudio Guerra.

Ele revela que houve no Brasil uma espécie de campo de Auschwitz, onde corpos de inimigos do regime militar mortos sob tortura em São Paulo e no Rio de Janeiro foram incinerados em fornos da usina de Açúcar de Cambahyba localizada em Campos dos Goytacazes-RJ.

Vale ressaltar, segundo o depoimento do ex-delegado Claudio Guerra, a tal usina de açúcar era de propriedade do então vice-governador do Rio de Janeiro, o senhor Heli Ribeiro, que havia autorizado tal utilização.

O objetivo desta monstruosidade era eliminar qualquer vestígio das vítimas dos porões da ditadura, uma vez que, as torturas, os sequestros e os assassinatos eram feitos de forma clandestina pelo Estado.

Hoje, passado mais de 27 anos da redemocratização do país, somos ainda surpreendidos pelos métodos primitivos e vergonhosos dos agentes do Estado Brasileiro no período ditatorial.

Inúmeras famílias ainda buscam os corpos de seus entes queridos que simplesmente sumiram no submundo destes porões.

Mães que não puderam enterrar seus filhos, filhos que não puderam sepultar seus pais, maridos e esposas que nunca mais se encontraram e diversos corpos insepultos que jamais serão encontrados.

Afirma o livro “Memorias de uma Guerra Suja” no depoimento de Claudio Guerra que o Estado apagou todos os vestígios possíveis de sua “insanidade”, mas certamente não apagará esta página vergonhosa de nossa história.


Henrique Matthiesen

Reescrevendo nossa história


Recentemente a presidente Dilma Rousseff nomeou e empossou os sete membros que compõe a Comissão da Verdade.

Esta Comissão é objeto do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional que terá a árdua missão de esclarecer os casos de violação dos direitos humanos praticados no Brasil no período de 1946 a 1988.

Os fatos objetos de análise desta Comissão são os fatos que não foram reconhecidos pela história oficial e é um momento histórico, um marco para a nação brasileira, que tem sua verdade histórica negada pelos usurpadores de nosso povo.

O Brasil de hoje não pode mais apagar de suas páginas ou simplesmente renegar sua historia, ou meramente ocultar os erros de períodos tão duros da nação brasileira.

Até porque uma nação nada mais é do que o acúmulo de sua história, uma nação nada mais é do que a construção de um legado de milhares de brasileiros que ajudaram a fazer este país.

Nação é acima de tudo ter a historia de seu povo sentido em seu coração na construção de uma pátria livre, soberana e democrática.

Nossa historia não pode ser contada apenas como um país de oito milhões 513 mil km e nós não somos apenas 190 milhões de brasileiros, como também não somos apenas um povo privilegiado por ter em algumas regiões de 3 a 4 colheitas por ano.

Não somos só ricos em minério, ricos na produção de carne animal, ricos na produção de alimentos e petróleo.

Somos sim uma nação que busca diminuir nossas desigualdades, busca romper os ciclos de miséria que ainda temos entre nós e que busca nossa afirmação enquanto povo.

E não é possível alcançarmos este patamar sem conhecermos nossa verdadeira história. Uma vez que, a violação dos direitos humanos no período ditatorial de nosso país, tem como pano de fundo a dominação de nossa velha elite e a perpetuação de nossa miséria.

Faz-se necessário que as gerações futuras do Brasil saibam que aqui brasileiros foram torturados, sequestrados, assassinados e violentados pela democracia.

Faz-se necessário saber que nossas elites um dia não tiveram escrúpulos em rasgar nossa constituição e se aliaram com setores retrógrados de nossas forças armadas e deram um golpe de Estado no Brasil.

Faz-se necessário conhecer que em nome do Estado, direitos fundamentais foram suprimidos, que violações vitais de qualquer sociedade civilizada aqui foram negadas.

Cabe aos Membros desta Comissão da Verdade reescrever nossa verdadeira historia sem meias verdades, sem hipocrisia, mas também sem ódio e sem revanchismo.

O Brasil precisa saber a verdade para poder caminhar para frente e não mais cometer os equívocos históricos que um dia aqui se cometeu.

Cabe aos senhores:

- Gilson Dipp - Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 1998 e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde 2011 e presidente da comissão designada pelo Senado para elaborar um novo Código Penal. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e corregedor-nacional de Justiça de 2008 a 2010.

- Senhor João Paulo Cavalcanti Filho - Graduado em Direito, atua como advogado, escritor e consultor. Foi presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), autarquia vinculada ao Ministério da Justiça Brasileiro. Também atuou como ministro interino da Justiça no governo José Sarney e secretário-geral do Ministério da Justiça.

- Senhora Rosa Maria Cardoso da Cunha - Doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), advogada criminalista, professora e escritora. Amiga de Dilma foi advogada da presidente durante a ditadura militar. Também foi membro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (de 1999 a 2002) e subsecretária de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (de 1991 a 1994)

- Senhor Paulo Sérgio Pinheiro - Professor, escritor e consultor, é relator da Infância da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Doutor em Ciência Política pela Université de Paris I foi secretário especial de Direitos Humanos e relator do Programa Nacional de Direitos Humanos. Atuou como relator da ONU para a Situação dos Direitos Humanos em Burundi (1995-1998) e em Myanmar (2000-2008), e foi um dos representantes da sociedade civil na preparação do projeto da Comissão da Verdade.

- Senhor Cláudio Fonteles - Foi procurador-geral da República de 2003 a 2005, no governo Lula. Na década de 60, atuou em movimento político estudantil e foi membro grupo Ação Popular (AP), que comandou a União Nacional dos Estudantes (UNE). Mestre em Direito pela Universidade de Brasília, também coordenou, em 1991, a Câmara Criminal e a antiga Secretaria de Defesa dos Direitos Individuais e Interesses Difusos (Secodid). Atualmente, é membro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa.

-Senhora Maria Rita Kehl - Doutora em psicanálise pela PUC-SP, atua como psicanalista, ensaísta, crítica literária, poetisa e cronista. Foi editora do Jornal Movimento, um dos mais importantes nomes do jornalismo alternativo durante o regime militar no Brasil.

- Senhor José Carlos Dias - Advogado criminalista foi ministro da Justiça entre 1999 e 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso. Graduado pela Faculdade de Direito em São Paulo, também foi secretário da Justiça do Estado de São Paulo (de 1983 a 1986) e presidiu a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, da qual é, atualmente, conselheiro. É autor de dois livros de poesia: Miragens do meu deserto (Editora Talarico, 1953) e Vozes perdidas (Editora Saraiva).

É com esses ilustres brasileiros que está o fardo de reescrever nossa historia.

Henrique Matthiesen